domingo, 15 de outubro de 2017

4 coisas ainda desanimadoras da rotina do professor no Brasil - e 3 coisas que estão melhorando


Professora em sala de aula em Curitiba, em foto de arquivo
Image captionProfessores se queixam de desvalorização profissional, algo que envolve de plano de carreira a uma formação melhor (Foto: Pedro Ribas/ANPr)

Ninguém questiona a importância da educação e do professor para o avanço do Brasil, mas como fazer para que isso seja efetivado costuma gerar bastante debate - e esforço.
Aproveitando a comemoração do Dia do Professor, neste domingo, a BBC Brasil perguntou a especialistas e professores quais os principais desafios atuais da profissão - e o que está avançando, mesmo que aos poucos e não uniformemente.
Veja abaixo alguns dos pontos mais citados.

Desafios:

1. Violência em sala de aula

Os socos que um aluno de 15 anos desferiu em uma professora em Indaial (SC), em agosto, abriram um debate nacional sobre a violência no ambiente escolar.
Em São Paulo, 51% dos professores entrevistados por uma pesquisa encomendada pela Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado) disseram ter sido vítimas de algum tipo de violência na escola; e 61% dos docentes e 72% dos alunos consideram a escola um ambiente de violência.
Para Maria Izabel Azevedo Noronha, professora e presidente da Apeoesp, a violência é "consequência do abandono da escola pública", citando superlotação de salas de aula e enxugamento de funcionários. Tudo isso, diz, dificulta aos professores conhecer individualmente os problemas de cada aluno.
Também em São Paulo, o governo estadual prometeu dobrar o número de professores-mediadores de conflitos para um total de 6,8 mil - algo que Noronha considera uma "resposta correta, ainda que não seja a salvação".
O problema é complexo porque a escola é um microcosmo que espelha a violência da própria sociedade, explica Inês Kisil Miskalo, gerente-executiva de educação do Instituto Ayrton Senna. E reflete tanto o baixo reconhecimento social do professor quanto a vulnerabilidade dos próprios estudantes.
"Estamos muitas vezes lidando com alunos defasados, desmotivados, de famílias carentes. É algo que precisa ser enxergado não pela via policial, mas do relacionamento - acolhendo os alunos e suas famílias", opina Miskalo.
"Não é algo fácil, mas precisamos romper os ciclos de violência e também dar mais perspectivas de trabalho aos professores, mostrar que seu trabalho não é isolado, é coletivo."

2. Desvalorização da carreira - financeira e socialmente

A baixa valorização e remuneração do professor gera um ciclo vicioso: a carreira não consegue atrair os melhores estudantes, as deficiências de formação se perpetuam e refletem na qualidade do ensino.
Essa desvalorização começa, segundo professores e especialistas, na ausência de planos de carreira em grande parte da rede, na defasagem salarial em relação às demais profissões e na formação deficiente.

Lousa em sala de aula
Image captionFormação inicial de docentes não articula teoria com a realidade em sala de aula, dizem especialistas (Foto: Marcos Santos/USP Imagens)

A cada 100 alunos de pedagogia ou licenciatura, só 51 concluem o curso, o que ilustra algumas das dificuldades de formação de novos professores, afirma Olavo Nogueira, diretor de políticas públicas do movimento Todos Pela Educação. "Não é à toa que já faltam professores em algumas disciplinas."
"Valorização passa por salário, formação continuada e por (solução de) problemas estruturais", afirma Noronha, da Apeoesp. "Há professores de física, química e artes, por exemplo, que chegam a acumular mil alunos em uma única escola. É muita coisa."
E há, também, a desvalorização social. Em 2013, o levantamento Índice Global de Status de Professores, que mede o respeito e o status dos docentes na sociedade, colocou o Brasil no penúltimo lugar entre 21 países avaliados.
"É preciso reconhecimento público para o professor, indo além da remuneração", diz Miskalo, do Ayrton Senna. "Isso envolve jogar luz nos bons professores, bater palma para eles, levá-los para a universidade para que contem (a futuros docentes) os segredos que usam na alfabetização, por exemplo."

3. Formação que não prepara para a aula

"Não é incomum ouvir de professores novos: 'não imaginava que seria tão difícil' ou 'não tenho a menor ideia de como agir em sala de aula'. Isso porque a formação não os prepara para a docência", afirma Olavo Nogueira.
Especialistas são unânimes em dizer que a formação atual dos professores não dialoga com a realidade que encontrarão dentro das escolas, nem com os desafios da educação para o século 21.
"O professor leva um choque de realidade: ele não aprendeu elementos para transformar a teoria em ação dentro da sala de aula", diz Miskalo.
No ensino médio, há uma dificuldade adicional: o deficit de professores formados nas disciplinas em que atuam, como química e física. Segundo o Censo Escolar de 2016, apenas 55% dos professores dessa etapa têm formação superior na área em que lecionam.

Professor em sala de aula
Image captionProfessores muitas vezes não estão preparados para lidar com turmas grandes e alunos defasados em relação a sua idade (Foto: Marcos Santos/USP Imagens)

Essa é, na visão do Ministério da Educação, o maior desafio atual da docência. "São 2,2 milhões de professores e grande parte deles não é formada na área em que atua", diz nota do MEC à BBC Brasil, agregando estar finalizando uma política nacional de formação de professores articulada à nova Base Nacional Curricular, quando esta for homologada.
A formação atual tampouco acompanha as transformações na educação - cada vez mais multidisciplinar, centrada no aluno e incorporando habilidades socioemocionais, como trabalho em equipe e resolução de problemas.
"Bons educadores fazem isso quase instintivamente porque sabem que é importante, mas isso precisa ser explícito e planejado", afirma Miskalo.
O MEC afirma que isso será enfrentado com a nova Base Curricular.
"A base nacional está organizada por competências e norteará os currículos dos sistemas e redes de ensino. (...) No momento em que a Base for homologada, o MEC promoverá ações de formação a todas as redes e sistemas de ensino, para a preparação de currículo e professores. Dessa forma, o aprendizado terá sentido organizado nessas competências e não somente do ponto de vista de uma lista de aprendizados de conteúdos aleatórios", diz o ministério.

4. Defasagem e indisciplina dos alunos

Uma pesquisa realizada em 2015 pela Fundação Lemann perguntou a professores quais problemas requeriam solução mais urgente nas escolas, e dois dos mais citados foram a defasagem de aprendizado dos alunos e a indisciplina em sala de aula.
A cada cem alunos do ensino básico, cerca de 12 estão com um atraso escolar de dois anos ou mais, segundo dados de 2016 compilados pela plataforma QEdu.
"É diferente se preparar para dar aula para uma sala de crianças de dez anos e (ter na mesma sala) crianças de 14 anos, que têm outros interesses e percepções", explica Mônica Gardelli Franco, ex-professora e atual superintendente da organização Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária).

Professora Marcia Friggi após agressão em sala de aula
Image captionProfessora Marcia Friggi após agressão em sala de aula; caso abriu debate nacional sobre violência no ambiente escolar (Foto: Reprodução/Facebook)

Sobre a indisciplina, ela conta que os professores não costumam receber, em sua formação, ferramentas para lidar com a dispersão dos alunos e a falta de foco.
E o tempo gasto com isso consome minutos preciosos de aula, que deixam de ser usados na transmissão de conteúdo.
"Perco cerca de 60% do meu tempo em aula resolvendo conflitos paradidáticos, por exemplo falando de valores (sociais) ou da importância de preservar o bem público", lamenta, em entrevista à BBC Brasil, Jorge Jacoh Ferreira, 35 anos, professor da rede municipal do Rio no subúrbio carente de Santa Cruz.
O Ministério da Educação diz que o tema preocupa. "O MEC vem discutindo propostas e possibilidades acerca da formação de professores para atender a esses desafios", diz o órgão em nota.

Avanços:

1. Tecnologia a serviço da sala de aula

A tecnologia já ajuda gestores e professores a preparar aulas e acompanhar seus resultados.
O Google, por exemplo, disponibiliza ferramentas gratuitas para escolas públicas que permitem criar salas de aula na nuvem, distribuir tarefas, organizar avaliações e medir o desenvolvimento da turma.
Softwares de Inteligência Artificial já são parte da rotina de algumas escolas públicas e privadas brasileiras e, à medida que são usados pelos alunos, incorporam informações sobre eles para melhorar processos de aprendizagem.

Violência em sala de aulaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionIndisciplina e defasagem são algumas das queixas mais comuns de docentes em pesquisa

"É um conjunto de ferramentas estatísticas que cria mais conhecimento quanto mais os alunos (a utilizarem)", disse à BBC Brasil em agosto Leonardo Carvalho, cofundador da empresa Geekie, que fornece o software. "Em uma sala com 50 alunos, o professor não consegue ver (a dúvida exata) de cada um. O programa faz isso de modo escalonado."
Por si só, a tecnologia não necessariamente impacta a educação de modo positivo. O importante, dizem especialistas, é que ela apoie (e não substitua) o docente.
"A tecnologia pode ocupar um espaço (de facilitar tarefas) e deixar o professor mais livre para a construção do pensamento crítico e analítico e das relações em sala de aula", diz Gardelli Franco, do Cenpec.
No Rio, Jorge Jacoh Ferreira diz que seus colegas já usam bancos de dados online para lançar notas, por exemplo. "A dificuldade é a infraestrutura: tem dias que a internet funciona; tem dias que não. Gostaria de usar o Google Earth nas minhas aulas, mas não consigo porque o 4G não funciona."
A infraestrutura é, de fato, um dos principais entraves ao uso da tecnologia. Segundo dados do Censo Educacional 2016 tabulados pelo QEdu, 68% das 183,3 mil escolas básicas do Brasil têm internet. A banda larga está disponível em apenas 56% delas.

2. Mais compartilhamento de boas práticas

Seja via grupos formados em suas próprias redes de ensino, seja por articulação própria nas redes sociais, os professores têm encontrado cada vez mais caminhos para compartilhar boas ideias para ajudar os colegas em sala de aula.
"O professor, quando ganha conectividade, está sempre em busca de novas referências e modelos", diz Gardelli Franco. "Os espaços virtuais favorecem muito isso. Os próprios professores constroem redes dentro de seus grupos, obtendo mais referências (para usar em sala de aula)."

sala de aulaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionEnsino muitas vezes está desconectado da rotina dos alunos e das demandas do século 21

"Já usei a ideia de um colega de São Gonçalo (RJ) que conheci vias redes sociais e que está dando bons resultados em sala de aula: um jogo de cartas que ajuda em interpretação de texto e pensamento estratégico", conta o professor Jorge Ferreira.
"Mas acho que isso ainda é algo feito totalmente por iniciativa dos próprios professores, que têm brigado muito para se articular por conta própria."

3. Mais possibilidades de formação

Especialistas e professores veem mais opções de cursos de pós-graduação e mestrados, bem como plataformas online gratuitas como Khan Academy e Coursera, que ampliam o leque de possibilidades de formação à distância.
No âmbito do Ministério da Educação há a Universidade Aberta do Brasil, sistema de universidades públicas que dá prioridade a professores na oferta de cursos de nível superior à distância.
Para o professor Jorge Ferreira, porém, é preciso que as redes de ensino valorizem a formação.

ComputadoresDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionTecnologia pode ser aliada do professor na gestão escolar e no acompanhamento do desempenho dos alunos

"Na minha rede, eu ganharia bônus de 7% com mestrado. Vou investir dois anos de estudo por um bônus medíocre?", questiona.
Segundo Olavo Nogueira, do Todos Pela Educação, "vemos que o mais eficiente são os programas de formação continuada, articulados, em que professores consigam observar uns aos outros em atuação. Há muitos cursos que, apesar do investimento alto, trazem pouca melhoria na prática."
Para concluir, Nogueira diz que o professor não vai resolver sozinho os problemas da educação - mas agrega que, sem eles, é bem possível que nenhum problema seja resolvido.
"Não tem atalho. Avançaremos pouco com a mudança da base curricular ou com a reforma do ensino médio, por exemplo, se não lidarmos com as questões (enfrentadas) pelos professores."
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 14 de outubro de 2017

Decisão judicial: Senado vai fazer votação nominal no caso de Aécio


O juiz Marcio Lima Coelho de Freitas, da Sessão Judiciária do Distrito Federal, concedeu liminar na noite desta sexta-feira (13) que obriga o Senado a adotar votação aberta e nominal na sessão que decidirá sobre o afastamento do senador Aécio Neves (PSDB-MG). Temendo desgaste político, parte dos senadores vinha defendendo que a votação fosse secreta. A decisão atende a ação popular movida pelo presidente da União Nacional dos Juízes Federais (Unajuf), Eduardo Cubas. A liminar se baseia na emenda 35/2001, que altera o artigo 53 da Constituição, suprimindo a possibilidade de votação fechada nos casos que envolvem a suspensão de direitos de parlamentares.
“Tenho que efetivamente a adoção de votação sigilosa configuraria ato lesivo à moralidade administrativa, razão pela qual defiro a liminar para determinar que o Senado Federal se abstenha de adotar sigilo nas votações referentes à apreciação das medidas cautelares aplicadas ao Senador Aécio Neves”, escreveu Coelho de Freitas, na decisão. Autor da ação popular, Eduardo Cubas comemorou a liminar. “O Brasil necessariamente passa por uma crise de transparência. O Senado da República não pode, jamais, se esconder atrás do voto secreto”, afirmou.
A maneira como será a votação no Senado pode influenciar no futuro do tucano. Senadores afirmam que, se o voto não for secreto, a pressão da opinião pública pode fazer com que parlamentares desistam de reverter a suspensão do mandato do político mineiro, mantendo seu afastamento. Por conta disso, a cúpula do Senado articulava para que a votação fosse secreta, evitando o desgaste dos que querem votar a favor de Aécio.
Na sexta-feira à noite, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) se manifestou contra a possibilidade, classificando como  “inadmissível” a hipótese de votação secreta no caso do afastamento de Aécio. “Mais que nunca, a sociedade brasileira exige transparência e honestidade na aplicação da justiça. Voto aberto, portanto”, clamou o presidente nacional da entidade, Cláudio Lamachia.
Também na sexta-feira, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) informou que pretende recorrer ao STF se o Senado decidir pela votação secreta no afastamento do mandato e recolhimento noturno imposto a Aécio Neves. “Para mim e o meu partido, não há dúvidas, a votação tem que ser aberta e, caso o contrário, o Senado insista de fazer voto secreto, eu ingressarei de imediato com mandado de segurança no Supremo para que a votação se processe como está na Constituição”, disse.
Histórico
Na última vez que o Senado votou uma punição do STF contra um parlamentar, caso da prisão do ex-senador Delcidio do Amaral, em novembro de 2015, o então presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), inicialmente afirmou que seguiria o regimento interno da Casa, promovendo a votação secreta. Depois,porém, decidiu submeter a decisão ao plenário, que optou pelo voto aberto. Naquele mesmo dia, o ministro Edson Fachin, do STF, também determinou que a votação fosse aberta.
O líder do PMDB, Raimundo Lira (PB), afirmou que o partido não vai participar de manobras para que a votação seja fechada – o que poderia favorecer Aécio – embora circulem informações de que haveria um “acordo tácito” entre os dois partidos para salvar o tucano e, em troca, derrotar a nova denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB) na Câmara dos Deputados. “O artigo 291 do regimento aprovado em 1970 definia que é secreta, mas a Constituição de 1988 foi muito clara: votação secreta exclusivamente para escolha de autoridades, portanto, eu entendo que essa questão é totalmente superada. Será aberta”, concluiu.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Do massacre à canonização: Papa Francisco decreta santidade de 30 mortos por holandeses no Brasil há 372 anos


Massacre em capela religiosa de Cunhaú, no Rio Grande do Norte: Os mortos identificados serão declarados santos neste domingo
Image captionQuadro mostra massacre em Cunhaú, no Rio Grande do Norte. Os mortos identificados serão declarados santos neste domingo | Imagem pintada por Padre Eladio

Uma missa de domingo em uma capela, uma celebração em campo aberto às margens de um rio e 150 pessoas brutalmente assassinadas. Dois massacres registrados no Rio Grande do Norte e apontados como símbolos da intolerância religiosa de holandeses que dominavam o Nordeste brasileiro em 1645 renderão ao país, 372 anos depois, 30 novos santos - "os primeiros santos mártires do Brasil".
Os chamados "mártires de Cunhaú e Uruaçú" - nomes de duas localidades da época que hoje correspondem aos muncípios potiguares de Canguaretama e São Gonçalo do Amarante - foram beatificados no ano 2000 pelo Papa João Paulo II e serão canonizados neste domingo pelo Papa Francisco.
Os 30 novos santos são os únicos mortos identificados em dois massacres que deixaram um saldo de aproximadamente 150 vítimas. Por esse motivo, somente eles serão reconhecidos na cerimônia.
O caso é considerado emblemático, entre outros motivos, porque os massacrados teriam "dado a vida, derramado o sangue, na vivência de sua fé", segundo a Igreja.
Em Cunhaú, 70 teriam sido assassinados em 16 de julho de 1645. O episódio é apontado como retaliação holandesa aos que seguiam a fé católica e se recusavam a migrar para o movimento religioso protestante que difundiam, o calvinismo.
O livro "Beato Mateus Moreira e seus companheiros mártires", escrito pelo Monsenhor Francisco de Assis Pereira a partir de pesquisas históricas e dados que embasaram a beatificação, afirma que os holandeses contaram com a ajuda de indígenas para invadir uma capela da região, fechar as portas e matar quem estivesse dentro, em uma manhã de domingo.
Quase três meses depois desse episódio, em 3 de outubro, outras 80 pessoas também viraram alvos em outro cenário: às margens do rio Uruaçú, foram despidas e assassinadas por não terem se convertido ao protestantismo.
Nem crianças foram poupadas do ataque. Uma delas, com dois meses de vida, foi uma das vítimas, junto com uma irmã e o pai.
Também parte desse segundo grupo, o camponês Mateus Moreira acabou virando símbolo do martírio porque, no momento de sua morte, teria bradado: "Louvado seja o Santíssimo Sacramento". A louvação seria uma prova incontestável de sua fé, na visão católica. Ele foi morto ao ter o coração arrancado pelas costas.
A presença da igreja católica no Nordeste já era considerada "marcante" nessa época, como descreve o Monsenhor Pereira, postulador da causa da beatificação dos mártires, no livro. "Havia padres seculares (padres pertencentes a dioceses), numerosos conventos de franciscanos, carmelitas, jesuítas e beneditinos. Eram mais de 40 mil católicos", escreve ele.
Os holandeses aportaram na região em 1630. Eles chegaram nesse período a Pernambuco e assumiram o comando político e militar da área - estendendo o domínio posteriormente a outras capitanias, inclusive à do Rio Grande, como era chamado o Rio Grande do Norte.
Os colonizadores teriam perseguido e assassinado adeptos da religião católica que não aceitaram virar calvinistas. Na mesma época em que, por meio da Inquisição, a Igreja Católica ainda perseguia, julgava e punia acusados de heresia.

Adultos, jovens e crianças: quem são os mártires canonizados

A lista de novos santos inclui um total de 25 homens, entre eles dois padres, e cinco mulheres. Eram 16 adultos, 12 jovens e duas crianças - a mais nova, o bebê de dois meses de idade.
"A identificação dos que serão canonizados não se dá tanto pelos nomes, mas também por identificação de parentesco e de amizade (das vítimas)", ressalta o padre Julio Cesar Souza Cavalcanti, responsável por encaminhar a canonização dos mártires na Arquidiocese de Natal.
A missa solene em que o papa Francisco vai proclamar a canonização, na Basílica de São Pedro, em Roma, ocorre a partir das 10h deste domingo, no horário local (5h no Brasil).

Papa Francisco, no Vaticano: Canonização não exigiu que os mártires tivesssem realizado milagresDireito de imagemREUTERS
Image captionO Papa Francisco dispensou a exigência de milagres para canonização dos 30 novos santos brasileiros

"Do Brasil estamos esperando uma peregrinação em torno de 500 pessoas. Porém, como temos outras canonizações, cremos que estaremos com a praça lotada", diz o padre.
A professora aposentada Sônia Nogueira, de 60 anos, estará em Natal, a mais de sete mil quilômetros de distância da cerimônia, mas em vigília e "com o coração cheio de gratidão pelos mártires".
Ela diz que, por intermédio deles, pediu "a graça da cura e da libertação" para o marido, José Robério, que em 2002 começou a enfrentar as consequências de um câncer no cérebro.
Fortes dores de cabeça levaram o militar aposentado, hoje com 68 anos, ao diagnóstico.
O caminho trilhado a partir desse ponto foi marcado por "apreensão", mas também pelo que Sônia resume com letras maiúsculas em um texto: "MILAGRE DA SOBREVIDA!"
A frase foi escrita por ela em um relatório que enviou à Igreja Católica no Rio Grande do Norte, em 2016, para contar a história do marido em meio a exames, tratamentos de saúde, cirurgias e momentos de "fé".
Rezar foi a estratégia fundamental, segundo Nogueira, para que Robério resistisse à doença, que raramente possibilita sobrevida de mais de três anos aos pacientes após diagnóstico. No laudo médico que a professora apresentou para embasar cientificamente o que considera um milagre, o neurocirurgião que acompanhou o caso de Robério o coloca no rol de "exceções da medicina", porque ele sobreviveu.
"Já se vão 15 anos e 5 meses desde que soubemos do tumor", diz Sônia, em entrevista à BBC Brasil. Ela não tem dúvidas: "Foi um milagre. A medicina foi só um complemento".

Comprovação de milagres não foi exigida no processo

Robério e sua mulher estão entre os mais de cinco mil fiéis que já relataram à Arquidiocese de Natal "graças alcançadas" por meio dos "novos santos" do Brasil.
Não foram necessários, porém, milagres para fundamentar a canonização.
"O papa Francisco, quando decidiu pela canonização com a dispensa do milagre, colocou como um ponto básico (para a aprovação) a antiguidade do martírio e a perpetuidade da devoção do povo aos mártires", explica o padre Julio.
Por meio do chamado processo de equipolência, o papa reconhece a santidade considerando três requisitos: a prova da constância e da antiguidade do culto aos candidatos a santos, o atestado histórico incontestável de sua fé católica e virtudes e a amplitude de sua devoção.
O mesmo processo, em que milagres foram dispensados, foi adotado para a canonização de São José de Anchieta, outro santo do Brasil.

Os aposentados Sônia e Robério Nogueira atribuem o que chamam
Image captionSônia e Robério Nogueira: Militar aposentado descobriu tumor no cérebro em 2002 e atribui "milagre da sobrevida" aos mártires | Foto: Arquivo pessoal

Para Nogueira e Robério, no Rio Grande do Norte, o milagre que os mártires teriam realizado é, porém, inquestionável. "Robério foi bem aventurado no processo, por intercessão deles", justifica a aposentada. "Como um paciente pode chegar a (sobreviver) 15 anos tomando uma medicação que segura outros por no máximo três?".
Com dificuldades para falar e andar sem apoio, após a segunda e última cirurgia que fez, o marido faz coro: "Estava muito doente e os mártires me levantaram".
"Quem não vai ficar bom tendo um santo dentro de casa?", ele questiona, referindo- se ao fato de os novos santos terem origem no estado em que mora.
A canonização deste domingo eleva para 36 a quantidade de santos considerados nacionais. Até agora, só um deles, Santo Antônio de Sant'Ana Galvão, mais conhecido como Frei Galvão - santificado em 11 de maio de 2007 - é, porém, brasileiro de nascimento. Os outros cinco já oficializados, São Roque Gonzales, Santo Afonso Rodrigues, São João de Castilho, Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus e São José de Anchieta, são estrangeiros, mas desenvolveram missões no país. Eles são reconhecidos por milagres.
Para o padre Júlio, "a grande mensagem com a canonização é de reconhecer que mesmo pensando diferente, seja em qualquer campo, devemos sempre respeitar o outro e jamais destruir alguém, de nenhum modo".
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Pai do Vereador Roberto Lemos será sepultado às 16 horas


O vereador Roberto Barbosa de Lemos, comunica aos familiares e amigos que  corpo do  seu pai,  Sr. Zé Lins, agricultor,  falecido aos 81 anos de idade,  está sendo velado em sua residência, próximo da curva de Solon.  O sepultamento será nesta sexta-feira, 13 de outubro 2017, às 16:00 horas,  no Cemitério de Bom Jardim. Roberto Lemos e demais familiares agradecem o comparecimento e a solidariedade de todos.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Sexta-feira 13: Como surgiu a superstição?


Documentos do Clube dos Treze
Image captionDocumentos do Clube dos Treze faziam graça de superstições (Crédito: Reprodução)

É sexta-feira 13, o dia mais amaldiçoado do calendário, supostamente quando tudo pode dar errado. Mas de onde surgiu a ideia de que coisas ruins acontecem nesta data?
Sexta-feira e o número 13 já eram associados ao azar por si só, segundo Steve Roud, autor do guia da editora Penguin Superstições da Grã-Bretanha e Irlanda.
"Porque sexta-feira foi o dia da crucificação (de Jesus Cristo), as sextas-feiras sempre foram vistas como um dia de penitência e abstinência", diz ele.
"A crença religiosa virou uma aversão generalizada por começar algo ou fazer qualquer coisa importante em uma sexta-feira".
Por volta de 1690, começou a circular uma lenda urbana dizendo que ter 13 pessoas em um grupo ou em torno de uma mesa dava azar, explica Roud.
As teorias por trás da associação de azar com o número 13 incluem o número de pessoas presentes na Última Ceia e o número de bruxas em um clã.

CrucificaçãoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionPor ser o dia da crucificação, a sexta-feira passou a ser vista como um dia de penitência e abstinência

Até que esses dois elementos - a sexta-feira e o número 13 - que já causavam receio isoladamente acabaram se unindo em um momento da história. Por ironia do destino, um grupo que surgiu para ridicularizar superstições acabou consagrando a data.
Em 1907, um livro chamado Sexta-feira 13 foi publicado pelo corretor de ações Thomas Lawson - essa foi a inspiração para a mitologia em torno da data, culminando na franquia de filmes homônima nos anos 1980.
O livro conta a história sombria de um corretor de Wall Street que manipula o valor de ações para se vingar de seus inimigos, deixando-os na miséria.
Para isso, ele tira proveito da tensão natural causada pela data no mercado financeiro. "Cada homem na bolsa de valores está de olho nessa data. Sexta-feira, 13, quebraria o melhor pregão em andamento", diz um dos personagens.

Livro Sexta-Feira 13 de Thomas W. Lawson
Image captionLivro de 1907 levou a superstição para mundo artístico e criou franquia de cinema (Crédito: Alamy)

Como se vê, em 1907, a sexta-feira 13 já era uma superstição socialmente estabelecida. Mas não era assim 25 anos antes.
O Clube dos Treze, um grupo de homens determinados a desafiar superstições, se reuniu pela primeira vez em 13 de setembro de 1881 (uma quarta-feira) - mas só seria fundado oficialmente em 13 de janeiro de 1882.
Eles se encontravam sempre no dia 13 de cada mês, sentavam - os 13 - à mesa, quebravam espelhos, derrubavam saleiros extravagantemente e entravam no salão de jantar passando debaixo de uma escada.
Os relatórios anuais do clube mostravam meticulosamente quantos de seus membros tinham morrido, e quantas destas mortes haviam ocorrido dentro do prazo de um ano após um membro comparecer a um de seus jantares.

'Grande coração'


William Fowler
Image captionWilliam Fowler era o mestre de cerimônias do Clube dos Treze em Nova York (Crédito: NYPL)

O grupo foi fundado pelo capitão William Fowler em seu restaurante, o Knickerbocker Cottage, na Sexta Avenida de Manhattan, em Nova York. Ele era considerado um "bom companheiro de grande coração, simples e caridoso".
Como mestre de cerimônias, ele "sempre entrava no salão de banquetes à frente do grupo, vistoso e sem medo", segundo Daniel Wolff, "chefe de regras" do clube.
O jornal The New York Times informou na época que, na primeira reunião, o 13º convidado estava atrasado, e Fowler ordenou que um dos garçons assumisse seu lugar: "O garçom estava sendo empurrado escada acima quando o convidado que faltava chegou".
O primeiro alvo do grupo foi a superstição de que, se 13 pessoas jantassem juntas, uma delas morreria em breve. Mas uma segunda superstição veio logo a seguir.
Em abril de 1882, o clube adotou uma resolução lastimando o fato de que a sexta-feira era "há muitos séculos considerado um dia de azar... sem motivos razoáveis" e enviaram apelos ao presidente americano, a governadores e a juízes pedindo que estes últimos parassem de marcar enforcamentos para sextas-feiras e levassem a cabo execuções em outros dias da semana.
Mas não há qualquer sinal da superstição da sexta-feira 13 nas atividades do clube. Ela surgiu em algum momento entre a fundação do clube, em 1882, e a publicação do livro de Lawson de 1907.
Seria isso por culpa do próprio clube?

Orgulho


Casa em Manhattan onde começou o Clube dos Treze
Image captionClube dos Treze começou com reuniões nesta casa em Manhattan (Crédito: Reprodução)

O grupo aproveitava todas as oportunidades que apareciam para juntar as duas superstições e ridicularizá-las, segundo reportagem do jornal Los Angeles Herald de 1895: "Nos últimos 13 anos, quando a sexta-feira caiu no dia 13, esta peculiar organização fez reuniões especiais para se deleitar".
O clube se orgulhava de ter colocado a superstição no foco das atenções. Sua fama cresceu: o grupo original de 13 membros passou a contar com centenas de pessoas na virada do século, e clubes parecidos foram fundados em outras cidades em todo o país.
Em 1894, foi criado o Clube dos Treze de Londres. Em uma carta de 1883 aos membros nova-iorquinos, o escriba do clube londrino, Charles Sotheran, elogia a determinação com que eles combateram "duas dessas superstições vulgares, a crença de que o número 13 traria azar e que a sexta-feira seria um dia azarado". "Vocês criaram um sentimento popular a favor dos dois".
A frase é ambígua, mas ela pode ser interpretada como um sinal de que as duas superstições, juntas, caíram nas graças do povo.
A doutrina do Clube dos Treze era de que "superstições deveriam ser combatidas e eliminadas".
Mas tudo indica que, em vez disso, eles tiveram o grande azar de acabar lançando uma das superstições mais conhecidas e persistentes do mundo ocidental.
Professor Edgar Bom Jardim - PE