Percebe-se que nos últimos dez anos as
grandes tradições religiosas vêm tomando consciência da necessidade de
estabelecer relações mútuas que favoreçam a convivência harmoniosa entre elas.
Os contextos de globalização, e de comunicação, bem como as relações
internacionais promovem a imigração de pessoas qualificadas em diversas áreas,
no Oriente e Ocidente, e facilitam a integração de etnias e religiões.
Esta realidade trouxe um novo tema à
Sociologia, à Antropologia e às Ciências da Religião: a coexistência cultural
que, por sua vez, requer a prática do diálogo inter-religioso, introduzindo um
cenário de diálogo entre as diferentes religiões no espaço brasileiro, tanto no
âmbito do ensino religioso como na convivência social.
Estabelecer a “unidade na diversidade e
diversidade na unidade” era uma perene inquietação dos filósofos indianos desde
os tempos antigos. Devido às invasões estrangeiras, desde os arianos até a
colonização inglesa, os indianos aprenderam a conviver com o diferente e essa
convivência se reflete na arte, música, dança e na comida[1]. O Egito antigo e
o mundo hebraico do Antigo Testamento também experimentaram essa realidade
religiosa diversificada, mas não tiveram a mesma sorte da convivência pacífica.
A história medieval também nos mostrou as guerras e a tendência de estabelecer
a supremacia de uma religião sobre a outra. A atitude de subjugação de uma
crença gerou desconfiança entre povos de diferentes culturas e possibilitou as
atividades missionárias incessantes a fim de converter as pessoas para uma
outra religião. O ‘diverso’ foi esquecido e a reflexão atual nos leva a lançar
o olhar para este diverso, conferindo-lhe importância e integrando-o dentro das
múltiplas dimensões da vida humana.
Apresentaremos neste artigo brevemente
as causas básicas dessa pluralidade religiosa, e como essas causas construíram
universos religiosos diferentes e por fim veremos de que forma essa diversidade
seria uma riqueza para construir as novas perspectivas para uma vivência
harmônica na diversidade existente entre as etnias e culturas.
Pluralidade, condição do saber humano
O fator geográfico é a leitura chave
para o entendimento da pluralidade encontrada nas culturas, etnias e religiões.
A própria terra apresenta as regiões de maneira diversa, como por exemplo:
floresta, terra fértil, litoral, deserto e montanha. Cada uma proporcionando
maneiras de ver, sentir e agir diferentes. Encontramos modos diversos de ver o
mundo, de significar a vida e de formar comunidades. A diversidade cultural
pode ser analisada sob o viés antropológico, devido a própria condição humana,
que varia conforme o meio geográfico onde se encontra. O habitante do deserto,
por exemplo, adquire características diferentes de quem vive em terra fértil.
Cada povo se adapta à sua realidade e essa construção em múltiplas dimensões
chama-se cultura e, por sua vez, encerra a religião.
Dentre as inúmeras definições de
cultura, recorremos à do antropólogo E.B. Tylor, no livro Primitive Culture,
citado por Thomas H. Eriksen e Finn S. Nilson (2007, p. 35): “Cultura, ou
civilização, tomada no sentido amplo, etnográfico, é o complexo que inclui
conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume e quaisquer outras capacidades
e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade” (TYLOR 1958 [1871],
p. 1).
Ver e ouvir a presença do divino
Se as condições geográficas inspiraram
as culturas, também os universos religiosos surgiram da experiência empírica
dos povos, influenciados pela natureza. As experiências empíricas do universo
religioso das regiões do deserto e da terra fértil dominaram o mundo e
constituíram seus próprios modos de construir a religião. Enquanto a terra
fértil enfoca o ato de ‘ver’, o deserto afirma o ‘ouvir’.
No Oriente, por exemplo, a China e a
Índia, situadas em regiões férteis, elaboraram a partir das experiências
agrícolas os conceitos religiosos como a reencarnação e a teoria do carma do
Hinduísmo; dukha e samsara do Budismo e o caminho natural das religiões
chinesas.
Por outro lado, o Judaísmo, o
Cristianismo e o Islã, originados no deserto, dão ênfase ao firmamento e
localizam Deus nos céus distantes, diferente do Deus mais próximo e imanente
encontrado nas religiões orientais. Isso se deve ao fato de que, como diz
Gheorghiu: “os nômades do deserto vivem entre dois infinitos desertos. O
infinito da areia, a seus pés, e sobre si o infinito azul do céu” (GHEORGHIU,
2002, p. 12). Essa experiência empírica deve ter influenciado fortemente a
construção do conceito de ressurreição, que não existe nas religiões do
Oriente.
É notável a diferença na linguagem do
conteúdo religioso. As teologias oriundas da terra fértil se expressam mais
pela imagem, que é elemento primordial da espiritualidade e constitui, talvez,
a mais antiga simbolização humana da presença do divino. No ‘ver’ está
compreendida uma expressão popular da terminologia hindi, a língua nacional da
Índia: Darsan déna e darsan léna (ver a divindade e ser visto por ela).
A cosmovisão do deserto, por sua vez,
firmou-se mais na palavra e na poesia, pois o deserto não oferece variedade de
imagens, por isso toda a esperança de vida é investida no céu, seja ele azul ou
estrelado. O ser divino é considerado como Palavra, portanto o desenvolvimento
da espiritualidade dessas tradições religiosas parte do ato de ouvir.
Ao longo dos séculos, por meio das
migrações, os universos cultural-religiosos se encontraram e confrontaram suas
diferenças, o que provocou tensões e até conflitos. Cada religião pensava ser
mais verdadeira do que a outra e tentava difundir sua mensagem em ambientes
culturais diversos da própria origem. A observação do resultado dessa missionariedade
leva a três conclusões:
a) uma crença original assume
diferentes faces em função da cultura na qual é inserida;
b) em uma cultura religiosa dominante,
a crença reveste-se das características da religião dominante;
c) em uma cultura submissa, a crença impõe
as suas características (ANDRADE, 2007, p. 223).
Nova convivência religiosa
A atual coexistência pluralista oferece
novas formas de compreensão das tradições religiosas.
Portanto a experiência do pluralismo religioso se torna um apelo à descoberta e
à afirmação da própria identidade. Diz Paul Knitter: “Para trilhar nosso
próprio caminho de fé, precisamos caminhar com pessoas de diferentes caminhos”
(KNITTER, 2002, p. xi). Dez anos antes de Knitter, Bede Griffiths já havia
alertado para a dimensão plural do caminho religioso: “além de ser cristão, eu
preciso ser um hindu, um budista, jainista, zoroastrista, sikh, muçulmano e
judeu. Só assim poderei conhecer a Verdade e encontrar o ponto de reconciliação
em todas as religiões” (GRIFFITHS, 1992, p. 83). Ou como Raimon Panikkar
descreve sua trajetória, após sua formação acadêmica nas universidades indianas
e americanas: “Eu ‘parti’ como cristão, ‘encontrei a mim mesmo como hindu, e
‘retornei’ como budista, sem nunca ter deixado de ser cristão” (KNITTER, 2002,
p. 126).
Contexto atual: harmonia entre uno e
diverso
O mundo contemporâneo enfrenta dificuldade em
descobrir o significado do todo, devido à automatização e o individualismo da
vida moderna. Temos muita pressa, e nossa vida gira na órbita do utilitarismo,
o que nos faz pessoas fragmentadas, capazes de vivenciar apenas frações do
universo em que nos inserimos.
A experiência do ‘nós’ fundamenta toda comunicação
humana, pois aponta para um envolvimento em múltiplas dimensões: família, grupo
étnico, cultura, religião, sociedade... Ao Ensino Religioso importa conhecer os
mecanismos utilizados para obter uma visão do todo. Sabemos que nenhuma
religião possui a visão total de Deus. A grandeza divina é revelada através de
fragmentos. E quando um fragmento se encaixa com outro e unimos os nossos
pontos de vista nos aproximamos do todo.
A abordagem proposta pelo Ensino Religioso é uma
forma de unir diversos pontos de vista de uma única realidade. Cada parte dessa
diversidade é completa em si e por si, no seu contexto. Mas quando confrontada
com a totalidade, encontra-se como um fragmento. Justamente esse confronto
possibilita a experiência do diálogo inter-religioso. Qualquer ensino, seja
religioso, cultural ou individual, necessita de um movimento. No âmbito pessoal,
sair de si em direção ao outro e no âmbito cultural sair de uma cultura em
direção à outra.
Conclusão
Para concluir, gostaria de apresentar uma pequena
fábula dos gurus indianos que trata do objetivo de todas as religiões.
Em uma aldeia havia um mestre religioso, que falava
sobre o propósito das religiões. Um dia uma grande multidão, formada por
diversas tradições religiosas, reuniu-se para escutá-lo. Então um homem na
multidão lhe perguntou. “Mestre, qual é o objetivo de todas as religiões?” O
mestre lhe respondeu: “como a água tem sua fonte no topo da montanha e ela
transforma-se em diversos rios fluindo até ao mar, da mesma forma o único Deus
é visto por diversos ângulos pelas pessoas diferentes. Assim as diversas
religiões são criadas ou fundadas pelos seres humanos, mas cada religião tem um
propósito de chegar a um único Deus. Somente as regras é que são
diferentes".
[1] Observe-se essa convivência na Índia na fusão da arte persa e hindu no
monumento Taj Mahal; no nível da arte, no monumento Taj Mahal encontra-se a
arte persa e ao mesmo tempo a arte hindu; na música, uma fusão entre hindu e
árabe e, por fim, na comida, onde encontram-se todos os sabores em um prato só,
apontando para uma integração de todas as culturas tanto as nativas como as invasoras. De: Mundo Jovem / professoredgar.com
O termo ecumenismo
No mundo grego, ecumenismo significava "terra habitada", e tinha o sentido de "povo civilizado", de cultura aberta, tanto com uma perspectiva geográfica, como de civilização. Com as conquistas do Império Romano, o termo ganha mais uma conotação, a conotação política. Já no cristianismo, a palavra é utilizada numa perspectiva espiritual: a "terra habitada" passa a ser considerada obra de Deus, tornada habitável pela colaboração humana. Assim, assume a conotação de uma tarefa a realizar3 .
Em 381, o Concílio de Constantinopla refere-se ao Concílio de Niceia como Concílio ecumênico. Neste contexto, a palavra ecumênico refere-se tanto à reunião de pessoas de distintos lugares, quanto à doutrina e costumes eclesiásticos aceitos como norma para toda a Igreja Católica. Após o Império Romano, o termo ecumenismo deixa de ter a conotação política e passa a ser utilizado na Igreja. Por exemplo, o Credo Niceno-Constantinopolitano é considerado ecumênico por ser a profissão de fé aceito por todos os cristãos3 .
A raiz do ecumenismo moderno data do final do século XVIII, com as missões protestantes. O grande impulsionador destas missões, William Carey propôs a cooperação entre os cristãos para fazer frente à evangelização de um mundo cada vez maior a ser cristianizado1 . Mas o termo ainda tem conotações geográficas, enquanto busca a unidade em vista da expansão do Evangelho.
A partir dos movimentos Fé , Constituição , Vida e Ação. O termo ecumenismo espalhou-se nos ambientes eclesiais como o relacionamento entre as igrejas cristãs divididas na direção de superar as divergências teológicas, de aproximar os cristãos das diversas denominações e cooperar com a paz mundial3 .
História do movimento ecumênico[editar]
Mendonça1 situa as raízes do ecumenismo nas missões protestantes modernas e nos movimentos leigos de jovens. Segundo ele, à expansão colonial dos povos protestantes seguia-se a expansão religiosa. O enriquecimento destes povos gerou recursos capazes de prover a expansão missionária. Associada a estes dois fatores, a teologia de John Wesley (1703-1791) trouxe uma resposta à busca de salvação do homem em um mundo de profundas transformações. Sua teologia serviu para superar o divisionismo protestante ao nível das formas de crença e ajudou a uniformizar a mensagem missionária. A partir daí, foi possível o surgimento de um pan-protestantismo e o surgimento de diversas sociedades missionárias interdenominacionais: a Sociedade Missionária de Londres (1795), a Sociedade de Tratados Religiosos (1799), a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira (1804), a Sociedade Bíblica Americana (1816), a Sociedade Americana de Tratados (1825) e outras. Posteriormente algumas destas sociedades tornaram-se denominacionais. "As missões constituíram forte elemento de aproximação das igrejas pela necessidade de companheirismo e cooperação entre os agentes missionários, na maioria das vezes trabalhando em situações muito adversas"1 . Nesta colaboração, concentravam os esforços comuns na disseminação da Bíblia e a promoção da saúde através da fundação de hospitais. No campo da educação, as escolas eram denominacionais.
Em 1846, foi criada em Londres a Aliança Evangélica, com a finalidade de congregar as diversas igrejas diante da ameaça de fragmentação do Protestantismo. Esta aliança tinha como finalidade preparar um "concílio ecumênico evangélico universal" 4 . . Durante a primeira reunião da Aliança Evangélica em Londres, o pastor calvinista francês Adolphe Monod ressalta o "espírito ecumênico" demonstrado pelos organizadores do evento3 .
A partir da segunda metade do século XIX, surgiram as associações mundiais leigas de jovens, que foram fundamentais para o desenvolvimento do ecumenismo. A primeira destas associações de cunho ecumênico foi a Associação Cristã de Moços, criada em Londres em 1844, por George William, que se espalhou pelo mundo e organizou-se em uma Associação Mundial a partir de 1855. A Associação Cristã Feminina, também londrina, foi criada em 1855. Outras organizações também tiveram sua importância: Movimento de Estudantes Voluntários para as Missões Estrangeiras, de 1886, e a Federação Mundial de Estudantes Cristãos, de 1895, ambos organizados por John Raleigh Mott, que foi um grande líder das iniciativas ecumênicas1 .
No âmbito católico, o papa Leão XIII, ao promulgar a encíclica Provida Mater, em 1895, instituiu um tempo de novena pela reconciliação dos cristãos entre as festas da Ascensão e de Pentecostes, que foi constituído em um tempo perpétuo dois anos depois5 .
Em 1908, os anglicanos Spencer Jones e Lewis Thomas promoveram oito dias de oração pela unidade dos cristãos entre 18 de janeiro (Festa da cátedra de São Pedro) e 25 de janeiro (festa da conversão de São Paulo). Posteriormente, Watson converteu-se ao catolicismo e foi instituído na Igreja Católica a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãosneste mesmo período5 .
Em 1905, foi criado nos Estados Unidos o Conselho Nacional das Igrejas5 .
A Conferência Missionária Mundial, em Edimburgo, em 1910, é considerada o marco do ecumenismo1 como é entendido hoje: a busca da unidade entre as igrejas cristãs. Foi idealizado e realizado por John Mott. Ao convocar esta conferência, Mott conclamava os líderes do protestantismo para a necessidade de cooperação entre as igrejas no campo missionário, para além das diferenças confessionais. A Conferência resultou em dois congressos posteriores, em Estocolmo, em 1925 e Oxford em 1939. A partir de então floresceram diversas iniciativas ecumênicas: a criação do Conselho Internacional de Missões (1921), o Conselho Universal da Vida e do Trabalho (Estocolmo, 1925) e o Conselho Mundial Fé e Ordem (Lausanne, 1927), que estavam a gestar a criação de um organismo internacional das igrejas cristãs5 .
Entretanto, o papa Pio XI via com suspeita estes movimentos e publicou em 1928 a encíclica Mortalium animos, que afirmava que a única igreja verdadeira é a igreja romana e que a salvação só pode ser alcançada pelo regresso a ela5 . Apesar desta posição oficial, diversas iniciativas no âmbito católico foram efetuadas no sentido da aproximação e cooperação com outras denominações cristãs5 .
Em 1948, foi criado o Conselho Mundial das Igrejas - CMI, que reuniu inicialmente 197 denominações. No âmbito desta organização, o termo ecumenismo designa os esforços entre Igrejas com vista a uma reconciliação cristã que aceite a realidade da diversidade das diversas igrejas cristãs.
Numa edição especial, a revista Sem Fronteiras (As Grandes Religiões do Mundo, p. 36) descreve o ecumenismo como um movimento que se preocupa com as divisões entre as várias Igrejas cristãs. E explica: "Trabalha-se para que estas divisões sejam superadas de forma que se possa realizar o desejo de Jesus Cristo: de que todos os seus seguidores estivessem unidos, de assim como Ele e o Pai são um só."
A Igreja Católica incorpora-se oficialmente ao movimento ecumênico a partir de 1960, quando o papa João XXIII criou o Secretariado Romano para a Unidade dos Cristãos. Este organismo participou ativamente no assessoramento ao papa e aos bispos durante o Concílio Vaticano II, além de ajudar os padres conciliares na elaboração do decreto Unitatis Redintegratio de 1964, do Papa Paulo VI. Este decreto define o movimento ecumênico como uma graça do Espírito Santo, considera que o caráter ecumênico é essencialmente espiritual e estabelece que o olhar da Igreja Católica é dirigido às igrejas separadas do Catolicismo: as Igrejas Ortodoxas e as Igrejas Protestantes5 .
O Papa Paulo VI instituiu diversos grupos de trabalho na linha do diálogo inter-religioso: o Secretariado para os Não-Cristãos, a Comissão para o Diálogo com os Judeus e o Secretariado para os Não-Crentes5 .
Do ponto de vista institucional, o Secretariado para a Unidade dos Cristãos estabeleceu o diálogo sobre a doutrina com outras igrejas, assessorou as Conferências Episcopaispelo mundo no tema do ecumenismo. Foi responsável ainda pelos documentos Diretório Ecumênico (1967-1970) e A colaboração ecumênica em nível regional, nacional e local(1975). O Papa João Paulo II reafirmou o ecumenismo como essencial para a fé cristã na Encíclica Ut unum sint ("Que todos sejam um").
Algumas denominações protestantes participam do movimento ecumênico. Outras, entretanto, não só não o aceitam como creem que o ecumenismo cumpre perfeitamente as profecias bíblicas no livro do Apocalipse que prevê o seu líder - o falso profeta - que levará a humanidade a aceitar o Anticristo que está por vir (Apocalipse 13.11-12)6 . Esta visão é compartilhada sobretudo pelos pentecostais e neopentecostais7
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