quinta-feira, 7 de junho de 2018

Por que o Brasil ainda está na 'idade da pedra' na adesão aos veículos elétricos


Símbolo de um carro elétrico com tomada pintado no asfaltoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionVeículos eletrificados tiveram ano recorde de vendas no mundo em 2017

Na mesma tarde em que o Brasil tentava voltar à rotina após dez dias de uma greve de caminhoneiros motivada pelo preço do óleo diesel, a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) divulgava que 2017 foi um ano recorde na adesão aos veículos movidos a eletricidade no mundo.
No período, o número de carros elétricos vendidos chegou a um milhão - incluindo os híbridos, que contam também com um motor de combustão interna - e a frota mundial passou a somar 3 milhões. Deste volume, 40% estão na China e cerca de 25%, nos Estados Unidos. Já em números relativos, é a Noruega quem lidera com o maior percentual de eletrificados na frota total: 6,4%.
Se as paralisações no Brasil mostraram a dependência do país do transporte pelas estradas (75% das mercadorias no país têm seu escoamento feito pela malha rodoviária) e dos combustíveis fósseis (o óleo diesel e a gasolina puros compunham 73% da matriz veicular nacional em 2016, segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética), os números retratam que a adesão a veículos elétricos e híbridos como alternativas energéticas mais limpas - na emissão tanto de poluentes quanto sonora - ainda é incipiente por aqui. Segundo dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVA), há no país pouco mais de 8 mil unidades do tipo, incluindo carros, ônibus e caminhões. Isso significa 0,02% da frota circulante total.
"A gente está na idade da pedra", resume Ricardo Guggisberg, presidente da ABVA. "A greve mostrou o quanto somos dependentes dos combustíveis fósseis".
Especialistas e representantes do setor apontam que o caminho da indústria automobilística em direção aos veículos movidos a eletricidade é inexorável e, ainda, que o Brasil tem condições favoráveis para surfar nesta onda. Por que, então, o país ainda dá os primeiros e tímidos passos na tendência?

Estímulos pelos governos

Tatiana Bruce, pesquisadora da FGV Energia, destaca que os países que mais avançam na eletrificação da frota contam com estímulos dos governos - que passam por redução de impostos na cadeia destes veículos e restrições aos movidos a combustíveis fósseis mas, principalmente, pela ajuda de custo para o consumidor final.
No Estado da Califórnia, nos EUA, por exemplo, consumidores podem receber um crédito de até US$ 7 mil (cerca de R$ 27 mil) ao comprar um automóvel eletrificado; na China, o valor chega à faixa dos US$ 10 mil (R$ 38 mil).
"Hoje, os preços dos eletrificados ainda são muito altos se comparados aos convencionais, em qualquer lugar do mundo, então, os subsídios de aquisição servem para reduzir essa diferença. Espera-se que, na próxima década chegue-se a uma paridade de custo. A bateria também vai ficar mais barata e os eletrificados se tornarão mais atrativos também por sua melhor eficiência e performance", diz Bruce.

Homem em meio a caminhões parados em greve no Rio de JaneiroDireito de imagemEPA
Image captionHomem em meio a caminhões parados em greve no Rio de Janeiro; paralisação expôs dependência do país nos combustíveis fósseis

Por aqui, não há notícias de planos para subsídios do tipo. O que há é uma isenção do Imposto de Importação para carros totalmente elétricos e algumas reduções para híbridos - a depender de suas características.
Existem também benefícios previstos em nível local, como a isenção do rodízio de carros na cidade de São Paulo e a isenção do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) em alguns Estados.
Para o futuro próximo, há a expectativa de redução na alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para os eletrificados de 25% para 7% com o Rota 2030, um novo regime para o setor automotivo que deve ser estabelecido por decreto. O governo havia sinalizado que o Rota 2030 seria publicado nos primeiros meses do ano mas, segundo informou à BBC News Brasil a Casa Civil, ainda não há previsão para seu anúncio. O órgão também não confirmou se a alíquota do IPI seria reduzida para os eletrificados.

Preço e estrutura

No Brasil, os carros eletrificados importados chegam com preços variando em torno de R$ 100 mil e R$ 150 mil.
Além da redução dos preços, espera-se que nas próximas décadas a tecnologia dos eletrificados aumente a autonomia e a capacidade de armazenamento das baterias. Estes atributos são especialmente importantes no caso de veículos pesados e que são empregados em longas viagens como os caminhões.
A eletrificação da frota também vem acompanhada da expansão nos pontos de recarga ligados à rede elétrica, tanto em domicílios quanto em ambientes públicos - os chamados eletropostos. Nos EUA, por exemplo, um programa federal de financiamento levou à instalação de 36,5 mil eletropostos em 2015. No Brasil, não há números exatos sobre a quantidade de eletropostos mas, no aplicativo PlugShare, que mapeia o serviço, ele giram em torno de 130 e 150.
Apesar dos números tímidos em relação à potência mundial, a boa notícia é que o Brasil tem condições favoráveis aos eletrificados por conta da produção e distribuição de energia elétrica já existente no país.
"O Brasil tem a melhor matriz energética para veículos elétricos, com fontes limpas como as hidrelétricas e a eólica. Temos tudo para decolar", aponta Carlos Roma, diretor de vendas da BYD no Brasil, fabricante chinesa de eletrificados.

Veículo elétrico é carregadoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionEletrificação da frota deve ser acompanhada pela expasão dos chamados 'eletropostos'

Na geração de eletricidade no país, as hidrelétricas foram responsáveis, em 2016, por 68% do abastecimento (em seguida, vem o gás natural, com 9%, biomassa, com 8%; e eólica, com 5,4%). Os dados são da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
A parcela majoritária da energia vindo de fontes renováveis coloca o Brasil em vantagem para a eletrificação também em outro ponto: as chamadas "emissões upstream" ("emissões na cadeia de cima", em tradução livre), produzidas quando a eletricidade é gerada. Apesar de os elétricos frequentemente serem vistos como veículos que não emitem poluição, pesquisadores e órgãos reguladores vêm se debruçando sobre a os impactos desta etapa anterior, mais preocupante para países fortemente dependentes, por exemplo, do carvão.
Ainda assim, diversos estudos já mostraram que, mesmo considerando as emissões upstream, os eletrificados são menos poluentes que os convencionais.

A indústria do passado e a do futuro

Para Roma, outro ponto que pode ser, simultaneamente, uma vantagem e um problema para o Brasil é sua participação na indústria automobilística mundial.
Em 2016, o país era considerado o décimo maior produtor de veículos e o oitavo em mercado interno. O setor automotivo responde por cerca de 22% do PIB industrial do Brasil e 4% no PIB total.
"O país tem know how e uma indústria instalada. Mas os governos brasileiros, nos últimos 15 anos, privilegiaram demais os convencionais e o mercado interno. A tecnologia pouco avançou aqui e a indústria ficou defasada", diz Roma.
Segundo um relatório da FGV Energia, de 2017, a situação do Brasil se assemelha à da China e da Índia: devido a uma menor condição socioeconômica de parte importante da população, há uma demanda reprimida por automóveis. Com uma eventual aquisição, busca-se o veículo mais acessível possível - posto esse que tende a ser preenchido pelos movidos à gasolina.

Modelo do caminhão elétrico e-DeliveryDireito de imagemDIVULGAÇÃO/MAN
Image captionCaminhão elétrico do modelo e-Delivery deve ser produzido em série a partir de 2020, em Resende (RJ)

O mesmo relatório, porém, indica que algumas políticas públicas mostram que a organização para um futuro de baixo carbono no setor do transportes é real: a Noruega, por exemplo, tem a meta de vender apenas carros elétricos depois de 2025; já a Alemanha e a Índia têm como objetivo banir veículos à combustão interna depois de 2030.
"O Brasil tem condições de liderar a eletromobilidade na América Latina, a começar por representar mais da metade do poder de consumo do continente. Isso exige um compromisso do governo e da indústria. Essa transição é mundial: se não acompanharmos isso, vamos sucatear as nossas próprias indústrias", diz Guggisberg.
Por aqui, porém, há passos sendo tomados. Em março, a Toyota apresentou um protótipo de um carro híbrido movido a etanol e desenvolvido no Brasil; em 2017, a MAN (fabricante de ônibus e caminhões da Volkswagen) apresentou o e-Delivery, um caminhão elétrico também desenvolvido no país. Sua produção em série, na fábrica da montadora em Resende (RJ), está prevista para 2020.
Já a BYD, que já conta com duas fábricas em Campinas (SP) que produzem painéis solares e chassis, se prepara para abrir ainda em 2018 uma fábrica de baterias de lítio em Manaus (AM).

Redução dos poluentes

Enquanto isso, a decisão recente do governo federal de reduzir o preço do diesel - por meio de cortes de gastos e redução de impostos - para atender às demandas dos grevistas foi, para o engenheiro florestal Tasso Azevedo, uma sinalização contrária à eletrificação.
"Na prática, é um incentivo ao combustível fóssil", aponta Azevedo, coordenador do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG). "Cerca de 15% de toda a carga transportada no Brasil é o próprio combustível sendo levado para pontos de abastecimento. Já a energia elétrica está em todo lugar. A infraestrutura está aí."

Fábrica da empresa chinesa BYDDireito de imagemDIVULGAÇÃO/BYD/VALÉRIA ABRAS
Image captionEmpresa chinesa que produz veículos elétricos se prepara para abrir terceira fábrica no Brasil ainda em 2018

Azevedo destaca que o diesel, além de ser sabidamente nocivo na contribuição ao efeito estufa, também tem impacto na poluição local.
Indicador disso é a constatação, na capital paulista, da queda brusca na poluição durante uma semana da greve dos caminhoneiros. Dados da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) mostram redução de 50% da poluição na cidade. No sétimo dia da paralisação, a qualidade do ar na capital era considerada boa em todas as estações de medição e para todos os poluentes monitorados - um quadro raro na metrópole.
Dados do SEEG mostram que, considerando as emissões de gases do efeito estufa relacionadas ao consumo de energia no Brasil, os transportes (considerando diversos modais) foram responsáveis por 48% delas em 2016.
"São 204 milhões de toneladas de gases do efeito estufa por ano, mais do que emite todo o Peru. É um desafio também porque as emissões nesse setor são crescentes ao longo dos anos", diz Azevedo, destacando a importância não só da eletrificação da frota mas também da expansão do transporte público.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Forró 100% Pernambuco

O ciclo de festejos juninos do Recife terá início no dia 12 de junho e termina no dia 8 de julho. Concursos de quadrilhas infantis e adultas, procissões, caminhada e, lógico, muito forró marca este período de agitos. Desta vez, toda a grade será de artistas e manifestações culturais locais. Todas as novidades foram divulgadas em coletiva de Imprensa nesta quarta-feira (6), na presença de vários nomes da cena cultural. 
Muitos artistas marcaram presença na coletiva do SJ
Muitos artistas marcaram presença na coletiva do SJ - Crédito: Andréa Rêgo Barros/Divulgação

A grande festa terá 36 arraiais espalhados pela Cidade, e mais de 739 artistas se apresentam. O Sítio da Trindade será o maior polo do São João. Por lá, passarão nomes como o homenageado da festa, Geraldinho Lins, além de Silvério Pessoa, Josildo Sá, Novinho da Paraíba, Genival Lacerda, Lia de Itamaracá, Glorinha do Coco, Adiel Luna, Petrúcio Amorim, Nádia Maia.
CONFIRA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA AQUI
Com informações de Folha de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Sexo e violência:Prostitutas de Bruxelas fazem greve em protesto após assassinato de colega


Profissional do sexo se exibe em vitrine próxima à estação Nord, em BruxelasDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionVitrines onde prostitutas se exibem e oferecem seus serviços amanheceram fechadas em Bruxelas
Ao chegar à estação Nord de Bruxelas nesta quarta-feira, os passageiros dos trens não verão pelas janelas as luzes de neon que caracterizam a "zona vermelha", a região central da capital belga onde se concentram bordéis e cabines de prostituição.
As prostitutas declararam greve e prometem manter fechadas as vitrines onde costumam expor seus corpos à espera de clientes.
Com o movimento inédito, querem protestar contra a crescente falta de segurança para exercer seu trabalho, regularizado como profissão pela legislação belga.
A decisão foi tomada depois do assassinato de uma colega na madrugada de terça-feira.
A vítima, uma imigrante nigeriana de 23 anos, foi apunhalada várias vezes em uma rua do bairro e ainda não há pistas sobre os autores do crime.
"Pedimos a todos os trabalhadores do sexo que podem permitir-se que parem de trabalhar ou expliquem a seus clientes o motivo de sua comoção", convocou o sindicato do setor (UTSOPI).

'Polícia não está nem aí'

Segundo a organização, as prostitutas de origem africana se sentem discriminadas e abandonadas pela polícia local.
'Zona vermelha' de BruxelasDireito de imagemMARCIA BIZZOTTO/BBC BRASIL
Image captionProfissionais do sexo querem mais segurança
"Quando acontece alguma coisa, nós ligamos e a polícia aparece uma hora depois, quando já é tarde demais. A polícia não está nem aí porque somos negras", acusou uma delas, que pediu para não ser identificada, em entrevista à televisão pública RTBF.
A emissora denunciou, no início do ano, os abusos que sofrem as trabalhadoras do sexo originárias da Nigéria, muitas delas obrigadas a prostituir-se para reembolsar dívidas contraídas para chegar à Europa.
"Elas têm que trabalhar sem parar porque têm dividas de até 20 mil euros para pagar. Se não, colocam em risco suas vidas e a de suas famílias", afirma Sarah De Hovre, diretora do centro Pag-Asa, que ajuda vítimas de tráfico humano.
Nos últimos meses, a polícia belga multiplicou as batidas de fiscalização e desmantelou várias redes de tráfico e de proxenetismo na capital, principalmente na "zona vermelha".
Se a prostituição como atividade privada é legal na Bélgica, beneficiar-se da prostituição alheia é um crime.
UTSOPI se reunirá nos próximos dias com as autoridades belgas para discutir como melhorar a segurança dos trabalhadores do sexo.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Brasil:PF pede quebra do sigilo telefônico de Temer, Padilha e Moreira Franco


A Polícia Federal pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) autorização para quebrar o sigilo telefônico do presidente Michel Temer, do ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha e do ministro de Minas e Energia, Moreira Franco. A intenção dos investigadores da Lava-Jato é descobrir se eles receberam ou negociaram a distribuição de propina da Odebrecht.

A solicitação para ter acesso as ligações do trio relativas ao ano de 2014 foi encaminhada ao ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo. Temer já teve o sigilo fiscal e bancário quebrado na investigação que apura se a edição de um decreto que alterou regras do setor de portos ocorreu para beneficiar empresas, em troca de propina. Mas se autorizado por Fachin, essa será a primeira vez que o sigilo telefônico de Temer será quebrado.

O caso corre em sigilo no STF, por conta das autoridades envolvidas. A PF quer saber quem eram os destinatários do dinheiro que teria sido entregue no escritório do advogado José Yunes, amigo de Temer.
Fonte: Diario de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 5 de junho de 2018

Recorde de homicídios e estupros de crianças: 9 dados que você precisa saber sobre a violência no Brasil



Polícia faz investigação criminal na área do homicídio de Marielle FrancoDireito de imagemREUTERS
Image captionPolícia faz investigação criminal na área do homicídio de Marielle Franco, assassinados no Rio de Janeiro em março de 2018.
Nunca antes o Brasil teve tantos homicídios. Foram 62.517 mortes em 2016, último ano com dados disponíveis. O número equivale a um estádio do Mineirão, em Belo Horizonte, lotado de vítimas da violência ao longo de apenas um ano.
Os dados são do Ministério da Saúde e foram divulgados nesta terça-feira no Atlas da Violência 2018, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
Proporcionalmente, são 30,3 homicídios para cada 100 mil pessoas, também a maior taxa já registrada no Brasil. Para comparação, é 30 vezes a taxa da Europa.
Veja abaixo 9 dados para entender a violência no Brasil.

1) Número recorde

As 62.517 vítimas de homicídio no Brasil, em 2016, representam um recorde. É 5% mais do que no ano anterior e 14% mais do que o registrado dez anos antes. Ao longo da década de 2006 a 2016, o aumento do número de mortes foi praticamente contínuo, saindo do patamar de 49,7 mil mortes até chegar aos números mais recentes.
A taxa de homicídios de 30,3 por 100 mil habitantes, também recorde, coloca o Brasil entre os países mais violentos do mundo. A taxa mundial é menor que 10 entre 100 mil habitantes. A taxa média do continente americano, o mais violento do mundo, é metade da taxa brasileira.
Os números do Brasil podem ser ainda maiores. Alguns estudos já demonstraram que grande parte das mortes registradas como "causa indeterminada" no Brasil, especialmente as provocadas por arma de fogo, seriam na verdade homicídios.
Se o cálculo de vítimas incluísse as mortes indeterminadas por arma de fogo, por exemplo, o número de vítimas chegaria a 63.569.
Policial na favela da Rocinha, no RioDireito de imagemAFP
Image captionForças de segurança em operação no Rio de Janeiro

2) 1 de cada 10 mortes no país foi homicídio

De acordo com o Atlas da Violência, 9,7% de todos os óbitos do Brasil em 2016 foram homicídios. Isso significa que, de cada 10 mortes, uma foi assassinato.
Entre os jovens, essa proporção é ainda mais expressiva. Assassinatos foram as causas de metade das mortes na faixa etária de 15 a 19 anos em 2016 no Brasil.

3) Norte é a região mais violenta do Brasil

Esqueça Rio de Janeiro e São Paulo. Há mais de uma década, o Sudeste não está entre as regiões mais violentas do país. A região Norte fica no topo do ranking.
Até 2006, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Norte tinham taxas de homicídio parecidas, em torno de 25 por 100 mil habitantes. A partir daí, os números começaram a se distanciar. Enquanto a violência no Sudeste começou a cair, se aproximando dos níveis do Sul do país, passou a aumentar continuamente nas outras três regiões.
Uma das razões por trás dessa migração da violência do Sudeste para o Norte-Nordeste é a mudança das dinâmicas do crime organizado. O Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, e o Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro, passaram a disputar territórios em outras regiões do país. Ao longo desse processo, diversas facções criminosas surgiram ou se fortaleceram no Norte-Nordeste, como a Família do Norte (FDN).
De 2011 a 2015, o Nordeste foi a região mais violenta do país. Mas, em 2016, o Norte assumiu a liderança, com um aumento de mais de 10% de um ano para outro.
Veja na tabela abaixo as taxas de homicídio para cada região do país:
HomicídiosTaxa de homicídio por 100 mil habitantes
BRASIL62.51730,3
Norte7.90244,5
Nordeste24.86343,7
Sudeste16.81519,5
Sul7.28824,8
Centro-Oeste5.64736,1

4) São Paulo tem queda contínua nos números

A taxa de homicídios de São Paulo tem apresentado queda desde 2006. Naquele ano, o número era de 20,4 por 100 mil habitantes. Esse foi o ano dos maiores ataques do PCC, que paralisaram a capital e parte do Estado. Como reação, dezenas de pessoas foram mortas pela polícia nos meses posteriores.
No ano seguinte, subitamente, a taxa caiu em 24%, para cerca de 15 por 100 mil. Em 2016, chegou ao menor patamar já registrado, de 10,9 por 100 mil.
"São Paulo continua numa trajetória consistente de diminuição das taxas de homicídios, iniciada em 2000, cujas razões ainda hoje não são inteiramente compreendidas pela academia", afirma o Atlas da Violência 2018.
Entre os fatores para a queda da violência em São Paulo, o estudo cita políticas de controle de armas de fogo, melhorias no sistema de informações criminais e na organização policial, envelhecimento da população, além de um aspecto controvertido: a hipótese da "pax (paz) monopolista do PCC, quando o tribunal da facção criminosa passou a controlar o uso da violência letal, o que teria diminuído homicídios em algumas comunidades".
O governo de São Paulo sempre repeliu a hipótese de que o fortalecimento e o monopólio do PCC no Estado poderiam estar por trás da redução da violência.
Mapa dos Estados brasileiros mostrando a variação das taxas de homicídio por local, entre 2006 e 2016. Quanto mais escura a região, maior o aumento.Direito de imagemAMANDA ROSSI
Image captionVariação das taxas de homicídio por Estado, entre 2006 e 2016. Quanto mais escura a região, maior o aumento. Fonte: Atlas da Violência 2018

5) Acre é o Estado onde a violência mais aumenta

Na outra ponta, está o Acre, na Amazônia, o Estado brasileiro onde os homicídios mais aumentaram de 2015 para 2016. O crescimento foi de 65%, contra 5% de acréscimo no Brasil como um todo.
O principal motivo por trás do aumento da violência no Acre é uma guerra de facções criminosas pelo controle do tráfico de drogas na região. O Estado faz fronteira com a Bolívia e o Peru, importantes produtores de cocaína. Por volta de 2013, uma nova facção surgiu no Acre, o Bonde dos 13, aliado do PCC e rival do CV.
A violência no Acre tem requintes de crueldade. Uma forma de morte frequente são as decapitações de rivais, muitas vezes filmadas e distribuídas por WhatsApp. Leia mais sobre a situação do Acre nessa reportagem da BBC Brasil.
Gráfico com o número de homicídios em Rio Branco

6) Risco para homens jovens é maior

A maior parte das pessoas assassinadas no Brasil é jovem. Das 62 mil vítimas de homicídio, 33,6 mil tinham entre 15 e 29 anos - na grande maioria, homens.
Enquanto a taxa de homicídio na população em geral é de 30,3 por 100 mil, entre os jovens é de 65,5 por 100 mil. Em outras palavras, entre os jovens, o risco de morrer assassinado é mais do que o dobro da média da população.
Já entre os homens jovens, a situação é pior ainda: 123 homicídios a cada grupo de 100 mil. É quatro vezes a média do Brasil.
Além disso, entre os jovens, o risco de homicídio está crescendo mais que o do conjunto da população. Houve um aumento de 7,4% entre 2015 e 2016, contra 5% no país em geral. Novamente, o Acre teve a maior piora - aumento de 85% no assassinato de jovens de um ano para o outro.
Protesto contra homicídio de jovens negros no BrasilDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionProtesto contra homicídio de jovens negros no Brasil; entre negros, o risco de morrer assassinado é muito maior que entre brancos.

7) Número de vítimas negras aumentou, enquanto o de brancas, caiu

Entre os negros, o risco de morrer assassinado é muito maior que entre os brancos. E essa diferença, em vez de diminuir, está aumentando.
Vamos lembrar que a taxa de homicídios no Brasil foi de 30,3 por 100 mil pessoas em 2016. Entre os negros, foi maior, de 40,2 por 100 mil. Já entre os não negros, foi menor, de 16 por 100 mil. Isso significa que os números para a população negra equivalem a duas vezes e meia o da população branca.
Em uma década, entre 2006 e 2016, a taxa dos negros cresceu em 23%. Já a dos não negros caiu em cerca de 7%.
"Os negros são também as principais vítimas da ação letal das polícias e o perfil predominante da população prisional do Brasil. Para que possamos reduzir a violência no país, é necessário que esses dados sejam levados em consideração e alvo de profunda reflexão", afirma o Atlas da Violência 2018.

8) Sete de cada 10 homicídios são provocados por arma de fogo

As armas são a principal forma de assassinato. De cada 10 vítimas, sete foram mortas por arma de fogo, em 2016.
"A maior difusão de armas de fogo jogou mais lenha na fogueira da violência. O crescimento dos homicídios no país desde os anos 1980 foi basicamente devido às mortes com o uso das armas de fogo, ao passo que as mortes por outros meios permaneceram constantes desde o início dos anos 1990", afirma o Atlas da Violência.
Em 2003, entrou em vigor no Brasil o Estatuto do Desarmamento, que dispõe sobre registro, posse e comercialização de armas de fogo e munição. Se não fosse essa lei, os homicídios teriam crescido 12% a mais, segundo o estudo.
"O enfoque no controle responsável e na retirada de armas de fogo de circulação nas cidades deve, portanto, ser objetivo prioritário das políticas de segurança pública", completa a publicação.
Menina com ursinhoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionDenúncias podem chegar por diversos canais – mas raramente são as próprias crianças que denunciam

9) 51% das vítimas de estupro são crianças

Os dados sobre estupro no Brasil não são precisos. É um crime com uma elevada subnotificação, ou seja, muitos casos não são registrados oficialmente e não entram nas estatísticas.
Existem duas fontes principais de dados de estupro no Brasil: os registrados nas polícias, quando é apresentada queixa, e os notificados pelo sistema de saúde, quando a vítima vai buscar atendimento médico. Enquanto a polícia registrou 49,5 mil estupros em 2016, a saúde contabilizou 22,9 mil.
Apesar de notificar menos que a polícia, a saúde tem dados muito mais completos. É possível saber, por exemplo, a idade da vítima, o grau de relação com o abusador e se foi um estupro coletivo ou não.
Um dos dados mais chocantes é que mais de metade das vítimas de estupro são crianças até 13 anos (51%). Foram abusadas, na sua maior parte, por amigos ou conhecidos (30%) e pai ou padrasto (24%). Apenas 9% são abusadores desconhecidos. Leia mais sobre o estupro de crianças nessa reportagem da BBC Brasil.
Adolescentes de 14 a 17 anos são 17% das vítimas. Nessa faixa etária, os desconhecidos passam a ser os principais abusadores (32%), seguidos de amigos e conhecidos (26%).
Entre as mulheres maiores de idade, que são 32% das vítimas de estupro, metade dos agressores são desconhecidos.
Os dados também revelam que duas de cada 13 vítimas sofreu estupro coletivo (por mais de um abusador). Além disso, muitas mulheres são vítimas de estupro mais de uma vez na vida. De cada 10 vítimas atendidas pela rede de saúde em 2016, quatro já tinham sido estupradas em outra ocasião.

Da BBC Brasil em São Paulo
Professor Edgar Bom Jardim - PE