Mostrando postagens com marcador Saúde. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Saúde. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Perigo:Pode faltar insulina para diabéticos do mundo inteiro?

Mulher injeta insulina na barriga, para tratar diabetes de tipo 1Direito de imagemGETTY IMAGES
Image captionCerca de 33 milhões de pessoas que precisam de insulina no mundo não têm acesso à droga
O fenômeno tem sido chamado de flagelo da vida urbana: um estilo de vida não saudável e obesidade levaram a um ressurgimento da diabetes de tipo 2, que ocorre quando o corpo não consegue produzir insulina suficiente para regular os níveis de açúcar no sangue.
Agora os cientistas afirmam que milhões de pessoas ao redor do mundo que têm diabetes podem não conseguir acesso à insulina ao longo da próxima década - e, talvez, por ainda mais tempo.
Cerca de 400 milhões de pessoas entre 20 e 79 anos vivem com a diabetes de tipo 2, que é a forma mais comum da doença. Mais da metade delas na China, na Índia e nos Estados Unidos. Até 2030, acredita-se que os números ultrapassem 500 milhões. A outra forma da diabetes é a de tipo 1, na qual o corpo ataca as células do pâncreas que produzem insulina.
Um novo estudo publicado no periódico científico Lancet Diabetes and Endocrinology afirma que aproximadamente 80 milhões de pessoas com diabetes vão precisar de insulina até 2030. Mas cerca de metade delas - possivelmente, a maioria na Ásia e na África - não conseguirá. Atualmente, uma em cada duas pessoas com diabetes de tipo 2 não têm acesso à insulina que precisam.
"O acesso (à insulina) é definido como a combinação da disponibilidade do produto e se ele é acessível", afirmou o médico Sanjay Basu, da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, que coordenou a pesquisa. "Além da questão dos preços, também deve existir uma cadeia de abastecimento que consiga distribuir de forma segura uma droga refrigerada e tudo aquilo que a acompanha - como agulhas esterelizadas e seringas".
Por que a insulina, um medicamento que já existe há 97 anos e que já foi considerada uma das drogas revolucionárias do século 20, continua a ser muito cara ao longo dos anos?
Uma razão, dizem os cientistas, é que três empresas multinacionais (Novo Nordisk, Eli Lilly and Company, Sanofi) controlam 96% do volume de insulina vendido no mundo e 99% do valor estimado de vendas, de US$ 21 bilhões de dólares.

Controle global

Apesar de mais de 90 países entre 132 não aplicarem tarifas para insulina, a droga continua a ser muito cara para muitas pessoas.
Até nos Estados Unidos, onde mais de 20 milhões de pessoas foram diagnosticadas com diabetes, despesas pessoais com insulina aumentaram 89% entre 2000 e 2010. Inclusive entre adultos que têm plano de saúde. O preço do frasco da droga subiu de US$ 40 para US$ 130 - cada frasco costuma durar por algumas semanas.
Também há considerações sobre a disponibilidade da droga.
Mãos de mulher comendo batata-fritaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionAlgumas pessoas com diabetes de tipo 2 podem controlar o nível de açúcar no sangue com exercício e dieta
O controle global do mercado de insulina, de acordo com David Henri Beran, dos Hospitais Universitários de Genebra e da Universidade de Genebra, significa que os países têm poucas opções de fornecedores. "Isso fez com que as pessoas tivessem que mudar o tipo de insulina que tomavam porque as empresas retiraram os produtos do mercado".
Há diferentes tipos de insulina. E os médicos prescrevem o tipo mais benéfico para cada paciente, dependendo de como respondem à droga, o tipo de vida que levam, a idade, as metas de açúcar no sangue e o número de injeções a serem tomadas por dia.
Diversos países de renda baixa e média estão particularmente vulneráveis a quebra de estoque. Um estudo sobre a disponibilidade de insulina descobriu que os estoques estavam baixos em seis países - Brasil, Bangladesh, Malauí, Nepal, Paquistão e Sri Lanka. Gestão precária e distribuição insuficiente podem prejudicar o quadro - em Moçambique, por exemplo, 77% do estoque total de insulina do país fica na capital, provocando falta do medicamento em outras regiões.
"Em todo o mundo, problemas como a disponibilidade do produto e se ele é acessível ameaçam a vida e desafiam o direito à saúde", falou Beran.
Então, por que uma droga que foi descoberta há tanto tempo por cientistas da Universidade Toronto ainda não está disponível como um genérico de baixo custo? (Os cientistas venderam a patente para a universidade por US$ 1). Drogas de alta demanda costumam se tornar mais acessíveis depois que suas patentes expiram, graças a competidores baratos. Mas isso não ocorreu nesse caso.
Uma razão, segundo os cientistas Jeremy A Greene e Kevin Riggs, é que a insulina é mais complexa e difícil de copiar. E as fabricantes de medicamentos genéricos consideraram que "não vale a pena". Insulina biosimilar, que é similar à insulina, também estão disponíveis no mercado, com preços mais competitivos, mas fica aquém de uma versão genérica.
Cientistas dizem que a insulina deveria ser incluída em pacotes universais de cobertura de saúde e que doadores globais deveriam alocar parte dos seus fundos em inovação na prestação de cuidados de saúde e para a própria droga.
Claramente, sistemas de saúde fracos, acesso precário a unidades de saúde, cuidados de saúde com o diabético e o preço estão impedindo o acesso à insulina.
"Poucas coisas precisam ocorrer, incluindo o preço e a infraestrutura de distribuição", explicou Basu. Até lá, a injeção de insulina não deve ficar mais acessível.
Presentational grey line

O básico sobre as diabetes

- Há dois tipos principais de diabetes - tipo 1 e tipo 2. Também há diabetes gestacional, que pode aparecer durante a gravidez.
- No tipo 1, que é tipicamente diagnosticado logo no começo da vida mas que pode aparecer em qualquer idade, a insulina precisa ser injetada. Não é prevenível nem curável e não é causada pelo estilo de vida.
- As pessoas desenvolvem o tipo 2 quando a insulina que elas produzem não está funcionando adequadamente, ou então quando não está sendo produzido o suficiente. Pode estar relacionada à pessoa estar acima do peso, inativa, ou também ao histórico familiar. É muito mais comum que o tipo 1, respondendo por 90% de todas as pessoas com diabetes. Algumas pessoas com tipo 2 tomam insulina, enquanto outras controlam o nível de açúcar no sangue com medicamentos, exercício físico e uma dieta mais saudável.
- Não controlar o nível de glicose no sangue no longo prazo pode gerar complicações, como problemas nos nervos, rins, olhos e pés, mas o risco pode ser reduzido com o tratamento e cuidado corretos.
Fontes: NHS(sistema de saúde do Reino Unido) , Diabetes UK
Mãos de mulher comendo batata-frita

Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 1 de dezembro de 2018

Dia Mundial de Luta contra a Aids: Oito mitos sobre o HIV que foram derrubados


Atualmente, há cerca de 37 milhões de pessoas vivendo com o vírus, sendo 70% delas na África. Do total, 1,8 milhão foram infectados em 2017.
Desde o primeiro ciclo de expansão da Aids, na década de 1980, todo tipo de desinformação e mitos alimentou o preconceito e o estigma sobre como é ser contaminado e viver com o HIV. Estar infectado com o vírus é a única maneira de ser diagnosticado com a doença.
No Dia Mundial de Luta Contra a Aids, celebrado em 1º de dezembro, desmistificamos algumas dessas afirmações equivocadas.
Uma ilustração 3D do vírus da AIDSDireito de imagemGOOGLE
Image captionO HIV não é transmitido por meio do contato pele a pele, da saliva ou de picadas de mosquito

1º Mito: É possível contrair o vírus estando perto de pessoas HIV positivo

Essa informação falsa tem fomentado a discriminação contra pessoas soropositivas há muito tempo.
E, apesar de todas as campanhas de conscientização, em 2016 cerca de 20% das pessoas no Reino Unido ainda acreditavam que o HIV podia ser transmitido por contato pele a pele ou por meio da saliva.
Mas ele não se espalha pelo toque e nem por meio de lágrimas, suor, saliva ou urina.
Perto de alguém que seja HIV positivo, não é possível que você seja contaminado ao:
- Respirar em um mesmo ambiente
- Abraçar, beijar ou apertar as mãos
- Dividir itens de alimentação
- Compartilhar uma fonte de água potável
- Usar equipamentos comuns na academia
- Tocar em um assento de vaso sanitário ou uma maçaneta
O HIV é transmitido por meio da troca de fluidos corporais com indivíduos infectados, como sangue, sêmen, fluido vaginal e leite materno.

2º Mito: Remédios alternativos podem curar a Aids

Nada verdadeiro. Terapias alternativas, tomar banho depois do sexo ou transar com uma virgem - elementos que aparecem no universo da desinformação a respeito do tema - não surtirão efeito contra o HIV.
O mito da "limpeza virgem", que se espalhou na África subsaariana, em partes da Índia e da Tailândia, é particularmente perigoso.
Uma enfermeira tira sangue de um pacienteDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionUma em cada quatro pessoas que tem o vírus HIV não sabe disso
Ele levou ao estupro de meninas muito jovens e, em alguns relatos, até mesmo de bebês - também colocando-os sob risco de contrair o HIV.
Acredita-se que o mito tenha raízes na Europa do século 16, quando as pessoas começaram a contrair sífilis e gonorreia. A falsa terapia também não funciona para estas doenças.
Quanto a orações e rituais religiosos, embora possam ajudar as pessoas a lidar com situações difíceis, eles não têm efeito medicinal sobre o vírus.

3º Mito: Mosquitos podem espalhar o HIV

Embora o vírus do HIV seja transmitido por meio do sangue, diversos estudos mostram que você não pode contraí-lo ao ser picado por insetos que se alimentam do sangue humano.
Isso por dois motivos:
1) Quando os insetos mordem, eles não injetam na próxima vítima o sangue da pessoa ou animal que morderam antes;
2) O HIV vive apenas por um curto período de tempo dentro deles.
Então, mesmo que você more em uma área com muitos mosquitos e com alta prevalência de HIV, as duas coisas não estão relacionadas.

4º Mito: Não se contrai o HIV via sexo oral

É verdade que os riscos de infecção por meio do sexo oral são menores do que em outras modalidades. A taxa de transmissão é inferior a quatro casos em 10 mil atos sexuais.
Mas você pode contrair o vírus fazendo sexo oral com um homem ou uma mulher que seja HIV positivo - e é por isso que os profissionais de saúde sempre recomendam o uso de preservativos.

5º Mito: Não serei contaminado se usar preservativo

Os preservativos podem falhar em evitar a exposição ao HIV se eles rasgarem, escorregarem ou vazarem durante o ato sexual.
É por isso que campanhas preventivas bem-sucedidas não são aquelas que simplesmente levam as pessoas a usarem camisinhas, mas que as estimulam a fazerem o teste de HIV.
Segundo a OMS, 1 em cada 4 pessoas infectadas não sabe que tem essa condição – algo em torno de 9,4 milhões de pessoas –, representando um grande risco de transmissão.
Homem tira preservativo do bolso da calçaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionOs preservativos ajudam a prevenir a transmissão do HIV e protegem contra outras doenças sexualmente transmissíveis

6º Mito: Sem sintomas, sem HIV

Um indivíduo pode viver 10 ou 15 anos com o HIV e não apresentar sintomas. Após a infecção inicial, soropositivos podem também experimentar situações semelhantes a gripes, com febre, dor de cabeça ou garganta, não identificando o motivo real para estas manifestações fisiológicas.
Outros sintomas podem surgir ainda à medida que a infecção ataca progressivamente o sistema imunológico: inchaço nos gânglios linfáticos, perda de peso, febre, diarreia e tosse.
Sem tratamento, o quadro pode avançar ainda para doenças graves, como tuberculose, meningite criptocócica, infecções bacterianas e cânceres, como linfomas e sarcoma de Kaposi, entre outros.

7º Mito: Pessoas com HIV morrerão jovens

Pessoas que sabem ser soropositivas e que aderem ao tratamento vivem cada vez mais de forma saudável.
Uma pesquisadora em um laboratório de testesDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionA presença do vírus HIV pode ser detectada por exame de sangue
A Unaids (programa das Nações Unidas de combate à doença) diz que 47% de todos os soropositivos têm uma carga suprimida do vírus - ou seja, com a chamada terapia antirretroviral, reduzem a quantidade de HIV a um nível que torna o vírus indetectável em exames de sangue.
Pessoas com supressão da carga viral não transmitem a doença, mesmo fazendo sexo com pessoas HIV negativas. No entanto, se interromperem o tratamento, os níveis de HIV podem se tornar detectáveis ​​novamente.
Segundo a OMS, 21,7 milhões de pessoas vivendo com o HIV estavam em tratamento antirretroviral em 2017 - contra 8 milhões em 2010 -, o que representa cerca de 78% das pessoas soropositivas que sabem de seu diagnóstico.

8º Mito: Mães com HIV sempre infectarão os filhos

Não necessariamente. Mães com vírus suprimido podem ter bebês sem transmiti-lo.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Viés político na saúde:Confederação Nacional dos Municípios pede manutenção do Mais Médicos

'A presente situação é de extrema preocupação, podendo levar a estado de calamidade pública', disse Aroldi em nota
'A presente situação é de extrema preocupação, podendo levar a estado de calamidade pública', disse Aroldi em notaFoto: Divulgação/CNM
O presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Glademir Aroldi, divulgou nesta quinta-feira (15) nota na qual ressalta a preocupação dos prefeitos das cidades com menos de 20 mil habitantes com a saída dos 8,5 mil profissionais cubanos que atuam no programa Mais Médicos. A entidade alerta que é preciso substituí-los sob o risco de mais de 28 milhões de pessoas ficarem desassistidas.

“A presente situação é de extrema preocupação, podendo levar a estado de calamidade pública, e exige superação em curto prazo”, diz a nota. “Acreditamos que o governo federal e o de transição encontrarão as condições adequadas para a manutenção do programa.”

Ministério de Saúde Pública de Cuba informou ontem (14) que retiraria os profissionais do programa no Brasil por divergir das exigências feitas pelo governo do presidente eleito Jair Bolsonaroe em decorrência das críticas mencionadas por ele. Para o governo Bolsonaro, os médicos cubanos devem se submeter ao Revalida – prova que verifica conhecimentos específicos na área médica.

Ontem (14), o presidente eleito levantou dúvidas sobre a capacidade profissional dos cubanos e anunciou o rompimento do acordo com Cuba no Mais Médicos. No entanto, assegurou que o programa será mantido e que as vagas ocupadas por cubanos serão substituídas.

Na nota, a CNM apelou para a ampliação do programa para municípios e regiões que “ainda apresentam a ausência e a dificuldade de fixação do profissional médico”. Segundo a entidade, um estudo apontou que o gasto com o setor de saúde sofreu uma defasagem de 42% na última década, o que sobrecarregou os cofres municipais.

Ainda de acordo com a confederação, os municípios, que deveriam investir 15% dos recursos no setor, ultrapassam, em alguns casos, a marca de 32% do seu orçamento, não tendo condições de assumir novas despesas. Para a CNM, o caminho é de negociação e diálogo. OConselho Federal de Medicina (CFM) também manifestou-se sobre a questão. Em comunicado, a entidade assegurou que existem profissionais brasileiros em número suficiente para substituírem os cubanos.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Saúde:Cuba anuncia fim da parceria com Brasil no Mais Médicos


O governo de Cuba anunciou, nesta quarta-feira (14), o fim de sua participação do programa Mais Médicos no Brasil. Em nota divulgada pelo Ministério da Saúde do país caribenho, a decisão é atribuída a questionamentos feitos pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), à qualificação dos médicos cubanos e à exigência de revalidação de diplomas no Brasil.

Pelas regras do Mais Médicos, profissionais sem diploma revalidado só podem atuar nas unidades básicas de saúde vinculadas ao programa "nos primeiros três anos", como "intercambistas". A renovação por igual período só pode ser feita caso esses profissionais tenham o diploma revalidado e o aval de gestores nos municípios. No ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que a ausência de revalidação do diploma era constitucional.

Um dos programas mais conhecidos na saúde, o Mais Médicos foi criado em 2013, na gestão da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) para ampliar o número desses profissionais no interior do país. Cerca de 18 mil médicos atuam no programa — destes, 45% são brasileiros e 47% são cubanos, vindos ao Brasil por meio de cooperação com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Os demais são intercambistas estrangeiros.

Na nota, o governo cubano afirma que, desde sua implantação, 20 mil profissionais atenderam a mais de 113 milhões de brasileiros, residentes, especialmente, em regiões carentes. O Ministério de Saúde de Cuba lista a atuação de seus médicos em países da América Latina e África. O governo cubano chama de inaceitáveis as ameaças de alterações no termo de cooperação firmado com a Opas e diz que o povo brasileiro saberá a quem responsabilizar pelo fim do convênio.
Programa Mais Médicos
Programa Mais MédicosFoto: Karina Zambrana/ASCOM/MS
Com informação de Folha de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Saúde:Vacina do futuro será autoaplicável e ‘enviada pelo correio’, apontam cientistas


Teste em laboratórioDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionAplicação de vacina poderá ser feita sem o auxílio de um profissional no futuro, diz estudo
Imagine só a seguinte situação: você quer tomar uma vacina contra a gripe. Mas em vez de procurar o posto de saúde mais próximo, ou mesmo aquela clínica particular que vai cobrar um valor considerável pelo procedimento, você faz uma compra on-line, recebe a dose e uma seringa com microagulha pelo correio e aplica em si mesmo o produto.
Simples? Sim. Impossível? Na verdade, não.
Pelo menos é isso que querem mostrar cientistas da área de imunologia.
Um grupo de 14 pesquisadores de universidades americanas, canadenses e israelenses publicou nesta quarta-feira um artigo no periódico científico Science Advances explicando a tecnologia - que, no estudo, foi feita para uma cepa letal de gripe, mas que na vida prática poderia ser aplicada a outros tipos de vacinas.
Os pesquisadores criaram um medicamento para injeção intradérmica - ou seja, na pele, entre a derme e a epiderme -, o que facilita muito o esquema self-service: essa aplicação é fácil e pode ser feita mesmo que a pessoa não tenha nenhum conhecimento médico.
A maioria das vacinas hoje é aplicada com injeção subcutânea, que atinge camadas mais profundas do tecido e, por isso, só pode ser administrada por alguém com conhecimento médico.
As vacinas contra a gripe, por exemplo, são aplicadas no músculo deltoide, que recobre o ombro. Para adultos, usa-se uma agulha que pode chegar a 3,8 centímetros de comprimento.
O método desenvolvido pela equipe atingiu bons resultados tanto em furões - usados para verificar a eficácia dos medicamentos - quanto em humanos, mesmo quando foi testada uma das variedades mais nocivas do vírus da gripe.
O procedimento, conforme explica o artigo, é todo feito sem o auxílio de um profissional.
Pelo mecanismo, o aplicador utiliza uma microagulha que, a partir da pele, pode penetrar nos tecidos profundos ou vasos sanguíneos.
"Um dia, isto pode ser enviado pelo correio para autoadministração. Isso poderia aliviar grandemente as multidões em centros de saúde no caso de um surto ou de uma pandemia", afirmam os cientistas no estudo.
O artigo ainda lembra que, mais do que mutirões para aplicar vacinas, um grande desafio enfrentando em períodos críticos, de pandemias, é justamente a produção e a distribuição das vacinas - e a autoaplicação facilitaria a disseminação dos agentes imunológicos na população.

Vacinas turbinadas

Para melhorar a qualidade das vacinas, os cientistas têm utilizado adjuvantes - aditivos, ou melhor, agentes químicos que tornam as tornam mais eficazes -, que aumentam a resposta imunológica do organismo.
O bioquímico Darrick Carter, do Instituto de Pesquisas de Doenças Infecciosas de Seattle, nos Estados Unidos, combinou três tecnologias para obter um produto eficiente e seguro. Sempre, ressalta-se, por meio da tal microagulha.
Vacina tradicionalDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionA maioria das vacinas hoje é aplicada com injeção subcutânea, que atinge camadas mais profundas do tecido e, por isso, só pode ser administrada por alguém com conhecimento médico
Carter utilizou ainda uma técnica alternativa ao uso do vírus inativado, a chamada vacina recombinante, para produzir uma resposta imunológica ainda mais forte.
Por fim, o pesquisador fez com que fosse aplicado, junto à vacina, um adjuvante à base de um lipídio que pode aumentar sua eficácia - pelo menos este foi o resultado observado em furões.
Depois de testada em animais, a vacina contra a gripe foi utilizada em 100 humanos. Não foram registrados efeitos adversos e os resultados foram positivos.
De acordo com os pesquisadores, o sucesso do teste permite um planejamento para que, num futuro próximo, seja realidade a ideia de a população receber um pacote com vacina e dispositivo para aplicação intradérmica com facilidade, pelo correio.

Reforço na produção de vacinas

Também hoje, o periódico especializado Vaccine publicou uma pesquisa que pode ser um avanço na outra ponta da questão das vacinas: a produção.
Os cientistas descobriram uma maneira, utilizando feixes de laser, para medir rapidamente a infectividade viral (a capacidade de um agente de causar infecção) no desenvolvimento e na produção das vacinas.
Isso significa melhorar a efetividade dos medicamentos, "acertando" com mais destreza a carga viral da vacina.
VírusDireito de imagemLUMACYTE
Image captionOutro estudo publicado nesta semana procura aperfeiçoar a medição da infectividade viral para dar mais celeridade à produção de vacinas
No artigo, os pesquisadores, das empresas Thermo Fisher Scientific e LumaCyte, mostram como o laser possibilita que cientistas analisem rapidamente as vacinas virais. Com a maior precisão, a ideia é que o desenvolvimento de medicamentos seja acelerado, com um grau de eficácia mantido.
"Muitas vacinas utilizam o próprio vírus para a criação de uma resposta imunológica no corpo. Assim, a medição da concentração dos vírus infecciosos é crítica para a segurança e eficácia das doses", explicam os cientistas.
A quantificação viral durante uma doença, enquanto ela é manifestada, é muito importante: afinal, atrasos na produção e distribuição da vacina podem ter efeitos sérios no dia a dia das pessoas.
Em geral, hoje em dia, essa medição é feita por meio do que se chama "teste de placas de lise". Isso significa que amostras da vacina são colocadas em uma superfície pequena e, por meio de observação microscópica, analisa-se a disseminação - ou não - do vírus. Um processo, portanto, menos acurado e menos ágil do que a novidade proposta.
Os cientistas acreditam que, com o novo método, gargalos do processo sejam eliminados. E, em breve, vacinas mais eficazes estejam disponíveis para males como ebola, zika vírus e influenza, a gripe.

Gripe

A maior dificuldade na imunização contra a gripe é a rápida mutação das cepas do vírus, que mudam praticamente a cada nova temporada de vacinação.
Cientistas, entretanto, têm trabalhado para que, em breve, esteja disponível uma vacina "universal" contra a doença - o que eliminaria a necessidade, por exemplo, de campanhas anuais de imunização, como ocorre no Brasil, sobretudo focadas na população mais idosa.
Estudo publicado no ano passado na revista Scientific Reports mostra que uma das estratégias que vêm sendo testadas pelos cientistas é a criação de uma vacina que combata a "raiz" do vírus da gripe, em vez do vírus de modo geral. Isto faria com que toda a árvore genealógica do agente infeccioso fosse combatida.
Menina toma vacinaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionMaior dificuldade na imunização contra a gripe é a diferença entre as cepas do vírus, que estão em mutação constante
Esta é a ideia de pesquisadores do centro médico da Universidade de Rochester, instituição localizada ao norte de Nova York, nos Estados Unidos.
Para explicar o conceito, os cientistas envolvidos no projeto fazem uma analogia com uma flor comum. Eles afirmam que há uma proteína, chamada hemaglutinina, que tem a capacidade de cobrir o exterior do vírus da gripe. Esse efeito é semelhante ao de uma flor: há o talo e a cabeça, o caule e as pétalas.
Até então, as vacinas são todas focadas na cabeça, ou seja, a parte do vírus que acaba sendo a mais exposta - e, consequentemente, aquela que mais muda evolutivamente, no esforço para escapar das defesas imunológicas.
Os cientistas utilizaram supercomputadores para analisar as sequências genéticas dos vírus da gripe H1N1 em circulação entre humanos desde 1918. Em laboratório, o vírus foi manipulado e juntado com anticorpos humanos. O software de computador encontrou variações evolutivas no vírus tanto na cabeça quanto no caule - mas, segundo os cientistas, a variação observada na cabeça sempre foi muito maior.
"Uma vacina contra a gripe universal baseada no caule seria mais amplamente protetora do que as que usamos agora, mas essa informação deve ser levada em conta à medida que avançamos com pesquisa e desenvolvimento", afirma o professor de microbiologia e imunologia David J. Topham, um dos autores da pesquisa.
"É muito mais difícil promover as mutações no caule do vírus, mas não é impossível."

Dados

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mesmo com intensas campanhas de vacinação ao redor do mundo, estima-se que 1 bilhão de pessoas, em todo o mundo estejam infectados com o vírus da gripe. Os casos graves estão entre 3 a 5 milhões por ano - que causam de 300 mil a 500 mil mortes decorrentes da doença.
Nos Estados Unidos, as vacinas existentes ainda hoje protegem de 40% a 70% da população, também de acordo com dados da OMS.
Professor Edgar Bom Jardim - PE