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terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Dicas de Saúde: as 5 dietas dos famosos que você deve evitar em 2018, segundo especialistas em nutrição

Frutas e verdurasDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionAnualmente, sociedade dietética britânica elege cinco dietas que, embora popularizadas por celebridades, devem ser evitadas por fazerem mais mal do que bem
Comida vegana crua combate a obesidade? Suplementos nutricionais podem substituir uma refeição? Uma dieta de alimentos alcalinos melhora o pH do sangue?
Segundo a Associação Dietética Britânica (BDA, na sigla em inglês), a resposta às três perguntas acima é "não", apesar de essas premissas embasarem algumas das dietas mais populares da atualidade - popularidade que vem da difusão nas redes sociais e do endosso de celebridades.
Com base no que é divulgado na imprensa e na internet, a BDA elege anualmente cinco dietas que prometem saúde e emagrecimento, mas devem ser evitadas porque podem trazer justamente o contrário, segundo os especialistas da associação.
Veja quais são as escolhidas em 2017, por que elas são criticadas e o que dizem seus defensores:

1. Dieta crudívora

Gwyneth PaltrowDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionGwyneth Paltrow é apontada como uma das seguidoras da dieta crudívora
A dieta baseada em alimentos veganos e crus ganhou supostos adeptos como a atriz e empresária Gwyneth Paltrow e o cantor Sting prometendo a perda de peso e uma limpeza no organismo.
O cardápio crudívero incluiria alimentos que não foram modificados, enlatados, processados quimicamente ou aquecidos a mais de 48ºC. Defensores argumentam que o aquecimento destrói algumas enzimas naturais e alguns nutrientes dos alimentos.
Mas a BDA questiona os benefícios disso. "Uma dieta vegana bem planejada com suplementos necessários, como vitamina B12 e D, pode até ser saudável, mas não garante a perda de peso", diz comunicado da associação.
"Comidas veganas geralmente contêm as mesmas calorias das não veganas. (...) Embora alguns alimentos sejam benéficos quando consumidos crus, outros são mais nutritivos quando cozidos - como cenouras - e outros nem sequer podem ser comidos crus, como batatas. Não há motivo para acreditar que o alimento cru seja inerentemente melhor. (A dieta) pode não prejudicar seu corpo no curto prazo, mas fazê-lo a longo prazo caso não seja balanceada."
Além disso, por se tratar de uma dieta extremamente restritiva, ela é difícil de ser seguida e não é adequada para crianças ou mulheres grávidas, por exemplo.
E, para alguns especialistas, a evolução fez com que perdêssemos algumas enzimas para digerir certos alimentos crus. Sob essa interpretação, nosso corpo simplesmente não aguenta, no longo prazo, uma dieta sem comidas cozidas.

2. Dieta alcalina

LimãoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionLimão é uma das estrelas da dieta alcalina
Essa dieta se baseia na ideia de que consumir mais alimentos alcalinos - frutas como o limão, além de alho, batata, alguns legumes e cereais - e menos ácidos ajuda a mudar o pH (índice que mede acidez, alcalinidade ou neutralidade) do sangue e até mesmo tratar câncer e osteoporose.
No entanto, segundo a BDA, essa ideia parte de um falso entendimento sobre a fisiologia humana: o pH dos alimentos não impacta o pH do sangue.
"Nosso corpo é perfeitamente capaz de manter o sangue dentro de um espectro bem específico de pH (entre 7,35 e 7,45). Se ele não conseguir fazer isso, você ficará doente rapidamente e pode morrer se não for tratado. Dietas alimentares podem mudar o pH da urina, mas isso não está relacionado ao pH do sangue, que não é afetado pela alimentação", diz.
A conclusão da associação é de que a dieta alcalina pode resultar em perda de peso por favorecer a ingestão de mais vegetais e cortar alimentos processados - mas isso não tem nada a ver com a alcalinidade ou acidez da comida.

3. Dieta de suplementos nutricionais de Katie Price

Katy PriceDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionCelebridade britânica Kate Price tem uma linha de shakes que substituem refeições, forma 'insustentável' de perder peso, segundo BDA
A modelo e apresentadora britânica Katie Price tem promovido uma série de shakes desenvolvidos para substituir refeições, descritos como saborosos, com baixo índice de gordura e com nutrientes essenciais e apenas 185 calorias. Prometem perda de peso e tonificação muscular, mas sem explicar bem como isso ocorreria cientificamente.
A BDA torce o nariz para substitutos de refeições e supressores de apetite como esse - vistos pela associação mais como uma forma de ganhar dinheiro do que de promover a saúde.
"A perda rápida de peso (promovida por shakes) pode ser motivadora, mas é insustentável", diz a associação. "Supressores de apetite não são saudáveis, recomendáveis nem um modo sustentável de perder peso. (...) Produtos que substituem refeições funcionam pela restrição da ingestão de calorias e não precisam ser parte de um projeto saudável de perda de peso."
Para Sarah Coe, da Fundação Britânica de Nutrição (BNF, na sigla em inglês), "os substitutos de refeições podem ser úteis para pessoas que têm muito peso a perder, mas sempre devem ser usados sob supervisão de um profissional da saúde".
A empresa Katie Price Nutrition foi contactada pela BBC, mas não quis comentar.

4. Dieta de Pioppi

A dieta de Pioppi (nome de uma cidade italiana de população extremamente longeva) promove alguns princípios da dieta mediterrânea para perder peso e reduzir o risco de diabetes tipo 2, mas com algumas modificações - que não agradaram a BDA.
Seus criadores, Aseem Malhotra e Donal O'Neill, recomendam refeições com poucos carboidratos e mais gorduras, além da ingestão de frutas, verduras, peixes, azeite de oliva, álcool com moderação e a prática de exercício físico. Eles sugerem evitar carne vermelha, carboidratos e açúcar.
Salada mediterrâneaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionDieta de Pioppi se baseia nos princípios da alimentação mediterrânea, com algumas modificações
De fato, as recomendações a uma alimentação com frutas e vegetais abundantes, peixes e azeite de oliva estão em linha com diretrizes oficiais de dietas saudáveis. Mas a BDA ressalta que a dieta de Pioppi tem diferenças importantes em relação à mediterrânea.
"Os autores talvez sejam as únicas pessoas do planeta que viajaram à Itália e voltaram com uma dieta que exclui massas, arroz e pães - mas inclui coco -, talvez por eles defenderem uma agenda de baixa ingestão de carboidratos", diz a associação.
"É ridícula a ideia de que essa aldeia italiana deva ser associada a receitas como pizza à base de couve-flor, um substituto de arroz também feito de couve-flor ou qualquer coisa usando óleo de coco. (A dieta) também estimula as pessoas a passarem fome durante 24 horas em determinados momentos da semana. (...) A dieta mediterrânea tradicional é saudável, mas foi sabotada (pela dieta de Pioppi)."
Mas Malhotra, um dos autores da dieta de Pioppi, que é médico cardiologista e assessor do Fórum Britânico de Obesidade, defende que sua dieta "é uma avaliação independente, que combina os segredos de um dos povos mais saudáveis do mundo com as mais recentes investigações médicas, nutricionais e de exercícios para desmascarar muitos dos mitos das indústrias da perda de peso e da saúde".
Ele agrega que a dieta "recebeu o respaldo de diversos importantes médicos internacionais" e questiona "os vínculos financeiros e a influência de empresas alimentícias na BDA".
"Na minha opinião, não se pode confiar neles como fonte independente de assessoramento dietético", afirma Malhotra.
Em resposta, um porta-voz da BDA afirmou que "a análise que publicamos sempre se baseia em provas e não é afetada pelas relações que temos com produtores de alimentos".

5. Dieta cetogênica

Kobe BryantDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionDieta cetogênica teria conquistado seguidores como o atleta americano Kobe Bryant
Diversas celebridades foram associadas à dieta cetogênica, como a estrela de reality shows Kim Kardashian, o atleta Kobe Bryant e o ator Alec Baldwin.
A premissa é consumir poucos carboidratos (e estes provenientes de vegetais sem amido, de nozes e sementes), bastante gordura e proteínas com moderação.
O objetivo é levar o corpo a um estado de "cetose": diante da ausência de glicose dos carboidratos, ele queimaria gordura para produzir energia.
"O perigo é que alguns (defensores) dizem que a dieta pode prevenir diferentes tipos de câncer, o que simplesmente não é verdade", afirma a BDA.
"Uma dieta cetogênica cuidadosamente planejada por um especialista pode ser eficiente em tratar pessoas com epilepsia. Para a perda de peso, não há mágica. Essa dieta funciona como qualquer outra ao cortar calorias e remover alimentos que as pessoas tendem a comer demais. (...) (Mas) nunca é uma boa ideia restringir demais algum grupo alimentar (inclusive o de carboidratos), porque isso dificulta que se alcance uma dieta balanceada quanto a vitaminas, minerais e fibras."
A associação agrega que a dieta cetogênica pode até resultar na perda de peso no curto prazo, mas é de difícil sustentação e pode causar sensação de falta de energia, náusea, problemas de sono, desconforto digestivo e mau hálito, entre outros males.

Homem se pesa na balançaDireito de imagemGETTY IMAGES

Para perder peso com saúde

"Quando vemos uma celebridade com uma aparência fabulosa e uma vida aparentemente maravilhosa, afirmando que isso se deve à dieta da moda, é muito tentador acreditar que existe uma fórmula mágica para mudar nossas vidas", afirma Sian Porter, porta-voz da BDA.
"A verdade é que a maioria das celebridades têm uma equipe de profissionais e assessores preparando sua comida, monitorando seus exercícios físicos, escolhendo suas roupas, fazendo sua maquiagem e assegurando que elas estejam sempre lindas. Na realidade, se algo soa bom demais para ser verdade, provavelmente é. Sempre busque evidências (científicas) e siga conselhos de pessoas qualificadas, sujeitas a regulamentação e que não tenham nada a vender ou promover."
A BDA também dá algumas recomendações sobre como perder peso sem deixar de lado uma dieta saudável:
- Mantenha um diário dos alimentos consumidos e seu estado de ânimo, para tentar identificar se há alguma relação entre ambos
- Faça uma lista de atividades que possam te distrair da vontade de comer guloseimas
- Estabeleça metas realistas: começar perdendo 5% a 10% de seu peso pode ter grandes benefícios à saúde, se você de fato estiver acima do peso
- Evite comer enquanto assiste TV ou faz outras atividades, já que isso pode fazer você comer mais do que precisa
- Divida o prato: uma metade com verduras ou salada; o outro, com proteínas e carboidrato. Fonte:BBC.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

A geração que pode viver menos que os pais porque não sabe comer - e como reverter a tendência




"Olha só, a arvorezinha! É o brócolis! Cheira, sente o gosto!"
Sentadas em roda a pedido da nutricionista Mariana Ravagnolli, as oito crianças de menos de dois anos pegam o brócolis, amassam, põem na boca. A "arvorezinha", assim como outras verduras e legumes, não era parte da rotina alimentar de muitas delas.
As crianças estão no Centro de Recuperação e Educação Nutricional (Cren) da Vila Jacuí, extremo leste de São Paulo, para tratamento de desnutrição - elas simplesmente não vinham ingerindo nutrientes o bastante para se desenvolverem até de chegarem ali, seja por comerem pouco ou por comerem mal.
Karina, de um ano e oito meses, frequenta o local diariamente há um ano. Era um dos casos mais agudos. "Quando chegou aqui, ela mal se mexia no bebê conforto", conta Ravagnolli à BBC Brasil.
Hoje, com apenas seis quilos, a menina ainda é pequenina para sua idade - nessa mesma faixa etária, a maior parte das meninas pesa pelo menos 10,5 quilos, de acordo com a tabela de referência da Organização Mundial da Saúde. Mas agora Karina tem energia. Ela experimenta o brócolis e passeia pela sala, oferecendo-o aos amigos.
"Ela evoluiu muito em desenvolvimento. Até aparece de vez em quando com aqueles arranhões de quem cai enquanto brinca", conta Ravagnolli.
A "aula" de brócolis é uma das estratégias do Cren para educar o paladar dos cerca de 80 bebês, crianças e adolescentes atendidos no local, que é conveniado à Prefeitura de São Paulo. Trata-se da oficina semanal de texturas e sabores, em que os menorzinhos podem cheirar, tatear e provar alimentos in natura que não costumavam estar no seu cardápio.
Oficina de texturas e sabores do Cren
Image captionObjetivo das oficinas de texturas e sabores é familiarizar crianças com alimentos saudáveis
A ideia é justamente reduzir a resistência deles a comidas que, embora nutritivas, podem causar estranheza ao paladar.
Pelos corredores do Cren passeiam desde crianças muito franzinas, como Karina, até outras que estão claramente acima do peso, como Beatriz, que aos quatro anos já sofre com bullying na escola por conta da obesidade. Tanto Karina quanto Beatriz estão, segundo parâmetros médicos, desnutridas.
É o desafio do Brasil do século 21: a desnutrição é um mal causado tanto pela falta de comida na mesa quanto pela má alimentação, em uma época em que crianças estão desde cedo expostas a salgadinhos, produtos lácteos artificiais e açucarados, bolachas recheadas e outras guloseimas ultraprocessadas que são usadas como substitutas de alimentos - mas que não suprem necessidades nutricionais.
"É o que chamamos de furacão da desnutrição: um problema com muitas causas", explica Ravagnolli.
"Temos desde famílias desestruturadas, que não dão conta de cuidar das crianças como elas precisam ou não têm dinheiro para alimentos saudáveis, até famílias bem organizadas, mas sem informações, ou que moram ao lado de um mercadinho onde se vendem várias 'besteiras', mas precisam pegar um ônibus para chegar à feira para comprar verduras."
O resultado é que o Cren chega a atender casos em que as crianças sofrem, ao mesmo tempo, de anemia (carência de nutrientes essenciais como ferro e zinco) e de colesterol alto (causado, muitas vezes, pela ingestão excessiva de alimentos gordurosos).
Oficina de alimentação do Cren
Image captionMais velhos aprendem também a usar alimentos em pratos saudáveis, como o empadão de legumes sendo preparado na foto acima

Vulnerabilidade

Dados de 2016 do Ministério da Saúde indicam que 7% da população brasileira está desnutrida e 20% sofre de obesidade.
O esforço de décadas contra a desnutrição infantil fez com que o Brasil fosse elogiado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2010, quando foram apresentados dados compilados do período entre 1989 e 2006 (e que serão atualizados em pesquisa a ser publicada no ano que vem). Nesse período, caiu de 7,1% para 1,8% o percentual de crianças de até 5 anos com baixo peso para idade; e com baixa altura, de 19,6% para 6,8%.
É nessa idade, porém, que, se necessárias, as intervenções são cruciais.
A desnutrição na infância causa, além do aumento da mortalidade e da recorrência de doenças infecciosas, prejuízos que podem ter impacto na vida toda, como atrasos no desenvolvimento psicomotor, mau desempenho escolar e menor produtividade ao chegar à idade adulta.
A obesidade também tem efeitos duradouros: crianças acima do peso têm mais risco de desenvolver diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares, entre outros males.
No ritmo atual, calcula-se que o Brasil terá 11,3 milhões de crianças obesas até 2025 - é quase o tamanho da população da cidade de São Paulo.
"Pela primeira vez na história, as crianças têm uma expectativa de vida menor que a de seus pais por conta de uma alimentação inadequada", afirma Ravagnolli, referindo-se a estudos internacionais que preveem que a obesidade infantil possa criar uma geração de jovens adultos doentes.
Oficina de texturas e sabores do Cren
Image captionCrianças pequenas precisam provar alimentos diversas vezes para se familiarizarem com eles
Uma das formas de prevenir isso é, segundo especialistas, educar o paladar das crianças desde cedo.
"A alfabetização do paladar é uma das coisas mais importantes a se ensinar às crianças em seus primeiros três anos", diz à BBC Brasil Maria Paula de Albuquerque, gerente médica do Cren.
"A introdução alimentar, quando os bebês completam seis meses, é uma janela de oportunidades e dificuldades."

Caretas e cuspes: como lidar?

É nessa fase que muitos pais se descabelam tentando oferecer alimentos saudáveis em meio a caretas e cuspes - reações, aliás, que são normais, uma vez que os bebês estão se adaptando aos novos sabores e texturas.
"É um período difícil mesmo, em que nós, pais, sentimos angústia quando as crianças não comem", admite Ravagnolli. "Mas é importante não forçar a comida, justamente para não fazer com que o momento da refeição seja algo ruim."
O principal, nessa fase, é ofertar o máximo possível de alimentos saudáveis, de diferentes grupos - carboidrato, proteína animal, frutas, legumes, verduras e feijões - e também diferentes texturas.
Recomenda-se não transformar tudo em uma sopa de liquidificador, justamente para não perder essa diversidade de sabores.
Ilustração traz dicas de introdução alimentar
Image captionIlustração traz dicas de introdução alimentar | Crédito: Raphael Salimena/BBC Brasil
Acima de tudo, é preciso armar-se de paciência: não é porque a criança pequena recusou ou cuspiu uma vez que ela não vai gostar daquele alimento em particular.
"Para a criança aceitar um alimento, ela pode precisar prová-lo até 15 vezes", explica Albuquerque. "É bom repetir esse alimento em formas diversificadas - por exemplo, o espinafre cru, depois refogado, depois em creme ou em uma torta."
Um erro comum é, diante da recusa da criança ao alimento saudável, os pais substituírem por produtos processados de mais fácil aceitação - ou "engrossarem" o leite dos pequenos com açúcar ou farinhas lácteas.
"É aquele alívio de 'pelo menos a criança comeu algo', mas é melhor que ela não coma nada do que vicie seu paladar ao sal e ao açúcar dos alimentos processados", diz Ravagnolli.
"E precisamos deixar de lado aquele hábito de que 'a criança precisa limpar o prato ou não vai ter sobremesa'. Isso só reforça que a comida saudável é ruim e a sobremesa é legal. Não podemos querer que todas as crianças comam em igual quantidade - elas precisam aprender (as sensações) da fome e da saciedade."

'Neofobia alimentar'

Nutricionista Mariana Ravagnolli, do Cren
Image caption"Precisamos deixar de lado aquele hábito de que 'a criança precisa limpar o prato ou não vai ter sobremesa'", diz nutricionista. "Isso só reforça que a comida saudável é ruim e a sobremesa é legal"
As crianças e adolescentes atendidos nas duas unidades do Cren (nos bairros paulistanos da Vila Jacuí e da Vila Mariana) não passaram, em geral, por esse processo de alfabetização do paladar e muitas vezes sofrem do que a médica Maria Paula de Albuquerque chama de "neofobia alimentar": uma dificuldade com novos alimentos, uma vez que foram pouco expostas a eles.
"São crianças com uma dieta monótona e pobre", explica ela. "Por isso, fazemos oficinas lúdicas, para aumentar esse repertório, fazer uma aproximação afetiva com o alimento."
Para as crianças mais velhas, o processo inclui, além do manuseio dos alimentos, a preparação. Durante a visita da BBC Brasil, um grupo de cerca de dez adolescentes estava reunido em volta ao fogão para preparar um empadão de legumes.
As crianças chegam ao Cren com quadro de desnutrição identificado em consultas nas Unidades Básicas de Saúde ou pelo próprio centro em visitas a comunidades carentes. A média de espera para atendimento é de um mês e meio na unidade da Vila Mariana e de dois meses e meio na Vila Jacuí.
O diagnóstico principal se dá não pelo peso, mas sim pela baixa estatura - detalhe que pode fazer a doença passar despercebida, uma vez que os pais às vezes acham que a criança é apenas baixinha, e não desnutrida.
Cren
Image captionCentro atende crianças desnutridas tanto por falta de alimentos quanto por má alimentação
"É uma doença invisível, com um diagnóstico muitas vezes tardio", explica Albuquerque. "Temos famílias em que a desnutrição está indo para a terceira geração. E não é aquela desnutrição africana (de crianças esquálidas), então não é tão impactante aos olhos. Mas tem consequências gravíssimas para a vida da criança. Compromete todo o seu desenvolvimento."
Mas, segundo Albuquerque, mesmo em famílias em situação de pobreza e vulnerabilidade é possível promover mudanças de longo prazo na alimentação.
"Fizemos um acompanhamento (de alguns pacientes) depois de sete anos e muitos continuaram com os bons hábitos alimentares após a alta, mesmo sem terem saído da favela", explica ela.
"O crucial é mudar a relação com a comida. Isso passa pelo que a gente come, e como a gente come - a quantidade de comida, a qualidade e o hábito de comer em família, em um ambiente tranquilo."
*Colaborou Rafael Barifouse, da BBC Brasil em São Paulo
Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 14 de novembro de 2017

7 coisas estranhas que podem acontecer enquanto você dorme



Mulher dormeDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionAssociação internacional considera problemas para dormir uma 'epidemia global'

Todo mundo adora uma boa noite de sono, mas, para alguns, conseguir isso é mais complexo do que apenas apagar as luzes e fechar os olhos.
A Associação Mundial de Medicina do Sono (WASM, na sigla em inglês) diz que problemas para dormir são uma "epidemia global" que afeta 45% das pessoas.
Conheça a seguir alguns eventos que podem ocorrer enquanto estamos dormindo e contribuir para esse fenômeno.

1. Paralisia do sono

Uma em cada 20 pessoas pode ter alucinações enquanto está dormindo ou ao acordar, ficando totalmente incapaz de se mover. A paralisia do sono ocorre durante a fase REM do sono, um estágio associado a sonhos vívidos.
Nele, nossos músculos ficam paralisados, possivelmente para nos impedir de nos movimentarmos conforme nos sonhos. Mas, na paralisia do sono, algo sai erradi e o cérebro acorda, mas o corpo não.
Quem passa por isso pode abrir os olhos e ver o que está ao seu redor, mas não consegue se mover, e vê imagens do sonho se confundirem com as do mundo real. O resultado pode ser aterrorizante: pessoas já descreveram sentir um medo profundo ou ver figuras sobrenaturais.

2. Sonhos recorrentes


Mulher em sonhoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionPor meio dos sonhos, nosso subconsciente processa experiências

Sonhos são uma forma do nosso subconsciente reavaliar e processar experiências, então, um sonho recorrente pode indicar um assunto mal resolvido na vida. Se ele cessa, o conflito pode ter sido solucionado.
Um tema comum desse tipo de sonho é estar nu em uma situação inapropriada, o que pode indicar que uma pessoa está preocupada em ficar exposta em um determinado contexto social.

3. Síndrome da cabeça explosiva

Costuma ocorrer quando a pessoa está adormecendo ou despertando. Conforme cai no sono, parece ouvir um barulho extremamente alto, muitas vezes uma "explosão" ou sons de fogos de artifício, gritos ou portas batendo.
Às vezes, isso vem acompanhado por um flash. Trata-se de uma alucinação que acorda a pessoa de repente.

4. Espasmos hipnagógicos

Enquanto adormecemos, uma súbita sensação de que estamos caindo nos desperta rapidamente. A causa dessa contração involuntária dos músculos ainda não é um consenso, mas uma das teorias aponta para nossos ancestrais primatas.

Homem caindoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionA sensação de queda enquanto adormecemos é fruto de uma contração involuntária dos músculos

Seria um instinto primitivo que nos indica que relaxar os músculos nos fará cair de uma árvore?

5. Falar dormindo

Alguns de nós gostam de bater papo durante a noite, mesmo se estão dormindo. Quem fala durante o sono normalmente não sabe que está fazendo isso.
O que é dito pode ser desde algo coerente e complicado a completas baboseiras. Isso pode deixar a pessoa envergonhada ou irritar seu parceiro.
Vale lembrar que normalmente o que é dito durante o sono não é considerado como produto de uma mente consciente e racional e não costuma ser levado em consideração para fins legais.

6. Sonambulismo

Uma pessoa costuma caminhar ou realizar outras tarefas enquanto dorme em um período de sono profundo. A causa desse fenômeno é desconhecida, mas parece ser algo transmitido entre as gerações de uma família. É mais comum nos mais jovens: 20% das crianças têm sonambulismo ao menos uma vez.

SonâmbuloDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionApesar do sonambulismo ser bastante comum, sua causa ainda é desconhecida

Apesar dos sonâmbulos fazerem normalmente coisas simples e repetitivas, com sentar na cama, abrir armários ou se vestir, já houve casos em que dirigiram, assaltaram a geladeira e até mesmo subiram em um guindaste.

7. Síndrome das pernas inquietas

Enquanto dorme, a pessoa faz movimentos repetidos, com frequência usando os membros inferiores, em intervalos regulares, de normalmente 20 a 40 segundos. Esses pequenos espasmos podem ocorrer ao longo de alguns minutos ou até mesmo por várias horas. As pessoa não sabe até ser informada por alguém.
A causa ainda é desconhecida, mas cientistas acreditam ser algum mecanismo do sistema nervoso. Ainda que não seja uma condição grave, pode deixar a pessoa cansada durante o dia, porque seu sono é interrompido sistematicamente.
Professor Edgar Bom Jardim - PE