domingo, 3 de setembro de 2017

Ideia dos Brics 'perdura', mas Brasil e Rússia foram 'grandes decepções', diz criador dos Brics

Jim O'NeillDireito de imagemGETTY IMAGES
Image caption'A ideia dos Brics perdura, mas Brasil e Rússia foram grandes decepções', disse O'Neill
Há 16 anos, o britânico Jim O'Neill, então executivo do banco de investimentos Goldman Sachs, cunhou um termo que se consolidaria como um novo verbete no dicionário de economistas ao redor do mundo: Bric, o grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China (mais tarde, Brics, com a adesão da África do Sul).
A menção à sigla constava de um estudo no qual O'Neill assinalava a importância cada vez maior desses países, sobretudo, da China, para o crescimento da economia mundial.
No entanto, os últimos anos não foram muito prósperos para os Brics, levando muito especialistas a colocar em xeque o futuro do bloco. De um lado, Brasil e Rússia desapontaram e têm registrado crescimento bem abaixo da média mundial. De outro, ainda que continue alto, o desempenho da própria China arrefeceu.
Em entrevista à BBC Brasil, O'Neill reconhece os desafios que os Brics enfrentam, mas se mantém otimista quanto ao futuro do grupo.
"A ideia dos Brics perdura, mas Brasil e Rússia foram grandes decepções", diz ele.
Questionado se, como investidor, aplicaria dinheiro no Brasil, O'Neill desconversa: "Parei de trabalhar em período integral no setor financeiro há mais de quatro anos e meio. Então, não penso tanto nisso quanto pensava no passado. Mas acredito ser perigoso, especialmente em relação ao Brasil, supor que tudo continuará igual".
"O forte apetite dos investidores por ativos brasileiros sugere que o Brasil está mais perto do fim do que do começo de seus tempos particularmente problemáticos", acrescenta.
Neste domingo, o presidente Michel Temer participa do 1º dia da cúpula dos Brics, realizada neste ano em Xiamen, no sudeste da China.
Confira a seguir os principais trechos da entrevista.
BBC Brasil: Faz 16 anos que o Sr. cunhou o termo BRIC (mais tarde, BRICS), dizendo que esses países se tornariam as economias de maior crescimento do mundo em 2050. Mas esse cenário pode não se materializar. Por quê?
O'Neill: Isso não é verdade. Pelo contrário, por causa da imensa importância da China, e também de seu desempenho, é bem provável que o tamanho total dos Brics seja maior do que o do G7 (grupo das economias mais ricas do mundo) por volta de 2035 ou 2037, dentro das nossas previsões. Se você olhar para trás, isso só seria possível por causa do provável tamanho futuro da China. E não houve mudança. Hoje, a economia da China é maior do que as economias de Brasil, Índia e Rússia somadas, e já quase representa o dobro delas.
Temer na China
Image captionNa China, presidente Temer defendeu programa de privatizações. Foto: Marcos Corrêa
Sabemos que o crescimento do PIB indiano nos últimos dois anos foi maior do que o do chinês, e que o país deve crescer mais do que a China no restante da década. Mas até o fim deste ano, a China deverá criar o equivalente a uma nova Índia. Nem a Índia nem a China vêm decepcionando. Não podemos dizer o mesmo do Brasil e da Rússia. Os dois países foram grandes decepções nesta década.
Os problemas econômicos de cada um são diferentes e estão atrelados a várias razões, mas se há um problema comum, é a chamada doença holandesa. Brasil e Rússia são muito dependentes do preço das commodities (matérias-primas). Quando esses preços caem fortemente, esses países sofrem. Foi justamente o que aconteceu na última década. Ambos precisam diversificar e reduzir o papel das commodities nas suas economias.
BBC Brasil: Falando do Brasil, o país vem decepcionando investidores ao redor do mundo. De "queridinho" dos mercados financeiros, o Brasil tem tido dificuldades para sair da pior crise em sua história recente. Em resumo, o que deu errado com o Brasil?
O'Neill: Isso não é verdade. Nos últimos 12 meses, o mercado brasileiro tem estado entre os mais fortes no mundo. O real se fortaleceu. Vejo que os investidores percebem o valor do Brasil e consideram que sua longa e profunda recessão está chegando ao fim. Espero que isso possa se tornar realidade, e o Brasil possa voltar a um caminho de crescimento sustentável, um caminho que seja mais forte do que o anterior. O país precisa estimular o investimento privado, especialmente fora da indústria de commodity.
BBC Brasil: O Sr. trabalhou para um banco de investimento durante muitos anos. O Sr. apostaria no Brasil agora?
O'Neill: Parei de trabalhar em período integral no setor financeiro há mais de quatro anos e meio. Então, não penso tanto nisso quanto pensava no passado. Mas acredito ser perigoso, especialmente em relação ao Brasil, supor que tudo continuará igual. O forte apetite dos investidores por ativos brasileiros sugere que o Brasil está mais perto do fim do que do começo de seus tempos particularmente problemáticos.
BBC Brasil: Como o Sr. vê a importância dos Brics atualmente?
O'Neill: Claramente, a ideia dos Brics perdura; não é à toa que seus líderes políticos se encontram todos os anos. Na verdade, neste ano, os chineses estão mostrando um interesse surpreendente na ideia dos Brics. Vários jornalistas chineses me contataram sobre a cúpula.
BBC Brasil: Mas alguns especialistas apontam para o fim dos Brics uma vez que, na opinião deles, o grupo tem mais diferenças do que semelhanças. Esta visão seria correta?
O'Neill: Acho essa visão ridícula, para ser honesto. O que é justo dizer é que, nesta década, tanto Rússia e Brasil decepcionaram.
Jim O'Neill
Image caption"O forte apetite dos investidores por ativos brasileiros sugere que o Brasil está mais parte do fim do que do começo de seus tempos particularmente problemáticos", disse (Foto: FCO)
BBC Brasil: O Sr. mencionou a importância da China na economia mundial. A China não poderia acabar ofuscando os demais países que compõem os Brics, criando um desafio para o grupo?
O'Neill: É correta a análise de que a China pode acabar ofuscando os outros Brics. Mas isso é algo do qual a China está muito consciente e tentará evitar ser muito dominante. Gostaria de ver os líderes dos Brics fazerem algo mais tangível, como um financiamento conjunto para pesquisa de TB, para demonstrar sua efetividade.
BBC Brasil: Em quais outros países o senhor apostaria no futuro? O Sr. acredita que os Mint (grupo formado por México, Indonésia, Nigéria e Turquia) poderiam substituir os Brics?
O'Neill: Acho que é praticamente impossível que os Mint possam substituir os Brics, embora fique empolgado com os Mint. Nenhum dos Mint vai ter uma economia parecida à da Índia ou, sobretudo, da China, no futuro. E, claro, eles podem coexistir. Todos, com exceção da Nigéria, são emergentes do G20 (grupo das 20 economias mais ricas do mundo).
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 2 de setembro de 2017

Polícia de Pernambuco faz grande apreensões


Ação das polícias Civil e Militar, a Operação Força no Foco resultou em uma das maiores apreensões de drogas do ano em Pernambuco. No sítio Poço da Pedra 2, da zona rural de Floresta, foram 497 kg de maconha apreendidos. Em outra ação, na zona rural de Carnaubeira da Penha, próximo à divisa com o município de Floresta, foi erradicado cerca de 3.500 pés de maconha.

A operação chegou ao sítio a partir de informações repassadas pelo Grupamento de Apoio Tático Itinerante (Gati) da Polícia Militar. No local, os policiais encontraram uma roça da erva já colhida e 35 sacos contendo a droga pronta para o consumo. Três suspeitos foram presos e encaminhados à delegacia, com duas armas de fogo, sendo uma espingarda calibre 28 e outra de fabricação caseira.

Já em Carnaubeira, o patrulhamento de uma equipe do Batalhão Especializado de Policiamento do Interior (BEPI), ao receber informações anônimas, conseguiu localizar uma plantação de maconha com aproximadamente 3.500 pés. No local não foi localizado os cultivadores. Uma amostra da droga foi apresentada na delegacia da Polícia Civil de Floresta, sendo incinerados o restante da erva apreendida. Com informação de Folha de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Por que homem que ejaculou em mulher em ônibus foi solto - e o que isso diz sobre a lei brasileira?

Mulheres acolhem vítima na Avenida Paulista
Image captionCaso aconteceu na tarde da terça-feira na Avenida Paulista; vítima foi acolhida por outras mulheres enquanto polícia fazia o flagrante | Foto: Reprodução Facebook
Na terça-feira, um homem foi preso em flagrante após ter ejaculado em uma mulher dentro de um ônibus na avenida Paulista, uma das mais movimentadas vias de São Paulo. Menos de 24 horas depois, foi liberado após o juiz responsável concluir que o ato não seria estupro, mas sim uma contravenção penal - "importunar alguém em local público de modo ofensivo ao pudor" - passível de punição com multa.
A decisão provocou fortes reações nas redes sociais e gerou revolta entre movimentos de defesa dos direitos das mulheres, especialmente pela justificativa do juiz José Eugenio do Amaral para liberar o homem, que já tinha passagens na polícia por suspeita de estupro.
"O crime de estupro tem como núcleo típico constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso. Na espécie, entendo que não houve o constrangimento, tampouco violência ou grave ameaça, pois a vítima estava sentada em um banco de ônibus quando foi surpreendida pela ejaculação do indiciado", dizia a decisão.
O episódio colocou sob os holofotes um problema cada vez mais recorrente no transporte público de São Paulo - segundo dados oficiais, a cidade registrou 288 casos de abuso sexual em ônibus de janeiro a julho de 2017, trens e metrô (pelo menos um por dia). De acordo com informações divulgadas pelo portal UOL, o número de casos registrados no metrô cresceu mais de 350% em 2016, se comparado com o ano anterior.
Mas para juristas e especialistas em Direito ouvidos pela BBC Brasil, esses casos expõem um problema na legislação: não há um tipo penal específico para classificá-los. Além disso, há uma dificuldade na interpretação da violência que não é física.
"O juiz considerou que era uma mera contravenção penal porque ele não consegue entender que existiu um constrangimento mediante violência. Isso porque ele só consegue entender como violência a violência física", afirmou à BBC Brasil a doutora em Filosofia do Direito e integrante do Comitê CEDAW/ONU (Comitê sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher da ONU), Silvia Pimentel.
"Mas existe a violência simbólica, moral, psicológica de um ato como esse. É interessante que se abra na sociedade um debate jurídico a respeito de verificar que o artigo 213 (da lei do estupro) pode ser legitimamente interpretado e aplicado quando, independente de violência física, exista outra violência como essas."
Mulher andando em plataforma de metrôDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionSegundo dados oficiais, São Paulo registrou 288 casos de abuso sexual em ônibus, trens e metrô (pelo menos um por dia) no primeiro semestre de 2017

Entre dois extremos

Mas para além da questão de interpretação da "violência" nesses casos, outros especialistas apontam a dificuldade de penalizar esse tipo de ato de acordo com a legislação atual, que resume os crimes sexuais ou a "estupro" ou a "perturbação ao pudor".
Segundo Silvia Chakian, promotora de violência doméstica do Ministério Público de São Paulo, o problema é que "ficamos entre um crime de uma pena muito branda (contravenção penal) ou vai para a outra ponta, que é crime hediondo (estupro)".
"Não temos na legislação um tipo penal que se encaixe nesse tipo de conduta. Para qualificar como estupro, os elementos precisam estar muito bem configurados - senão vai causar absolvição. E se não tem resposta penal adequada nesses casos, fica muito ruim. A sensação para essa mulher é de que a integridade fisica, psicológica, sexual dela não vale nada para a Justiça. A sensação para ele é de que saiu barato praticar esse ato."
Na decisão em que determina a soltura do réu, o juiz menciona a gravidade do caso, mas pontua que "penalmente, o ato configura apenas contravenção penal".
"O ato praticado pelo indiciado é bastante grave, já que se masturbou e ejaculou em um ônibus cheio, em cima da passageira, que ficou, logicamente, bastante nervosa e traumatizada. Ademais, pelo exame da folha de antecedentes do indiciado, verifica-se que tem histórico nesse tipo de comportamento, necessitando de tratamento psiquiátrico e psicológico para evitar a reiteração de condutas como esta, que violam gravemente a dignidade sexual das mulheres, mas que, penalmente, configuram apenas como contravenção penal."
Diante dessa situação, Chakian defende a criação de uma nova tipificação criminal para esse tipo de ato, determinando uma punição intermediária. "A gente tem lei demais mesmo, mas existem formas de violência como essa que não têm tipificação adequada. E se você não nomeia, você não visibiliza o problema, você não colhe dados sobre ele nem pode criar políticas para combatê-lo", opina.
Segundo ela, outros países instituíram tipos penais intermediários para esse tipo de caso.
"Em Portugal, por exemplo, há uma classificação diferente para condutas onde não há penetração, coito. Outros países optam por colocar uma cláusula de diminuição de pena no estupro. Mas é um debate importante a se fazer aqui."

Lei mais severa

Até 2009, havia diversas classificações para os crimes sexuais, derrubadas quando todo o tipo de violência sexual passou a ser considerado crime de estupro - eliminando o "atentado violento ao pudor", por exemplo, que tinha a mesma punição, mas era considerado outro tipo de infração.
A mudança foi considerada um avanço em favor dos direitos das mulheres, mas para Ana Gabriela Braga, professora do curso de Direito na Unesp, trouxe um problema.
"A gente comemorou, mas aí veio essa resposta: o crime ficou muito grave, então não vai condenar. Nesse caso, enrijecer (a lei) é questionável, porque olha o que a gente teve de volta."
Mulheres consolam vítima
Image captionHomem que ejaculou em mulher no ônibus foi solto 24 horas depois de ter sido pego em flagrante | Foto: Reprodução/Facebook
Doutor em Direito Penal pela USP, o jurista Renato de Mello Jorge Silveira avalia que seria necessário diferenciar legalmente os crimes sexuais para não "equiparar" todos eles.
"(Essa equiparação) gera um vazio jurídico muito forte. Essa conduta do ônibus é reprovável. Eu só tenho um pouco de dificuldade de aceitar que ela venha a ser equiparável a um estupro 'tradicional'. Ela mereceria uma graduação um pouco menor do que alguem que é forçado à conjunção carnal", afirma.
"Uma apalpada não desejada pode ser equiparada proporcionalmente a uma situação de violência invasiva de estupro? Um beijo forçado, por mais reprovado que ele seja, não invasivo da mesma forma que um estupro no sentido tradicional."

Punição exemplar?

O clamor nas redes sociais por uma "punição exemplar" ao homem flagrado no ônibus também preocupa, afirma Jacqueline Sinhoretto, pesquisadora em Sociologia da Violência da UFScar (Universidade Federal de São Paulo).
"As pessoas estão pedindo uma punição acabada, bruta, mas a vitima mal foi ouvida", pontuou.
Ela ressalta que a soltura do réu, neste caso, não significa necessariamente "impunidade".
"Ele vai ser processado pelo Ministério Público e pode ser condenado. Não é que ele foi absolvido. Mas as pessoas estão cansadas de conviver com esse tipo de coisa e aí descontam tudo em um caso só. Não dá pra pegar esse caso e condenar todo o sistema penal", disse.
Mas mesmo sem uma tipificação específica, algumas especialistas defendem que esse caso deveria, sim, ser considerado estupro - e ter a punição que esse crime exige.
A promotora Gabriela Manssur, que atua há oito anos no combate à violência contra a mulher, considera que é preciso um olhar "mais humano" do Judiciário.
"É muito mais grave que uma contravenção penal. Temos que lutar com os crimes que temos e adequar os fatos aos tipos penais existentes. As mulheres não podem ficar à mercê do Estado. Ejaculou na mulher sem a permissão dela? Por que não podemos falar em estupro? É preciso um olhar mais atento e mais humano: não com os réus, os agressores, mas para as mulheres", afirmou.
Silvia Pimentel reforça. "Eu sou pelo Direito Penal mínimo (contra punições excessivas), mas não quando estamos falando de crimes contra a mulher. Sou contra colocar na cadeia gente que furtou comida. Mas não dá para abrandar o sistema penal nos casos em que a vítima é a mulher. E, nesse caso, houve um abrandamento lamentável."
A BBC Brasil procurou o juiz José Eugenio do Amaral, mas a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça de São Paulo afirmou que ele não poderia falar sobre o caso.
BBC
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Os haitianos e brasileiros que tiveram as vidas transformadas pela missão de paz

Militar brasileiro com menino haitiano
Image captionMissão de paz brasileira no Haiti durou mais de uma década | Foto: Arquivo pessoal
O Brasil já esteve em mais de 50 operações da Organização das Nações Unidas, mas nenhuma foi tão duradoura como a Missão de Paz para Estabilização do Haiti (Minustah), na qual encerrou a participação nesta semana.
Durante 13 anos, mais de 37 mil militares brasileiros estiveram no país para dar assistência a cerca de 10 milhões de haitianos. Além da turbulência política, ajudaram o país a enfrentar desastres naturais, como o terremoto de 2010 e o furacão Matthew, no ano passado. Problemas, como acusações de envolvimento em crimes, também ocorreram.
Milhares de pessoas tiveram as vidas transformadas nesse período. A BBC Brasil conta a seguir algumas dessas histórias.

Brisson Fritznel, o haitiano que ganhou um futuro

Brisson Fritznel
Image captionFritznel aprendeu português sozinho e trabalhou como intérprete da ONU | Foto: Arquivo Pessoal
Brisson nasceu em Cité Soleil. A população da região que, em francês, significa "cidade do sol", sempre temia o entardecer. Durante a noite, sem eletricidade, a única luz que se via por trás dos casebres de lata eram dos tiros e dos charutos de drogas.
Poderia ser parecido com as favelas brasileiras, se não fosse o fato de que ali está a concentração das pessoas mais pobres do Hemisfério Ocidental. Ali, onde Brisson nasceu, a fome é rotina, estudar é privilégio e ter um emprego é luxo.
Esperto, ele se esquivou das dificuldades de morar na vila que já recebeu o indesejado título de mais perigosa do mundo. Também resistiu ao fato de viver em um país que foi governado por uma sequência de ditadores, onde os motins eram diários.
Em 2004, quando o país estava no ápice da crise humanitária, a ONU enviou uma missão de paz ao Haiti. Uma base militar foi instalada dentro de Cité Soleil.
Brisson acompanhou o desembarque dos militares brasileiros e sentiu que precisava aprender português. Autodidata, observava o ritmo da fala, a composição das frases e consultava o dicionário. Aprendeu. A ONU precisou de intérpretes e ele foi selecionado.
Brisson, não! Jimmy. Jimmy gaúcho. A cada seis meses, o efetivo militar brasileiro era substituído e o jovem intérprete aprendeu sobre a diversidade cultural do nosso país. Ele decidiu então que seria gaúcho.
Naquela época, a seleção brasileira vivia um grande momento. O Brasil enviou ao Haiti o time com estrelas como Ronaldo, Ronaldinho, Kaká e Cafu para fazer um jogo da paz no país. Jimmy pirou. Viu o seu ídolo, Ronaldinho Gaúcho, de perto. Foi inesquecível. A decisão de virar gaúcho já estava tomada.
Com a oportunidade que teve de ser intérprete da ONU, ele aproveitou para estudar Comunicação e Direito. Ao contrário de todas as expectativas do lugar onde nasceu, Jimmy ganhou um futuro.

Chenet Conserv, o haitiano que se manteve vivo

Chenet Conserv
Image captionHaitiano decidiu mudar-se para o Brasil, onde reconstruiu sua vida | Foto: Arquivo Pessoal
Conserv - Se o Haiti não tivesse mudado, eu estaria morto.
BBC Brasil - Por quê?
Conserv - Todo dia tinha revolta na rua. Teve uma vez que os bandidos me pegaram. Eles me colocaram no chão pra me matar.
BBC Brasil - E você fez eles desistirem?
Conserv - Sim, foi por pouco. Só que depois piorou. Quando parou de ter tumulto e ataque de gangue, teve o terremoto.
BBC Brasil - E aí você decidiu partir para o Brasil?
Conserv - Sim. No Haiti não tem emprego. Eu precisava fazer dinheiro para cuidar da minha filha.
BBC Brasil - Onde ela está?
Conserv - Ela continua em Saint Marc, junto com a mãe.
BBC Brasil - Quantos anos ela tem?
Conserv - Tem 10. Dia 31 de julho ela fez aniversário. Sempre mando presente.
BBC Brasil - Ela está bem?
Conserv - Sim, ela tá bem na escola, sem dificuldade. Só que ela diz que tá com muita saudade.
BBC Brasil - E você?
Conserv - Eu tô com saudade da minha filha. Todo dia peço força para eu seguir trabalhando e poder dar um futuro pra ela. É por isso que tô aqui.
A esperança de Chenet de conseguir um emprego se despedaçou entre as ruínas do terremoto. Sem dinheiro, sem teto e sem chão. Tudo havia sido destruído. O jeito era recomeçar.
Chenet juntou os destroços e traçou um plano: reconstruir a casa e tentar a vida em outro lugar. Antes, ele descartara deixar a família por causa da violência do país. Mas seis anos depois da implantação da missão de paz, os ânimos já não estavam mais tão acirrados e a insegurança já não era mais o problema principal.
Chedniana Conserve
Image captionA filha de Chenet Conserve ficou no Haiti com sua mãe | Foto: Arquivo Pessoal
Enquanto o Brasil desembarcava no Haiti com mais um efetivo da missão, Chenet seguia no sentido contrário. Desembarcava em Rio Branco. Chegou maltrapilho, só sabia falar "meu nome ê Chenê" "po favou" e "obirigadu".
No Norte, se familiarizou com as dificuldades do povo. Mas ele sabia que o Brasil é grande e por isso, embarcou em ônibus, trens e caronas em caminhões até parar em Porto Alegre.
Chenet não teve muita sorte no início. Trabalhou duro numa obra e foi enganado no pagamento. Engoliu seco. Não tinha documentos para provar. Já na segunda oportunidade, se encontrou. Virou gari.
A rotina de acordar às 5h, pegar dois ônibus, correr o dia inteiro atrás do caminhão de lixo e só chegar em casa às 22h tem sido uma bênção para ele.
"Às vezes penso que Deus me deu muita sorte. Eu tenho um emprego e a minha família tem o que comer. E, graças a Deus, estou vivo para garantir isso."

Militares, os brasileiros que ganharam lições de vida

No refeitório da sede do Batalhão de Infantaria de Força de Paz no Haiti, os horários das refeições eram sagrados. Alguns militares faziam uma oração, outros agradeciam em silêncio.
"Dar valor à comida no prato é uma das principais lições que a gente leva pra vida depois da missão no Haiti", diz o tenente do Exército Paulo de Tarso, médico cirurgião baiano, que integrou a missão em 2013.
Para o sargento carioca Adriano Vieira, a missão continuou viva depois que ele voltou ao Brasil, em 2015. O trabalho de assistência para as crianças haitianas despertou a vontade nele de fazer algo pelas crianças daqui.
"O Haiti não saiu de mim. Quando voltei para o Brasil decidi que a missão de paz deveria continuar em minha vida. Criei um projeto que visita orfanatos e asilos dando alegria e doações para quem precisa."
Quando os blindados passavam pelos vilarejos, as crianças colocavam a mão na barriga para indicar que estavam com fome. Os militares não são autorizados pela ONU a dar comida, mas muitos paravam para conversar e se comunicar com as crianças.
Álvaro Luis Carvalho Peres, tenente do Exército que esteve no Haiti duas vezes, diz que a barreira do idioma era ultrapassada por um aceno de mão ou um olhar.
"Eu pude perceber que para um povo que mora em Cité Soleil e praticamente não tem nada, o pouco que dávamos, até mesmo um gesto de carinho e atenção, já era muito para arrancar um sorriso daquelas pessoas."
Mas ele salienta que a missão continua: "aqui no Brasil nós temos muitos Haitis".
BBC
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Professora é envenenada por alunos em Nazaré da Mata


A equipe da Delegacia de Nazaré da Mata investiga uma suspeita de envenenamento contra uma professora dentro de uma escola pública do município nesta quinta-feira. Segundo informações preliminares, duas crianças de 10 e 11 anos e um adolescente de 13 anos teriam colocado chumbinho dentro da garrafa d'água da docente em sala de aula. Os três são alunos da professora.

Até o momento, não foi registrada uma queixa formal sobre o caso, mas a Polícia Civil de Pernambuco informou que já abriu inquérito para investigar o caso. O Diario de Pernambuco confirmou que a professora foi internada e já recebeu alta do Hospital Ermírio Coutinho, mas a unidade de saúde não forneceu mais detalhes. 

Segundo a polícia, um agente que compareceu ao Hospital Ermírio Coutinho para verificar a situação da professora também recebeu a informação da alta e obteve uma cópia do prontuário. No documento, o médico registrou o caso como suspeita de envenenamento, mas, depois de administrar medicações não especificadas, deu alta à paciente.

Testemunhas disseram que a educadora passou mal após beber uma água durante a aula. Para a polícia, a educadora confirmou a informação. Segundo ela, os três alunos costumam causar problemas na sala devido ao comportamento. Agentes estiveram no local, colherem materiais e encaminharam ao Instituto de Criminalística. Ainda de acordo com a polícia, foi cumprido o procedimento padrão do Ceatox para casos de envenenamento. O delegado Rommel Ricardo, titular da Delegacia de Nazaré da Mata, é o responsável pelas investigações.

As identidades dos alunos estão sendo preservadas.
Diário de Pernambuco.
Professor Edgar Bom Jardim - PE