domingo, 26 de maio de 2019

Charge: Manifestações em defesa do Governo Bolsonaro

Charge divulgada em 25 de maio de 2019. Pato Arrependido(Facebook)

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Jovem que morreu por causa de choque será sepultado neste domingo em Bom Jardim


Faleceu  na tarde desta sábado, dia 25 de maio de 2019, na cidade de Lagoa do Carro-PE, o jovem Ítalo Franco, solteiro, 22 anos de idade que  residia em Carpina. Seus familiares são de Bom Jardim. Sua morte foi provocada por choque elétrico. O corpo de Ítalo Franco virá do IML para ser velado na Igreja Batista de Bom Jardim. A família enlutada agradece o comparecimento e a solidariedade de todos amigos, igreja e parentes. O sepultamento deverá ocorrer às 17 horas (5 da tarde)deste domingo(26).

Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 23 de maio de 2019

O peso das utopias revolucionárias



Resultado de imagem para revolução

As frustrações políticas trazem tensões. Busca-se inventar um messias ou se cai em populismos infantilizados.A sociedade vive momento de desequilíbrios dantescos. Não se estimula o diálogo, mas a intriga e a festa irresponsável nas redes sociais. Há perplexidades, pois não se discute o tamanho das mentiras. As palavras pesadas são utilizadas por governistas com administrações fragilizados. Espera-se por um milagre? O esvaziamento intelectual é grande ou fabricada para causar negatividade? Tudo isso desperta memórias. Muita gente se esquece das singularidades do nosso tempo. Acendem utopias, apagam autoritarismos do passado com se houvesse paraísos no juízo final..
Ninguém pode anular a importância das revoluções modernas. Movimentaram novas ideias, agitaram desejo de transformar valores, cortaram preconceitos. Não houve, porém, continuidades que afirmaram definições solidárias. Promessas de socialismo se burocratizaram. Amargamos totalitarismos violentos, enquanto se esperava a liberdade. Quem não se lembra das mortes nas guerras mundiais? Os imperialismo não se foram. Stalin ajudou, de forma clara, a derrotar o nazismo, porém a União Soviética conviveu com opressões epidêmicas. Portanto, sonhos se desfizeram e pessimismos se firmaram.
Hoje, o capitalismo se  amplia. arma-se de sofisticações, conta com anúncios de felicidades  promovidos pelos projetos de  parte da imprensa imprensa. Fala-se  numa reforma mágica, sem mostrar suas ligações  com a concentração da riqueza. A revolução ganhou o território da nostalgia. Na práticas as sociabilidades atuais terminam amassando qualquer mudança solidária. A sociedade das massas delirantes se inquieta nas promoções comerciais. Elegem o reino da mercadoria. O reforço ao individualismo está em todas as esquinas e desfaz articulações sociais. Passividades vestam comportamentos e escolhemos lideranças para nos proteger totalmente desconectadas.Tropeçamos, muitas vezes involuntariamente.
O limite está dado. Nunca a história passou por impasses tão drásticos, apesar da multiplicidade de invenções, das inúmeras descobertas científicas, das rebeldias que tentam furar as portas da desigualdade.Não é sem razão que o número de suicídios aumenta e as terapias alternativas se expandem e ampliam seus jogos de saberes. Mas há estragos que intimidam a coragem, soltam atmosferas nubladas, deprimem. Será que há destinos que nos  condenam a não fugir dos labirintos? A história precisa de navegar talvez, em turbulências, para alcançar outros tempos. o futuro não deixa de acenar com enigmas.Inquieta.

Paulo Rezende/ A astúcia de Ulisses

Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 22 de maio de 2019

A vida dos negros na Alemanha nazista


foto de garota negra cercada por garotas brancas, usada em palestras sobre genética na Academia Estadual de Raça e Saúde em Dresden, Alemanha, 1936.Direito de imagemBIBLIOTECA DO CONGRESSO AMERICANO
Image captionFoi a partir de uma fotografia que a cineasta britânica se interessou em contar a história dos negros na Alemanha
A cineasta britânica-ganense Amma Asante se deparou, por acaso, com uma fotografia antiga, tirada na Alemanha nazista, de uma garota negra vestindo uniforme escolar. Diferentemente das colegas brancas que encaram a câmera, ela desvia o olhar.
A foto despertou a curiosidade de Asante, que quis saber mais sobre a garota.
A imagem a levou a escrever e dirigir o longa Where Hands Touch (Onde Mãos Tocam, em tradução livre), estrelado por Amandla Stenberg (Mentes Sombrias) e George MacKay (Capitão Fantástico), que está chegando aos cinemas na Europa.
O filme é um relato imaginário do relacionamento secreto de uma adolescente mestiça com um membro da Juventude Hitlerista, mas é baseado em registros históricos.
Durante o regime nazista, de 1933 a 1945, o número de alemães com origem africana vivendo no país chegou à casa dos milhares.
Ao longo do tempo, eles foram proibidos de se relacionar com pessoas brancas e impedidos de ter acesso a educação e a alguns tipos de trabalho. Alguns chegaram a ser esterilizados; outros foram levados a campos de concentração.

'Descrença e desconsideração'

A história desses alemães negros ou mestiços ainda é pouco conhecida. Asante levou quase 12 anos trabalhando no filme.
"Há uma espécie de descrença, de desconfiança e questionamento, uma tendência a dar pouca importância às vidas difíceis que essas pessoas levaram", disse ela à BBC, ao comentar a reação que observou de algumas pessoas quando falava sobre sua pesquisa para o filme.
Amandla StenbergDireito de imagemSPIRIT ENTERTAINMENT
Image captionA atriz Amandla Stenberg interpreta Leyna no filme 'Where Hands Touch'
A comunidade africana-alemã tem suas origens no curto período do Império Colonial Alemão que, entre 1883 e 1919, administrou territórios em diferentes continentes. Marinheiros, funcionários, estudantes ou pessoas do mundo do entretenimento de regiões que hoje constituem países como Camarões, Togo, Tanzânia, Ruanda, Burundi e Namíbia foram parar na Alemanha.
Quando a Primeira Guerra Mundial começou em 1914, essa população que antes era transitória se assentou na Alemanha, segundo o historiador Robbie Aitken. E alguns soldados africanos que lutaram pela Alemanha na guerra também se instalaram no país europeu.
Mas foi um segundo grupo cuja presença acabou alimentando o temor dos nazistas relacionado à miscigenação.
Como parte do tratado assinado depois da derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial, as tropas francesas ocuparam a Renânia, no oeste da Alemanha. Para policiar essa área, a França usou pelo menos 20 mil soldados do seu império na África, principalmente do norte e oeste do continente africano. Alguns deles acabaram tendo relacionamentos com mulheres alemãs.

Caricaturas racistas

O termo pejorativo "bastardos da Renânia" foi cunhado na década de 1920 para se referir às cerca de 800 crianças mestiças, filhas de alemãs com os soldados de origem africana.
O termo estava diretamente ligado ao temor que muitos tinham da miscigenação, de por em risco a "pureza" da raça alemã. Histórias inventadas e caricaturas racistas de soldados africanos como predadores sexuais circulavam na época, alimentando o medo e o ódio ao "estranho".
recorte do jornalDireito de imagemROBBIE AITKEN
Image captionManchete do jornal Frankfurter Volksblatt em 1936: "600 bastardos"
Enquanto o antissemitismo ocupava um lugar de destaque no coração da ideologia nazista, o livro Mein Kampf, ou "Minha Luta", do líder do Partido Nazista Adolf Hitler, trazia uma linha ligando judeus a negros.
"Foram e são os judeus que estão trazendo os negros à Renânia sempre com os mesmos pensamentos secretos e objetivo claro de arruinar a odiada raça branca pela resultante 'bastardização'", escreveu Hitler na obra publicada em 1925 com suas ideias e crenças.
Uma vez no poder, a obsessão nazista com os judeus e a purificação da raça levou, gradualmente, ao Holocausto e ao extermínio de seis milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial, além do extermínio de ciganos, de pessoas com deficiências e de algumas etnias eslavas.
O historiador Robbie Aitken, que pesquisa a vida dos alemães negros, diz que esse grupo também foi perseguido, ainda que não da mesma forma sistemática dedicada à perseguição de judeus, por exemplo.
Aitken diz que os negros acabaram sendo assimilados pela "radicalização da política racial" dos nazistas.

'Me senti meio-humano'

Em 1935, foram aprovadas as Leis de Nuremberg (legislação antissemita promulgada pelo regime nazista) que proibiam, por exemplo, casamento entre alemães e judeus. Emendas estenderam a proibição, colocando negros e ciganos na mesma categoria dos judeus.
O medo da miscigenação persistiu e, em 1937, crianças mestiças da Renânia foram submetidas à esterilização forçada.
Heinrich HimmlerDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionEm 1943, Heinrich Himmler queria um censo para contabilizar quantos negros e mestiços moravam na Alemanha
Estima-se que pelo menos 385 pessoas foram esterilizadas. Hans Hauck, filho de um soldado argelino e de uma alemã branca, é um deles. Ele deu um depoimento ao documentário Hitler's Forgotten Victims (As Vítimas Esquecidas de Hitler) de 1997.
Ele contou como foi levado, em segredo, para fazer uma vasectomia. Ganhou um certificado de esterilização que o permitia trabalhar. Hauck precisou também assinar um acordo declarando que não se casaria ou teria relações com pessoas "de sangue alemão".
"Era deprimente e opressivo", disse aos documentaristas. "Me sentia meio-humano", completou.
Outra vítima, Thomas Holzhauser, também declarou no documentário: "Às vezes, fico feliz por não ter tido filhos. Pelo menos os poupei da vergonha de viverem comigo".
Foram muito poucas as pessoas que falaram sobre sua experiência enquanto estavam vivas e "não houve muita tentativa de revelar o que eventualmente aconteceu com a maioria delas", diz o historiador, que é um dos poucos acadêmicos que se dedicaram ao tema.
"Vale a pena lembrar de que os nazistas também destruíram, de propósito, muitos documentos pertencentes aos campos e relacionados à esterilização, dificultando reconstruir o que aconteceu com grupos e indivíduos", explica Robbie Aitken.
Acredita-se que o homem à direita nesta foto do campo de concentração de Dachau seja Jean Voste, nascido no Congo, que foi o único prisioneiro negro no campo. Cortesia de Frank Manucci.Direito de imagemMUSEU DO HOLOCAUSTO DOS EUA
Image captionJean Voste (direita), teria nascido na colônia belga no Congo e seria o único prisioneiro negro do campo de concentração de Dachau
A cineasta Amma Asante, que também escreveu e dirigiu Belle (2013) e A United Kingdom (2016, lançado no Brasil sob o título Um Reino Unido), diz que muitas dessas pessoas sofreram crises de identidade. Eles tinham mães alemãs, se viam como alemães, mas foram isolados, jamais abraçados de forma plena pela sociedade alemã.
"As crianças estavam habitando dois lugares ao mesmo tempo. Dentro e fora", disse Asante.
Ainda que submetidos a experiências diferentes, negros e mestiços foram perseguidos na Alemanha comandada pelos nazistas.
A Alemanha da era colonial, especialmente a tentativa de genocídio dos povos herero e nama na Namíbia, já tinha reforçado uma visão negativa dos africanos na Alemanha.
Depois que Hitler assumiu o poder, negros passaram a ser assediados, humilhados em público, impedidos de trabalhar em certos empregos e de estudar.
Houve, contudo, alguma resistência. O mestiço Hilarius Gilges era um agitador comunista e antinazista. Ele foi sequestrado e assassinado em 1933.
Quando a Segunda Guerra começou, em 1939, negros e mestiços passaram a se precaver mais porque poderiam ser levados à esterilização ou prisão, ou até ser assassinados.

Tentando ser invisível

Era isso o que temia Theodor Wonja Michael. Filho de um camaronês e de uma alemã, ele nasceu em Berlim em 1925. Numa entrevista à rede alemã Deutsche Welle, em 1997, ele contou que cresceu aparecendo em exibições etnográficas itinerantes .
"Com grandes saias, bateria, dança e música - a ideia era que as pessoas se apresentassem como atrações de um mundo distante exótico", disse ele. "Basicamente, era apenas um grande show."
Quando os nazistas assumiram o poder, Wonja Michael sabia que tinha que ser "invisível", passar o mais despercebido possível, especialmente quando era adolescente. "Claro que com um rosto como o meu jamais poderia desaparecer completamente, mas tentei".
Ele conta que evitava qualquer tipo de contato com mulheres brancas. "Teria sido horrível, teria sido esterilizado e também poderia ter sido acusado de contaminação racial", disse Wonja Michael à Deutsche Welle.
Amma AsanteDireito de imagemPA
Image captionA cineasta britânica Amma Asante, de 49 anos, tem origem ganesa, e demorou 12 anos para levar aos cinemas a história dos negros na Alemanha nazista
Em 1942, Heinrich Himmler, considerado um dos arquitetos do Holocausto, determinou que fosse feito um estudo estatístico dos negros vivendo na Alemanha. Isso poderia indicar o início de um possível plano de extermínio - que nunca foi executado.
Há indício de que cerca de 20 negros alemães foram parar em campos de concentração na Alemanha.
"Pessoas simplesmente desapareceriam e não se sabe o que aconteceu com elas", afirmou Elizabeth Morton no documentário Hitler's Forgotten Victims. Os pais dela comandavam um grupo de entretenimento africano.
No filme Where Hands Touch, a cineasta britânica tenta jogar luz nessas histórias. Amma Asante, de 49 anos, tem origem ganense e diz sentir que o papel e a presença de pessoas da diáspora africana na Europa são sempre deixados de fora da história.
Ela afirma que o filme dela fará com que seja difícil negar que negros sofreram nas mãos dos nazistas. "Acho que tem muita ignorância e atualmente se subestima muito o que essas pessoas passaram", diz Asante.
Where Hands Touch está sendo exibido nos cinemas no Reino Unido e também pode ser visto em serviços de streaming.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Exterminadores do futuro:Transporte escolar, livros didáticos e outros programas sob impacto do bloqueio de verbas na educação básica


Estudante em Joinville, em foto de arquivoDireito de imagemANDRÉ NERY/MEC
Image captionMunicípios começam a sentir impactos de contingenciamento de gastos no MEC
O ensino superior foi o mais afetado pelos bloqueios de gastos anunciados no Ministério da Educação (MEC), mas áreas da educação básica e infantil - apontadas como prioritárias pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL) - também sofrerão com o contingenciamento de recursos na pasta.
Em participação no Plenário da Câmara dos Deputados na quarta-feira, 15, dia de protestos nacionais pela educação, o titular do MEC, Abraham Weintraub, afirmou que trata-se de uma contenção temporária de gastos ("até o país decolar") e que o governo cumprirá seu plano de concentrar seus esforços nas creches, ensino básico e técnico.
Especialistas em educação, porém, afirmam que os bloqueios podem impactar diretamente programas e ações em andamento em escolas brasileiras, com efeito direto nos municípios, principalmente em áreas remotas ou carentes.
Segundo dados do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi) tabulados pela ONG Contas Abertas, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), autarquia do governo que tem como função transferir recursos para a educação básica de Estados e municípios e funciona como uma espécie de agência de fomento do cotidiano escolar, teve congelado quase R$ 1 bilhão de seu orçamento de R$ 4,7 bilhões para 2019.
Dentro do FNDE estão programas que financiam, em nível municipal, desde livros didáticos até o transporte escolar, auxílio à formação de professores e incentivo à construção de creches
Na Câmara, Weintraub afirmou que a educação básica foi esquecida pelo governo federal nos últimos anos. "A educação essencial, a básica, é o ponto fraco do Brasil. A gente está abaixo da meta estabelecida no Plano Nacional de Alfabetização (PNA). Quem fica de fora da creche são as crianças mais pobres, parte da sociedade mais vulnerável", disse.
O ministro atribuiu a responsabilidade dos bloqueios às gestões anteriores de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB). "Não somos responsáveis pelo desastre da educação, não votamos nele."
ônibus escolar, em foto de arquivoDireito de imagemANDRÉ NERY/MEC
Image captionPrograma de transporte escolar é um dos que sofreram bloqueio de verbas
O governo Bolsonaro, como os antecessores, suspendeu temporariamente o gasto de verbas em busca de equilíbrio fiscal enquanto a situação do país não melhora. Caso o Executivo termine o ano com um deficit maior do que o previsto no Orçamento (R$ 139 bilhões) sem autorização do Congresso, os governantes podem responder por crime de responsabilidade fiscal.
Por outro lado, se a situação fiscal melhorar, o governo afirmou que poderá liberar verbas.
As medidas causaram reação também no Congresso. "A queixa maior, a grande apreensão entre os parlamentares é a ausência de um plano para a educação. Esse ministro só fala em cortar. Não tem ação propositiva. A gente não consegue nem avaliar porque não há nada proposto. É a primeira vez que eu vejo um ministro que defende, que pede cortes em sua área", afirmou à BBC News Brasil o deputado federal Idilvan Alencar (PDT-CE), que faz parte da Comissão de Educação da Câmara e já presidiu o FNDE e o Conselho Nacional de Secretários da Educação (Consed).
Ainda durante a sabatina na Câmara, Weintraub afirmou que buscará que os recursos do fundo da Lava Jato (com dinheiro recuperado dos esquemas de corrupção) sejam parcialmente destinados à educação.
A BBC News Brasil procurou o MEC acerca dos impactos dos bloqueios em programas ligados ao FNDE e aguarda retorno.

Transporte escolar

O bloqueio de verbas do programa Caminho da Escola, destinado a renovar, padronizar e ampliar a frota de veículos escolares no país, atingiu 82% da soma autorizada em 2019 (R$ 23 milhões de R$ 29 milhões), segundo os dados tabulados pela Contas Abertas.
Estudo feito em parceria com a Universidade Federal de Goiás indica que esse programa levou à redução da idade média dos veículos (9,3 anos no Nordeste e 6,7 no país, por exemplo). Mas a frota ligada ao Caminho da Escola se aproxima de dez anos de uso e precisa também ser renovada.
Segundo gestores e professores, os dois principais benefícios do programa são a garantia do acesso à educação e a redução da evasão escolar.
Abraham Weintraub em convocação na CâmaraDireito de imagemLUIS MACEDO/CÂMARA DOS DEPUTADOS
Image captionAbraham Weintraub em convocação na Câmara nesta terça; ministro afirmou que foco do governo será educação básica e infantil
Para Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional Pelo Direito à Educação, esse é o tipo de repasse que, quando não é feito, pode inviabilizar a ida à escola de crianças em áreas remotas ou sem estrutura de transporte público.
"O problema concreto é que o direito à educação acontece em todo o ano letivo. Se não tem transporte escolar, praticamente inviabiliza-se a escolaridade de muitas crianças", afirma Cara à BBC News Brasil.

Livros didáticos

A produção, compra e distribuição de livros didáticos teve congelados R$ 144 milhões de seu orçamento de R$ 1,9 bilhão (ou 7,6% do total) dentro do FNDE.
No município cearense de Sobral, "recebemos a notificação de que vão chegar apenas 25% dos livros didáticos para reposição. Isso é um problema principalmente nas turmas de Fundamental I (primeira à quinta série), quando os livros didáticos são consumíveis (não são reaproveitados de um ano para o outro)", diz à BBC News Brasil o secretário municipal de Educação, Herbert Lima.
"Não vai dar nem para a metade dos alunos. Nossa rede é mais estruturada e faz aquisições de livros didáticos de outros lugares, mas para a grande maioria dos municípios isso vai ser um grande problema."
Lima afirma que os municípios têm tido dificuldade de interlocução com o MEC, para saber se alguns pontos do contingenciamento serão pontuais ou permanentes. "O valor pré-fixado que recebemos para alimentação escolar veio menor, por exemplo, e sem nenhuma explicação. Como não há interlocução, há insegurança nos municípios."
Livro didáticoDireito de imagemANDRÉ NERY/MEC
Image captionMunicípio cearense afirma que recebeu menos livros didáticos do que o esperado

Educação infantil e de jovens adultos

Programas de apoio à implementação e manutenção de creches dentro do FNDE também tiveram recursos congelados - R$ 21 milhões, de um total de R$ 125 milhões divididos em duas rubricas.
O apoio ao funcionamento da Educação de Jovens e Adultos (EJA, voltado a pessoas que não concluíram os ensinos fundamental e médio na idade correta) teve congelamento de R$ 14 milhões, ou cerca de 40%.
Para Daniel Cara, um dos grandes problemas da descontinuidade do financiamento da educação básica é que a medida pode, na prática, acabar com muitos dos projetos do MEC. "Reconstruí-los exigirá novas contratações e tramitações, o que é muito difícil", diz.

'Dificuldades de planejamento' e Fundeb

Questionado a respeito da importância de o MEC otimizar e priorizar gastos em momentos de crise, Cara diz que, de fato, "sempre é possível racionalizar".
"Mas não podemos fazer isso sufocando as políticas públicas. Não tem, por exemplo, como melhorar o transporte escolar acabando (com os recursos do) transporte escolar", opina.
Carlos Eduardo Sanches, assessor técnico da Campanha Nacional Pelo Direito à Educação, afirma que tem ouvido de secretários e gestores educacionais dificuldades em acessar os fundos do FNDE, "gerando atrasos, por exemplo, em pagamentos de obras de creches".
E, para além do FNDE, secretários dizem que outro obstáculo é planejar seu orçamento, pela ausência de diretrizes claras.
Valmir Nogueira, secretário de Educação em Paragominas (PA), afirma que os repasses do FNDE ao município ainda estão em dia, mas em contrapartida vieram menos recursos do que o esperado do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica, de onde vem a maior parte do dinheiro que financia escolas públicas em Estados e municípios) para o Estado.
"Sem esse complemento, como vamos ficar? O impacto é brutal, e em alguns municípios o risco é não haver dinheiro para pagar a folha (de professores). Aqui estamos contingenciando despesas de combustível, transporte, contratos de manutenção."
O modelo de financiamento do Fundeb expira (por lei) no ano que vem, e ainda não há uma definição oficial de se ele será prorrogado ou substituído. Cecilia Motta, secretária de Educação do Mato Grosso do Sul e presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Conseg), afirma que essa é a principal preocupação dos gestores educacionais, porque "o Fundeb é a garantia do direito à educação".
Segundo nota do MEC de 6 de maio, o secretário-executivo do MEC Antonio Paulo Vogel afirmou que a pasta busca subsídios para auxiliar o Congresso a redigir uma emenda constitucional sobre o Fundeb, "como fruto de um diálogo entre governo, sociedade civil organizada e especialistas em educação".


A BBC News Brasil questionou o MEC se há algum contingenciamento no Fundeb em vigor no momento e aguarda o retorno da pasta.
DE:Paula Adamo Idoeta e Matheus Magenta
Professor Edgar Bom Jardim - PE