Mostrando postagens com marcador Religião. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Religião. Mostrar todas as postagens

domingo, 25 de março de 2018

Tradicional Procissão do Encontro em Bom Jardim,nesta tarde de Domingo de Ramos!



Foto: Herbert Henriques
Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 18 de março de 2018

Igreja Assembléia de Deus em Bom Jardim realiza Cruzada Evangelística para comemorar 100 anos em Pernambuco

                                 Foto: Cruzada Evangelística no Pátio de Eventos, 17/03/2018.
Fiéis da Assembleia de Deus, Bom Jardim, promoveram neste final de semana uma grande festa com muitas orações, cultos, louvores, encontros, desfile  cívico e religioso nas ruas do centro da cidade, para comemorar o centenário da Igreja em Pernambuco.Conheça mais sobre a história da igreja em solo pernambucano.

A Igreja Evangélica Assembleia de Deus, fundada pelos missionários suecos Joel Carlson e Signe Carlson, em 24 de Outubro de 1918.
O missionário Joel Carlson iniciou as atividades da Igreja no bairro da Boa Vista, na residência dos irmãos João Ribeiro e Felipa Ribeiro, onde foi realizado o primeiro culto. O evangelismo era realizado nas praças da cidade e nas residências, sob muita perseguição e indiferença, entretanto, a semente encontrou boa terra e cresceu abundantemente. O Senhor fez prosperar a Igreja Assembleia de Deus em Pernambuco sob a liderança do missionário Joel Carlson. Durante seu pastorado, foi inaugurado o primeiro templo, situado à Rua Castro Alves nº 255, em 15 de Abril de 1928, seguido de muitos outros pelos bairros do Recife. O trabalho também se propagou pelo interior do Estado, como demonstração da aprovação divina. Vale destacar a cooperação de outros irmãos na obra do Senhor em Pernambuco durante este período, como os missionários Samuel Hedlund e Tora Hedlund, e as irmãs Ingrind Franzon, Esther Anderson, Augusta Anderson e Elisabeth Johansson, entre muitos outros. O missionário Joel Carlson pastoreou o rebanho do Senhor até ser recolhido ao descanso celestial, no dia 08 de Setembro de 1942.

 Após a gestão do missionário Joel Carlson, outros líderes estiveram à frente da Igreja Assembleia de Deus em Pernambuco. O pastor José Bezerra da Silva, seu sucessor imediato, liderou a Igreja até o ano de 1953. Foi então sucedido pelo pastor José Rosa dos Santos, que dirigiu a Igreja por alguns dias em caráter interino, sendo substituído pelo pastor Manoel Messias Ramos, que por dois anos esteve na direção da Igreja do Senhor, no período de novembro de 1953 a novembro de 1955. Logo a seguir veio um período de transição, no qual a Igreja foi dirigida pelo pastor Joaquim Gomes da Silva, entre novembro de 1955 a Maio de 1956, quando ocorreu a eleição de um novo pastor presidente.
 Em 23 de maio de 1956, numa reunião da Convenção Estadual de Ministros, dirigida pelo missionário Eurico Bergsten, o pastor José Amaro da Silva foi eleito presidente da Assembleia de Deus no Estado de Pernambuco. Sua vida foi uma trajetória de oração e estudo incessante da Palavra de Deus, tornando-se, até os dias atuais, uma referência para os obreiros da Igreja do Senhor. Frequentemente convidado a participar de convenções de obreiros em outros Estados, suas apreciações e conselhos eram sempre respeitados, sua palavra possuía muito peso ante os demais pastores. Dedicou seu ministério buscando o crescimento da igreja em todo o Estado, construindo templos, dando assistência aos obreiros e cumprindo uma agenda de constantes visitas às filiais estabelecidas no interior.
 O pastor José Amaro da Silva se notabilizou por sua firmeza doutrinária e pela coragem de enfrentar grandes desafios em favor da Igreja, como a aquisição do terreno e a construção do Templo Central. Enfrentando a escassez de recursos, empreendeu uma campanha para a aquisição do terreno, que, com muitas dificuldades e de modo miraculoso, foi adquirido e pago. O projeto de construção foi elaborado e a Igreja se preparava para a grande tarefa, quando foi surpreendida por uma desapropriação por decreto do Governo Estadual, sob alegação de que, no local, deveria ser construído um colégio. Sem uma solução jurídica plausível, o pastor José Amaro iniciou uma jornada de jejum e oração, junto com toda a Igreja do Senhor. Após alguns meses em batalha espiritual, o decreto foi revogado, e o terreno voltou às mãos da Igreja, para a glória do nome de Jesus. Foi iniciada, então, a construção da nova sede estadual, sendo programada sua inauguração para o dia 24 de Outubro de 1977, coincidindo com a data do aniversário da Assembleia de Deus do Estado de Pernambuco.
 Entretanto, os caminhos de Deus são inescrutáveis, e, após vinte e um anos de um diligente e notável pastorado, que abalizou a Igreja em todo estado nas doutrinas bíblicas e nos bons costumes, o servo do Senhor foi recolhido ao descanso celestial, no dia 14 de abril de 1977, deixando uma herança de fé e conquistas espirituais para as gerações posteriores.
 Após um período de oração e jejum, a Convenção Estadual de Ministros, outra vez sob a direção do missionário Eurico Bergsten, elege o Pastor José Leôncio da Silva como presidente da Assembleia de Deus em Pernambuco, no dia 04 de Julho de 1977. Por vinte e cinco, este servo de Deus havia auxiliado o pastor José Amaro na administração das finanças da igreja, sendo um braço forte e fiel colaborador, estando sempre a serviço da Igreja na capital e no interior do Estado. Agora, como presidente da Igreja, assumia vários desafios, entre eles, conduzir as obras de conclusão do Templo Central, principiada na gestão anterior, vindo a inaugurar o empreendimento no dia 24 de Outubro de 1977.
 Seu pastorado foi caracterizado pelo amor às ovelhas do Senhor, por uma visão ampla em relação a Igreja, bem como pela realização de grandes empreendimentos, como a organização da Secretaria de Missões e o início das missões transculturais, enviando, através da Igreja, o primeiro casal missionário à Argentina, o pastor Ailton José Alves e esposa Judite Alves, no ano de 1981. Este foi apenas o princípio da história de missões da IEADPE, visto que em seguida seriam enviados missionários aos continentes africano, asiático e europeu.
 Durante os vinte e um anos em que o pastor José Leôncio da Silva esteve à frente da Assembleia de Deus em Pernambuco, a Igreja experimentou um grande avivamento espiritual, estendendo ainda mais suas cortinas e ficando estacas cada vez mais distantes, no interior e no sertão do Estado, e consolidando o trabalho de evangelismo na capital. O pastor José Leôncio da Silva notabilizou-se pelo seu profundo amor a Deus e à Igreja, resultado de uma visível e profunda comunhão com Deus. Ainda durante seu pastorado, podemos destacar a implantação de vários trabalhos, entre os quais o pioneirismo das cruzadas evangelísticas, a implantação dos grupos de discipulado vinculados às campanhas evangelizadoras e a realização dos congressos de mocidade, que alcança toda juventude do Estado, entre muitas outras iniciativas.
 No ano de 1998, o pastor José Leôncio da Silva discerniu, pelo Senhor, que havia cumprido sua tarefa na presidência da Igreja. Então, após mais de duas décadas de serviço incessante e sacrificial, deixa o comando da Assembleia de Deus em Pernambuco, deixando o legado de uma vida santa e irrepreensível, um exemplo de fé e comunhão a ser seguido por todos nós. No ano de 2002, o Senhor achou por bem recolher o seu servo ao descanso celestial, onde aguarda a bem aventurada ressurreição dos justos e a recompensa do Pai Celestial.
 Em Outubro de 1998, após a jubilação do pastor José Leôncio da Silva, assume a presidência das Assembleias de Deus em Pernambuco o pastor Aílton José Alves, atual Presidente da Igreja (IEADPE) e da Convenção Estadual de Ministros (CONADEPE). Seu pastorado tem sido grandemente abençoado pelo Senhor, e pontuado por diversos empreendimentos, como, por exemplo, a utilização da mídia para a propagação da Palavra de Deus, através da Rede Brasil de Comunicação, uma grande conquista da Igreja Assembleia de Deus em Pernambuco.
 Podemos ainda mencionar outras conquistas e realizações da IEADPE na gestão do nosso atual Pastor Presidente. O trabalho missionário tem se expandido e alcançado diversos povos e línguas, e hoje, a Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Pernambuco se faz presente em vários países, com mais de 70 templos espalhados pelo mundo. O trabalho social da Igreja é reconhecido pela sociedade pernambucana como um dos mais profícuos, sendo referência de organização e eficiência, tendo recebido várias menções honrosas, homenagens e condecorações. A expansão dos trabalhos, tanto na capital como no interior do Estado, é evidenciada pelo acréscimo de templos e salões locados, em decorrência do aumento do número de membros, fato comprovado pelos grandes batismos em águas realizados bimestralmente. A direção divina na liderança do pastor Ailton José Alves, tem conduzido a Igreja a uma abrangência em suas atividades. Sua visão aguçada em relação às atividades eclesiásticas deu início a trabalhos inovadores, como coordenação de uniões de adolescentes, o PROATI (Programa de Apoio à Terceira Idade), o Departamento da Família, entre outros. Também foram inseridos vários eventos no calendário da Igreja, entre eles o congresso de mulheres, congressos de adolescentes e SAMAD’s (Seminário de Aperfeiçoamento Ministerial das Assembleias de Deus).
 A caminho do Centenário, vários são os projetos idealizados pelo nosso Pastor Presidente, sob a orientação divina. Entre tantos desafios, temos a construção de uma nova sede estadual, com capacidade para 30 mil pessoas, para a realização dos grandes eventos de nossa Igreja. Vislumbram-se novos desafios missionários, a colheita de muitas vidas para Cristo, a evangelização de lugares não alcançados, novas conquistas na área de comunicação, realização de cruzadas evangelísticas, edificação de novos templos, ampliação das obras sociais e a formação de novos obreiros. Sob a égide da fé, podemos dizer como o apóstolo Paulo: “Tendo por certo isto mesmo: que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao Dia de Jesus Cristo” (Fl 1.6). Com informações de ieadpe.org.br
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Religião:Tempo da Quaresma

Fotos: saída da missa na Matriz de Sant'Ana - Bom Jardim - PE.

Sentido da Quaresma.
O primeiro que devemos dizer ao respeito é que a finalidade da Quaresma é ser um tempo de preparação à Páscoa. Por isso se está acostumado a definir à Quaresma, “como caminho para a Páscoa”. A Quaresma não é portanto um tempo fechado em si mesmo, ou um tempo “forte” ou importante em si mesmo.
É mas bem um tempo de preparação, e um tempo “forte”, assim que prepara para um tempo “mais forte” ainda, que é a Páscoa. O tempo de Quaresma como preparação à Páscoa se apóia em dois pilares: por uma parte, a contemplação da Páscoa de Jesus; e por outra parte, a participação pessoal na Páscoa do Senhor através da penitência e da celebração ou preparação dos sacramentos pascais –batismo, confirmação, reconciliação, eucaristia-, com os que incorporamos nossa vida à Páscoa do Senhor Jesus.
nos incorporar ao “mistério pascal” de Cristo supõe participar do mistério de sua morte e ressurreição. Não esqueçamos que o Batismo nos configura com a morte e ressurreição do Senhor. A Quaresma procura que essa dinâmica batismal (morte para a vida) seja vivida mais profundamente. trata-se então de morrer a nosso pecado para ressuscitar com Cristo à verdadeira vida: “Eu lhes asseguro que se o grão de trigo…morre dará fruto” (Jo 20,24).
A estes dois aspectos terá que acrescentar finalmente outro matiz mais eclesiástico: a Quaresma é tempo apropriado para cuidar a catequese e oração das crianças e jovens que se preparam à confirmação e à primeira comunhão; e para que toda a Igreja ore pela conversão dos pecadores.
De: ACI Digital.

COMO VIVER O TEMPO DA QUARESMA?
Algumas atitudes podem nos ajudar a viver melhor o tempo da quaresma
A Quaresma é um tempo de graça, um verdadeiro Kairós, tempo da manifestação de Deus. Este tempo tem como característica duas realidades muito importantes: 1. Olhar para Jesus; 2. Conversão.
Neste tempo, somos levados pela Igreja a seguir Jesus em seus últimos momentos de vida para – junto com Ele – aprendermos o que é o amor e a misericórdia. Por diversas vezes, o Senhor vai se revelando como o rosto misericordioso do Pai, assumindo até as últimas conseqüências a vontade do Pai, que é salvar a cada filho. É um caminho de “subida”, não só para Jerusalém, mas até o mais alto grau do amor que se concretiza na cruz.
Jesus, muitas vezes, vai anunciar sua Paixão dizendo que o Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado e morto, mas no terceiro dia ressuscitará. Vemos nesses anúncios também o desejo do Senhor de se entregar. Está aí a sua disposição em dar até a própria vida em nosso resgate. Ele não somente falou a respeito do amor que se revela ao dar a vida pelos amigos, mas o fez em sua própria vida. Assim, tornou-se o exemplo mais sublime que devemos seguir para realmente sermos felizes.
Quaresma é também conversão, revisão de vida e mudança de atitude. Tudo concorre para isso nesse período: a liturgia, os cânticos, as orações. É tempo de olhar para tudo o que temos vivido e como temos vivido: nossos relacionamentos em casa, no trabalho, na escola, nosso relacionamento com Deus. Será que Ele tem sido o nosso tudo? Nossa relação com Ele é de confiança, de intimidade e amor?
Quaresma é tempo do perdão. O profeta Isaías nos diz no capítulo 30, 18: “Em vista disso, o Senhor espera a hora de vos perdoar. Ele toma a iniciativa de mostrar-vos compaixão, pois o Senhor é um Deus justo – felizes os que nele esperam”.
É um tempo de grande graça. É o Senhor quem toma a iniciativa de nos mostrar compaixão. Em nossas paróquias, além do tempo normal de confissões, temos os mutirões de confissão, celebrações penitenciais. Tudo se torna propício para nossa conversão. Por isso, não podemos perder tempo.
Algumas atitudes nossas podem nos ajudar a mergulhar fundo nessa graça
Por exemplo:
– Aproveite esse tempo para silenciar um pouco, criar um clima de interioridade, evitando músicas muito altas em casa, no quarto; valorizando as que nos levam a uma maior reflexão e oração.
– Separe um tempo do dia para a oração pessoal. Crie em sua casa ou no seu quarto um pequeno altar, ali coloque um crucifixo, uma vela, a Bíblia aberta, para que o ambiente seja convidativo à oração.
– Nas sextas-feiras, se for possível, medite as estações da Via-Sacra. Isso o ajudará a mergulhar no mistério da Paixão do Senhor.
– Durante o tempo quaresmal se proponha a também fazer obras de misericórdia. Por exemplo: visitar um doente, visitar um asilo, levar alguma ajuda concreta a uma família mais carente, como roupas que você já não esteja usando ou alimentos. Tudo isso gerará em seu coração um sentimento de alegria por poder fazer algo de bom a alguém.
– Quaresma é tempo de perdoar e de pedir perdão. Se você tem alguém, a quem precisa perdoar, peça a Deus a graça de conceder esse perdão e se foi você que feriu esse alguém, dê o passo em direção à pessoa e peça perdão. É tempo de reconstruir as pontes de reconciliação.
– A confissão é fundamental nesse tempo, não deixe para a última hora, procure o sacerdote no decorrer da Quaresma para que, auxiliado pela graça desse sacramento, você colha todos os frutos deste tempo.
A Quaresma é entendida como um grande retiro, um retiro de 40 dias, no qual nos voltamos de coração sincero para o Senhor e d’Ele recebemos uma nova vida. Já há alguns anos, nós da Canção Nova temos feito essa experiência por meio do retiro popular de Dom Alberto. Ele nos tem possibilitado viver esse tempo de maneira intensa e profunda. Esse é mais um modo de se viver bem esse período.
O importante é que eu e você tomemos consciência de tudo o que o Senhor deseja realizar em nossas vidas e nos esforcemos para não deixar a graça passar.

Texto: Padre Clóvis – Missionário da comunidade Canção Nova
Fotos: Edgar Severino dos Santos
Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 13 de março de 2018

Religião:o mistério sobre quem realmente foi Maria Madalena


Cena do filme "Maria Madalena"
Image captionNovo lançamento no cinema, 'Maria Madalena' busca jogar luz sobre uma das mais enigmáticas figuras bíblicas | Foto: Divulgação
Prostituta. Santa. Esposa de Jesus. Apóstola. Feminista. Os rótulos usados para definir Maria Madalena - fruto de interpretações de textos canônicos, de evangelhos apócrifos ou simplesmente expressões de crenças populares - fazem dela uma das mais enigmáticas personagens bíblicas.
O filme Maria Madalena, que chega aos cinemas nesta quinta (15), lança olhar sobre uma das versões da trajetória desta figura fundamental à história do cristianismo. Na obra dirigida por Garth Davis, ela aparece como uma fiel seguidora de Cristo. Mais do que isso, uma mulher à frente de seu tempo, que desafia a sociedade patriarcal da época, contrariando seu pai ao decidir se tornar uma discípula.
Citada nominalmente 17 vezes na Bíblia, Maria Madalena, ao que tudo indica, era uma entre tantas pessoas que se encantaram com as pregações de Jesus e passaram a segui-lo. A principal pista sobre sua origem está no nome: originalmente, Maria de Magdala, ou seja, nascida em Magdala, uma vila de pescadores próxima ao Mar da Galileia, localizada a 10 km de Cafarnaum, a cidade que foi a base de Jesus na vida adulta.
O primeiro contato entre eles está narrado no capítulo 8 do Evangelho de Lucas. Cristo encontra Maria Madalena e expulsa dela sete demônios.
Sete é um número simbólico e, na Bíblia, significa a totalidade. A partir de então, ela se torna uma seguidora do pregador. Madalena é citada como uma das mulheres que testemunharam a crucificação de Jesus e, de acordo com o evangelista Marcos, ela teria visto onde o seu corpo foi sepultado. A Bíblia relata ainda que ela acabou sendo a primeira a encontrar o sepulcro de Cristo aberto e, portanto, se tornou a anunciadora, aos outros discípulos, da ressurreição de Jesus.
A seguir, todavia, seu nome desaparece do livro sagrado. Nos relatos - presentes em Atos dos Apóstolos e nas epístolas - dos primeiros anos da Igreja, é como se Madalena não tivesse existido.
"O silêncio dos apóstolos trouxe aos exegetas diferentes interpretações e, para o imaginário coletivo, muitas histórias que ainda hoje pairam sobre a imaginação de homens e mulheres do mundo cristão ocidental", pontua a pesquisadora Wilma Steagall De Tommaso, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e do Museu de Arte Sacra de São Paulo e membro da Sociedade Brasileira de Teologia e Ciências da Religião.
"Crentes ou ateus, todos conhecem alguma história sobre Maria Madalena".

Relacionamento amoroso

Image captionIlustração de 1836 mostra aparição de Jesus a Maria Madalena; ela é citada nominalmente na Bíblia 17 vezes
Isto porque as histórias são muitas. Um exemplo bastante difundido: a mulher era uma prostituta que, resgatada por Jesus, acabou virando sua amante. Os dois teriam se casado e, quando ele foi crucificado, Madalena esperava um filho dele. Então, ela fugiria para a França, onde daria à luz. Os descendentes dessa linhagem seriam os membros da dinastia Merovíngia, que governou os francos de 478 a 751.
Este enredo aparece na literatura em O Santo Graal e a Linhagem Sagrada, de Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincoln - publicado em 1982.
Um relacionamento amoroso entre Cristo e Madalena também é narrado tanto no livro O Segredo dos Templários, escrito por Lynn Picknett e Clive Prince e lançado em 1997, quanto no best-seller O Código Da Vinci, de Dan Brown. Nestes, a conspiração envolve o gênio renascentista Leonardo Da Vinci (1452-1519), que teria retratado Maria Madalena, de forma cifrada, ao lado direito de Jesus em sua representação da Última Ceia.
No tratado hagiográfico Legenda Áurea, publicado em 1293, o frade dominicano Jacopo de Varazze (1230-1298) conta que 14 anos depois da morte de Jesus, Madalena e um grupo de cristãos acabaram expulsos da Judeia. Embarcados à força, foram atracar no porto de Marselha, no sul da França. Lá, Maria Madalena teria pregado e convertido muitas pessoas. Mais tarde, ela se retirou à gruta de Sainte Baume, onde terminaria se dedicando por 30 anos à penitência e à contemplação.
Verdade ou não, o local celebra esta história.
"Nos anos 1950, morei quatro anos no sul da França, onde se encontram a gruta em que se recolheu Maria Madalena e seu túmulo, na cripta da grande basílica, hoje museu. Havia uma grande festa provençal em sua honra, no dia 22 de julho", recorda-se o teólogo Francisco Catão, autor do livro Catecismo e Catequese, entre outros.

Lendas

As versões populares sobre quem teria sido Madalena são muitas. Há quem acredite que ela tenha sido uma mulher que decidiu fugir com um soldado romano. Depois de um tempo, ele a abandonou e ela virou uma prostituta. Foi quando se encontrou com Cristo e passou a ser sua seguidora. Também há a lenda de que ela tenha sido uma aristocrata, herdeira de um castelo na região de Magdala. Vivia numa vida de luxúria até conhecer Jesus e passar a segui-lo.
Segundo a Bíblia, o primeiro milagre realizado por Cristo teria sido, em uma festa de casamento, transformar água em vinho. A identidade dos noivos não é revelada. Há quem diga que o matrimônio era entre Maria Madalena e João Evangelista. Por essa versão, entretanto, o noivo acabaria se encantando com o gesto de Jesus - e abandonado o casamento para se tornar discípulo. Deixada só, Madalena acabaria vivendo como prostituta e, muito tempo depois, encontrado Jesus conforme está nos evangelhos.
Image captionPintura exposta em altar de Igreja em Viena, Áustria; para muitos pesquisadores, machismo explica o retrato de Maria Madalena ao longo da história

Força da mulher

Uma das teorias atribui ao machismo a desconstrução moral de Maria Madalena. Isto porque ela teria tido um papel muito importante nos primeiros anos do cristianismo, algo semelhante ao de Pedro - considerado como o primeiro papa da Igreja Católica, o fundador do catolicismo.
Mas quando a Igreja se tornou religião oficial de Roma, teve de dar uma atenuada nesses aspectos, por conta do machismo do império.
"Maria Madalena é uma figura forte desde o início do cristianismo. Mas, em uma sociedade patriarcal, em que o Jesus ressuscitado apareceu a uma mulher em primeiro lugar, confiando a ela a missão de anunciar aos apóstolos a sua ressurreição - a mais alta missão possível! - foi um problema para os homens de seu tempo", disse a historiadora Lucetta Scaraffia, que há décadas estuda a importância da mulher na tradição cristã, em entrevista publicada semana passada no L'Osservatore Romano.
Mais do que os quatro evangelhos canônicos - de João, Marcos, Lucas e Mateus -, muitos evangelhos ditos apócrifos, não reconhecidos pela Igreja Católica, tratam da vida de Maria Madalena - e são fonte de muitas das teorias sobre ela que sobreviveram ao tempo.
Se nos evangelhos oficiais seu papel é restrito a apenas uma entre tantos seguidores de Cristo, nos apócrifos Maria Madalena é retratada como alguém próxima do mestre, uma sábia que gozava de posição especial entre os primeiros cristãos.
"A liderança de Madalena era incômoda em muitos setores do cristianismo dos primórdios. A escolha dos livros que formam o Novo Testamento se deu num cenário em que se procurava sufocar as lideranças femininas existentes nas comunidades cristãs", afirma o teólogo Pedro Lima Vasconcellos, professor da Universidade Federal de Alagoas e autor do livro O Código da Vinci e o Cristianismo dos Primeiros Séculos, para explicar por que ela é retratada nos apócrifos de uma maneira diferente dos evangelhos canônicos.
No Evangelho de Tomé, ela aparece em um diálogo com Pedro no último dos 114 ditos que essa obra atribui a Jesus. E mostra que havia uma Igreja dividida entre essas duas lideranças.
"Simão Pedro disse a eles: 'Maria tem de nos deixar, pois as mulheres não são dignas de viver'", diz o trecho. Na sequência, Jesus responde: "Eis que eu a guiarei para torná-la masculina, para que também ela se torne um espírito vivente, como vós, que sois homens. Pois toda mulher que se fizer homem entrará no Reino dos Céus".
Uma das intepretações aceitas para esse diálogo que hoje soa esquisito vem do pesquisador Dale Martin, especialista em Religião da Universidade de Yale. Para ele, o texto se refere a uma crença da época de que a capacidade de procriar, inerente às mulheres, era algo ruim.
Já no Evangelho de Maria, ela é quem anima e encoraja os apóstolos temerosos das perseguições daqueles primeiros tempos do cristianismo. E Pedro reconhece sua importância. "Irmã, sabemos que o Salvador te amava mais do que às outras mulheres. Dize-nos as palavras do Salvador que recordas, aquelas que conheces e nós não conhecemos, já que não as ouvimos", afirma ele.
Image captionEvangelhos ditos apócrifos, não reconhecidos pela Igreja Católica, são fonte para diferentes versões sobre Maria Madalena
Entre 2015 e 2016, a pesquisadora Eleonora Graziani utilizou este evangelho para demonstrar "a autoridade da voz feminina na Igreja primitiva", quando ela realizava seu doutoramento em Estudos Femininos pela Universidade de Coimbra.
Mas o texto apócrifo que mais suscita discussões sobre Madalena ter tido ou não um relacionamento amoroso com Jesus é o Evangelho de Filipe. Primeiro porque o evangelista diz que uma das Marias que "sempre caminhavam com o Senhor" era "sua companheira".
Entretanto, pode ser tudo uma questão de tradução. A palavra original do manuscrito, o grego koinonôs, apesar de poder se referir a uma esposa, é mais comumente empregada para designar duas pessoas que compartilham alguma missão ou um trabalho, como dois parceiros comerciais. Outra passagem do mesmo evangelho, apesar de repleto de lacunas, diz que Jesus "a beijava com frequência na sua boca".

Papas

No início, a Igreja reconhecia sua santidade. Maria Madalena era chamada de "apóstola dos apóstolos", justamente por ter sido a primeira a atestar a ressurreição de Cristo - o primeiro registro desta definição é atribuído ao teólogo Hipólito de Roma (170-236).
Deixada meio de lado quando a Igreja Católica se tornou oficial do Império Romano - o que aconteceu no ano 380 -, Maria Madalena acabou relembrada de um jeito meio torto. Em uma tentativa de tentar convencer os fiéis de que o arrependimento sincero bastaria para um perdão de Deus, o papa Gregório Magno (540-604) começou a propagar, em sermões, que algumas passagens da Bíblia se referindo a mulheres pecadoras - anônimas - estavam, na verdade, tratando de Madalena.
Ou seja: várias pessoas foram juntadas em um só nome Maria Madalena. Em seu artigo Olhares de Clérigos - que integra do livro História das Mulheres no Ocidente-, o historiador francês Jacques Dalerun é categórico ao dizer que "tal como o Ocidente a venera a santa não existe, enquanto indivíduo, nos evangelhos".
"A identidade de Maria Madalena, — de quem Jesus expulsou sete demônios e que foi testemunha da paixão e da Ressurreição, — fundiu-se com a da pecadora anônima,— mulher que lavou, ungiu e secou com os cabelos os pés de Jesus na casa de Simão, o fariseu — e também é identificada com a Maria de Betânia, irmã de Marta e de Lázaro", resume a pesquisadora Wilma. "Maria de Betânia, no Evangelho de João, unge também Jesus com um valioso perfume de nardo. A pecadora anônima que aparece no Evangelho de Lucas; Maria de Betânia e Maria Madalena passaram a ser consideradas a mesma pessoa."
Pronto, estava aberta a brecha para que Madalena fosse tachada como prostituta arrependida.
Image captionSe no início a Igreja reconhecia Maria Madalena como a 'apóstola dos apóstolos', o papa Gregório Magno (540-604) ajudou a forjá-la no papel de pecadora
Nas últimas décadas, esta imagem foi revisada pela Igreja. Em 1969, os predicados "penitente" e "pecadora" foram excluídos da seção dedicada a ela no 'Breviário Romano'.
"Isto eliminou um estigma que havia sido acentuado principalmente por ocasião da Contrarreforma, quando Maria Madalena teve a importante função de ser o exemplum. Completamente contra o protestantismo e sua doutrina da graça e da predestinação, a Contrarreforma enfatizou a doutrina da penitência e do mérito. Nessa época, séculos XVI e XVII, Maria Madalena exerceu um importante papel como a pecadora-penitente e como a pessoa que foi favorecida por excelência", contextualiza Wilma, que está finalizando um livro sobre a personagem cristã.
Em 2016, papa Francisco transformou a data de Maria Madalena, 22 de julho, em festa litúrgica. De acordo com o Vaticano, a decisão foi tomada porque Francisco gostaria de "assinalar a relevância desta mulher que mostrou um grande amor por Cristo". Ele voltou a enfatizar seu título de "apóstola dos apóstolos". O gesto, carregado de simbolismo, repercutiu entre religiosos e estudiosos.
Professor de Novo Testamento da Universidade Católica de Louvain, na Bélgica, o filósofo Régis Burnet afirmou que o ato do papa reconhece "o lugar surpreendente, para a época, que as mulheres ocupavam junto de Jesus", ao mesmo tempo que funciona como um "apelo a um maior reconhecimento delas na Igreja de hoje".

Cultura

Image captionRooney Mara interpreta Maria Madalena em filme homônimo; papel já foi representado também por Barbara Hershey e Monica Bellucci | Foto: Divulgação
Relacionamento íntimo com Jesus, mas apenas do ponto de vista espiritual. O historiador britânico Michael Haag procura trazer esta Maria Madalena como a verdadeira, em seu recém lançado Maria Madalena - Da Bíblia ao Código da Vinci: companheira de Jesus, deusa, prostituta, ícone feminista. O livro, portanto, vai na mesma linha do filme de Garth Davis que chega aos cinemas - com Rooney Mara no papel principal. Mas, assim como a Igreja, o mundo da arte e do entretenimento também já apresentou várias facetas dessa santa.
Madalena já apareceu em mais de 30 filmes - quase sempre como uma linda mulher, sedutora. Em A Última Tentação de Cristo, obra de Martin Scorsese lançada em 1988, ela é vivida pela atriz Barbara Hershey. Que encarna a figura da prostituta - e, num devaneio épico quando Jesus está na cruz, é vista como esposa dele e grávida de seu filho. Em A Paixão de Cristo, de 2004, Mel Gibson traz uma Madalena, vivida por Monica Bellucci, coberta de lama. Em entrevista da época, Gibson afirmou: "eu joguei lama nela; e quanto mais lama eu jogava, mais bonita ela ficava".
"Em dois mil anos de cristianismo, não há outro personagem que tenha estimulado tanto a imaginação de artistas, escritores e outros estudiosos como Maria Madalena", acredita Wilma. "Sabemos pouco a respeito dela, no entanto, a cada período da era cristã criou-se uma Madalena que satisfizesse suas necessidades e anseios e assim Maria Madalena vem sendo submetida até nossos dias a uma plástica cultural."
Assim, obras do Renascimento apresentam uma Madalena símbolo de penitência, humildade e amor. No Iluminismo, a figura é de uma rameira de coração puro. No fim do século 19, começa a ser representada de forma muito sexualizada, uma femme fatale.
Alguns quadros que a retratam são indispensáveis para qualquer percurso da História da Arte. Ticiano Vecellio (1490-1576) pintou Madalena Penitente e Noli Me Tangere. Seu contemporâneo Giampetrino (de quem não se sabe nem sequer o período exato de vida) concebeu uma Madalena sedutora, mundana. Já a Madalena de Pietro Perugino (1448-1523) é a imagem de uma santa.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 12 de março de 2018

Religião:o legado dos cinco primeiros anos de Francisco, o papa 'que desceu do trono'

Papa FranciscoDireito de imagemREUTERS
Image captionEm 2013, o então cardeal Jorge Bergoglio assumia uma Igreja em crise
Logo após o "habemus papam", naquela noite de 13 de março de 2013 em Roma, o sorridente cardeal Jorge Bergoglio apresentou-se para uma Praça São Pedro lotada. Havia se tornado, então, papa Francisco, o 266º sumo pontífice da Igreja Católica. "Parece que meus colegas foram buscar um papa no fim do mundo", disse ele, em referência à sua Argentina natal.
Bom humor à parte, Bergoglio assumia uma Igreja em crise – em meio a diversos escândalos de pedofilia do clero, com divisões internas e perdendo fiéis e popularidade em todos os cantos do mundo – e após uma histórica renúncia, já que Bento 16 foi o primeiro pontífice a abdicar do trono de Pedro em quase 600 anos.
Sua eleição, por si só, foi repleta de ineditismos. Pela primeira vez, a Igreja Católica tem um líder latinoamericano. Pela primeira vez, um jesuíta. E, pela primeira vez, alguém adotava o nome Francisco – sugestão dada a Bergoglio pelo seu colega brasileiro, o cardeal emérito de São Paulo d. Claudio Hummes, que pediu a ele que não se esquecesse dos pobres.
Passados cinco anos, as crises da Igreja permanecem prementes, com um papado ainda exercido sob a sombra das acusações de abusos sexuais contra sacerdotes. Isso, junto com a resistência a mudanças e lutas de poder entre bispos, padres e cardeais, torna Francisco um alvo frequente de hostilidades dentro e fora da Igreja.
Mas defensores argumentam que o papa imprimiu à conservadora instituição uma personalidade mais carismática, além de se envolver em questões mundiais urgentes: publicou uma encíclica em defesa da ecologia, fala com frequência em defesa dos refugiados da crise imigratória e intermediou a histórica retomada da diplomacia entre os Estados Unidos e Cuba.
"Francisco trouxe para a Igreja uma visão revigorante, interessante e atraente. Enquanto outros papas se concentraram na aplicação de regras ou normas doutrinárias, ele tenta atrair as pessoas para a mensagem primordial: uma Igreja que espalha a boa-nova de Jesus por meio do encontro, do diálogo e do testemunho", analisa o vaticanista Joshua J. McElwee, autor de livros sobre o atual papa. "Muitos católicos têm achado essa visão convidativa."
O teólogo e filósofo Fernando Altemeyer Junior, professor do Departamento de Ciência da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), avalia que "os cinco anos do pontificado de Francisco são um bálsamo de oxigênio para os cristãos, e braços abertos aos outros crentes e mesmo aos ateus que buscam a verdade e a justiça no mundo."
"Francisco não veio repetir fórmulas e enrijecer respostas obsoletas e caducas. Francisco veio propor algo novo, como pastor da esperança e da alegria, especialmente aos jovens, aos migrantes e às famílias."

Visão pastoral

O papa insiste que o seu papel é pastoral, lembra o jornalista Filipe Domingues, que acompanha de Roma o atual pontificado desde o início. "Isso quer dizer que ele vê o bispo, o padre, como um pastor que guia um rebanho. E quando uma ovelha se perde, o pastor deixa todas as outras e vai atrás daquela ovelha perdida", explica.
"A sua visão de Igreja, quando fala de misericórdia, de acolher os mais fracos, de não forçar uma visão idealizada da família, de pensar no ambiente em que vivemos, que foi doado por Deus e, se não cuidarmos do ambiente prejudicamos em primeiro lugar os mais frágeis da sociedade... Tudo isso é guiado por uma visão pastoral, muito próxima das pessoas."
Mestre e doutorando em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, Domingues ressalta que Francisco foi escolhido, "antes de mais nada, para conduzir uma reforma".
O papa Francisco em meio a uma multidão de fiéis com câmeras e celularesDireito de imagemREUTERS
Image captionSimpatia é marca dos cinco anos de papado de Francisco
Isso porque a renúncia de Bento 16 permitiu que os cardeais tivessem cerca de um mês para conversar abertamente sobre os problemas da Igreja – antes mesmo de entrar no conclave.
"Bergoglio foi eleito, claramente, com o objetivo de realizar uma 'reforma de gestão', de forma colegial e não autoritária. Por isso, foi criado o conselho de cardeais e uma série de mudanças administrativas foram feitas na Cúria Romana", diz ele.
"Ainda não temos clareza de quais serão os efeitos disso na prática. É um processo lento e sem respostas de curto prazo. Deve continuar no pontificado do próximo papa, com certeza."

Denúncias de abusos

O ponto mais delicado de seu papado, porém, continua sendo a avalanche de acusações de pedofilia contra sacerdotes católicos, como evidencia a hostilidade enfrentada por Francisco em sua recente visita ao Chile – país onde um bispo nomeado pelo papa é acusado de ter acobertado um padre condenado por abusos sexuais.
"Ele próprio já se perguntou recentemente se está reagindo adequadamente aos casos de abusos sexuais por parte do clero", comenta McElwee. "Viajei com Francisco durante sua visita ao Chile, em janeiro, e ficou muito claro que muitas pessoas estavam desapontadas com sua defesa do bispo (acusado de acobertar o caso)".
No ano passado, o jornalista italiano Emilio Fittipaldi, autor de livros sobre o Vaticano, afirmou em entrevistas que "Francisco não defende diretamente os pedófilos, mas fez quase nada para combater o fenômeno da pedofilia (na Igreja)".
Domingues acredita que o tema é o ponto fraco do pontificado de Francisco. "Às vezes a questão é tratada como mais um problema, como os outros. Este não é um problema como os outros. É um dos problemas mais graves na história da Igreja e existe em todo o mundo, dentro e fora da Igreja", diz. "É algo a ser abominado e expurgado da Igreja com todas as forças – não pode ficar parado em burocracias e lutas internas de poder."

Lutas por poder

Por falar em lutas internas do poder, a resistência enfrentada por Francisco dentro da cúpula da Igreja também é um problema – que muitas vezes acaba exposto.
Em 2015, por exemplo, poucos dias antes do Sínodo dos Bispos, um evento que reuniu 270 religiosos de todo o mundo para debater no Vaticano, uma carta supostamente assinada por 13 cardeais descontentes com o papa acabou sendo publicada pelo vaticanista Sandro Magister.
Guarda libanês monitora pessoas que tentavam chegar à Europa por marDireito de imagemAFP
Image captionGuarda libanês monitora pessoas que tentavam chegar à Europa por mar; crise migratória é tema recorrente dos posicionamentos do papa Francisco
O texto continha preocupações de que a Igreja Católica, sob a batuta de Francisco, estaria enveredando pelo "caminho protestante 'liberal'", ao "enevoar" ensinamentos e sacramentos. Pelo menos dois cardeais da ala conservadora da Igreja admitiram a existência da correspondência - embora tenham ressaltado que o teor não era exatamente como foi publicado pela imprensa.
"Em tempos recentes, não há notícia de um papa que tenha sofrido tanta resistência interna, da parte de bispos, padres ou cardeais", avalia o padre Antonio Manzatto, doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina e coordenador do grupo de pesquisa Lerte (Literatura, Religião e Teologia) da PUC-SP. "Tal oposição não advém de posições doutrinais, mas do apego a privilégios."
"Ele nem sempre foi bom em se explicar aos conservadores, que estão assustados e desconcertados por ele", acredita o vaticanista Austen Ivereigh, autor de The Great Reformer: Francis and the making of a radical pope (O grande reformador: Francisco e a formação de um papa radical, em tradução livre).
Para Domingues, como as reformas no Vaticano são lentas, esta morosidade traz uma incerteza que só aumenta os boatos e as aversões a qualquer mudança. "É natural que, quando entra um novo líder no poder, outros grupos percam representatividade, ou que algumas pessoas sejam afastadas de seus cargos. Mas as reformas que o papa conduz tocam forte nessas diferenças entre grupos políticos na Cúria e fora dela."
"As pessoas da Cúria que se ressentem de Francisco dizem: 'nós ainda estaremos aqui quando ele for embora'. Os burocratas não gostam de mudar", comenta Ivereigh.
Dados compilados por Altemeyer a partir de informações disponibilizadas pelo Vaticano mostram que ao menos no colégio cardinalício a influência de Francisco já é grande. De todos os 216 cardeais vivos – de 83 países diferentes –, apenas 118 têm direito a voto num eventual conclave.
Isto porque os purpurados com mais de 80 anos não são mais eleitores. Considerando apenas os votantes, 49 foram nomeados no atual pontificado - outros 49 no pontificado de Bento 16; e o restante por João Paulo 2º.

Pastor 'com cheiro das ovelhas'

Ao mesmo tempo, Francisco é visto como "um papa que desceu do trono". Como se diz no meio religioso, seu papado é o de "um pastor com cheiro de ovelhas".
"Ele quer transmitir ao mundo a ideia de que o papa é um líder, mas que está junto ao seu povo, no meio do povo, que veio do povo - por isso alguns o chamam de 'populista'. E para estar junto é preciso viver com simplicidade, como vivem as pessoas mais humildes, e falar diretamente, olho no olho, e não de cima para baixo", opina Domingues.
"Francisco procurou superar um fosso crescente entre a Igreja e o povo de hoje, por meio de uma reforma de atitudes e, quando necessário, das estruturas", diz Ivereigh.
"Nessa área, suas conquistas têm sido enormes. As pessoas agora têm uma visão diferente da Igreja. Ela é vista como mais semelhante a Cristo, menos preocupada consigo mesma e mais ligada às necessidades e aos sofrimentos concretos do povo de hoje. É uma grande conquista em apenas cinco anos; mas, claro, está longe de ser completa."
Em foto de 2013, Francisco chega à Praça São Pedro para sua primeira missa como papaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionEm foto de 2013, Francisco chega à Praça São Pedro para sua primeira missa como papa; 'Parece que meus colegas foram buscar um papa no fim do mundo', brincou na época
"Ele tem insistido que todos os membros da Igreja precisam motivar-se a partir do Evangelho de Jesus, e não a partir de valores da 'mundanidade': carreira, privilégios, glórias pessoais, etc.", afirma Manzatto.
"Parece pouco, mas é muito se olharmos para os comportamentos de muitos membros atuais do clero. O segundo foco é pastoral, que se pode dizer social. A preocupação de que a Igreja esteja ao lado dos pequenos, dos fracos, dos sofredores, dos pobres. Seu ensinamento vai nessa direção, e a junção dos dois focos é a marca de seu pontificado."
"A ênfase no social e na opção pelos pobres, rigorosamente falando, já estava presente nos papados anteriores, ainda que não tão acentuada", comenta o sociólogo e biólogo Francisco Borba Ribeiro Neto, coordenador de projetos do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.
"Até que ponto esses novos documentos (produzido pelo pontificado de Francisco) serão realmente o gérmen de uma época depende da acolhida global que receberão nos próximos 15 anos, do nascimento de uma nova geração de sacerdotes, consagrados e militantes católicos em nível mundial."

Mais santos e beatos

Em cinco anos de pontificado, papa Francisco já é o maior canonizador de santos da Igreja Católica, conforme demonstra levantamento realizado por Altemeyer, da PUC-SP, com base em informações disponibilizadas pelo Vaticano.
Até agora, Francisco reconheceu 878 santos e 1.115 beatos. Antes, o recordista era João Paulo 2º, que nos 26 anos de pontificado fez 482 santos e 1.341 beatos. Bento 16, o antecessor de Francisco, inscreveu no cânon 45 novos santos e 371 beatos - foram quase 8 anos à frente da Igreja.
Altemeyer também compilou as viagens missionárias de Francisco. Até agora foram 17 viagens internas na Itália e 22 viagens internacionais nas quais visitou 31 países - entre eles Brasil, Estados Unidos, Cuba, Quênia, Bangladesh e Myanmar.
Sua produção documental e catequética já compreende 992 discursos, duas exortações apostólicas, 34 constituições apostólicas, 165 cartas, uma bula, 30 cartas apostólicas, 216 mensagens, 31 motu próprios e duas encíclicas - Lumen Fidei e Laudato Si'.

Avanços e preocupações

Do ponto de vista sociopolítico, um destaque da gestão do pontífice argentino é a publicação, em 2015, da 298ª encíclica papal, chamada de Laudato Si' - a primeira da História a trazer o meio ambiente como tema principal.
"Essa encíclica teve um impacto real sobre os acordos ambientais de Paris, e foi calculada para isso", afirma Domingues. "Mas ele mesmo, sozinho, não pode fazer nada para mudar os rumos do cenário global. É preciso que a sociedade e os líderes mundiais o ouçam e entrem em diálogo."
Outro aspecto importante é a ênfase que Francisco dá à importância do acolhimento dos imigrantes, em um tempo de crise de refugiados mundial e forte clima de xenofobia, sobretudo com a ascensão de governos de direita na Europa.
"Sua frase sobre os imigrantes - 'construir pontes, e não muros' - tornou-se um slogan mundial", lembra McElwee. "(O papa) é a voz que defende os pobres e profeticamente clama por uma mudança de sistema. Não é ouvido na medida em que os interesses econômicos dominam o comportamento de chefes de Estado ou outros líderes globais", diz Manzatto.
Em termos de geopolítica mundial, Francisco já garantiu seu nome na história. Ele é apontado como o responsável pelo fim de um rompimento que parecia eterno: o das relações entre Cuba e os Estados Unidos, interrompidas em janeiro de 1961 e retomadas em dezembro de 2014.
Dezoito meses antes do anúncio diplomático, papa Francisco intermediou conversas entre ambos os governos, tanto no Canadá quanto no Vaticano. "É um tremendo impacto no cenário mundial", comenta McElwee.
Professor Edgar Bom Jardim - PE