quarta-feira, 4 de julho de 2018

Descoberta supercola feita com bagaço de cana em centro de pesquisa brasileiro

Cola sustentável colocada em recipienteDireito de imagemFELIPE SOUZA/BBC NEWS BRASIL
Image captionCola inventada por duas pesquisadoras é feita com látex, bagaço de cana e lignina
"Gente, está muito difícil tirar essa fórmula dos equipamentos. Eu tento lavar, mas fica tudo grudado nas hélices". Foi assim que Naima Orra, na época estagiária do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas, identificou uma textura pegajosa, que se tornou depois de um mês de pesquisa uma cola atóxica feita a partir de bagaço de cana-de-açúcar e materiais descartados por empresas de celulose.
Depois de ouvir o relato de Orra, a pesquisadora do Laboratório Nacional de Nanotecnologia Rubia Figueiredo Gouveia decidiu orientar a estagiária em uma pesquisa específica para aprimorar o estudo e criar uma nova cola. Um mês depois, as duas chegaram à fórmula final, patenteada no Brasil este ano. A cola sustentável brasileira poderá ser registrada no exterior em 2019 sob a autoria das duas pesquisadoras - Naima Orra, hoje, faz mestrado na França.
Caso a patente seja comercializada, metade do dinheiro arrecadado será destinado ao fundo de inovação da organização social CNPEM; os outros 50%, divididos entre as inventoras.
Além de ter a mesma eficiência de outras colas já comercializadas atualmente, a nova fórmula é feita a partir da simples mistura de três ingredientes: látex, nanocelulose e lignina.
Rubia Figueiredo GouveiaDireito de imagemDIVULGAÇÃO CNPEM/GUSTAVO MORENO
Image caption'Reaproveitar o que seria descartado é sustentável e ainda deve baratear a produção', diz pesquisadora Rubia Gouveia
"Uma das vantagens é que esses dois últimos elementos são muitas vezes descartados em larga escala por indústrias de papel e refinarias de cana-de-açúcar. Reaproveitar o que seria descartado é sustentável e ainda deve baratear a produção", afirmou Rubia Gouveia em entrevista à BBC News Brasil.
A pesquisadora afirma que a cola pode beneficiar uma cadeia de indústrias que usam o produto, como a automobilística, de móveis, construção civil e brinquedos. Dos três materiais usados em sua produção, o látex deve ser o único que ainda continuaria sendo extraído árvores, principalmente de seringueiras.
Já a nanocelulose é obtida em larga escala hoje no Brasil a partir de árvores de eucalipto. Para a produção da nova cola, porém, a substância foi extraída do bagaço de cana.
A lignina é obtida a partir de um líquido chamado de "licor negro", comumente descartado em indústrias de papel, exceto as mais modernas, que costumam usar a substância para a produção de energia. Para isso, é necessário cozinhar a substância com soda em alta temperatura e pressão.

Produção em larga escala

Fabiano Rosso, gerente de pesquisa do Projeto Lignina da Suzano Papel e Celulose, a maior produtora de papéis de imprimir e escrever da América Latina, disse que uma fração de 3% da lignina produzida pela fábrica da empresa em Limeira, no interior de São Paulo, deve ser separada a partir deste semestre, purificada, modificada, transformada em uma resina e vendida para fábricas de madeira e MDF.
O número equivale a cerca de 20 mil toneladas. O restante continuará sendo queimado, como hoje, para virar vapor, alimentar uma turbina e produzir energia, que abastece a indústria e ainda gera um excedente que é vendido. Caso as experiências demonstrem a viabilidade da supercola, boa parte da substância produzida pela Suzano Papel e Celulose poderia ser utilizada para este fim.
Campus do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e MateriaisDireito de imagemDIVULGAÇÃO CNPEM/RENAN PICORETI
Image captionImagem aérea do campus do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas
A notícia de que uma cola pode ser produzida a partir de lignina animou Rosso. Para ele, o ideal seria diminuir a destinação do material à produção de energia e usá-lo para fabricar de materiais com valor agregado.
"Eu não conheço essa pesquisa, mas vou procurar saber e entender sua aplicação e o que os pesquisadores estão fazendo. Eu tenho interesse não só pela aplicação, mas também pela fabricação desse produto final. Eu vejo esse como um caminho bastante viável para produzir em larga escala", afirmou Rosso.
Fábrica da Suzano Report em LimeiraDireito de imagemDIVULGAÇÃO
Image captionFábrica da Suzano Papel e Celulose produz 20 mil toneladas por ano de um dos principais produtos usados na fabricação da cola sustentável

Formaldeído

Além de vantagens econômicas e ecológicas, a cola sustentável não usa solventes químicos derivados do petróleo como a maior parte das colas usadas hoje industrialmente. O mais conhecido e prejudicial é o formaldeído, classificado como cancerígeno pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1984 e que está presente na maior parte das colas industriais, inclusive as usadas por sapateiros e vidraceiros. O odor da substância pode causar náuseas, dores de cabeça e, em casos mais graves, até mesmo alucinações e confusão mental. A cola sustentável, por sua vez, é atóxica.
O uso do formaldeído foi proibido nas indústrias dos Estados Unidos e do Canadá, as únicas que, ao lado da Suécia, também produzem lignina em larga escala.
Mas, de acordo com a pesquisadora Rubia Gouveia, a cola sustentável não tem como foco apenas uso industrial, mas também comercial, doméstico e escolar.
Teste feito com cola sustentávelDireito de imagemDIVULGAÇÃO
Image captionTeste feito com madeira mostra que pedaço colado não se rompeu ao ser forçado
"É possível fazer modificações para adequar seu uso em diferentes situações. Desta forma, a cola poderia ser usada desde indústrias automobilísticas, móveis, de tecidos a até mesmo em escolas e escritórios", afirma Gouveia.
A cola demonstrou sua potência adesiva em testes de tração feitos em laboratório. Além de colar papéis e madeiras, a cola também mostrou um alto poder de aderência em testes feitos com alumínio.
O próximo passo das pesquisadoras é fazer adaptações na fórmula e testar a cola em altas e baixas temperaturas. Também será feita uma adaptação para que ela possa colar vidros e beneficiar mais setores industriais.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Prisão da Copa:'prisão Fifa' em porão de estádio que recebe bêbados, brigões e torcedores com identidades falsas

A 'prisão da Fifa' onde Molly ficou detida por tentar entrar em estádio com identidade de amigaDireito de imagemMOLLY ZUCKERMAN
"Nunca, nunca mexa com a Fifa." É essa a lição que a americana Molly Zuckerman, de 24 anos, aprendeu na primeira semana da Copa do Mundo da Rússia, depois de ser levada a um dos espaços mais surreais que diz ter conhecido na vida.
No porão do estádio de São Petersburgo, sob os pés de uma horda de torcedores que lotavam a arquibancada e vibravam na partida entre Rússia e Egito, Molly e outras seis pessoas foram mantidas em cárcere por cinco horas, acompanhadas pelo olhar atento de dezenas de seguranças contratados pela Fifa.
O jogo começou às 21h do horário local, terminou com uma vitória por 3 a 1 para os donos da casa por volta das 23h, e Molly e seus companheiros desconhecidos continuaram presos no subsolo.
A passagem pela surpreendente "prisão da Fifa", como ela descreve, ocorreu após a americana ser flagrada tentando entrar no estádio com a identidade de uma amiga.
Grávida e sem disposição para ir à partida, a dona do ingresso ofereceu o bilhete a Zuckerman. Amigos sugeriram que ela usasse a Fan ID (identificação oficial emitida pela Fifa para o torneio) da amiga.
"Fui a vários jogos. Eles só olham a Fan ID e o ingresso. Você passa o ingresso pelo leitor digital e entra. Simples assim", disse um colega.
Zuckerman se lembrou do final da adolescência, quando entrava em festas que serviam bebidas alcoólicas com documentos falsos. "O pior que pode acontecer é me mandarem de volta para casa", supôs.
Mas a Fifa é bem diferente das matinês da cidade natal de Zuckerman na Califórnia.

Celas gradeadas

À BBC News Brasil, a Fifa confirmou a existência de áreas de detenção e celas nas arenas.
"Como parte dos arranjos gerais de segurança e padrões que se aplicam na Rússia para grandes áreas como arenas esportivas, a maioria dos estádios de futebol em nosso país é equipada com salas de detenção temporárias", disse, em nota, o Comitê Local de Organização dos Jogos.
"Estes (locais) são previstos para a possível detenção de pessoas ou torcedores indisciplinados. Pelo que sabemos, esta é também uma prática normal em muitos países ao redor do mundo", afirma o comitê, por meio de sua assessoria de imprensa.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 3 de julho de 2018

Cleiton Collins deve assumir a presidência da Alepe


Com morte do presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco, deputado Guilherme Uchoa (PSC), assume o comando da casa em forma de exercício, o primeiro vice-presidente, pastor Cleiton Collins (PP). O nome dele ainda não foi confirmado, no entanto, para a presidência. Na sucessão, aparece o segundo vice-presidente o deputado Romário Dias (PSD), partido aliado ao governo do estado. 

Já o terceiro suplente Sérgio Leite (PDT)  assume a vaga de Uchoa como deputado na Alepe. Sérgio fazia parte da coligação do PDT na época que Guilherme Uchoa foi eleito. Nesta manhã, a Alepe realizou uma reunião ordinária de abre e fecha, mas não houve expediente na casa. 

Guilherme Uchoa faleceu na madrugada desta terça (3), no Hospital Português, no Recife. Vítima de edema pulmonar e parada cardíaca, o deputado estava em seu sexto mandato e ocupava a presidência da casa, também pela sexta vez. O velório acontece nesta manhã no plentário novo da Alepe e o sepultamento será à tarde, no Cemitério de Igarassu. 

Com informações de Diario de Pernambuco

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Discute-se o impossível? O futuro se desfaz?


Resultado de imagem para futuro

O mundo está repleto de perguntas. Com sua complexidade monumental, buscam-se respostas para se evitar conflitos e produzir certezas. No entanto, as coisas se enchem de polêmicas. As notícias se modificam rapidamente. Até as teorias científicas sofrem abalos e o futuro se torna uma esfinge esquisita. Não há como cercar tantas variações diante de interesses que fogem às tradições mais antigas. O estimulo é competir e a verdade cria seu túmulo com epidemias sucessivas.
É difícil escolher um caminho. Quem aposta na linha, se recolhe, ganha os olhares da mediocridade. A sociedade fere, com as suas violências, mas não há como abandoná-la. O sujeito histórico não deve deixar de agir. Mesmo que os eventos tragam ilusões, fica sempre a dúvida se dá para viver sem ela. O importante é não ficar mudo. Trazer ruídos para desfazer silêncios apáticos é uma alternativa. A fronteira entre o possível e o impossível, talvez, inexista.
Os traços dos labirintos são frequentes. Entre num shopping center e observe como as pessoas se divertem com as mercadorias. Parece um hospício, com coloridos imensos e uma arquitetura de embriaguez. O tempo passa e as luzes não se apagam. Não há idade limite, todos amam as vitrines e matam solidões corporais. Assim. se formam lugares estranhos, porém cheios de novidades especiais para o fim de semana. Estão na moda.
Se a esquizofrenia invade o cotidiano, não tenho certeza. A diferença entre a normalidade e a loucura é um desafio. Os que se angustiam, se fecham na tarja preta. Outros eliminam seus monstros com drogas visíveis nas passagens urbanas. Estamos vivendo obstáculos que oprimem. A fuga acompanha a ousadia. No final, os demônios e os anjos fazem pactos confusos. Quem ganha, quem perde, quem levita? Tudo cai no enigma. A vida vai porque é precioso ir.
Não sinta medo. Não há tristeza que não volte. A incompletude participa, ativamente, das nossas escolhas. Falta, sempre, algum sopro, a respiração vacila. Um dia, contaremos as história das fadas e nem ligaremos para os reis e os ditadores. Sobram especulações. O futuro pode ser uma ameaça. As cinzas existem sem anular o azul. O desenho de cada um transforma-se num instante sem definição. Quem sabe se o universo não é uma brincadeira?

Por Paulo Rezende.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Garotos são encontrados com vida após 9 dias presos em caverna na Tailândia

Meninos tailandeses desaparecidos posam para fotoDireito de imagemFACEBOOK/EKATOL
Image captionGrupo entrou em uma enorme rede de cavernas há uma semana
Todos os 12 garotos e seu técnico de futebol que estavam perdidos havia nove dias em uma caverna na Tailândia foram encontrados com vida nesta segunda-feira, segundo o governo local.
Segundo as autoridades tailandesas, os meninos foram encontrados por forças especiais da Marinha local, e já estão em segurança.
Os 12 garotos de um time de futebol e seu técnico de 25 anos chegaram no início da tarde do último dia 24 à entrada da caverna Tham Luan Nang, na Tailândia. Eles prenderam suas bicicletas ao gradil, pegaram suas mochilas e entraram no local para aparentemente explorar as profundezas de uma montanha no norte do país - e não foram mais vistos desde então.
O lugar na Província de Chiang Rai é a quarta caverna mais longa da Tailândia e bastante popular por turistas e com quem vive ali por suas impressionantes formações rochosas de pedra calcária.
Primeiro, elas se abrem e formam um ambiente amplo e de teto alto, parecido com o de um grande anfiteatro, e depois dão em passagens estreitas que levam a uma rede de cavernas menores nas quais os locais dizem não ser seguro se aventurar, especialmente durante a temporada de chuvas, que normalmente começa em julho.
Algumas horas depois do grupo entrar, um guarda notou que as bicicletas ainda estavam por ali, mesmo depois do horário de fechamento do parque onde fica Tham Luan Nang.
Equipes de resgate na TailândiaDireito de imagemAFP
Image captionBombas foram usadas para drenar a água da caverna, mas chuva dificultou o trabalho
Deu-se então o início de uma angustiante busca pelos meninos, que têm idades entre 11 e 16 anos, e seu treinador. A grande mobilização de esforços comoveu o mundo em torno de uma corrente de apoio e esperança de que o grupo fosse encontrado.

Time correu risco com inundações da caverna

Enquanto estiveram dentro da caverna, o principal risco para os meninos tailandeses foram as chuvas: uma precipitação maior pode fazer o interior da caverna ser inundado em até cinco metros, por isso recomenda-se que ela seja explorada apenas entre novembro e abril, como informou um guia local à BBC.
Começou a chover não muito tempo depois que o time e seu técnico entraram, o que também dificultou o trabalho dos mergulhadores que participaram das buscas.
Logo depois da entrada do time, a chuva tornou impossível passar pela entrada principal da caverna - acredita-se que isso tenha impedido o grupo de voltar.
Equipes de resgate tentaram usar bombas industriais para drenar a água, mas o nível sobe mais rápido do que o volume que é possível retirar.
Equipes de resgate na Tailândia
Image captionA equipe de busca montou sua base no estacionamento em frente à entrada da caverna

Pegadas de esperança

Na terça-feira, foram vistas pegadas recentes dentro do complexo de cavernas, alimentando esperanças de que os desaparecidos estivessem em segurança.
Mensagens enviadas pelos garotos antes de começar a exploração indicavam que eles tinham levado lanternas e comida, mas é improvável que estivessem preparados para passar mais do que algumas poucas horas ali dentro.
No local de resgate, passados os primeiros dias, como voluntários e equipes não haviam até então conseguido encontrar uma outra entrada para a caverna, as autoridades elaboraram um plano: perfurar a pedra para criar uma passagem alternativa para o interior da montanha.
Mas a dificuldade para achar um local adequado para posicionar o maquinário pesado em meio à mata na encosta repleta de lama da montanha, e, ao mesmo tempo, garantir que as rochas ao redor não desmoronariam tornaram essa ideia impraticável.
Na última sexta-feira, foi identificada uma pequena abertura nas montanhas sobre a caverna. Especialistas britânicos entraram por meio dela e conseguiram chegar a uma profundidade de 20 metros. Policiais também a usaram para atingir uma grande câmara que ainda estava seca.

Caso mobilizou o país

A Tailândia parou para acompanhar as buscas pelos meninos. Uma hashtag que pode ser traduzida como "os estranhos que queremos conhecer mais" foi usada para transmitir a preocupação com o grupo.
Militares em resgate na TailândiaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionMilitares também foram chamados para auxiliar nos esforços de busca
Outras hashtags que se traduzem em frases como "13 vidas devem sobreviver" e "tragam para casa os jogadores Moo Pa" também foram usadas.
Na sexta-feira, o primeiro-ministro Prayut Chan-o visitou a base de resgate, no estacionamento da entrada da caverna, onde estão 840 soldados, 90 integrantes de forças especiais, quatro helicópteros, escavadores e equipamentos para situações de desastre. Familiares dos desaparecidos também estão acampados do lado de fora da caverna.
Fonte:BBC

Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 1 de julho de 2018

Copa:Conheça o professor de escola pública que fez seleção trocar pontapés por bom futebol


Durante décadas, a seleção do Uruguai carregou a fama de equipe violenta, uma herança principalmente dos jogos sanguinários realizados por Peñarol e Nacional nas Copas Intercontinentais, disputadas inicialmente pelos vencedores da Copa Libertadores e da Uefa Champions League em tensos jogos de ida e volta, um na América do Sul e outro na Europa.
 estigma só começou a ser dissipado quando a seleção celeste foi assumida, primeiro entre 1988 e 1990, e depois em 2006 até os dias de hoje, por um professor e diretor de escola pública chamado Óscar Washington Tabárez Silva.
Conhecido como El maestro ("o professor"), por ter de fato lecionado a língua de Cervantes por muitos anos em uma escola do bairro de Cerro, em Montevidéu, Tabárez é descrito como um treinador "diferenciado" por um dos jogadores que melhor lhe conhecem: o ex-zagueiro Diego Lugano, que durante anos o capitão da Celeste.
"Ele é professor de escola pública no Uruguai, vem de uma família toda de professores. É um cara muito diferenciado entre todas as pessoas que já conheci. Possui um grande vocabulário e uma cultura enorme", conta o defensor, em entrevista ao ESPN.com.br.
"Você pode falar com ele sobre qualquer tema, de qualquer parte do mundo, que com o conhecimento dele ele conversa sem problemas. O Tabárez possui o melhor vocabulário do idioma espanhol que já escutei. De todos os treinadores que já tive, sem dúvidas é o que melhor se expressa", completa.
El maestro já está há 12 anos no comando da equipe nacional de seu país, que assumiu em 2006 após ficar quatro anos parado, sem trabalhar como treinador.
Nesse tempo, teve como grande destaque a conquista da Copa América de 2011, além do 4º lugar na Copa do Mundo de 2010. Em sua primeira passagem pela Celeste, no final dos anos 80, aliás, ele já havia vencido também os Jogos Pan-Americanos de 1983.
Nesta década de trabalho, ele se notabilizou por fazer um trabalho muito sólido, mantendo a sempre presente garra charrúa, mas trocando as pancadas pelo bom futebol. Para isso, utilizou algumas habilidades e a experiência de seus tempos como diretor.
Em seu time, só jogam atletas com "valores e ética", segundo Lugano, que conhece o técnico desde março de 2006, quando foi convocado pela primeira vez por ele.
"A principal característica dele é que trouxe um projeto de institucionalização da seleção uruguaia. Ou seja, ele supervisionava tudo e tinha uma mesma forma de pensar desde a base até o profissional. E, neste processo, ele deu mais importância à formação de seres humanos", descreve o zagueiro.
"Antes de ser jogador de seleção do Uruguai, você precisa ser um bom ser humano para jogar com ele. Tabárez só convoca profissionais com valores e éticas. Isso importa mais para ele que ser um grande jogador. Se coincidirem as duas coisas, ótimo, mas essa é a ideia dele. Para estar na seleção, primeiro precisa ter esses dois requisitos: valores e ética. Se o cara é bom ou não vem depois", ressalta Lugano.
No Mundial da Rússia, o Uruguai levou um cartão amarelo e cometeu somente 33 faltas (média de 11 por partida). Neste sábadom às 15h (de Brasília), será a vez de Tabárez enfrentar o time de Portugal do técnico Fernando Santos, pelas oitavas de final da Copa do Mundo de 2018.
Resta saber qual professor irá dar uma "aula" em campo...

De zagueiro central a 'Maestro'

Antes de ser professor, Oscar Tabárez foi zagueiros de vários times pequenos e médios do Uruguai. Após pendurar as chuteiras, foi lecionar, ao mesmo tempo em que trabalhava como treinador de clubes como Bella Vista, Danúbio e Montevideo Wanderers.
Seus bons métodos lhe renderam sua primeira chance na seleção uruguaia sub-20 em 1983, com ele conquistando os Jogos Pan-Americanos com uma equipe montada em cima da hora. Aquilo chamou a atenção do gigante Peñarol, à época ainda uma grande potência sul-americana, que o contratou em 1986 para reconduzir a equipe às glórias.
No ano seguinte, os resultados já vieram, com os Carboneros vencendo a Copa Libertadores em uma final histórica contra o América de Cali-COL, decidida apenas com um gol no último minuto da prorrogação da 3ª partida - obra de Diego Aguirre, ex-atacante letal dos aurinegros e hoje técnico do São Paulo.
Em 1988, Tabárez assumiu pela primeira vez a seleção uruguaia, terminando como vice-campeão da Copa América de 1989, atrás somente do anfitrião Brasil de Romário.
Saiu em 1991, para assumir o também gigante Boca Juniors, sendo campeão argentino e da extinta Copa Masters da Conmebol em 1992, batendo o Cruzeiro por 2 a 1 na final.
Depois, El maestro se aventurou na Europa, comandando times como Cagliari-ITA e Oviedo-ESP. Seu maior feito foi ter chegado ao poderoso Milan, em 1996, mas ele não teve muito sucesso e acabou substituído após alguns meses pelo lendário Arrigo Sacchi.
O uruguaio voltou em 2001 à América do Sul, para comandar o Vélez Sarsfield-ARG, passando em seguida mais uma vez pelo Boca, em 2002, desta vez sem tanto sucesso.
Após ser demitido do clube de Buenos Aires, Tabárez "se aposentou" como treinador e ficou quatro anos apenas atuando como professor. Em 2006, porém, foi chamado para tentar resgatar as glórias da Celeste, assumindo a equipe que não havia conseguido se classificar para três das últimas quatro Copas do Mundo.
O comandante arregaçou as mangas e topou, aplicando imediatamente o "Processo de institucionalização de seleções e formação de seus futebolistas", criado por El maestro e citado acima por Lugano.
Esse método unificou os treinamentos de todas as seleções de base com a principal do Uruguai, colocando a formação 4-3-3 como padrão e criando janelas de tempo para os jogadores estudarem tática e entenderem melhor as ideias de seu comandante.
Hoje, 10 dos 11 jogadores mais convocados da história do Uruguai participaram de "El proceso", como ficou conhecido o método que tirou a Celeste Olímpica da ruína e a fez voltar a ser temida no futebol mundial, tanto em competições oficiais quanto de base.
"Ele é 100% gestor. Neste aspecto, é um dos melhores do futebol mundial. Já como treinador, não é de inventar. Ele estuda e se atualiza, mas não é inovador. Não é um Mourinho ou um Guardiola. É muito mais pragmático", salienta o defensor.
No gerenciamento do grupo, destacam-se sempre a calma e a educação.
"No dia a dia, ele é muito respeitoso. Em 11 anos, nunca escutamos uma palavra ruim dele. Ao contrário: nos momentos mais tentos e difíceis, sempre usou palavras justas, que acabam tranquilizando o jogador", relata o ex-capitão da seleção.
"Mas ele é muito firme. Muito firme mesmo! Sem nunca levantar a voz ou faltar com o respeito, mas é muito claro mesmo tomando decisões difíceis. E ele já tomou muitas na seleção. Todo mundo o respeita muito, tanto os que já jogaram, os que seguem jogando ou os que não tiveram oportunidade, pois Tabárez trata a todos com igualdade", acrescenta.

Tabárez quase tirou a faixa de Lugano

Como nos tempos de professor, Oscar Tabárez também é disciplinador quando necessário. Diego Lugano sentiu bem isso quando quase teve sua faixa de capitão retirada pelo técnico.
"Em 2007, quando eu estava jogando no Fenerbahce, participei de uma briga em um clássico contra o Galatasaray. Fui um pouco responsável (pela briga), e nessa época já era capitão do Uruguai. E se tinha algo que ele proibia era que um jogador da seleção deixasse esse tipo de imagem: de brigão, que não dá bom exemplo para o clube, para a sociedade e para o espetáculo", lembra o atleta, que jogou cinco anos pelo Fener.
"Eu achava que não tinha nada a ver uma coisa com a outra, né? Mas ele me ligou e me chamou a atenção. Disse que não tinha me escolhido para ser o capitão desse projeto dele para depois eu dar um exemplo desses em campo. Aí falou que iria pensar se eu era mesmo o cara indicado para cumprir a função mais importante do projeto dele. Ele quase me tirou a faixa, mas por sorte veio outra oportunidade depois e eu agarrei. Mas essa convicção, esse estilo dele, faz a diferença em muitos aspectos. Eu respeito muito", elogia.
Além do pragmatismo tático e do cuidado com a disciplina e o bom exemplo, Tabárez ainda exige que os jogadores estudem para se expressar melhor. De acordo com Lugano, ele já chegou a comemorar mais um prêmio acadêmico do que uma vitória charrúa.
Aconteceu em 2010, quando o Uruguai voltou da Copa de 2010, na África do Sul, com o 4º lugar. A seleção recebeu uma comenda da Real Academia Española, instituição fundada em 1713 e que tem como função a preservação do idioma espanhol, principalmente na elaboração de dicionários e concursos mundiais de literatura, poesia e textos em geral.
"Quando voltamos, ele me mostrou um prêmio que a gente tinha recebido, que reconhecia o Uruguai como seleção que melhor se expressou no Mundial. Ele falou isso com uma alegria enorme no rosto e na maneira de falar. Muito maior do que se tivéssemos ganho um jogo importante ou que fosse um prêmio por resultado esportivo", contou.
"Ele vê no nosso time algo muito além do esporte. É uma meta e uma obrigação que ele sente fazer a seleção representar de verdade o seu país. Eu nunca o vi tão alegre quanto no dia em que recebeu aquele prêmio. Nem na conquista da Copa América!", observa.

'Se não treinou, não vai jogar'

Outro fator da personalidade de Óscar Tabárez que chama a atenção para Lugano é sua incrível tranquilidade para lidar com qualquer tipo de situação, nas vitórias e nas derrotas.

"Claro que ele fica muito feliz quando ganhamos, mas acho que fica mais feliz por nós. Ele é uim cara que não é de fazer alarde na vitória e nem drama na derrota. É muito equilibrado. Em 10 anos, já passamos por muitos momentos difíceis, como eliminatórias, e êxtases como a Copa América e a Copa do Mundo. Para cada momento, sempre tinha palavras justas e coerentes. Ele te segura na empolgação, e te levanta na tristeza", elogia.
As palavras "justas e coerentes" muitas vezes também são duras, como o próprio Lugano ouviu durante a Copa do Mundo de 2014, no Brasil, quando sentiu dores em meio ao torneio e acabou não jogando por opção de Tabárez, que seguiu sua coerência de sempre.
"Depois do jogo contra a Costa Rica, fiquei com uma dor muito grande no joelho e pedi para ficar três dias no departamento médico para tentar jogar na partida seguinte. Pedi para ele três dias de repouso. Ele disse que permitia, mas que eu iria perder o lugar no time, porque eu tinha que treinar com o restante do grupo para jogar", recorda.
"Para Tabárez, tem que treinar no mínimo quatro dias antes do jogo. Eu expliquei que havia jogado no dia anterior, que era o capitão há 10 anos e merecia essa exceção. Ele respondeu que não. Disse: 'Diego, aqui todos são iguais. Não posso abrir mão das leis do grupo por ninguém, nem você neste caso especial. Se você não pode treinar, não vai poder jogar. Muito fácil, sem mistério. Jogará um companheiro seu'. Técnico falar que trata todo mundo igual é fácil. Palavras qualquer um consegue dizer. Mas dar exemplo, como ele dá, é difícil", exalta.
Lugano também contou com Tabárez como "psicólogo" quando pensou recentemente em se aposentar da seleção uruguaia.
"Logo depois da Copa do Mundo, perguntei a ele: 'Óscar, está na hora de eu deixar de ser capitão, não é? Já faz 10 anos... Acho que já cumpri meu ciclo e tenho que deixar isso para os mais novos, não?'. Ele respondeu: 'Você pensa isso ou só quer escutar palmas e elogios? Se você quer deixar de ser capitão e jogar pelo Uruguai, a decisão é sua. Eu ainda acho que você tem muito a fazer. Agora, se quiser escutar elogios e palmas no seu ouvido, e que falem de você, tudo bem... Quem escolhe é você'", rememora o são-paulino.
"Então, ele me falou que o tempo passa e as novas gerações fazem com que você fique de fora da seleção. É a lei da vida. Mas falou para eu não forçar isso. Foi mais uma lição de vida que eu tive. Eu entendi que o processo natural é a seleção deixar você, não você deixar a seleção. Muitos abandonam a seleção antes de deixarem de ser convocados, por questão de orgulho pessoal. E eu quase fiz isso", admite.
El maestro o convenceu do contrário, e o ex-defensor do São Paulo ficou à disposição do time Celeste até sua aposentadoria, em 2017.
"Ele me fez questionar a mim mesmo. 'Você sente que pode jogar mais ou está querendo ouvir elogios, com medo de que seu momento final chegue?'. Então, eu mudei minha postura publicamente. É claro que aconteceu o processo natural e apareceram outros mais novos que pegaram minha antiga vaga. O treinador entendeu isso, pois sabia que eu não chegaria em condições competitivas na Copa de 2018, e deu prioridade a outros", explica Lugano.
Esta foi a última lição de maestro Tabárez ao seu antigo capitão.
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Professor Edgar Bom Jardim - PE