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quarta-feira, 2 de maio de 2018

Escola:"A Constituição Federal deve nortear a nossa vida"

Como um projeto criado pelo advogado Felipe Neves e premiado pelo Ministério da Justiça e pela Fundação Obama está tentando transformar a realidade dos jovens a partir da Carta Magna
Por: Felipe Neves
O advogado Felipe Neves, criador do projeto Constituição na Escola. Foto: Divulgação
Em 2018, a nossa Constituição Federal comemora 30 anos de existência, mas qual o papel dela na vida do jovem brasileiro?
Eu conheci a Constituição Federal em 2009, quando entrei na Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica (PUC), em São Paulo. Com 21 anos, nosso relacionamento ainda era tímido nessa época: tinha que estudar alguns artigos, ler conceitos, mas nada que chegasse a mudar a minha vida.
Até que em 2014, já trabalhando em um grande escritório de advocacia, fiquei sabendo de uma escola pública que não tinha professores suficientes para manter os alunos nas salas de aula. Os pais tinham medo que, por causa disso, seus filhos ficassem nas ruas e se envolvessem com drogas e com a criminalidade.
(A Constituição Federal, em seu artigo Art. 205, diz que a educação é um direito de todos e dever do Estado. Como pude ver ao longo dessa jornada, não foi a primeira e nem será a última vez em que algo está previsto na Constituição, mas não acontece na prática.)
Diante desse cenário da falta de professores, eu tinha duas opções: (i) escrever algo nas redes sociais, afinal é muito comum as pessoas acharem que apenas falar sobre um problema social ajuda a resolvê-lo; (ii) tomar a iniciativa e fazer algo a respeito. Decidi escolher a segunda opção.

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Entrei em contato com a escola pública em questão e me ofereci para dar aula como voluntário, no horário em que precisassem. A direção da escola aceitou e lá fui eu. Decidi explicar como funcionavam as leis do nosso país, com enfoque na Constituição Federal, que serve como base para todas as outras leis e que quase sempre é foco de discussão nos jornais e na televisão. A ideia era explicar em linhas gerais como funcionavam o nosso governo e as leis do Brasil.
O desconhecimento e o interesse dos alunos nessa primeira aula fizeram com que eu decidisse criar um projeto social. O Projeto Constituição na Escola iria de escola em escola, passando noções básicas sobre a nossa Constituição, política e civilidade, sem qualquer influência ideológica ou de partido político.
Ao conhecer as leis, eu acredito que o jovem assume um papel crítico na sociedade: ele passa a defender seus direitos, entender o que está acontecendo e começa a fiscalizar e cobrar ações dos nossos políticos.

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Felipe Neves faz selfie com alunos atendidos pelo Projeto Constituição na Escola, que ensina leis e discute cidadania com alunos de escola pública   Foto: Acervo pessoal
De acordo com a pesquisa que fizemos em 2017, consultando mais de 2.000 alunos da rede pública, esse é o atual cenário do conhecimento dos estudantes do Ensino Médio sobre a nossa Constituição Federal:
- Apenas 4% conhecem mais de dez artigos da Constituição Federal;- 83% não sabem quantos artigos tem a Constituição Federal;- 91% não sabem o que são Cláusulas Pétreas;- mais de 70% não sabem o que é uma PEC.
Hoje em dia, mais de que nunca, os direitos e garantias individuais estão em evidência no cenário nacional.
O princípio da presunção da inocência, previsto no Art. 5º, LVII da nossa Constituição Federal, é uma das grandes discussões jurídicas e aparece em todos os noticiários quando falamos da prisão de condenados em 2ª instância, como no caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O direito à manifestação, também previsto na Constituição e tão comentado nos últimos anos – das passeatas contra e a favor do governo federal, manifestos em apoio à Lava Jato, os protestos de sindicatos, professores e movimentos sociais –, representou um marco na história do nosso país.
Finalmente, quando falamos de ensino público, não podemos esquecer das inúmeras ocupações que aconteceram em São Paulo, em que escolas foram ocupadas por alunos e membros da comunidade como forma de protesto à PEC do Teto dos Gastos. Não entramos no mérito da causa defendida, mas se os alunos estão se manifestando contra uma PEC, não seria necessário, ao menos, saber o que significa a sigla “PEC”? 

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Voluntários do Projeto Constituição na Escola fazem selfie com alunos do Ensino Médio  Foto: Acervo pessoal
Por mais que o tema seja interessante, o início do nosso projeto não foi fácil. A maioria das escolas públicas para as quais eu ligava não me conhecia e era difícil achar horários vagos para que eu pudesse dar minhas aulas. Mas algumas disseram sim e eu decidi tentar, mesmo que fosse só com poucas escolas. Segui dando aula em 6 escolas por 2 anos, até que em 2016 eu inscrevi o projeto para a premiação “Young Leader of America”, promovida pelo governo dos Estados Unidos.
Depois de um processo seletivo extenso e inúmeras entrevistas sobre o impacto que poderia gerar nas escolas públicas, fui um dos 250 jovens da América Latina e do Caribe selecionados para viajar aos EUA e receber a premiação. Fiz um estágio de quatro semanas na casa que pertenceu a James Madison Jr., quarto presidente norte-americano e redator da Constituição em 1788. Hoje, a residência funciona como um centro para capacitar professores em ensino de Direito Constitucional, a fim de que eles possam dar aulas sobre a Constituição. Depois fui a Washington para receber o prêmio das autoridades do Departamento de Estado dos EUA e voltei ao Brasil.
Nessa experiência conheci um pensamento deixado por James Madison Jr. que eu nunca mais esqueci: “Knowledge will forever govern ignorance; and a people who mean to be their own governors must arm themselves with the power which knowledge give”. Em uma tradução livre: “O conhecimento sempre prevalecerá sobre a ignorância; e um povo que quer ser seu próprio governante, precisa se armar com o poder do conhecimento”.
Essa frase foi escrita há mais de 200 anos, mas se encaixa perfeitamente no cenário político e social que temos hoje. Precisamos formar cidadãos conscientes e atentos para que novos casos de corrupção nunca mais aconteçam no país. Nós temos de acompanhar e fiscalizar nossos políticos tendo em mente que eles trabalham para nós. 

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Felipe Neves foi um dos jovens líderes a se encontrar com o ex-presidente norte-americano Barack Obama em sua visita ao Brasil   Foto: Fundação Obama
De volta o Brasil, começamos a recrutar novos voluntários para aumentar nosso alcance para mais escolas. Além disso, criamos a 1ª Olimpíada Constitucional do Brasil, uma competição entre jovens da rede pública, com perguntas e respostas sobre a Constituição Federal, Política e Civilidade, premiando os participantes com laptops e bolsas de estudo para cursos pré-vestibular. Alinhamos o ensino da Constituição Federal com oportunidades de estudo aos alunos, fazendo-os entender que a educação pode, sim, ser uma ferramenta para mudar a realidade em que vivem.
Em nossas aulas utilizamos uma metodologia própria desenvolvida juntamente com professores da PUC-SP e consolidada após quatro anos de experiências dentro de sala de aula. Ela estimula o ensino e a participação dos alunos, o que aumenta a atenção e a absorção do conteúdo ensinado em classe.
Os reconhecimentos que tivemos são resultado da necessidade do ensino da Constituição Federal nas escolas públicas, alinhada a uma metodologia que tem como único objetivo passar a informação correta e imparcial aos alunos para que eles possam entender seu papel na sociedade e se tornarem cidadãos conscientes que vão contribuir com o desenvolvimento do Brasil. Um dos nossos focos está em ensinar a importância do exercício do voto. Na época da Ditadura Militar, os jovens lutavam pelo direito de voto. Atualmente, o direito de voto ao jovem entre 16 e 18 anos previsto na Constituição Federal não é exercido: somente cerca de 10% dos alunos das escolas públicas que visitamos têm título de eleitor e votam nas eleições.
Em 2017, o projeto ganhou nova dimensão quando fui eleito um dos 11 jovens líderes brasileiros pela Fundação Obama. Participei de uma reunião com o próprio ex-presidente Barack Obama para explicar o nosso projeto e nossos objetivos. Esse reconhecimento nos mostrou que estávamos no caminho certo e serviu de motivação para ampliar o Projeto Constituição na Escola.
Hoje contamos com mais de 70 advogados voluntários e promovemos aulas presenciais para mais de 25.000 alunos em mais de 100 escolas públicas em três estados brasileiros – e crescemos a cada semestre.
No entanto, acredito que a maior conquista foi ter encontrado as pessoas certas para me ajudar nessa jornada. São jovens advogados que, assim como eu, cansaram de reclamar e decidiram fazer alguma coisa para mudar a realidade política do Brasil. Jovens que acordam cedo, cruzam a cidade para dar aula em diversas regiões, que dedicam seu tempo livre e, muitas vezes, chegam atrasados em seu trabalho simplesmente para tentar melhorar a educação do Brasil. E por que fazemos isso?
Porque se não nós, quem?
Se não agora, quando?
Foto: Acervo pessoal
Foto: Acervo pessoal
Foto: Acervo pessoal
novaescola.org.br
Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Educação alimentar na hora do recreio


Ilustração: Tato Araújo
SAUDÁVEIS E SABOROSOS Não é preciso impor sacrifícios para oferecer um cardápio nutritivo e atraente. 
A chave é apresentar diferentes grupos alimentares. Ilustrações: Tato Araújo
Pães e torradas Oferecem energia para o organismo por serem ricos em carboidratos, que dão a sensação de saciedade. É importante prestar atenção na quantidade de açúcar refinado entre os ingredientes.

Frutas São fonte de vitaminas, potássio, fibras e bioflavonoides (pigmentos com propriedades antioxidantes). Maçã, manga, banana, mamão, uva e morango devem estar sempre presentes na hora do lanche.

Cereais Ricos em fibras, os cereais matinais e as tradicionais barrinhas ajudam a manter baixo o nível de colesterol ruim, melhoram o trânsito intestinal e garantem a sensação de saciedade por um longo tempo.

Sucos, água e água de coco Hidratar-se é fundamental. A água deve ser bebida quase gelada para facilitar a absorção. Os sucos são ricos em minerais e eletrólitos, que prolongam a hidratação. E a água de coco, fonte de potássio, é reidratante.

Leite e derivados Contam com altas doses de cálcio, fundamental para os ossos. O iogurte natural traz ainda mais proteínas. O queijo branco tem mais cálcio que o leite. E nos queijos amarelos sobram as vitaminas A e D.
Todo mundo sabe da importância de comer bem: traz benefícios para a saúde, ajuda a nos manter ativos para realizar as tarefas do dia a dia e melhora até o humor. Uma alimentação saudável é aquela que reúne todas as substâncias químicas de que o corpo precisa para funcionar corretamente. Requer muita diversidade de ingredientes em todas as refeições, com equilíbrio entre carboidratos, proteínas, gorduras, vitaminas e minerais. Na escola, um espaço ocupado por crianças e jovens, isso se torna ainda mais relevante. Porém todo mundo sabe que a oferta de alimentos saudáveis nas cantinas e lanchonetes que funcionam dentro das escolas costuma ficar bem abaixo do desejável. Por questões de praticidade, custo e armazenamento, é mais fácil encontrar produtos industrializados, que têm prazo de validade maior - mas causam mais danos à saúde que os alimentos in natura.

O domínio dos salgadinhos, doces e chocolates, porém, já é questão de saúde pública. Há dois anos, a Sociedade Brasileira de Pediatria publicou uma compilação de diversos estudos sobre o tema, que mostra que o aumento do número de crianças com excesso de peso varia de 10,8% a incríveis 33,8% conforme a cidade ou região. Diversos outros problemas, como diabetes, hipertensão arterial, alterações ortopédicas e elevação dos níveis de colesterol e triglicerídeos, têm se tornado frequentes entre a garotada.

"O fato é que na escola se formam as bases do comportamento no que diz respeito à alimentação", diz a nutricionista Nina Flávia de Almeida Amorim, responsável técnica pelo projeto A Escola Promovendo Hábitos Alimentares Saudáveis, do Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutrição da Universidade de Brasília (UnB). Ela ressalta que, em média, as crianças consomem de 25 a 33% das calorias diárias no ambiente escolar, entre merenda e lanche, desde a hora em que chegam para a aula até o momento em que voltam para casa.

A preocupação com esse tema fez com que muitos estados e cidades aprovassem leis sobre o que pode (e não pode) ser oferecido nas cantinas escolares. Em abril, a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados aprovou um projeto que obriga creches, pré-escolas e instituições de Ensino Fundamental, públicas e privadas, a comercializar apenas alimentos saudáveis. A proposta tramita agora no Senado e, por mais que o texto original da lei não cite explicitamente quais são os heróis e os vilões na hora do lanche, está claro que salgadinhos, refrigerantes, biscoitos, balas e chicletes, bem como outros produtos industrializados ricos em gordura, açúcar e sal, entrarão na lista dos proibidos, a ser definida pelas autoridades sanitárias (confira nas ilustrações que acompanham esta reportagem os benefícios de cada grupo alimentar - e também os riscos que os produtos industrializados oferecem às crianças).
A chance de pais, professores e alunos refletirem sobre o tema
Ilustração: Tato Araújo
VILÕES DA ALIMENTAÇÃO Pobres em nutrientes e ricos em gordura, sódio e açúcar, os produtos industrializados já foram banidos em alguns estados e municípios que têm leis sobre as cantinas escolares
Salgadinhos e frituras O principal problema dos salgadinhos de pacote são os altos índices de sódio, que podem provocar a elevação da pressão arterial. Já as frituras têm muita gordura, que colabora para o ganho de peso.

Refrigerantes e sucos artificiais Bebidas com alto teor de açúcar são pobres em fibras e micronutrientes. Contêm aditivos (como os corantes) e sódio. São considerados grandes vilões do sobrepeso e de novas cáries.

Maionese, Ketchup e mostarda Além de muito calóricos, têm altos teores de gordura total e de gordura saturada, açúcar, sódio e aditivos químicos. Por não conter fibras nem micronutrientes (vitaminas e minerais), podem causar a elevação da pressão arterial.

Balas, prulitos e chicletes São alimentos com pouco ou nenhum valor nutricional e elevado teor de açúcar. Por isso, provocam ganho de peso e cáries. O excesso de açúcar eleva os níveis de colesterol e pode provocar problemas cardíacos.

Biscoitos recheados Como quase todos os alimentos desse grupo, têm muitas calorias, açúcar e gorduras - e poucas fibras e micronutrientes. A indústria vem tentando reduzir a taxa de gordura trans, um fator de risco para doenças do coração.

Chocolate São alimentos com grande concentração de gordura, ácidos graxos saturados e sódio. Seu consumo excessivo pode causar problemas de saúde, como colesterol alto, excesso de peso e doenças cardiovasculares.

A primeira lei sobre o assunto entrou em vigor em 2001, em Santa Catarina. No Paraná, a regulamentação específica passou a valer em 2004. "O grande mérito da lei foi provocar uma reflexão sobre o tema entre professores, alunos e pais", destaca Márcia Stolarski, nutricionista da Coordenadoria de Alimentação e Nutrição Escolar, ligada à Secretaria Estadual de Educação do Paraná. Segundo ela, hoje é possível observar uma melhora na alimentação das crianças, mas isso não veio de forma tranquila. "Muitos alunos começaram a levar refrigerantes, salgadinhos e bolachas recheadas de casa. E não só para o consumo próprio: também para vender para os colegas."

Em paralelo, aumentou o número de vendedores ambulantes perto das escolas. "Eles passaram a vender tudo o que tinha sido proibido", lembra Leonilda Palmonari Metri, diretora da EE Nossa Senhora de Fátima, em Curitiba. Além disso, caiu a receita gerada pela cantina (espaço que, nas escolas públicas, é administrado direta ou indiretamente pela APM e cujos recursos ajudam a financiar pequenos gastos). "No nosso caso, perdemos cerca de 30% num primeiro momento." Curiosamente, quando havia frutas no cardápio da merenda escolar, a aceitação era sempre boa - mas a oferta na cantina demorou a ser bem aceita.

Cleliani de Cassia da Silva, especialista em nutrição, saúde e qualidade de vida da Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interior de São Paulo, reforça o papel da comunidade em relação a essa questão. "Em idade escolar, todos querem os mesmos alimentos que os colegas. Muitos têm vergonha de levar lanche de casa", explica ela.

É por isso que bons exemplos fazem toda a diferença na promoção da alimentação saudável. Não adianta proibir a venda de doces se os professores mascam chicletes na frente da turma. A chave para o sucesso é a coerência (veja no quadro abaixo uma lista de ações simples que toda escola pode adotar). "Só retirar os alimentos não saudáveis da cantina não muda a situação. São necessárias ações focadas nas crianças, nos pais, nos funcionários e assim por diante", insiste Estela Marina Alves Boccaletto, da Faculdade de Educação Física da Unicamp.

Daí a importância de envolver na discussão os responsáveis pelo preparo dos alimentos vendidos nas cantinas. A UnB mantém desde 2001 o projeto A Escola Promovendo Hábitos Alimentares Saudáveis. Uma de suas principais ações é capacitar os cantineiros e ajudá-los a transformar seu mix de produtos de forma a compor um cardápio com alimentos mais saudáveis e que, ao mesmo tempo, agucem o paladar da garotada. Nina Amorim reconhece que dá mais trabalho fazer isso a continuar comprando salgadinhos de pacote, biscoitos, balas e chocolates. "Mais de uma vez, fomos criticados e até agredidos verbalmente por donos de cantinas que acham que vão quebrar com essa mudança", conta ela. "Mas, à medida que vamos apresentando alternativas, todos percebem que é possível trocar os itens prontos de longa validade por opções mais saudáveis. Algumas das opções mais populares do curso são gelatinas com pedaços de frutas, barrinhas caseiras de frutas e cereais, sanduíches naturais (sem maionese), salada de frutas, bolos enriquecidos com frutas e, claro, a valorização de ingredientes típicos de cada região do país, como tapioca, açaí e milho verde.

Estela Boccaletto, da Unicamp, diz que tão importante quanto as leis é cada escola tomar para si seu papel de valorização da Educação como um todo. "É preciso ver as crianças e os jovens em sua plenitude e colaborar com seu crescimento, desenvolvimento e potencial. Para que isso ocorra, todos têm de estar preparados e ajudar os estudantes a fazer opções saudáveis nas refeições."
O que a escola pode fazer
 - Definir com a Associação de Pais e Mestres (APM) o que pode ser vendido e o que deve ser vetado na cantina e zelar pelo cumprimento do acordo.
- Esclarecer os pais sobre a importância da boa alimentação e estimulá-los a cuidar da rotina alimentar dos filhos.
- Trabalhar para conscientizar docentes e funcionários sobre a necessidade de oferecer bons exemplos aos alunos.
- Incluir a alimentação saudável como um conteúdo transversal permanente das áreas do conhecimento.
Por: Ava de Freitas
Revista novaescola.org.br
Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Educação:UFPE realiza feira de estágio e emprego gratuita



Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) promove, na próxima quarta (11) e quinta (12), a 6ª edição da UFPE No Mercado. O evento acontece das 14h até 22h, no Centro de Convenções da UFPE, na Cidade Universitária, Zona Oeste do Recife, e terá palestras e cursos com foco em qualificação profissional e empreendedorismo para estudantes, recém-formados ou para quem está fora do mercado à procura de oportunidades nas mais diversas áreas.

As inscrições são gratuitas e abertas à toda a população e devem ser realizadas pelo site da UFPE No Mercado 2018. A expectativa da organização é receber cerca de 10 mil visitantes neste ano. A UFPE no Mercado é promovida pela A.C.E Consultoria, empresa Júnior liderada por estudantes do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da Universidade.

Neste ano, o tema geral da feira traz como slogan “Seja protagonista. Conecte-se com o seu futuro”, e terá mais de 10 empresasparticipantes, que estarão mostrando seus produtos ou serviços e recrutando profissionais durante todo o evento. Entre elas, o Instituto Euvaldo Lodi (IEL-PE), Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (CESAR), Accenture, Instituto Cervantes, Grupo Ser Educacional e o banco Santander.

Entre as palestras oferecidas durante a programação da UFPE no Mercado está uma apresentação do Ph.D. em educação matemática pela Universidade da Califórnia, mestre em psicologia cognitiva e bacharel em pedagogia, professor adjunto de psicologia na UFPE e colaborador do Mestrado em Design do C.E.S.A.R CESAR School, e sócio-fundador da Joy Street, Luciano Meira, com o tema “tecnologia na educação”. 

Outro palestrante de destaque é o CEO da In Loco Media, André Ferraz. A empresa, que trabalha com publicidade mobile, surgiu a partir de uma ideia na UFPE em 2011 e hoje já emprega 100 profissionais, e em 2015 foi considerada uma das 15 startups mais promissoras do mercado publicitário no Cannes Lions. André vai contar um pouco da sua trajetória, motivações e falar como se tornou um empreendedor de sucesso. 

O evento também contará com uma programação sobre empreendedorismo e carreira do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas em Pernambuco (Sebrae-PE) e palestra do IEL-PE sobre carreira e empregabilidade.
Com informação da Folha de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 18 de março de 2018

Educação:alunos querem que a escola reflita a vida real, diz brasileira jurada de prêmio da Unesco



Lucia discursa na Unesco
Image caption'O que se defende é a aprendizagem ativa, na qual o estudante tem de botar a mão na massa, experimentar', diz Dellagnelo, acima no Prêmio Unesco | Foto: Unesco

A brasileira Lucia Dellagnelo ajudou a escolher dois entre 143 projetos de tecnologia na educação que foram vencedores da mais recente edição do Prêmio Unesco, organismo da ONU para educação e cultura.
As iniciativas, praticadas na Índia e no Marrocos, receberão prêmio de US$ 25 mil.
Doutora e Mestre em Educação pela Universidade de Harvard, Dellagnelo foi secretária de Desenvolvimento Econômico Sustentável em Santa Catarina de 2013 a 2015 e hoje é diretora-presidente da ONG Centro de Inovação para a Educação Brasileira (Cieb).
Na premiação da Unesco, ela foi presidente do júri e representante da América Latina. Em entrevista à BBC Brasil em São Paulo, Dellagnelo conta o que viu de mais inovador, entre tantas propostas mundo afora, para tornar a educação mais igualitária, contemporânea e qualificada usando a tecnologia. E opina sobre onde o Brasil vai bem e onde precisa melhorar.
Leia os principais trechos da entrevista:
BBC Brasil - Quais foram os critérios para escolher os projetos premiados em Paris?
Lucia Dellagnelo - Muitas pesquisas mostram que, para a tecnologia ter um impacto positivo na educação, é importante que seja trabalhada pelo menos em quatro dimensões: visão clara do objetivo, "para que e como vou usar a tecnologia"; competência dos professores e gestores no uso daquela tecnologia; qualidade dos conteúdos e recursos educacionais digitais desenvolvidos; e infraestrutura. Procuramos avaliar quais projetos realmente contemplavam isso, mas também consideramos se aquela política educacional era abrangente e de longo prazo.
BBC Brasil - O que seria esse longo prazo?
Dellagnelo - Por exemplo, um dos premiados, o Marrocos, tem uma política baseada nesses quatro pilares há mais de 15 anos. O país vem gradativamente implementando um plano chamado Genie, que sobreviveu a trocas políticas e de gestão. Se não for a longo prazo, é difícil correlacionar o uso de tecnologia com o impacto na qualidade. Não é pelo fato de usar um aplicativo ou uma plataforma adaptativa num ano que no seguinte serão vistas melhorias.


sala de aula
Image captionNão é preciso tecnologia de ponta para fazer revolução na educação, diz a especialista | Foto: Pedro Ribs/ANPR

BBC Brasil - O projeto da Índia também tinha esse perfil?
Dellagnelo - A Índia tem um problema muito sério: a evasão no que seriam os nossos fundamental 2 e ensino médio. O jovem faz a escola primária, aprende a ler e escrever, e depois tem muita dificuldade em seguir adiante não só por problemas econômicos, mas também porque, em vilas muito pequenas e distantes dos grandes centros, não existe oferta de ensino médio. Não há quem dê aula de física e química nesses lugares, por exemplo.
Por meio de videoaulas à distância, e usando uma parceria com a (universidade americana) MIT no desenvolvimento de tecnologia e laboratórios virtuais, conseguiram baixar o índice de evasão de jovens oferecendo um conteúdo de muita qualidade. O projeto, chamado CLIx, é de um instituto, em parceria com governos locais.
BBC Brasil - O prêmio valorizou a inovação também? Videoaulas são usadas já há algum tempo em outros lugares.
Dellagnelo - A função maior do prêmio é dar visibilidade a projetos que estão acontecendo e mostrar que, às vezes, uma tecnologia pode não ser uma grande inovação num país e ser em outro. Para uma população isolada, que não tem nem luz elétrica, que precisa usar gerador para acessar a internet, o impacto da videoaula é muito diferente.
Tem um projeto chinês, de que gostei muito também, em que um professor da capital, identificado como muito capaz, dava aulas interativas às vezes para 300 crianças espalhadas em vários lugares do país. Ao mesmo tempo, formava o professor dessa vila, que estava lá assistindo.
Sim, a videoaula não é uma tecnologia revolucionária - existe isso no Amazonas, inclusive -, mas tivemos que usar essa relatividade na votação: a tecnologia proposta resolve algo que não estaria sendo resolvido se não existisse?
Para mim, fica claro que tem solucionado um problema real, que é o acesso a professores qualificados. Porque o prêmio também tem esse viés: toda criança e jovem do mundo, independentemente do país, da cultura e da língua que fala, tem direito à educação de qualidade. Como a gente faz a tecnologia trabalhar a favor desse direito? (...) Tentamos mostrar políticas mais amplas de uso de tecnologia que foram incorporadas, de certa maneira, pelo poder público - nacional, estadual ou local -, fazendo uma mudança sistêmica.
BBC Brasil - Projetos brasileiros também concorreram?
Dellagnelo - Sim, mas eles não ficaram entre os 25 finalistas. Acho que uma das razões é o fato de serem voltados a grupos muito específicos. Um era de educação ambiental que usava tecnologia, porém estava muito pautado por visitas presenciais. Um outro, de uma professora de acessibilidade, focava na tecnologia para pessoas com deficiência auditiva.
BBC Brasil - Você foi jurada representando a América Latina. Qual a situação do Brasil no continente em termos de tecnologia educacional?
Dellagnelo - Tem países que estão melhores do que a gente nesse quesito, como Uruguai, Chile e Costa Rica. O Uruguai adotou o projeto Plan Ceibal, cujo lema é "um computador por aluno". É um país superpequeno, de 3,5 milhões de habitantes, parece muito mais fácil fazer isso. Mas esse mesmo projeto, que conta com cento e poucos funcionários, também cuida de toda a tecnologia educacional: compra, distribui e faz manutenção de computadores, além de capacitar professores e fazer parcerias.
O país tinha, por exemplo, um grande problema com professores de inglês na área rural. Fizeram um convênio com o Reino Unido e todas as aulas de inglês são dadas a partir de Londres, com o professor também ali, aprendendo.


Prêmio Unesco
Image captionForam eleitos 143 projetos vencedores da mais recente edição do Prêmio Unesco | Foto: Unesco

BBC Brasil - A experiência chilena é parecida?
Dellagnelo - Lá houve um desenvolvimento diferente. O centro de inovação em educação se chama Enlaces e era uma rede de universidades que fazia pesquisa e experiências em tecnologia educacional. Depois de alguns anos, ele foi incorporado pelo Ministério da Educação como um departamento que só cuida disso. Na Costa Rica, é uma fundação sem fins lucrativos que também recebe a atribuição do governo de cuidar de toda a tecnologia educacional, treinar os professores, comprar computadores e tal.
BBC Brasil - Onde o Brasil está pecando?
Dellagnelo - Não temos essa incorporação em larga escala da tecnologia nas escolas brasileiras. Oferecemos soluções tecnológicas de vanguarda, as empresas brasileiras não deixam nada a desejar nesse ponto, mas temos iniciativas isoladas no dia a dia escolar. Por quê?
Entre outros motivos, a nossa infraestrutura não é a melhor e o nosso professor não sabe incluir a tecnologia na prática pedagógica dele. Um dos diferenciais do projeto marroquino premiado foi a criação, em parceria com a Coreia do Sul, de centros de formação profissional para professores em várias regiões. O Brasil está precisando disso.
BBC Brasil - Para implementar políticas públicas, são necessários bons gestores. Como estamos nessa categoria?
Dellagnelo - Temos excelentes gestores públicos. O problema é que a gestão pública é confundida com a política. Quando há troca de governo, às vezes um excelente gestor vai para um cargo totalmente secundário para dar lugar a um afilhado político. Então há uma desvalorização contínua. Mas fico bastante impressionada quando vou a Brasília e encontro jovens comprometidos e bem formados eticamente. Acho que está surgindo uma nova geração. Se conseguissem diminuir a ingerência política...
BBC Brasil - Professores jovens têm mais facilidade para implementar a tecnologia na sala de aula?
Dellagnelo - Se faz diferença a geração digital do professor? Não necessariamente. Não é pelo fato de usar constantemente a tecnologia na sua vida que um professor jovem vai saber ensinar com tecnologia. Não está correlacionado diretamente com a idade, e sim com se formar para fazer isso.
BBC Brasil - Mas uma aula, hoje, pode ser atraente se o professor usar somente lousa e pincel atômico?
Dellagnelo - Há ótimos professores que não usam muito a tecnologia, mas o que não se pode continuar fazendo é dar aquela aula tradicional na qual o professor transmite o conhecimento e acha que seus alunos estão passivamente absorvendo o conteúdo. Os nativos digitais têm um spam de atenção muito curto. Fala-se em 10 a 15 minutos. Se o professor ficar falando uma hora, eles focarão apenas 25% desse tempo no que ele falou.
Hoje, o que se defende é a aprendizagem ativa, na qual o estudante tem de botar a mão na massa, experimentar, tentar resolver um problema real com aquela informação, com aquele conhecimento, para realmente poder aprender. E tem a questão da contemporaneidade. Os alunos querem que a escola reflita minimamente o que é a vida fora dela, uma vida permeada por tecnologia.


professor com tablet dando aulaDireito de imagemTHINKSTOCK
Image captionProfessores precisam ser capacitados para usar a tecnologia de forma eficiente em sala de aula

BBC Brasil - É preciso recorrer ao que há de mais moderno para cativar a atenção deles?
Dellagnelo - Não é necessário nada muito sofisticado. Fui dar uma palestra no Espírito Santo faz alguns dias e lá havia uma professora de uma escola do interior do Estado que usa um aplicativo gratuito chamado Remind. Essa professora monta a sala dela na plataforma, inclui todos os alunos, cujos e-mails estão cadastrados, e planeja a aula com uma sugestão de leitura. Como praticamente todos os estudantes têm celular, vai fazendo perguntas via smartphone: "Gente, só pra ver se leram mesmo, qual o nome do cara que fez tal coisa?". Pega as respostas, mas não precisa ficar corrigindo uma a uma. O próprio aplicativo diz quantos e quais acertaram.
Aí ela organiza a sala pelos grupos de alunos que sabe que já aprenderam esse conteúdo e para quem ela pode dar uma nova tarefa, e por aqueles que precisam de uma atenção especial. Ou seja, usando um aplicativo gratuito, sem uma infraestrutura do outro mundo, está fazendo uma revolução na educação.
BBC Brasil - Essa interação poderia acontecer apenas no plano virtual?
Dellagnelo: Parece um paradoxo, mas, quanto mais a gente usa a tecnologia, mais a gente valoriza na educação os momentos presenciais. Mas esses momentos presenciais não são apenas transmissão de conhecimento. São reflexão, atividades práticas, colaboração entre os estudantes.
BBC Brasil - E dá para ter só tecnologia, sem professor?
Dellagnelo - Não. Essa é uma coisa que as pesquisas estão mostrando. Três relatórios publicados no final do ano passado mostram que é muito importante colocar a tecnologia na mão do professor, e não direto e somente no colo dos alunos. Entre todas as variáveis, talvez a qualidade do professor e da prática pedagógica dele seja a variável mais forte para associar o nível de aprendizagem da criança e do jovem ao mundo tecnológico. Alguém precisa ensinar a eles as implicações e o funcionamento daquela ferramenta.
BBC Brasil - O aluno precisa entender de algoritmo?
Dellagnelo: A Base Nacional Comum Curricular (documento recém-aprovado pelo Ministério da Educação, com as diretrizes básicas de o que deve ser ensinado nas escolas do país) tem uma competência geral que fala em "utilizar tecnologias de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas do cotidiano, incluindo as escolares, para se comunicar".
O Cieb insistiu que "utilizar" não é suficiente. Tem de compreender e também criar tecnologias. O aluno hoje precisa saber minimamente como programar e entender a lógica da programação. Não é que todo muito vai virar programador, mas o aluno tem de entender o algoritmo por trás de um Facebook, de um Google, para compreender como a tecnologia está recomendando coisas que ele acha mágicas: "Ah, como ele sabia que eu queria comprar isso?" Ao entrar na internet, está se deixando rastro. Esse rastro esta sendo cada vez mais explorado por empresas para o marketing, por exemplo.
BBC Brasil - Inteligência Artificial é um conceito acessível?
Dellagnelo - Sim, o aluno precisa entender o que é Inteligência Artificial, compreender como é alimentada - alguém forneceu aquele dado, às vezes sua própria pegada digital, seu comportamento nas redes sociais. Parece um ambiente neutro. Como eu não vejo um interlocutor na minha frente, posso falar qualquer coisa e a qualquer hora. A pegada digital, a reputação digital são valores que os professores precisam ensinar para os alunos. Tem que ensinar também a usar as redes sociais para fazer mobilizações, para fazer sua voz ser ouvida.
BBC Brasil - Alguns youtubers brasileiros têm cerca de 20 milhões de seguidores entre crianças e jovens. Qual é a melhor estratégia em sala de aula para lidar com a influência deles?
Dellagnelo - A função do professor é ouvir o que esse youtuber está transmitindo e dizer, se for o caso, "vamos aprofundar, vamos discutir isso aqui". A tecnologia permite mais equidade - alunos de diferentes regiões conseguem receber a mesma educação - e contemporaneidade. Mas é o professor quem precisa fazer essa ponte. É papel dele ajudar os alunos a entender esse mundo.
Professor Edgar Bom Jardim - PE