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terça-feira, 22 de maio de 2018

Bonjardinense é selecionada para imersão acadêmica internacional

Duas  estudantes pernambucanas foram selecionadas e vivenciarão a experiência de imersão acadêmica e residencial durante quatro semanas, nos Estados Unidos, onde conhecerão o curso de engenharia mecânica. A seleção faz parte do programa Women’s Technology Program – WTP, realizado pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), em parceria com o Programa Ganhe o Mundo (PGM). Uma delas é a nossa estudante Júlia Valentinne Souto Maior Gonçalves,  da turma 3º Nutrição B. 

A seleção aconteceu em três etapas: as vinte melhores médias brutas de física, do primeiro bimestre de 2018, foram selecionadas em ordem decrescente. A segunda fase é a aplicação de uma redação em língua inglesa para as 20 melhores médias classificadas com pontuação de 0 a 10. A terceira e última etapa consiste na soma e a média das notas das duas primeiras candidatas do ranking. E foi assim, que as duas escolhidas foram classificadas para o intercâmbio.
O Women’s Technology Program- WTP (Programa de Tecnologia para Mulheres) foi criado em 2002 por estudantes do curso de Electrical Engineering & Computer Sciences (Engenharia  Eletrônica e Ciências da Computação) do MIT com o propósito de aumentar o número de mulheres na área de exatas.
Em 2017, Júlia Valentinne fez intercâmbio de seis meses no Canadá através do Programa Ganhe o Mundo.
Fonte: www.escolatecnicalimoeiro
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 18 de maio de 2018

Alunos fazem rifa para ajudar professor que está há dois meses sem receber



O professor de artes Bruno Rafael Paiva foi surpreendido pelos alunos da escola em que dá aula na cidade de Brejo Santo, no Ceará, com um gesto que ele vai levar para a vida toda.  Você também pode apoiar Educação com Visa, sem pagar nada a mais por isso, inscreva-se aqui.
Vai fazer dois meses e meio que Bruno, que é formado em música, não recebia o primeiro salário na Escola Estadual de Educação Profissional Balbina Viana Arrais.
Ser professor, ao contrário do que muita gente pensa, não é uma vocação, mas uma profissão como todas as outras. Nem por isso os professores são remunerados adequadamente e, quando são, recebem o contracheque com meses de atraso, enquanto as contas não param de chegar.
“Esse mês quando vi que não ia receber depois de um mês e meio de trabalho, vi tudo ficar preto, afundei na depressão preocupado e perdido sem saber como ia pagar as contas e ajudar minha família que está de mudança e com muitas barreiras da vida”, escreveu Bruno no Facebook.
Sabendo da situação financeira do professor e da dificuldade para continuar na escola, uma turma de alunos resolveu ajudá-lo – afinal, quando o Estado é ausente, os professores e alunos tem apenas uns aos outros.
Bruno não é de Brejo Santo, estava dormindo em um local emprestado. Sem contar nada, os estudantes compraram uma cesta de chocolate e fizeram uma rifa. Os estudantes correram que “nem doidos pra poder vender todas na escola e arrecadar 400 reais para me ajudar”.
No dia da surpresa, os alunos fizeram uma espécie de gincana com o professor. Em duplas, eles escreverem numa folha de caderno pedidos de desculpas para Bruno, por serem bagunceiros, muitas vezes, e coisas assim. Bruno andou a sala toda para ler os pedidos e em voz alta. Você também pode ajudar a sua causa preferida por meio do programa Causas Visa. Inscreva-se já e comece a ajudar.

Até que ele leu um bilhete que estava dentro de uma caixinha sobre a sua mesa. Desta vez, não se tratava de um pedido de desculpas, mas da surpresa que os estudantes tinham planejado: os 400 reais arrecadados com a venda das rifas estavam lá. A emoção tomou conta de Bruno, que agradeceu e depois foi abraçado pela turma.
“Eu fiquei paralisado quando abri a caixa. Eu nunca me senti daquele jeito na minha vida, algo por mim. Foi muito lindo!”, disse Bruno ao Razões para Acreditar. O professor disse ainda que vai receber um dos salários atrasados no próximo mês.
O vídeo já tem mais de 330 mil visualizações10 mil curtidas e 11 mil compartilhamentos. Confira:
Leia o post na íntegra:
“Não sou de postar emoções pessoais. Mas essa foi muito forte e decidi dividir com amigos.
Hoje quando entrei na sala do 1° #Edificações, a sala que mais dou aula e a mais danada kkkk, tive uma surpresa que realmente não estava preparado.
Vai fazer dois meses e meio que dou aula e ainda não recebi nem mesmo o primeiro salário. Vida de professor não é fácil. O estado faz você trabalhar muito pra receber tudo de uma vez e você precisa segurar as pontas sozinho. Esse mês quando vi que não ia receber depois de um mês e meio de trabalho, vi tudo ficar preto, afundei na depressão preocupado e perdido sem saber como ia pagar as contas e ajudar minha família que está de mudança e com muitas das barreiras da vida. Esses alunos ficaram sabendo da minha situação financeira, minha dificuldade pra continuar na escola e por estar até dormindo em local emprestado já que não sou da cidade de Brejo santo, e sem me contar nada, correram atrás de comprar uma cesta da cacau show, fazer uma Rifa, correr que nem doidos pra poder vender todas na escola e arrecadar 400 reais para me ajudar.
Tenho muitas salas que amei de coração ser professor, mas nunca nenhuma sala demonstrou tamanho amor, ajuda e carinho por meu trabalho de professor como o 1° #Edificações fez hoje. São alunos como eles, que me fazem ainda acreditar na Educação do país, acreditar no amor ao próximo, na compaixão de se colocar no lugar do próximo, e acreditar principalmente, no respeito e amor do aluno para com o #Professor de sua escola.
MUITO OBRIGADO 1° EDIFICAÇÕES!!!
VOCÊS SÃO O FUTURO QUE EU QUERO SEMPRE ACREDITAR
 😁🙏❤❤❤❤❤
PS: Se pudesse compartilhava esse vídeo pra todo Brasil ver que existem sim muitos alunos que respeitam, amam e são gratos ao professor que tem na sua escola. Quem quiser pode compartilhar ^ ^
PS 2: Desculpem a cara de chorão parecendo uma criança de 8 anos. kkkkkkkkk”
Crédito de imagens: Reprodução Autorizada – Facebook Bruno Rafael Paiva
http://razoesparaacreditar.com
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 17 de maio de 2018

Educação: V Semana Literária de João Alfredo


Chegou a hora de transformar o município de João Alfredo na “Capital Pernambucana da Leitura”. A Secretaria de Educação, Cultura e Esportes promove no período de 21 a 25 de maio, a V Semana Literária de João Alfredo com o tema “Lendo e Aprendendo a Preservar”. Serão quase 50 eventos em vários pontos da cidade (manhã e tarde) com contação de história, teatro, jogral, dança, sarau, fantoche, palestra, oficina, café poético, musical, plantio de mudas e leitura. Lembrando que todas as atividades são gratuitas.

De acordo com a secretária de Educação, Alessandra Santos, o evento está consolidado no calendário escolar do município, garantindo a cada nova edição um importante tema como centro das atividades. “A Semana Literária acaba saindo de dentro das escolas para envolver toda a sociedade”, ressalta a secretária. Um dos pontos altos do evento será o Café Poético com Sarau, que será realizado no dia 24 de maio, às 9h, no plenário da Câmara de Vereadores de João Alfredo.




Acesse aqui PROGRAMAÇÃO: http://joaoalfredo.pe.gov.br/site/wp-content/uploads/2018/05/CRONOGRAMA-por-folh.pdf
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 2 de maio de 2018

Paulo Freire - Ensinar, aprender: leitura do mundo, leitura da palavra

Em seu texto, o educador Paulo Freire defende a formação e capacitação constante dos professores para se tornem "processos permanentes"
Por: NOVA ESCOLA
Paulo Freire, autor de Pedagogia do Oprimido   Foto: Alice Hattori
"Ninguém educa ninguém, ninguém se educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo". A frase tirada de "Pedagogia do Oprimido" é uma das mais citadas por educadores ao se referir a Paulo Freire (1927-1997). Ao apontar que o educador deveria assumir o papel de "facilitador" ou "coordenador", em vez de tratar estudantes como caixas para serem enchidas com fatos empacotados, Freire estimula que aprendamos uns com os outros. "Um diálogo não pode existir, entretanto, na ausência de um amor profundo pelo mundo e pelas pessoas... Porque o amor é um ato de coragem, não de medo, amor é compromisso com os outros".
Conhecido principalmente pelo método de alfabetização de adultos que leva seu nome, ele desenvolveu um pensamento pedagógico assumidamente político. Para Freire, o objetivo maior da educação é conscientizar o aluno. Isso significa, em relação às parcelas desfavorecidas da sociedade, levá-las a entender sua situação de oprimidas e agir em favor da própria libertação. O principal livro de Freire se intitula justamente Pedagogia do Oprimido e os conceitos nele contidos baseiam boa parte do conjunto de sua obra.
Para marcar o Dia Mundial da Educação, selecionamos um texto escrito para os professores "Ensinar, aprender: leitura do mundo, leitura da palavra".
Ensinar, aprender: leitura do mundo, leitura da palavra
"Nenhum tema mais adequado para constituir-se em objeto desta primeira carta a quem ousa ensinar do que a significação crítica desse ato, assim como a significação igualmente crítica de aprender. É que não existe ensinar sem aprender e com isto eu quero dizer mais do que diria se dissesse que o ato de ensinar exige a existência de quem ensina e de quem aprende. Quero dizer que ensinar e aprender se vão dando de tal maneira que quem ensina aprende, de um lado, porque reconhece um conhecimento antes aprendido e, de outro, porque, observado a maneira como a curiosidade do aluno aprendiz trabalha para apreender o ensinando-se, sem o que não o aprende, o ensinante se ajuda a descobrir incertezas, acertos, equívocos.
O aprendizado do ensinante ao ensinar não se dá necessariamente através da retificação que o aprendiz lhe faça de erros cometidos. O aprendizado do ensinante ao ensinar se verifica à medida em que o ensinante, humilde, aberto, se ache permanentemente disponível a repensar o pensado, rever-se em suas posições; em que procura envolver-se com a curiosidade dos alunos e dos diferentes caminhos e veredas, que ela os faz percorrer. Alguns desses caminhos e algumas dessas veredas, que a curiosidade às vezes quase virgem dos alunos percorre, estão grávidas de sugestões, de perguntas que não foram percebidas antes pelo ensinante. Mas agora, ao ensinar, não como um burocrata da mente, mas reconstruindo os caminhos de sua curiosidade — razão por que seu corpo consciente, sensível, emocionado, se abre às adivinhações dos alunos, à sua ingenuidade e à sua criatividade — o ensinante que assim atua tem, no seu ensinar, um momento rico de seu aprender. O ensinante aprende primeiro a ensinar mas aprende a ensinar ao ensinar algo que é reaprendido por estar sendo ensinado.
O fato, porém, de que ensinar ensina o ensinante a ensinar um certo conteúdo não deve significar, de modo algum, que o ensinante se aventure a ensinar sem competência para fazê-lo. Não o autoriza a ensinar o que não sabe. A responsabilidade ética, política e profissional do ensinante lhe coloca o dever de se preparar, de se capacitar, de se formar antes mesmo de iniciar sua atividade docente. Esta atividade exige que sua preparação, sua capacitação, sua formação se tornem processos permanentes. Sua experiência docente, se bem percebida e bem vivida, vai deixando claro que ela requer uma formação permanente do ensinante. Formação que se funda na análise crítica de sua prática.
Partamos da experiência de aprender, de conhecer, por parte de quem se prepara para a tarefa docente, que envolve necessariamente estudar. Obviamente, minha intenção não é escrever prescrições que devam ser rigorosamente seguidas, o que significaria uma chocante contradição com tudo o que falei até agora. Pelo contrário, o que me interessa aqui, de acordo com o espírito mesmo deste livro, é desafiar seus leitores e leitoras em torno de certos pontos ou aspectos, insistindo em que há sempre algo diferente a fazer na nossa cotidianidade educativa, quer dela participemos como aprendizes, e portanto ensinantes, ou como ensinantes e, por isso, aprendizes também.
Não gostaria, assim, sequer, de dar a impressão de estar deixando absolutamente clara a questão do estudar, do ler, do observar, do reconhecer as relações entre os objetos para conhecê-los. Estarei tentando clarear alguns dos pontos que merecem nossa atenção na compreensão crítica desses processos.
Comecemos por estudar, que envolvendo o ensinar do ensinante, envolve também de um lado, a aprendizagem anterior e concomitante de quem ensina e a aprendizagem do aprendiz que se prepara para ensinar amanhã ou refaz seu saber para melhor ensinar hoje ou, de outro lado, aprendizagem de quem, criança ainda, se acha nos começos de sua escolarização.
Enquanto preparação do sujeito para aprender, estudar é, em primeiro lugar, um que-fazer crítico, criador, recriador, não importa que eu nele me engaje através da leitura de um texto que trata ou discute um certo conteúdo que me foi proposto pela escola ou se o realizo partindo de uma reflexão crítica sobre um certo acontecimentos social ou natural e que, como necessidade da própria reflexão, me conduz à leitura de textos que minha curiosidade e minha experiência intelectual me sugerem ou que me são sugeridos por outros.
Assim, em nível de uma posição crítica, a que não dicotomiza o saber do senso comum do outro saber, mais sistemático, de maior exatidão, mas busca uma síntese dos contrários, o ato de estudar implica sempre o de ler, mesmo que neste não se esgote. De ler o mundo, de ler a palavra e assim ler a leitura do mundo anteriormente feita. Mas ler não é puro entretenimento nem tampouco um exercício de memorização mecânica de certos trechos do texto.
Se, na verdade, estou estudando e estou lendo seriamente, não posso ultra-passar uma página se não consegui com relativa clareza, ganhar sua significação. Minha saída não está em memorizar porções de períodos lendo mecanicamente duas, três, quatro vezes pedaços do texto fechando os olhos e tentando repeti-las como se sua fixação puramente maquinal me desse o conhecimento de que preciso.
Ler é uma operação inteligente, difícil, exigente, mas gratificante. Ninguém lê ou estuda autenticamente se não assume, diante do texto ou do objeto da curiosidade a forma crítica de ser ou de estar sendo sujeito da curiosidade, sujeito da leitura, sujeito do processo de conhecer em que se acha. Ler é procurar buscar criar a compreensão do lido; daí, entre outros pontos fundamentais, a importância do ensino correto da leitura e da escrita. É que ensinar a ler é engajar-se numa experiência criativa em torno da compreensão. Da compreensão e da comunicação.
E a experiência da compreensão será tão mais profunda quanto sejamos nela capazes de associar, jamais dicotomizar, os conceitos emergentes da experiência escolar aos que resultam do mundo da cotidianidade. Um exercício crítico sempre exigido pela leitura e necessariamente pela escuta é o de como nos darmos facilmente à passagem da experiência sensorial que caracteriza a cotidianidade à generalização que se opera na linguagem escolar e desta ao concreto tangível. Uma das formas de realizarmos este exercício consiste na prática que me venho referindo como "leitura da leitura anterior do mundo", entendendo-se aqui como "leitura do mundo" a "leitura" que precede a leitura da palavra e que perseguindo igualmente a compreensão do objeto se faz no domínio da cotidianidade. A leitura da palavra, fazendo-se também em busca da compreensão do texto e, portanto, dos objetos nele referidos, nos remete agora à leitura anterior do mundo. O que me parece fundamental deixar claro é que a leitura do mundo que é feita a partir da experiência sensorial não basta. Mas, por outro lado, não pode ser desprezada como inferior pela leitura feita a partir do mundo abstrato dos conceitos que vai da generalização ao tangível.
Certa vez, uma alfabetizanda nordestina discutia, em seu círculo de cultura, uma codificação (1) que representava um homem que, trabalhando o barro, criava com as mãos, um jarro. Discutia-se, através da "leitura" de uma série de codificações que, no fundo, são representações da realidade concreta, o que é cultura. O conceito de cultura já havia sido apreendido pelo grupo através do esforço da compreensão que caracteriza a leitura do mundo e/ou da palavra. Na sua experiência anterior, cuja memória ela guardava no seu corpo, sua compreensão do processo em que o homem, trabalhando o barro, criava o jarro, compreensão gestada sensorialmente, lhe dizia que fazer o jarro era uma forma de trabalho com que, concretamente, se sustentava. Assim como o jarro era apenas o objeto, produto do trabalho que, vendido, viabilizava sua vida e a de sua família.
Agora, ultrapassando a experiência sensorial, indo mais além dela, dava um passo fundamental: alcançava a capacidade de generalizar que caracteriza a "experiência escolar". Criar o jarro como o trabalho transformador sobre o barro não era apenas a forma de sobreviver, mas também de fazer cultura, de fazer arte. Foi por isso que, relendo sua leitura anterior do mundo e dos que-fazeres no mundo, aquela alfabetizanda nordestina disse segura e orgulhosa: "Faço cultura. Faço isto".
Noutra ocasião presenciei experiência semelhante do ponto de vista da inteligência do comportamento das pessoas. Já me referi a este fato em outro trabalho mas não faz mal que o retome agora. Me achava na Ilha de São Tomé, na África Ocidental, no Golfo da Guiné. Participava com educadores e educadoras nacionais, do primeiro curso de formação para alfabetizadores.
Havia sido escolhido pela equipe nacional um pequeno povoado, Porto Mont, região de pesca, para ser o centro das atividades de formação. Havia sugerido aos nacionais que a formação dos educadores e educadoras se fizesse não seguindo certos métodos tradicionais que separam prática de teoria. Nem tampouco através de nenhuma forma de trabalho essencialmente dicotomizante de teoria e prática e que ou menospreza a teoria, negando-lhe qualquer importância, enfatizando exclusivamente a prática, a única a valer, ou negando a prática fixando-se só na teoria. Pelo contrário, minha intenção era que, desde o começo do curso, vivêssemos a relação contraditória entre prática e teoria, que será objeto de análise de uma de minhas cartas.
Recusava, por isso mesmo, uma forma de trabalho em que fossem reservados os primeiros momentos do curso para exposições ditas teóricas sobre matéria fundamental de formação dos futuros educadores e educadoras. Momento para discursos de algumas pessoas, as consideradas mais capazes para falar aos outros.
Minha convicção era outra. Pensava numa forma de trabalho em que, numa única manhã, se falasse de alguns conceitos-chave — codificação, decodificação, por exemplo — como se estivéssemos num tempo de apresentações, sem, contudo, nem de longe imaginar que as apresentações de certos conceitos fossem já suficientes para o domínio da compreensão em torno deles. A discussão crítica sobre a prática em que se engajariam é o que o faria.
Assim, a idéia básica, aceita e posta em prática, é que os jovens que se preparariam para a tarefa de educadoras e educadores populares deveriam coordenar a discussão em torno de codificações num círculo de cultura com 25 participantes. Os participantes do círculo de cultura estavam cientes de que se tratava de um trabalho de afirmação de educadores. Discutiu-se com eles antes sua tarefa política de nos ajudar no esforço de formação, sabendo que iam trabalhar com jovens em pleno processo de sua formação. Sabiam que eles, assim como os jovens a serem formados, jamais tinham feito o que iam fazer. A única diferença que os marcava é que os participantes liam apenas o mundo enquanto os jovens a serem formados para a tarefa de educadores liam já a palavra também. Jamais, contudo, haviam discutido uma codificação assim como jamais haviam tido a mais mínima experiência alfabetizando alguém.
Em cada tarde do curso com duas horas de trabalho com os 25 participantes, quatro candidatos assumiam a direção dos debates. Os responsáveis pelo curso assistiam em silêncio, sem interferir, fazendo suas notas. No dia seguinte, no seminário de avaliação de formação, de quatro horas, se discutiam os equívocos, os erros e os acertos dos candidatos, na presença do grupo inteiro, desocultando-se com eles a teoria que se achava na sua prática.
Dificilmente se repetiam os erros e os equívocos que haviam sido cometidos e analisados. A teoria emergia molhada da prática vivida.
Foi exatamente numa das tardes de formação que, durante a discussão de uma codificação que retratava Porto Mont, com suas casinhas alinhadas à margem da praia, em frente ao mar, com um pescador que deixava seu barco com um peixe na mão, que dois dos participantes, como se houvessem combinado, se levantaram, andaram até a janela da escola em que estávamos e olhando Porto Mont lá longe, disseram, de frente novamente para a codificação que representava o povoado: "É. Porto Mont é assim e não sabíamos".
Até então, sua "leitura" do lugarejo, de seu mundo particular, uma "leitura" feita demasiadamente próxima do "texto", que era o contexto do povoado, não lhes havia permitido ver Porto Mont como ele era. Havia uma certa "opacidade" que cobria e encobria Porto Mont. A experiência que estavam fazendo de "tomar distância" do objeto, no caso, da codificação de Porto Mont, lhes possibilitava uma nova leitura mais fiel ao "texto", quer dizer, ao contexto de Porto Mont. A "tomada de distância" que a "leitura" da codificação lhes possibilitou os aproximou mais de Porto Mont como "texto" sendo lido. Esta nova leitura refez a leitura anterior, daí que hajam dito: "É. Porto Mont é assim e não sabíamos". Imersos na realidade de seu pequeno mundo, não eram capazes de vê-la. "Tomando distância" dela, emergiram e, assim, a viram como até então jamais a tinham visto.
Estudar é desocultar, é ganhar a compreensão mais exata do objeto, é perceber suas relações com outros objetos. Implica que o estudioso, sujeito do estudo, se arrisque, se aventure, sem o que não cria nem recria.
Por isso também é que ensinar não pode ser um puro processo, como tanto tenho dito, de transferência de conhecimento do ensinante ao aprendiz. Transferência mecânica de que resulte a memorização maquinal que já critiquei. Ao estudo crítico corresponde um ensino igualmente crítico que demanda necessariamente uma forma crítica de compreender e de realizar a leitura da palavra e a leitura do mundo, leitura do contexto.
A forma crítica de compreender e de realizar a leitura da palavra e a leitura do mundo está, de um lado, na não negação da linguagem simples, "desarmada", ingênua, na sua não desvalorização por constituir-se de conceitos criados na cotidianidade, no mundo da experiência sensorial; de outro, na recusa ao que se chama de "linguagem difícil", impossível, porque desenvolvendo-se em torno de conceitos abstratos. Pelo contrário, a forma crítica de compreender e de realizar a leitura do texto e a do contexto não exclui nenhuma da duas formas de linguagem ou de sintaxe. Reconhece, todavia, que o escritor que usa a linguagem científica, acadêmica, ao dever procurar tornar-se acessível, menos fechado, mais claro, menos difícil, mais simples, não pode ser simplista.
Ninguém que lê, que estuda, tem o direito de abandonar a leitura de um texto como difícil porque não entendeu o que significa, por exemplo, a palavra epistemologia.
Assim como um pedreiro não pode prescindir de um conjunto de instrumentos de trabalho, sem os quais não levanta as paredes da casa que está sendo construída, assim também o leitor estudioso precisa de instrumentos fundamentais, sem os quais não pode ler ou escrever com eficácia. Dicionários (2), entre eles o etimológico, o de regimes de verbos, o de regimes de substantivos e adjetivos, o filosófico, o de sinônimos e de antônimos, enciclopédias. A leitura comparativa de texto, de outro autor que trate o mesmo tema cuja linguagem seja menos complexa.
Usar esses instrumentos de trabalho não é, como às vezes se pensa, uma perda de tempo. O tempo que eu uso quando leio ou escrevo ou escrevo e leio, na consulta de dicionários e enciclopédias, na leitura de capítulos, ou trechos de livros que podem me ajudar na análise mais crítica de um tema — é tempo fundamental de meu trabalho, de meu ofício gostoso de ler ou de escrever.
Enquanto leitores, não temos o direito de esperar, muito menos de exigir, que os escritores façam sua tarefa, a de escrever, e quase a nossa, a de compreender o escrito, explicando a cada passo, no texto ou numa nota ao pé da página, o que quiseram dizer com isto ou aquilo. Seu dever, como escritores, é escrever simples, escrever leve, é facilitar e não dificultar a compreensão do leitor, mas não dar a ele as coisas feitas e prontas.
A compreensão do que se está lendo, estudando, não estala assim, de repente, como se fosse um milagre. A compreensão é trabalhada, é forjada, por quem lê, por quem estuda que, sendo sujeito dela, se deve instrumentar para melhor fazê-la. Por isso mesmo, ler, estudar, é um trabalho paciente, desafiador, persistente.
Não é tarefa para gente demasiado apressada ou pouco humilde que, em lugar de assumir suas deficiências, as transfere para o autor ou autora do livro, considerado como impossível de ser estudado.
É preciso deixar claro, também, que há uma relação necessária entre o nível do conteúdo do livro e o nível da atual formação do leitor. Estes níveis envolvem a experiência intelectual do autor e do leitor. A compreensão do que se lê tem que ver com essa relação. Quando a distância entre aqueles níveis é demasiado grande, quanto um não tem nada que ver com o outro, todo esforço em busca da compreensão é inútil. Não está havendo, neste caso, uma consonância entre o indispensável tratamento dos temas pelo autor do livro e a capacidade de apreensão por parte do leitor da linguagem necessária àquele tratamento. Por isso mesmo é que estudar é uma preparação para conhecer, é um exercício paciente e impaciente de quem, não pretendendo tudo de uma vez, luta para fazer a vez de conhecer.
A questão do uso necessário de instrumentos indispensáveis à nossa leitura e ao nosso trabalho de escrever levanta o problema do poder aquisitivo do estudante e das professoras e professores em face dos custos elevados para obter dicionários básicos da língua, dicionários filosóficos etc. Poder consultar todo esse material é um direito que têm alunos e professores a que corresponde o dever das escolas de fazer-lhes possível a consulta, equipando ou criando suas bibliotecas, com horários realistas de estudo. Reivindicar esse material é um direito e um dever de professores e estudantes.
Gostaria de voltar a algo a que fiz referência anteriormente: a relação entre ler e escrever, entendidos como processos que não se podem separar. Como processos que se devem organizar de tal modo que ler e escrever sejam percebidos como necessários para algo, como sendo alguma coisa de que a criança, como salientou Vygotsky (3), necessita e nós também.
Em primeiro lugar, a oralidade precede a grafia mas a traz em si desde o primeiro momento em que os seres humanos se tornaram socialmente capazes de ir exprimindo-se através de símbolos que diziam algo de seus sonhos, de seus medos, de sua experiência social, de suas esperanças, de suas práticas.
Quando aprendemos a ler, o fazemos sobre a escrita de alguém que antes aprendeu a ler e a escrever. Ao aprender a ler, nos preparamos para imediatamente escrever a fala que socialmente construímos.
Nas culturas letradas, sem ler e sem escrever, não se pode estudar, buscar conhecer, apreender a substantividade do objeto, reconhecer criticamente a razão de ser do objeto.
Um dos equívocos que cometemos está em dicotomizar ler de escrever, desde o começo da experiência em que as crianças ensaiam seus primeiros passos na prática da leitura e da escrita, tomando esses processos como algo desligado do processo geral de conhecer. Essa dicotomia entre ler e escrever nos acompanha sempre, como estudantes e professores. "Tenho uma dificuldade enorme de fazer minha dissertação. Não sei escrever", é a afirmação comum que se ouve nos cursos de pós-graduação de que tenho participado. No fundo, isso lamentavelmente revela o quanto nos achamos longe de uma compreensão crítica do que é estudar e do que é ensinar.
É preciso que nosso corpo, que socialmente vai se tornando atuante, consciente, falante, leitor e "escritor" se aproprie criticamente de sua forma de vir sendo que faz parte de sua natureza, histórica e socialmente constituindo-se. Quer dizer, é necessário que não apenas nos demos conta de como estamos sendo mas nos assumamos plenamente com estes "seres programados, mas para aprender", de que nos fala François Jacob (4). É necessário, então, que aprendamos a aprender, vale dizer, que entre outras coisas, demos à linguagem oral e escrita, a seu uso, a importância que lhe vem sendo cientificamente reconhecida.
Aos que estudamos, aos que ensinamos e, por isso, estudamos também, se nos impõe, ao lado da necessária leitura de textos, a redação de notas, de fichas de leitura, a redação de pequenos textos sobre as leituras que fazemos. A leitura de bons escritores, de bons romancistas, de bons poetas, dos cientistas, dos filósofos que não temem trabalhar sua linguagem a procura da boniteza, da simplicidade e da clareza (5).
Se nossas escolas, desde a mais tenra idade de seus alunos se entregassem ao trabalho de estimular neles o gosto da leitura e o da escrita, gosto que continuasse a ser estimulado durante todo o tempo de sua escolaridade, haveria possivelmente um número bastante menor de pós-graduandos falando de sua insegurança ou de sua incapacidade de escrever.
Se estudar, para nós, não fosse quase sempre um fardo, se ler não fosse uma obrigação amarga a cumprir, se, pelo contrário, estudar e ler fossem fontes de alegria e de prazer, de que resulta também o indispensável conhecimento com que nos movemos melhor no mundo, teríamos índices melhor reveladores da qualidade de nossa educação.
Este é um esforço que deve começar na pré-escola, intensificar-se no período da alfabetização e continuar sem jamais parar.
A leitura de Piaget, de Vygotsky, de Emilia Ferreiro, de Madalena F. Weffort, entre outros, assim como a leitura de especialistas que tratam não propriamente da alfabetização mas do processo de leitura como Marisa Lajolo e Ezequiel T. da Silva é de indiscutível importância.
Pensando na relação de intimidade entre pensar, ler e escrever e na necessidade que temos de viver intensamente essa relação, sugeriria a quem pretenda rigorosamente experimentá-la que, pelo menos, três vezes por semana, se entregasse à tarefa de escrever algo. Uma nota sobre uma leitura, um comentário em torno de um acontecimento de que tomou conhecimento pela imprensa, pela televisão, não importa. Uma carta para destinatário inexistente. É interessante datar os pequenos textos e guardá-los e dois ou três meses depois submetê-los a uma avaliação crítica.
Ninguém escreve se não escrever, assim como ninguém nada se não nadar.
Ao deixar claro que o uso da linguagem escrita, portanto o da leitura, está em relação com o desenvolvimento das condições materiais da sociedade, estou sublimando que minha posição não é idealista.
Recusando qualquer interpretação mecanicista da História, recuso igualmente a idealista. A primeira reduz a consciência à pura cópia das estruturas materiais da sociedade; a segunda submete tudo ao todo poderosismo da consciência. Minha posição é outra. Entendo que estas relações entre consciência e mundo são dialéticas (6).
O que não é correto, porém, é esperar que as transformações materiais se processem para que depois comecemos a encarar corretamente o problema da leitura e da escrita.
A leitura crítica dos textos e do mundo tem que ver com a sua mudança em processo."
Esta carta foi retirada do livro Professora sim, tia não. Cartas a quem ousa ensinar (EditoraOlho D’Água, 10ª ed., p. 27-38) no qual Paulo Freire dialoga sobre questões da construção de uma escola democrática e popular. O livro foi escrito em 1993, pouco tempo depois de sua experiência à frente da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Escola:"A Constituição Federal deve nortear a nossa vida"

Como um projeto criado pelo advogado Felipe Neves e premiado pelo Ministério da Justiça e pela Fundação Obama está tentando transformar a realidade dos jovens a partir da Carta Magna
Por: Felipe Neves
O advogado Felipe Neves, criador do projeto Constituição na Escola. Foto: Divulgação
Em 2018, a nossa Constituição Federal comemora 30 anos de existência, mas qual o papel dela na vida do jovem brasileiro?
Eu conheci a Constituição Federal em 2009, quando entrei na Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica (PUC), em São Paulo. Com 21 anos, nosso relacionamento ainda era tímido nessa época: tinha que estudar alguns artigos, ler conceitos, mas nada que chegasse a mudar a minha vida.
Até que em 2014, já trabalhando em um grande escritório de advocacia, fiquei sabendo de uma escola pública que não tinha professores suficientes para manter os alunos nas salas de aula. Os pais tinham medo que, por causa disso, seus filhos ficassem nas ruas e se envolvessem com drogas e com a criminalidade.
(A Constituição Federal, em seu artigo Art. 205, diz que a educação é um direito de todos e dever do Estado. Como pude ver ao longo dessa jornada, não foi a primeira e nem será a última vez em que algo está previsto na Constituição, mas não acontece na prática.)
Diante desse cenário da falta de professores, eu tinha duas opções: (i) escrever algo nas redes sociais, afinal é muito comum as pessoas acharem que apenas falar sobre um problema social ajuda a resolvê-lo; (ii) tomar a iniciativa e fazer algo a respeito. Decidi escolher a segunda opção.

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Entrei em contato com a escola pública em questão e me ofereci para dar aula como voluntário, no horário em que precisassem. A direção da escola aceitou e lá fui eu. Decidi explicar como funcionavam as leis do nosso país, com enfoque na Constituição Federal, que serve como base para todas as outras leis e que quase sempre é foco de discussão nos jornais e na televisão. A ideia era explicar em linhas gerais como funcionavam o nosso governo e as leis do Brasil.
O desconhecimento e o interesse dos alunos nessa primeira aula fizeram com que eu decidisse criar um projeto social. O Projeto Constituição na Escola iria de escola em escola, passando noções básicas sobre a nossa Constituição, política e civilidade, sem qualquer influência ideológica ou de partido político.
Ao conhecer as leis, eu acredito que o jovem assume um papel crítico na sociedade: ele passa a defender seus direitos, entender o que está acontecendo e começa a fiscalizar e cobrar ações dos nossos políticos.

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Felipe Neves faz selfie com alunos atendidos pelo Projeto Constituição na Escola, que ensina leis e discute cidadania com alunos de escola pública   Foto: Acervo pessoal
De acordo com a pesquisa que fizemos em 2017, consultando mais de 2.000 alunos da rede pública, esse é o atual cenário do conhecimento dos estudantes do Ensino Médio sobre a nossa Constituição Federal:
- Apenas 4% conhecem mais de dez artigos da Constituição Federal;- 83% não sabem quantos artigos tem a Constituição Federal;- 91% não sabem o que são Cláusulas Pétreas;- mais de 70% não sabem o que é uma PEC.
Hoje em dia, mais de que nunca, os direitos e garantias individuais estão em evidência no cenário nacional.
O princípio da presunção da inocência, previsto no Art. 5º, LVII da nossa Constituição Federal, é uma das grandes discussões jurídicas e aparece em todos os noticiários quando falamos da prisão de condenados em 2ª instância, como no caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O direito à manifestação, também previsto na Constituição e tão comentado nos últimos anos – das passeatas contra e a favor do governo federal, manifestos em apoio à Lava Jato, os protestos de sindicatos, professores e movimentos sociais –, representou um marco na história do nosso país.
Finalmente, quando falamos de ensino público, não podemos esquecer das inúmeras ocupações que aconteceram em São Paulo, em que escolas foram ocupadas por alunos e membros da comunidade como forma de protesto à PEC do Teto dos Gastos. Não entramos no mérito da causa defendida, mas se os alunos estão se manifestando contra uma PEC, não seria necessário, ao menos, saber o que significa a sigla “PEC”? 

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Voluntários do Projeto Constituição na Escola fazem selfie com alunos do Ensino Médio  Foto: Acervo pessoal
Por mais que o tema seja interessante, o início do nosso projeto não foi fácil. A maioria das escolas públicas para as quais eu ligava não me conhecia e era difícil achar horários vagos para que eu pudesse dar minhas aulas. Mas algumas disseram sim e eu decidi tentar, mesmo que fosse só com poucas escolas. Segui dando aula em 6 escolas por 2 anos, até que em 2016 eu inscrevi o projeto para a premiação “Young Leader of America”, promovida pelo governo dos Estados Unidos.
Depois de um processo seletivo extenso e inúmeras entrevistas sobre o impacto que poderia gerar nas escolas públicas, fui um dos 250 jovens da América Latina e do Caribe selecionados para viajar aos EUA e receber a premiação. Fiz um estágio de quatro semanas na casa que pertenceu a James Madison Jr., quarto presidente norte-americano e redator da Constituição em 1788. Hoje, a residência funciona como um centro para capacitar professores em ensino de Direito Constitucional, a fim de que eles possam dar aulas sobre a Constituição. Depois fui a Washington para receber o prêmio das autoridades do Departamento de Estado dos EUA e voltei ao Brasil.
Nessa experiência conheci um pensamento deixado por James Madison Jr. que eu nunca mais esqueci: “Knowledge will forever govern ignorance; and a people who mean to be their own governors must arm themselves with the power which knowledge give”. Em uma tradução livre: “O conhecimento sempre prevalecerá sobre a ignorância; e um povo que quer ser seu próprio governante, precisa se armar com o poder do conhecimento”.
Essa frase foi escrita há mais de 200 anos, mas se encaixa perfeitamente no cenário político e social que temos hoje. Precisamos formar cidadãos conscientes e atentos para que novos casos de corrupção nunca mais aconteçam no país. Nós temos de acompanhar e fiscalizar nossos políticos tendo em mente que eles trabalham para nós. 

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Felipe Neves foi um dos jovens líderes a se encontrar com o ex-presidente norte-americano Barack Obama em sua visita ao Brasil   Foto: Fundação Obama
De volta o Brasil, começamos a recrutar novos voluntários para aumentar nosso alcance para mais escolas. Além disso, criamos a 1ª Olimpíada Constitucional do Brasil, uma competição entre jovens da rede pública, com perguntas e respostas sobre a Constituição Federal, Política e Civilidade, premiando os participantes com laptops e bolsas de estudo para cursos pré-vestibular. Alinhamos o ensino da Constituição Federal com oportunidades de estudo aos alunos, fazendo-os entender que a educação pode, sim, ser uma ferramenta para mudar a realidade em que vivem.
Em nossas aulas utilizamos uma metodologia própria desenvolvida juntamente com professores da PUC-SP e consolidada após quatro anos de experiências dentro de sala de aula. Ela estimula o ensino e a participação dos alunos, o que aumenta a atenção e a absorção do conteúdo ensinado em classe.
Os reconhecimentos que tivemos são resultado da necessidade do ensino da Constituição Federal nas escolas públicas, alinhada a uma metodologia que tem como único objetivo passar a informação correta e imparcial aos alunos para que eles possam entender seu papel na sociedade e se tornarem cidadãos conscientes que vão contribuir com o desenvolvimento do Brasil. Um dos nossos focos está em ensinar a importância do exercício do voto. Na época da Ditadura Militar, os jovens lutavam pelo direito de voto. Atualmente, o direito de voto ao jovem entre 16 e 18 anos previsto na Constituição Federal não é exercido: somente cerca de 10% dos alunos das escolas públicas que visitamos têm título de eleitor e votam nas eleições.
Em 2017, o projeto ganhou nova dimensão quando fui eleito um dos 11 jovens líderes brasileiros pela Fundação Obama. Participei de uma reunião com o próprio ex-presidente Barack Obama para explicar o nosso projeto e nossos objetivos. Esse reconhecimento nos mostrou que estávamos no caminho certo e serviu de motivação para ampliar o Projeto Constituição na Escola.
Hoje contamos com mais de 70 advogados voluntários e promovemos aulas presenciais para mais de 25.000 alunos em mais de 100 escolas públicas em três estados brasileiros – e crescemos a cada semestre.
No entanto, acredito que a maior conquista foi ter encontrado as pessoas certas para me ajudar nessa jornada. São jovens advogados que, assim como eu, cansaram de reclamar e decidiram fazer alguma coisa para mudar a realidade política do Brasil. Jovens que acordam cedo, cruzam a cidade para dar aula em diversas regiões, que dedicam seu tempo livre e, muitas vezes, chegam atrasados em seu trabalho simplesmente para tentar melhorar a educação do Brasil. E por que fazemos isso?
Porque se não nós, quem?
Se não agora, quando?
Foto: Acervo pessoal
Foto: Acervo pessoal
Foto: Acervo pessoal
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Professor Edgar Bom Jardim - PE