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quinta-feira, 6 de julho de 2017

BOM JARDIM: quantos jovens desconfiam terem sido infectados pelo HIV/Aids


Lucas Patrick MachadoDireito de imagemEMANOELE DAIANE/BBC BRASIL
Image captionLucas Patrick Machado convive com o HIV há três anos e desistiu de denunciar transmissão intencional por dificuldade de apuração

Lucas Patrick Machado, de 24 anos, conheceu Celso* em uma rede social, em julho de 2014. Ambos vivam em Cáceres (MT), trocaram mensagens por duas semanas e marcaram um jantar no final daquele mês.
"Ele sempre dizia que eu era bonito, legal, que queria me conhecer e que poderíamos ficar juntos. Por isso decidimos sair", lembra Machado. O encontro terminou em um motel, onde mantiveram relações sexuais com preservativo.
"Eu tinha dito que estava sem camisinha e pedi a ele que levasse, porque estava sem dinheiro." Após a primeira relação, Machado estranhou a postura de Celso, que não demonstrou interesse em manter contato.
"Depois que a gente transou, ele se levantou correndo e jogou a camisinha fora. Fomos embora e ele me deixou em casa. Não nos falamos mais nas semanas seguintes. Senti-me usado, porque achava que a gente poderia ter algo sério", diz.
Um telefonema, três meses após o encontro, abalaria Machado, que receberia alta hospitalar naquele dia após um procedimento cirúrgico simples.
"Ele me ligou e eu disse que estava no hospital porque tinha feito uma cirurgia. Então o Celso sugeriu que eu aproveitasse para fazer um exame de HIV, porque ele tinha me deixado um presente na noite em que a gente ficara", conta o rapaz.
Horas mais tarde, Machado recebeu resultados de exames pré-operatórios que havia feito. "O médico confirmou que eu era soropositivo. Fiquei estático. Na hora percebi que talvez ele tivesse furado a camisinha. Para mim a vida tinha acabado."
Apesar de acreditar que tenha sido alvo de transmissão intencional do HIV, ele optou por não denunciar Celso. "Eu tinha 21 anos e não tinha maturidade para pensar em denúncia. Se ocorresse hoje, talvez eu denunciasse. Mas acho muito complicado levar casos assim adiante, porque é muito difícil provar", diz.
Embora sejam fatos isolados dentro de uma população de 827 mil pessoas vivendo com HIV no Brasil, situações como a de Lucas expõem o dilema de soropositivos diante da dificuldade de apuração e o preconceito comumente embutido nesses casos.

Punições em debate

A transmissão de doenças venéreas ou graves já é crime no Brasil. O Código Penal prevê pena de até um ano de prisão a quem expõe o parceiro a doença venérea sabendo que está contaminado - caso a exposição seja intencional, a pena sobe para até quatro anos de cadeia.
No caso do HIV, uma decisão de 2012 do Superior Tribunal de Justiça já enquadrou a transmissão dolosa como lesão corporal gravíssima, delito que pode resultar em até oito anos de reclusão.
Ainda assim, um projeto de lei que tramita na Câmara dos Deputados desde 2015, do deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS), quer tornar a prática crime hediondo, que prevê pena de dois a oito anos de cadeia.
Entretanto, entidades que apoiam pessoas com HIV e observatórios de políticas públicas para a doença criticam a iniciativa legislativa. O Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), por exemplo, afirma que o projeto é "desnecessário" e um "retrocesso".

Deputado Pompeo de MattosDireito de imagemANTONIO AUGUSTO/CÂMARA DOS DEPUTADOS
Image captionProjeto do deputado Pompeo de Mattos quer enquadrar transmissão intencional do HIV como crime hediondo, mas entidades criticam iniciativa como 'retrocesso' em políticas para a doença

O Unaids diz que já há tipificação penal para esses casos e que não há comprovação de que a criminalização da prática traga benefícios à saúde pública. Afirma ainda que há risco de indução a erros graves do Judiciário e de criminalização deliberada de pessoas que vivem com o vírus, entre outros pontos.
"Uma vez sob a ameaça de ser considerada criminosa, a pessoa tende a fugir dos serviços de saúde, evitando o teste para o HIV, tornando-se potencialmente mais propensa a transmitir o vírus de forma involuntária", afirma o programa. Para a entidade, os casos de propagação deliberada são isolados, em razão dos tratamentos com antirretrovirais, que reduzem em 96% as chances de um HIV positivo transmitir o vírus.

Preconceito e incertezas

Vítimas de prováveis transmissões intencionais relatam preconceito no momento das denúncias.
"Fiz a denúncia em uma delegacia, de um homem que transou comigo contra a minha vontade. Começaram a investigar, mas no fim disseram que não existe violência sexual contra homem e não havia como provar que me infectaram intencionalmente. Essa é uma das coisas que mais me abalam, porque nem a polícia quis me ajudar", diz o universitário Luiz*, de 22 anos, do Rio de Janeiro.
Ele diz ter conhecido um homem de 40 anos, que dizia ser diretor de escola, por meio de um aplicativo de relacionamentos, em fevereiro deste ano. Eles conversaram por dois dias e marcaram um encontro em um motel.
"Ele pediu para fazermos sexo sem camisinha e falou que não tinha nenhuma doença. Mas eu não queria. Então ele usou a força contra mim, para me impossibilitar de sair, e transou comigo sem preservativo", conta.
O universitário diz ter bloqueado o homem em todos os meios de comunicação após o ato sexual. "Não sabia o que fazer, porque não ia procurar a minha família nem ninguém. Preferi guardar para mim e torcer para que não tivesse contraído o vírus. Optei por não falar mais com ele."
Ele diz ter sido sua primeira relação sem preservativo. E que um mês após o encontro passou a ficar doente com frequência.
"Tive bastante febre, tomei remédio e não melhorava. Recuperei-me, mas sentia muita dor de cabeça. Em março começaram a aparecer manchas em mim e fui fazer exame de sangue."

LuizDireito de imagemARQUIVO PESSOAL
Image captionCaso de Luiz (nome fictício) teve investigação curta; ele diz ter ouvido da polícia que homem não sofre abuso e que havia feito feito sexo por vontade própria

Dois dias depois, ele recebeu o resultado e descobriu que era HIV positivo. "Minha mãe foi a primeira a saber e me contou. Foi horrível, para mim o mundo tinha acabado. Não sabia o que fazer."
No dia seguinte, o universitário teve a primeira consulta médica e começou o tratamento contra o vírus. Depois foi a uma delegacia prestar queixa contra o suposto abusador.
"Decidi denunciá-lo, mas não se aprofundaram no caso. Ele foi procurado pela polícia, disse que não sabia que tinha HIV, mas teve que fazer o teste e deu positivo."
Para Luiz, restou a incerteza sobre a intencionalidade na transmissão. "É difícil descobrir se foi intencional ou não. Não posso afirmar que ele sabia, mas acredito que sim. Independentemente disso, o que ele fez foi errado, porque fez sexo comigo sem camisinha, mesmo sem meu consentimento."
A Polícia Civil do Rio não respondeu aos contatos da reportagem.
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, em nota, negou que haja descaso das polícias nessas situações. Afirmou que orienta vítimas de possíveis transmissões propositais a registrarem a ocorrência, e que há análise individualizada dos casos para "tipificação de qual crime o fato se enquadra". Informou ainda que não há levantamento estatístico dessa modalidade criminal.
Acusações
O publicitário Lucas Raniel, de 25 anos, que vive em Ribeirão Preto (SP), experimentou consequências de acusações sobre transmissão intencional de HIV.
Ele convive com o vírus há três anos e chegou a ser acusado de propagar o vírus deliberadamente. "No ano retrasado, criaram um grupo de WhatsApp com uma foto minha e falaram que eu estava passando Aids. Esse boato se espalhou e eu descobri. Fiquei em choque."
Na época, Raniel estava em tratamento contra o vírus e possuía carga viral indetectável. "Eu ia aos bares e sentia que ficavam me olhando. Muita gente se afastou. Fui me fechando. Era da faculdade ao trabalho e do trabalho para casa."

Lucas RanielDireito de imagemMARIA BIAVA
Image captionPublicitário Lucas Raniel diz ter sido alvo de falsos boatos de transmissão intencional do HIV

O publicitário revela que chegou ao extremo de se pendurar na janela de seu quarto por uma noite inteira.
"Pensava em pular. É triste falar isso, mas não gosto de deixar de citar, porque pessoas pensam nisso. E não pode ser assim. Você não pode se suicidar por conta de uma doença. Tem que vencê-la e não se entregar. Mas a maldade e o preconceito fazem com que você se feche e se entregue a uma depressão que nem percebe."
Raniel descobriu ser HIV positivo em dezembro de 2013. Diz acreditar ter sido infectado três meses antes, após encontro com um rapaz que conhecera via aplicativo.
"Tinha chegado em casa bêbado, após uma festa, e conheci o rapaz. Conversamos um pouco e nos encontramos na mesma noite. Fui para a casa dele, continuamos bebendo e acabei perdendo os sentidos. No meio da madrugada, ele me levou ao quarto, mas tenho uma lembrança muito vaga desse dia."
Na manhã seguinte, ele relata que se recordou da relação sexual. "Lembro de pouca coisa dessa noite, mas sabia que ele tinha feito sem camisinha. Eu o questionei sobre isso e ele falou que eu poderia ficar tranquilo, porque ele era 'de boa' e não tinha nada."
Antes de descobrir o vírus, ele diz que chegou a procurar o homem novamente. "Comecei a ficar doente e cheguei a procurá-lo no WhatsApp, falei o que estava acontecendo e disse que não tinha transado sem camisinha com mais ninguém. Ele ficou muito nervoso e me bloqueou de tudo."
Raniel é outro que acredita ter sido vítima de transmissão intencional do HIV, porém optou por não denunciar o caso. "Não há como provar que foi proposital. Além disso, acredito que um erro meu ocasionou isso, porque eu estava bebendo muito, por isso não denunciei. Não tenho mágoa. Espero que ele esteja bem e não faça mais isso. Torço para que esteja se cuidando e vivendo normalmente, como é possível."

Homem com camisinha na mãoDireito de imagemTHINKSTOCK
Image captionAplicativos de paquera facilitaram relações sexuais, o que pode ajudar a explicar aumento da epidemia entre homens

Tendência

Os três jovens citados nesta reportagem integram faixa da população que tem apresentado aumento nos índices de infecção.
Os dados do Ministério da Saúde mostram que a taxa de homens de 15 a 19 anos com Aids mais que duplicou de 2003 a 2015 (de 2,9 casos por 100 mil habitantes para 6,9). O mesmo ocorreu na faixa de 20 a 24 anos (de 18,1 casos por 100 mil habitantes para 33,1).
Especialistas sugerem que as razões estão ligadas a fatores como surgimento de aplicativos que facilitam encontrar parceiros sexuais e diminuição de programas de educação nas escolas.
A orientação do Ministério da Saúde é usar preservativo nas relações sexuais sempre. Em caso de suspeita de exposição ao HIV, o Sistema Único de Saúde oferece a Profilaxia Pós-Exposição (PEP), que é um tratamento com antirretroviral por 28 dias, cujo objetivo é evitar a infecção pelo vírus. O procedimento deve ser iniciado em, no máximo, até 72 horas após o contato com o HIV.
Estima-se que no Brasil existam 112 mil pessoas vivendo com o vírus e que ainda não sabem. Outras 260 mil já saberiam, mas ainda não fazem uso de remédios.
Das 827 mil pessoas vivendo com o HIV no Brasil, 715 mil já foram diagnosticadas - 512 mil deram início ao tratamento e 92% delas possuem carga viral indetectável.
Adele Benzaken, diretora do departamento de DST, HIV/Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, diz que o preconceito faz com que pessoas não busquem tratamento. "Esse estigma sobre o HIV positivo prejudica o tratamento, principalmente em regiões onde não há muito conhecimento sobre o assunto."

remédios para HIVDireito de imagemSCIENCE PHOTO LIBRARY
Image captionA terapia antirretroviral é uma combinação de três remédios ou mais para impedir a multiplicação do vírus HIV no corpo humano.

Ativismo

Lucas Patrick Machado diz que o preconceito é recorrente em sua vida. Atualmente desempregado, ele acredita que o vírus seja um dos fatores que dificultam a busca por trabalho, mesmo estando em tratamento e com carga viral indetectável.
"Nunca escondo o HIV quando vou procurar um emprego. As pessoas, infelizmente, julgam muito os soropositivos. Elas nos tacham como promíscuos, como lixo. Mas ninguém sabe qual foi a trajetória da vida daquela pessoa."
Instigado pelas dificuldades enfrentadas pelas pessoas que convivem com o HIV, Machado se tornou ativista da causa e representa a Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/Aids em Mato Grosso.
"Antes somente a minha família sabia. Mas decidi revelar para todo mundo após uma viagem ao Recife em que encontrei outros jovens que vivem com o HIV. Em 2015 fiz uma publicação no Facebook para que todo mundo que conheço soubesse. Depois, virei ativista, para ajudar outras pessoas."
Por meio do trabalho nessa rede, ele descobriu o interesse pela Psicologia. Em junho, foi aprovado no ProUni e conquistou uma bolsa para o curso em uma universidade de Cuiabá. As aulas começarão em agosto.
Além disso, ele possui uma relação sorodiscordante (uma pessoa com HIV e uma sem HIV) há mais de um ano. "Desde que começamos a namorar ele sabia que eu era HIV positivo. Ele sempre me aceitou. Eu me mudei pra Cuiabá por causa dele e hoje moramos juntos", diz.
Luiz contou sobre o HIV somente a parentes e amigos próximos. Ele vem tentando se adaptar à nova realidade, mas ainda encontra dificuldades.
"Sinceramente, não sei o que esperar da minha vida. Perdi a confiança da minha família e em mim mesmo. Isso acabou dificultando tudo. Até hoje, quero que o cara que fez isso comigo pague. Eu continuei levando minha vida adiante, mas é complicado, porque não esqueço essa injustiça terrível que aconteceu", diz .
Lucas Raniel decidiu revelar ser HIV positivo por meio de uma publicação no Facebook. "Fui a uma palestra sobre o HIV e senti vontade de assumir. As pessoas começaram a me parabenizar, disseram que era corajoso, e as coisas foram fluindo aos poucos."
Apesar de ter recebido o apoio de diversos conhecidos, ele diz ainda sofrer preconceito. "Tem muita gente ruim, ainda existem situações em que sou alvo de discriminação, mas não me deixo abater por isso."

Título Original: Os jovens que vivem com a desconfiança de terem sido infectados de propósito com HIV

* Nomes fictícios.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 3 de julho de 2017

Exames confirmam infecção por raiva em dona de pet shop


Exames laboratoriais realizados em São Paulo confirmaram a infecção por raiva na dona de pet shop Adriana Vicente da Silva, de 35 anos, que foi mordida por um gato de rua no Recife. Segundo o gerente do Centro de Vigilância Ambiental do Recife, Jurandir Almeida, a avaliação de DNA feita na paciente ainda internada apontou que a cepa envolvida no adoecimento dela é a mais prevalente em morcegos hematófagos (que se alimentam de sangue).

Segundo ele, provavelmente o gato se contaminou com o morcego. Com o resultado, a prefeitura irá intensificar ainda mais as ações de bloqueio com relação a esses mamíferos.

Desde a identificação do caso pela vigilância ambiental, no último dia 26, a cidade iniciou um mutirão para identificar casos suspeitos de raiva animal, vacinação em massa de cães e gatos domésticos e de rua, além de caça a morcegos numa área de 5 quilômetros, a partir da praça Oswaldo Cruz, no bairro da Boa Vista.

Neste perímetro de segurança estão cerca de 30 bairros. Até agora 12 mil domicílios já foram vistoriados e 1,2 mil animais imunizados contra a raiva.

Entre 2015 e 2017, Pernambuco registrou 50 casos de raiva em animais, sendo a maioria em bovinos e caninos. No Recife, a última ocorrência confirmada do vírus em cães e gatos aconteceu há mais de 12 anos. Essa aparente tranquilidade com relação aos animais domésticos das cidades não reflete a situação em outro mamífero: os morcegos. Neles há um risco maior de ocorrência.

Morcegos
Classificados como reservatórios naturais da doença, os morcegos são um dos principais responsáveis pelo aparecimento de casos em humanos e em pequenos animais nas áreas urbanas e, por isso, também estão no foco das ações de bloqueio no Recife. A cidade montou um mutirão contra raiva na última semana, após a empresária Adriana Vicente, 35, apresentar os sintomas da infecção depois de ser mordida por um gato de rua. Ela morreu na quinta-feira.

“Apesar de nos depararmos com essa situação aqui no Recife, nós estamos controlando, há algum tempo, a existência da raiva animal”, disse a coordenadora de vigilância ambiental e controle de zoonoses do Recife, Maria Luiza Coelho. “O morcego ganhou importância no decorrer dos anos. Com a construção das cidades estamos desalojando eles e mudando sua forma natural de vida”, comentou .

Eles podem passar o vírus entre si, e para outros animais da cadeia alimentar deles, no caso dos morcegos hematófagos (que se alimentam de sangue). Isso inclui bovinos, equinos, cachorros e até mesmo o homem. “Inclusive o gato, que mordeu a empresária, pode ter pego a doença de outro gato, de um cão ou de um morcego”, exemplificou. 
Ações preventivas
O protocolo indica que, além da captura de morcegos, sejam feitos ainda a observação de qualquer animal com suspeita de infecção pelo vírus, o recolhimento e coleta de material biológico de bichos mortos sem causa definida e a vacinação antirrábica anual de cães e gatos. “A captura de morcego é uma atividade da vigilância do controle da raiva animal. Fazemos esse trabalho de acordo com o relato de acidente com morcegos ou quando há relato de outros animais sendo atacados por eles”, comentou a coordenadora.
Por: Renata Coutinho, da Folha de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Cientistas testam vacina contra colesterol para prevenir doenças cardíacas


corrente sanguíneaDireito de imagemBLACKJACK3D/GETTY
Image captionColesterol pode entupir a corrente sanguínea

Depois de testes bem-sucedidos com camundongos, uma vacina que reduz o colesterol será testada em humanos.
A injeção foi desenvolvida para evitar que depósitos de gordura obstruam as artérias. Ela seria uma alternativa a pacientes que tomam diariamente comprimidos para reduzir o risco de derrame, angina e doenças do coração.
Pesquisadores da Universidade Médica de Viena vão avaliar a segurança de seu tratamento experimental em 72 voluntários.
Ainda levará pelo menos seis anos de testes para saber se o tratamento é seguro e eficiente o suficiente para uso em humanos, explicaram Guenther Staffler e sua equipe da Organização Holandesa de Pesquisa Científica Aplicada na publicação científica European Heart Journal.
Segundo os pesquisadores, mesmo que se torne disponível ao público, a vacina não deveria ser vista como uma desculpa para pessoas evitarem exercícios físicos e adotarem uma alimentação com alto nível de gordura.
A injeção ajuda o sistema imune do corpo a atacar uma proteína chamada PCSK9, que permitiria ao mau colesterol, o LDL, se acumular na corrente sanguínea.
Pesquisadores esperam que esse possa ser um reforço anual para aumentar a imunidade dos pacientes.
Em camundongos, o tratamento reduziu o LDL em 50% em um período de 12 meses e pareceu proteger contra o acúmulo de depósitos de gordura nas artérias (aterosclerose).

O que é colesterol?


AteroscleroseDireito de imagemWILDPIXEL/GETTY
Image captionArtérias bloqueadas imperdem a circulação adequada do sangue

O colesterol é uma substância gordurosa encontrada no sangue.
Todos precisam dela, mas o excesso do chamado colesterol ruim aumenta o risco de doenças cardiovasculares.
O bom colesterol, ou HDL, por outro lado, é benéfico porque ajuda a transportar outros tipos de colesterol da corrente sanguínea para o fígado, onde ele é descomposto.
Algumas pessoas têm colesterol alto por uma condição genética chamada hipercolesterolemia familiar. Alimentação não saudável, alto consumo de álcool, fumo e inatividade também estão relacionados com o problema.
Pessoas com colesterol alto podem tomar medicamentos que reduzem seus níveis, chamados estatinas, e, com isso, também minimizar os riscos de doenças cardiovasculares.
Mas embora as drogas sejam baratas e eficazes, não funcionam em todo mundo. Algumas pessoas não gostam de tomar medicação diária ou se esquecem de tomá-la porque estão se sentindo bem. Além disso, em alguns casos é possível haver efeitos colaterais.
Por essas razões, pesquisadores têm investigado opções alternativas de tratamento no lugar das estatinas.

Próximos passos


TestesDireito de imagemPETRA SPIOLA
Image captionA vacina aumenta a imunidade contra uma proteína produzida pelo corpo

A primeira fase de testes, em 72 voluntários, deve ser concluída no final deste ano. Isso vai definir se há problemas de segurança ou efeitos colaterais antes que estudos maiores com pessoas comecem.
Há uma preocupação de que a vacina terapêutica aumente o risco de diabetes - os pesquisadores da Universidade Médica de Viena estarão de olho nisso.
"Ainda há muitas perguntas sobre essa abordagem poder funcionar em humanos", comentou Tim Chico, cardiologista da Universidade de Sheffield.
"Essa é mais uma prova de que o colesterol provoca doenças do coração. E reduzir o colesterol diminui o risco de doenças do coração, então isso confirma a importância de um estilo de vida saudável para todos, e de medicamentos como estatinas para algumas pessoas."
Para o professor Nilesh Samani, da Fundação Britânica do Coração, encontrar novas formas de controlar os níveis de colesterol das pessoas é "absolutamente vital".
"Embora testada apenas em camundongos até o momento, essa vacina poderia levar a uma maneira simples de combater o colesterol alto e, em última instância, reduzir o risco de doenças do coração nas pessoas."
Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 13 de junho de 2017

Por que os cientistas falam em uma epidemia de miopia - e qual a sua origem


Menina asiáticaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionO aumento de miopia nas últimas décadas tem sido enorme e agora afeta a maioria dos jovens de alguns países asiáticos

Nos últimos 50 anos, o número de pessoas míopes duplicou. Estima-se que em 2020 um terço da população mundial terá o problema na visão, em 2050, a metade.
"Estamos em meio a uma epidemia global de miopia", disse o médico Earl Smith, professor de desenvolvimento da visão e decano da Faculdade de Optometria da Universidade de Houston, nos Estados Unidos.
E essa epidemia tem mais incidência entre os jovens do leste da Ásia, em países como China e Coreia do Sul, onde o problema afeta quase 90% dos estudantes que concluem o Ensino Médio.
Em outras regiões do mundo, embora os números não sejam tão alarmantes, a condição também avança.

Óculos para a miopiaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionA miopia é causada pela combinação de fatores genéticos e ambientais que alteram o desenvolvimento normal do olho

As pessoas míopes podem ver claramente os objetos que estão próximos, mas não conseguem focar objetos distantes.
Ela ocorre quando o globo ocular cresce demais e fica maior do que o normal. Essa condição visual costuma se manifestar quando as crianças estão em idade escolar e piora gradualmente até que o globo ocular complete seu crescimento.
Se não for detectado e corrigido com lentes, a miopia pode progredir e, com o tempo, aumentar significativamente o risco de catarata, glaucoma, desprendimento da retina e maculopatia míope.
Além disso, está entre as três primeiras causas de cegueira permanente no mundo.

Qual é a causa?

Os especialistas acreditam que a genética tenha um papel no desenvolvimento da miopia, mas não é o único fator.
"Há algo em nosso comportamento e nosso ambiente que está contribuindo para o aumento de casos de pessoas míopes", garante Smith, que recebeu financiamento de US$ 1,9 milhão (R$ 6,3 milhões) exatamente para investigar as causas e estratégias de tratamento.

Menino asiático com tabletDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionSmith e sua equipe pesquisaram fatores ambientais, como exposição a luz, que podem ter impacto sobre o crescimento ocular

Muitos estudos mostram que as pessoas que passam mais tempo ao ar livre são muito menos propensas a desenvolver miopia que aquelas que permanecem a maior parte do dia entre quatro paredes.
"A demanda educacional cada vez mais exigente e o fato de se passar mais tempo em espaços fechados são fatores que contribuem para que uma pessoa se torne míope", acrescenta Smith.
"Na Ásia, entre 80% e 95% dos jovens que terminam o Ensino Médio nas zonas urbanas têm miopia, e já evidências fortes de que o índice também está aumentando nos Estados Unidos e na Europa", disse ainda o especialista, um dos líderes no tema.
"Nas situações em que há uma expectativa educacional alta, é mais provável que as pessoas desenvolvam miopia. Considere nossos próprios estudantes de optometria como exemplo: aproximadamente metade se torna míope durante os quatro anos de estudos aqui", contou o professor da universidade de Houston.
Smith e sua equipe estão agora se debruçando sobre os fatores ambientais, como a exposição a certos tipos de luz, que podem ter um impacto sobre o crescimento do globo ocular que leva à miopia.

O que podemos fazer?

A miopia não tem cura nem é reversível, mas o uso de óculos pode impedir ou desacelerar o avanço da condição.
Também há cirurgia com laser que altera a forma do globo ocular para corrigi-lo, embora esse procedimento não seja recomendado em crianças ou jovens que ainda estão em processo de crescimento.

Família ao ar livreDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionEspecialistas concordam que risco de miopia é reduzido quando crianças passam períodos ao ar livre

A maioria dos pesquisadores concorda que estimular crianças a brincar ao ar livre ajuda a reduzir o risco de desenvolver o problema.
Também há estudos mostrando que, ao brincar ao ar livre, a miopia infantil pode avançar num ritmo mais lento.
Os especialistas acreditam que isso tem a ver com o fato de que os níveis de luz no exterior são muito mais altos que no interior.
Por outro lado, passar muito tempo focando a vista em objetos muito próximos, como lendo, escrevendo ou usando dispositivos portáteis como celulares, tablets ou laptops, pode aumentar o risco miopia, segundo o NHS, o serviço público de saúde britânico.
BBC
Professor Edgar Bom Jardim - PE