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terça-feira, 19 de junho de 2018

Itamaraty espera denúncia sobre brasileiros que insultaram russa em vídeo

Em Moscou, os diplomatas da embaixada brasileira relatam já ter recebido emails criticando os autores do vídeo em questão, enquanto nas redes sociais circulam pedidos que aqueles homens sejam punidos e expulsos da Rússia.

Não é nada raro. Nas ruas de Moscou, torcedores enrolados nas bandeiras de seus países cercam jovens russas ou que não entendem a sua língua para gravar e postar vídeos de teor machista que estão despertando indignação nas redes sociais pelo mundo.

No episódio mais comentado até o momento, um grupo de brasileiros cerca uma mulher russa cantando "essa é bem rosinha", em alusão à cor de seu sexo. Sem saber do que se trata, ela canta junto na cena que acabou viralizando e provocou comentários de repúdio em todo o país.

Uma série de mulheres, entre elas as atrizes Bruna Linzmeyer e Mônica Iozzi e a parlamentar Maria do Rosário (PT-RS), denunciaram o comportamento flagrado no vídeo como exemplo de machismo misoginia.
Cenas de machismo e misoginia causaram indignação nainternet neste fim de semana. Um grupo de homens brasileirosque estão na Rússia, para acompanhar a Copa do Mundo, aparece em um vídeo junto a uma estrangeira fazendo referência à genitália dela. Pelas imagens é possível perceber que a mulher não entende a língua portuguesa e tenta repetir a frase, dita pelo grupo em linguagem chula, sem ter conhecimento do teor da “brincadeira”. Vestidos com camisa da Seleção Brasileira, eles repetiam a frase "Boceta rosa" várias vezes. 
"Entrei de gaiato na história. Foi uma brincadeira de muito mau gosto. Lamento ter aparecido nisso, mas brasileiro, quando vê uma câmera, quer se meter na frente." Um dos rapazes que aparece no polêmico vídeo em que torcedores brasileiroscercam uma jovem russa gritando "essa é rosinha", em alusão à cor de seu sexo, disse em um bar de Moscou que está arrependido de sua participação no episódio, que ele ressalta foi quase por acidente.

Sem se identificar, mas chamado de Josué por um grupo de amigos, o jovem aparece numa das duas versões do vídeo que viralizaram na internet. Ele pode ser visto entrando em câmera num segundo momento, quando a roda de torcedores cantando já estava formada em torno da mulher.
Seus amigos, no entanto, o impediram de continuar a conversa e ameaçaram tomar o gravador da reportagem, dizendo, nesse momento que "estavam sendo machistas".
Minutos antes do encontro, no entanto, Rita Bento, uma torcedora brasileira que conheceu Josué e outros rapazes que aparecem nas imagens em Moscou, defendeu os novos amigos feitos na viagem.
"O Brasil está sendo ridículo. Quem escuta funk, que é só putaria, achar que 'boceta rosa' é mancada é hipócrita", ela disse. "Foi uma brincadeira de mau gosto, mas quem nunca cantou MC Kevinho?"
Bento afirmou ainda que os garotos do vídeo -além de Josué, o advogado pernambucano Diego Valença Jatobá e o policial de Santa Catarina Eduardo Nunes também foi identificado- têm receio de continuar na Rússia.
"Eles estão com medo, estão querendo até sair daqui", ela disse. "É gente boa e honesta que entrou na brincadeira sem querer e agora sofrem com as consequências de uma brincadeira imprudente."
Breno Salgado, outro torcedor brasileiro que diz também ter conhecido dois dos rapazes do vídeo na capital russa, descreveu os amigos como "pessoas da melhor qualidade", dizendo que a reação às imagens é desproporcional.
"Não teve assédio nenhum ali, ninguém forçou a menina a fazer nada", disse.
"No máximo, foi uma piada infantil, uma piada pesada, mas morreu ali. Não precisa ir atrás da vida dos caras. Tem cara aqui preocupado se vai perder o emprego ou não. Ninguém agrediu a mulher, ninguém forçou a mulher a fazer nada." completou.
Com informação de Folha de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Copa do Mundo 2018: qual a origem do polêmico grito homofóbico da torcida do México que a Fifa quer punir


Torcedores do México no estádio em MoscouDireito de imagemREUTERS
Image captionTrocedores mexicanos entoaram o grito considerado homofóbico no jogo de estreia do México na Copa da Rússia, em que o time bateu a Alemanha
O México mais uma vez se viu nos noticiários de uma Copa do Mundo em andamento por causa de um grito de guerra de sua torcida.
A Fifa (Federação Internacional de Futebol) anunciou na segunda-feira que abriu um procedimento disciplinar contra a Federação Mexicana de Futebol (Femexfut) por causa do comportamento de torcedores de país, que entoaram um canto "homofóbico" na partida contra a Alemanha no domingo.
Como aconteceu no Brasil 2014 e durante as eliminatórias para a Rússia 2018, nas arquibancadas se ouviu o cântico "eeeeehhh, puto!" quando o goleiro rival dava um tiro de meta.
A expressão é considerada por muitos como homofóbica, é uma forma vulgar no México de se referir a gays.
No entanto, outros dizem que a expressão seria mais usada para descrever alguém como "covarde".
O fato é que o seu uso como grito de torcida gerou sanções econômicas e advertências à Femexfut antes - e pode até afetar a seleção mexicana.

A origem

Afinal, de onde veio essa expressão?
Investigações da imprensa esportiva no México sugerem que o grito descende de outro surgido nos anos 80 em partidas de futebol americano no país.
Fãs do esporte na cidade de Monterrey gostavam de acompanhar o lance inicial daquela modaliade com um grito de "eeeeeeeh, pum!", um costume que se estendeu a outras cidades.
O salto para o futebol ocorreu no início da década de 2000 com os torcedores do Rayados, de Monterrey, que usaram a mesma frase para provocar o goleiro rival.
O goleiro alemão Neuer sofrendo o gol da vitória do México na Copa da RússiaDireito de imagemAFP
Image captionO goleiro alemão Neuer ouviu o grito dos mexicanos no primeiro jogo de ambas as as seleções na Copa da Rússia
A mudança de "pum" para "puto" ocorreu em 2003, durante o torneio pré-olímpico realizado em Guadalajara, segundo a imprensa mexicana.
Mais tarde, estendeu-se ao campeonato nacional e aos jogos da seleção mexicana - e começou a causar problemas para a Femexfut desde as eliminatórias para a Copa do Brasil em 2014.

É homofóbico?

Parte da controvérsia sobre este grito vem sobre seu significado e como ele é usado.
A Real Academia Espanhola define um dos significados de "puto" como um adjetivo vulgar usado para denegrir.
No México, é usado vulgarmente como adjetivo e substantivo para se referir a homens gays, mas também tem o sentido de covarde.
Torcedores do México no estádio em MoscouDireito de imagemREUTERS
Image captionO xingamento é entoado quando o goleiro rival chuta a bola para fora da área ou quando cobra uma falta
Parar alguns, no contexto do futebol, a expressão não é homofóbica, porque o sentido em que ela é usada não seria dirigido contra a comunidade LGBT (Lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais).
"Acho que a Fifa se equivoca ao considerar que esse grito é um insulto aos homossexuais", disse Luis Fernando Lara, editor do Dicionário de Espanhol no México, ao jornal americano The New York Times. "É um insulto, sim, mas não contra a comunidade gay. Acho lamentável que se esteja fazendo esse escândalo por causa do politicamente correto."
No entanto, para outros, não é possível dissociar o sentido pejorativo e estigmatizante da palavra usada contra os gays.
"O sentido com o qual esse grito é entoado nos estádios não é inócuo. Ele reflete a homofobia, o machismo, a misoginia que ainda imperam em nossa sociedade", observou Ricardo Bucio quando dirigia a Comissão Nacional para Prevenir a Discriminação mexicana.
"É expressão de desprezo, de rejeição, não é descrição nem expressão neutra. É uma qualificação negativa, é estigma, é subvalorização."
Torcedores do México passeiam por MoscouDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionOs torcedores mexicanos foram advertidos que poderão ser expulsos dos estádios da Copa se forem pegos entoando o canto
Javier Ruiz Galindo, diretor da Casa do México na Rússia, que oferece ajuda a torcedores mexicanos no país, disse à BBC que é algo "muito complicado, porque há muitas maneiras de isso ser percebido".
"Eu concordo, não deveria ser permitido, recebemos advertências para não fazê-lo e acho que não devemos. Temos que ser respeitosos", disse ele na segunda-feira.

Sanções e advertências

Apesar das múltiplas advertências da Fifa antes e durante a Copa do Mundo de 2014, torcedores mexicanos continuaram a entoar o grito agora na Rússia.
A Femexfut recebeu seis multas de mais de US$ 20 mil, e a Fifa alertou que seriam necessárias medidas mais fortes se essa atitude continuasse.
A federação mexicana fez campanhas na mídia, nas redes sociais e nos estádios para que o grito não fosse mais entoado, mas não adiantou. Houve até a tentativa fracassada de substituir a palavra "puto" por México.
Um bem-humorado comercial de TV no México propôs que, durante a Copa do Mundo, os torcedores gritassem "Putin" - como o nome do presidente russo Vladimir Putin - em vez de "puto". O comercial causou protestos do embaixador da Rússia no México, Eduard Malayán:
"Não somos tão estúpidos para entender que é um jogo de palavras (...) Não é costume gritar nomes ou sobrenomes de personalidades políticas em nossos estádios", reclamou o diplomata em maio passado.
A Fifa não deu detalhes sobre o procedimento disciplinar aberto contra a Femexfut.
No entanto, antes da Copa do Mundo, a federação mexicana alertou os torcedores que as autoridades russas poderiam expulsar do estádio as pessoas que fossem flagradas entoando o cântico.
Durante as eliminatórias, a organização chegou a cogitar que esse tipo de comportamento poderia até tirar pontos da seleção mexicana.
BBC
Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 18 de junho de 2018

Brasileiros chateados com o "Cai, Cai de Neymar "e os comentários da Globo

O torcedor esperava mais empenho, brilho e garra da seleção brasileira no jogo contra a Suíça.  O empate por 1 X 1 não era esperado por muitos. Os fãs do jogador Neymar  e torcedores de modo geral ficaram chateados com tanto cai, cai do jogador. Nas redes sociais virou chacota.

Outra situação que deixa a torcida brasileira irritada, são certos comentários feitos pela equipe da Rede Globo, em relação ao mimo dada a seleção e ao "astro Neymar". Percebe-se comentários tendenciosos ao se falar da Rússia, país sede da Copa 2018. 

A verdade é que a Copa já não empolga a população que vive uma situação de muita dificuldade, opressão e sem esperança na classe política que governa o país.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 17 de junho de 2018

Futebol: mercadorias na vitrine


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A Copa tem data marcada. A histeria começa a se ampliar. A mídia cuida de sacralizar algumas figuras. Tite se torna um pensador, divulgador de universidade e mentor do Itaú. O civismo ganha um corpo especial. Os tempos  mudam, não estamos na época de Garrincha. As mercadorias valorizam os artilheiros ou os artilheiros são ídolos de gerações entusiasmadas com um sucesso gigante ? Gosto de futebol. Não vejo como não torcer pela seleção. Sinto, contudo uma certa nostalgia e fico perplexo com a agilidade do capitalismo. Aqui, há muita ligação com a bola, ela distrai , faz esquecer desavenças e misérias.
As ameaças de um mundo cercado de vitrines comprometem a lucidez. Neymar mora em palácios, segue uma assessoria milionária. Possui o vírus do seu tempo. Ela não é o único. A Copa é espetáculo que inquieta multidões e transforma o calendário. O governo carimba sua fatura. Os feriados mostram que o ritual não se foi. É preciso quo mundo tenha alguns encantos, que a vida fuja da monotonia. O futebol é festa, hipnotiza muita gente. Na Europa, os estádios se enchem, a lavagem de dinheiro garante disputas, deixa a imprensa acelerada. Falam de uma modernidade esportiva , de uma globalização assustadora. A televisão se torna um altar.
Não sacudamos o peso no Brasil. Passamo por crises constantes, uma sucessão de quadrilhas bem montadas dirigem nossa economia. Há decepções quase fatais. Difícil compreender como a história se constrói com tantos conflitos e dissabores. Mas a camisa amarela provoca alegria. É um símbolo, apesar do uso fascista que alguns grupos fizeram. Há quem desista de vesti-la diante das amarguras políticas. Tudo amplia sentimentos, distorce valores, arruína tradições. Uma mistura diferente denuncia que a sociedade salva objetos e aniquila pessoas. Sem exageros, as identidades flutuam como tapetes nada mágicos.
Não jogo fora os entrelaçamentos históricos. O presente se mexe, porém o passado possui seus movimentos. Quem rejeita a história, procura fadas e bruxas. O futebol está na história. Significou angústias e celebrações. O manto da política é perverso. Em 1970, a Copa foi ganha em plena época da ditadura militar. A ambiguidade desfilou e estragou corações. Hoje, as temeridades são outras. Gilmar ataca as dúvidas jurídicas, Sérgio Cabral lamenta seus erros. Ciro parece um acadêmico em campanha. As eleições se aproximam com pesquisas e incertezas. Muita emoção para poucos lugares. As questões ousam perturbar os espetáculos. Quem perde, quem vibra, quem se descaminha? A farsa da paz é um reflexo de uma grana avassaladora. Ela nem existe nos tiros de cada dia.
Paulo Rezende
astuciadeulisses.com
Professor Edgar Bom Jardim - PE

O agente congolês na cracolândia, a boliviana no SUS, o angolano no 'rapa' e outras histórias de recomeço no Brasil

O estudante angolano Antonio Coteo, agente da prefeitura de SP
Image captionO estudante angolano Antonio Coteo trabalha como agente de apoio na fiscalização de comércio ambulante | Foto: Gui Christ
A médica boliviana Lourdes Ojeda procurava um emprego no Brasil. O angolano Antonio Coteo queria terminar a faculdade. Promessa do futebol boliviano, Jorge Lopez decidiu morar em São Paulo após encerrar sua carreira nos gramados. Já o congolês Kanga Heroult tinha só a roupa do corpo ao desembarcar, pois havia acabado de sobreviver a um fuzilamento.
De origens e histórias diferentes, esses quatro imigrantes hoje têm algo em comum: trabalham no serviço público em São Paulo. Eles estão nas áreas da saúde, atendimento aos trabalhadores, fiscalização do comércio ambulante e até no auxílio a dependentes de crack.
Segundo um relatório do Observatório das Migrações Internacionais (Obmigra), órgão ligado ao Ministério do Trabalho, o Brasil tem cerca de 130 mil imigrantes no mercado de trabalho formal. O Haiti é a nação mais representativa nesse cenário, com 25,7 mil pessoas empregadas, seguido por Portugal (8.000) e Paraguai (7.700).
No serviço público paulistano, quem contrata não é a prefeitura diretamente, pois estrangeiros são proibidos de prestar concurso no Brasil - essa situação se inverte em caso de naturalização. Os imigrantes trabalham para empresas terceirizadas ou organizações que prestam serviços para a administração municipal.
Uma delas é a Iabas (Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde), entidade social que administra unidades de saúde no centro e na zona norte da cidade. Segundo a organização, 50 dos seus 3.078 funcionários são estrangeiros, entre médicos, agentes de saúde e de administração.
O agente de saúde Jorge Lopez, imigrante boliviano em São Paulo
Image captionO agente de saúde Jorge Lopez trabalha na região do Bom Retiro, bairro de São Paulo com milhares de imigrantes | Foto: Gui Christ
Um deles é o boliviano Jorge Lopez, de 62 anos. Ele percorre diariamente as ruas do Bom Retiro para checar como anda a saúde de milhares de estrangeiros que povoam o tradicional bairro do centro da cidade.
Natural de La Paz, Lopez veio para o Brasil no final dos anos 1980, desiludido com a diverticulite que pôs um fim precoce a sua carreira de jogador de futebol. Trabalhou em oficinas de costura enquanto estudava modelagem em uma universidade particular.
A boliviana Jeanneth Orozco, em Unidade
Image captionA boliviana Jeanneth Orozco trabalha no Sistema Único de Saúde desde 2009 | Foto: Gui Christ
O trabalho no Sistema Único de Saúde (SUS) chegou em 2005 depois de várias tentativas frustradas. "Fiz três provas e cinco entrevistas para entrar", conta.
Lopez foi um dos primeiros estrangeiros na unidade de saúde que fica no coração do Bom Retiro, local conhecido por historicamente abrigar imigrantes judeus, bolivianos e coreanos. Cerca de 40% dos pacientes do posto são estrangeiros, segundo o Iabas.
O boliviano foi escolhido para facilitar a entrada de seus compatriotas no SUS, movimento às vezes complicado pelo medo. "Os bolivianos são tímidos, têm receio de sair de casa e, muitas vezes, medo de serem deportados por falta de documentos", conta.
Sua colega Jeanneth Orozco afirma que os colegas bolivianos se sentem mais à vontade quando conversam com agentes do país deles. "Os brasileiros visitavam as casas e as pessoas abriam só uma frestinha da porta", diz a agente, que chegou no Brasil em 2004 e está no SUS desde 2009. Ela já foi responsável pelo auxílio de saúde de 25 grávidas no Bom Retiro.
Para Lopez, os agentes estrangeiros acabam funcionando como uma espécie de conselheiros dos recém-chegados. "Explicamos que o SUS é gratuito, porque muita gente acha que precisa pagar. Também falamos onde dá para tirar os documentos, onde tem posto da Polícia Federal, escola, hospital", afirma.
No mesmo posto, trabalha a médica Lourdes Ojeda, boliviana de 27 anos. Sua trajetória de imigração foi um pouco diferente dos colegas de unidade: formada em uma universidade pública, Ojeda teve dificuldade em encontrar emprego em seu país. "Há muitos médicos na Bolívia e os salários são ruins. Por isso, decidi viver no Brasil", conta.
Médica Lourdes Ojeda atende paciente brasileiro pelo SUS, no Bom Retiro
Image captionA médica Lourdes Ojeda, que atende pacientes no Bom Retiro, migrou para o Brasil porque não conseguia emprego na Bolívia | Foto: Gui Christ
Para revalidar seu diploma de Medicina, ela precisou fazer duas provas - oral e escrita, em português. "Tive de vir antes para aprender e me acostumar com a língua", diz.
Segundo Marcelo Haydu, coordenador do Instituto de Reintegração do Refugiado, uma das principais dificuldades para estrangeiros conseguirem emprego no Brasil é a burocracia para a revalidação dos diplomas universitários.
"Algumas provas de proficiência em português, como a da USP, são muito complicadas. Desconfio que até brasileiros teriam dificuldade em passar", diz Haydu.
Para Leonardo Cavalcanti, professor da Universidade de Brasília e coordenador do Obmigra, imigrantes enfrentam um fenômeno conhecido como "inconsistência de status", ou seja, quando chegam ao Brasil, eles não conseguem trabalhar em suas áreas de formação.
"Normalmente, os imigrantes têm formação média ou superior, pois os pobres sem estudo nem conseguem migrar", explica. "Porém, quando chegam aqui, enfrentam as dificuldades burocráticas de revalidação dos diplomas, um processo que exige uma série de documentos. Tem muito imigrante com formação superior trabalhando de auxiliar de pedreiro."
Haydu conta um caso de um refugiado sírio que não consegue revalidar seu curso de engenheiro porque a USP exige um documento que sequer existe na Síria. "Não há normas claras reguladas pelo Ministério da Educação, cada universidade tem sua regra", diz.

'Como uma criança'

O congolês Tresor Balingi, em atendimento no CAT (Centro de Apoio ao Trabalho e Empreendedorismo)
Image captionO advogado congolês Tresor Balingi chegou ao Brasil em 2013 e conseguiu emprego de atendente na prefeitura | Foto: Gui Christ
Um desses casos é o do refugiado Tresor Balingi, congolês de 30 anos. Formado em Direito mas sem conseguir revalidar o diploma no Brasil, ele trabalha de atendente no CAT (Centro de Apoio ao Trabalho e Empreendedorismo), órgão da prefeitura de São Paulo.
O problema, no entanto, não o incomoda: ele gosta do serviço. Balingi chegou ao Brasil em 2013 sem falar sequer uma palavra de português. "Quando você chega num país diferente, começa tudo de novo, como uma criança", explica sobre seu período de adaptação.
Ele trabalha ao lado de dois compatriotas, os atendentes Hidras Tuala e Mabiala Nkombo. Segundo a prefeitura, eles foram contratados para atender refugiados e imigrantes africanos, cada vez mais numerosos na cidade. O trio faz carteiras de trabalho, habilitação de seguro desemprego e auxílio de contratações.
Os refugiados congoleses Hidras Tuala, Mabiala Nkombo e Tresor Balingi
Image captionOs refugiados congoleses Hidras Tuala, Mabiala Nkombo e Tresor Balingi auxiliam trabalhadores estrangeiros | Foto: Gui Christ
Nkombo, de 23 anos, explica que a facilidade com várias línguas foi determinante para sua contratação. "O CAT percebeu que havia muita dificuldade de comunicação com os estrangeiros. Nós falamos seis línguas fluentemente", diz ele, citando português, inglês, francês, espanhol, lingala e criolo. "Os africanos acabam naturalmente confiando mais em nós."
Seu colega Tuala, de 24 anos, não esconde a vontade de voltar ao Congo um dia. "A gente sempre pensa que amanhã vai ser melhor. Esse dia ainda não chegou", diz ele, que melhorou sua formação cursando comunicação visual em uma universidade do Brasil.

'Terminar os estudos'

Estudar no Brasil foi o que motivou a vinda do angolano Antonio Coteo, de 21 anos. "Sempre gostei do Brasil e queria muito terminar a faculdade de engenharia elétrica", conta. Ele estuda em uma faculdade particular em São Paulo com bolsa integral.
Enquanto finaliza seu curso, Coteo trabalha como assistente de fiscalização do comércio ambulante, serviço popularmente conhecido como "rapa". Vários funcionários dessa área no centro da cidade são imigrantes africanos.
Por outro lado, em ruas com forte comércio ambulantes, como a 25 de Março, a presença de africanos como camelôs é bastante alta. Quando um comerciante é irregular, seus produtos são apreendidos pelo "rapa".
Coteo diz que nunca houve conflito com colegas africanos por causa de seu trabalho. "Minha relação com meus 'irmãos' é muito boa, não trato ninguém mal. Explico o que eles precisam fazer para regularizar a situação e conseguir os documentos. Sou uma espécie de tradutor", diz.

Os refugiados

Segundo a Coordenação Nacional de Imigração, órgão do Ministério do Trabalho, o Brasil deu 311 mil autorizações para estrangeiros trabalharem no país entre 2011 e 2016. Pouco mais de 200 mil carteiras de trabalho foram emitidas nesse período.
Por outro lado, a autorização de vistos de refúgio continua um processo lento - em média, ela demora dois anos. A fila chega a 86 mil pessoas e tende a crescer por causa da massa de venezuelanos que diariamente chega ao Brasil.
Quando pousou em São Paulo, o congolês Kanga Heroult, de 38 anos, já tinha o documento que autorizava seu refúgio político no país. Era uma outra época, em 2008, quando o número de pedidos de refúgio era bem menor.
Hoje, Heroult trabalha como agente de saúde na região da cracolândia, área de consumo e venda de crack no centro da cidade. Ele auxilia dependentes químicos a entrar no serviço municipal de recuperação, o Redenção.
O agente de saúde Kanga Heroult, na praça Princesa Isabel, no centro de São Paulo
Image captionO agente de saúde Kanga Heroult fugiu da morte no Congo e hoje trabalha com dependentes químicos na região da cracolândia | Foto: Gui Christ
Ele fez três provas para entrar no serviço público. "A gente cuida e orienta (os usuários de crack), me dou bem com todos", conta ele. "Muitas pessoas que estão na rua hoje são da Nigéria, Tanzânia, Congo..."
A trajetória de Heroult até o Brasil é dramática. Em 2007, ele se filiou em um partido de oposição à ditadura que governa o Congo. Acabou preso depois de participar de algumas manifestações contra o assassinato de um líder estudantil. "Por um mês e 15 dias eu fui torturado", diz, emocionado.
Heroult conta que, naqueles dias na prisão, dez pessoas eram levadas todos os dias em uma van. Nunca mais eram vistas. Um dia, chegou a sua vez.
"Eu sabia que iria morrer. Então comecei a cantar uma música sobre Deus. Um dos soldados ouviu e reconheceu a letra. Ele se aproximou e disse que sua família era da mesma igreja que a minha", conta.
O congolês foi levado na van com outros nove prisioneiros. "O carro parou ao lado de um rio. As outras pessoas foram retiradas, mas eu fiquei. Ouvi o barulho delas sendo mortas e jogadas no rio. O motorista abriu a porta do carro e disse que nunca mais queria me ver. Eu estava livre."
Heroult escapou da morte e, dias depois, embarcou para o Brasil.
Professor Edgar Bom Jardim - PE