quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Na campanha pela Prefeitura de Olinda, João Paulo se reúne com sindicalistas e servidores públicos



O Dia do Servidor Público comemorado nesta quarta-feira (28) foi com sindicalistas num café da manhã, no comitê da Coligação Olinda das Pessoas (PCdoB, PT, PSB, PP, PV) no Carmo, em Olinda. O candidato a prefeito de Olinda, João Paulo e sua vice, Vivian Farias, receberam servidores, sindicalistas e trabalhadores de vários segmentos de Educação, Saúde e Segurança Pública da cidade, além de lideranças sindicais de várias entidades, como CUT, CTB e outras.

Na pauta, servidores fizeram uma avaliação da crise que enfrentam e o desmonte dos direitos dos servidores públicos por Bolsonaro e o apoio da categoria à campanha de João Paulo. O candidato, por sua vez, solidarizou-se com os servidores que enfrentam dificuldades provocadas pela atual gestão federal. “Meu maior desafio na vida será governar Olinda”, disse.

Plenária

Em plenária com candidatos a vereador da coligação Olinda das Pessoas, nesta terça (27), à noite, na Casa Padre Melotto, em Bonsucesso, João Paulo afirmou que em quase 50 anos de vida pública terá que inovar para lapidar o “diamante bruto” referindo-se à Olinda, principalmente cuidando das pessoas. “Esse diamante bruto que precisa ser lapidado, cuidado como merece. Para isso, vamos contar com a alegria, força e esperança do povo olindense”.

A Plenária 65 reuniu os 78 candidatos à Câmara Municipal de Olinda pelos partidos que compõem a Coligação Olinda das Pessoas: PCdoB, PT, PSB, PP e PV. Além deles, a candidata a vice-prefeita, Vívian Farias e os presidentes municipais dos partidos também marcaram presença. Luciano Moura (PCdoB), Sérgio Goiana (PT), Pedro Moura (PSB), Tiago Marinho (PV), Zélia Matos (PP), representada pelo vereador Lobo. João Paulo ressaltou a importância do momento com os vereadores e lembrou que o seu 1º mandato foi como vereador.

“Temos que compor uma Câmara Municipal com a diversidade de ideias e propostas que aqui ouvimos. Teremos que caminhar juntos por uma Olinda digna e humana”, defendeu.  A vice-governadora de Pernambuco e presidenta nacional do PCdoB, Luciana Santos e o senador Humberto Costa (PT), também estiveram presentes. “João Paulo representa um momento importante de transformação em Olinda. Ele sabe administrar, delegar responsabilidade e sabe buscar recursos”, destacou o senador.

Folha de Pernambuco

Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 27 de outubro de 2020

'Adoecemos cuidando de doentes, não porque fomos ao shopping': o desabafo de médica com covid-19



Priscila aparece de máscara, touca e de perfil, sentada em consultório
Legenda da foto,

'Não adoecemos porque fomos ao shopping, à praia, a uma festa… Adoecemos porque estávamos cuidando dos doentes', diz a médica Priscila Daflon, que trabalha em Itajaí (SC)

"Tivemos uma guerra biológica, e os soldados nessa guerra fomos nós, profissionais de saúde. Nossa farda foi a máscara. Adoecemos, e alguns morreram nessa luta. E ninguém fugiu dela."

"Mas nem o nosso hino a gente fez valer: 'Verás que um filho teu não foge à luta'. Que mãe gentil é essa? O mínimo que merecemos é o reconhecimento de que caímos em serviço."

As palavras desgostosas são da médica Priscila da Silva Daflon, 40 anos, que trabalha em Santa Catarina e procurou a BBC News Brasil através das redes sociais para relatar o que classifica como descaso do poder público e até da população na consideração ao esforço de pessoas como ela e colegas da equipe — profissionais de saúde e infectados com covid-19.

Para Priscila, o cúmulo da insatisfação veio em setembro, quando recebeu a resposta de um pedido de Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) feito à Prefeitura de Itajaí, da qual é funcionária concursada, trabalhando em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Ela também trabalha, como autônoma, em uma unidade de atendimento infantil a serviço da Secretaria de Saúde do município.



A médica conta que foi infectada com covid-19 em julho, o que foi detectado por um teste rápido e também por seu quadro clínico — ela desenvolveu uma isquemia cardíaca, em que o fluxo de sangue e oxigênio para o coração fica prejudicado.

Ela ficou internada por alguns dias no quarto em um hospital com atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) — atualmente ela está em período de carência na aquisição de um novo plano de saúde, pago do bolso.

Mas o laudo respondeu a ela e a outros profissionais: "(...) Aos servidores que declararem terem sido contaminados pelo COVID-19 durante desempenho das funções laborais informamos que não serão emitidas CATs pela Coordenadoria de Perícia Médica e Saúde Ocupacional em virtude do diagnóstico de COVID-19 aos servidores públicos efetivos ou não, uma vez que não se tem como afirmar com absoluta convicção que esta doença foi adquirida em ambiente de trabalho".

Citando uma lei federal que define acidentes de trabalho, o documento diz ainda que "se faz necessário a observação do nexo causal, pois o fato de o servidor ser diagnosticado com COVID-19 em meio a uma Pandemia não significa que automaticamente se trate de uma doença ocupacional, visto que, muitos servidores — principalmente da área de saúde — apresentam mais de um vínculo empregatício".

Referindo-se ao laudo como uma "ofensa", Priscila reclama que cientificamente não é possível demonstrar a causalidade da infecção — ou seja, a conexão entre o momento da infecção e seu resultado, o adoecimento.

"É a prefeitura que tem que provar que fui contaminada em outro lugar. Nós profissionais de saúde somos por si só grupo de risco."

'Não fomos ao shopping'

O CAT pode ser um primeiro passo para acesso a auxílios via Instituto Nacional de de Seguridade Social (INSS) por problemas de saúde ligados ao trabalho, mas segundo a médica, ela estava em busca apenas da formalização, em papel, de que adoeceu.

Priscila reconhece que teve acesso adequado a Equipamentos de Proteção Individual (EPI) mas, mesmo assim, a exposição no local de trabalho é inevitável — "com um monte de paciente circulando, na hora de intubar".

E, para ela, uma das evidências mais fortes de que não foi em outro lugar que se contaminou é o fato de que seu companheiro e a filha de 12 anos não tiveram covid-19. Já diversos colegas de trabalho na UPA, sim.

"Não adoecemos porque fomos ao shopping, à praia, a uma festa… Adoecemos porque estávamos cuidando dos doentes. E isso que é vergonhoso: não só o governo de Itajaí, mas também os estaduais, federal, deixarem de reconhecer que esses profissionais adoeceram lutando pela saúde do país", lamenta.

Ela fala caracteriza também como um "soco no estômago" a decisão do governo federal em setembro de não incluir a covid-19 na lista de doenças ocupacionais — o que facilitaria o acesso ao auxílio-doença por meio do INSS, entre outras formas de assistência.

"Naquele momento, vimos que estávamos à nossa própria sorte", lembra a médica, natural de Nova Iguaçu (RJ) e formada pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), com pós-graduação em medicina da família pela mesma universidade.

Priscila tira selfie, com olhar sério, jaleco e estetoscópio
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Médica atuando em Santa Catarina relata falta de acompanhamento de seu caso de infecção por covid-19

Em nota enviada à BBC News Brasil, a Prefeitura de Itajaí afirmou que "o servidor diagnosticado com COVID-19 deve comprovar que o seu vínculo empregatício é único e exclusivo com o Município de Itajaí para que a CAT seja emitida - uma vez que muitos servidores, principalmente os da área da saúde, atuam em mais de um local."

"Entretanto, caso a CAT seja negada pelo município, o servidor efetivo pode ainda fazer a solicitação através do sindicato. Os servidores em regime CLT também podem fazer a solicitação via INSS ou sindicato."

A Prefeitura destacou ainda que adotou diversas medidas para prestar assistência aos profissionais de saúde na pandemia: "treinamento das equipes; disponibilização completa de EPIs; testagem dos servidores; desinfecção de ambientes; medida provisória para concessão de benefício aos profissionais da linha de frente que têm filhos em idade escolar; central de monitoramento de pacientes positivos, negativos sintomáticos, negativos assintomáticos, idosos, idosos com doenças crônicas (incluindo os nossos servidores); e central de luto: acompanhamento psicológico de famílias que perderam entes queridos para COVID-19."

Pandemia e precarização do trabalho na saúde

Diferente da assistência que o município diz ter oferecido aos funcionários, Priscila Daflon afirma que não teve acompanhamento muito próximo do seu caso de infecção — tendo acesso apenas a testes rápidos e optando por fazer um teste molecular, o PCR, do próprio bolso.

Este deu negativo, segundo ela porque não foi feito no período em que a infecção estava mais ativa, e sim quando estava prestes a trabalhar — motivo pelo qual ela quis testar. Para avaliar se tinha condições de voltar a trabalhar, ela conta também ter consultado um infectologista por conta própria.

"Quem se preocupou em ir atrás de um diagnóstico, e depois de uma avaliação para retorno, fui eu. Depois de uma semana internada, voltei — cansada, com o corpo doendo, mas voltei, porque tinha muita necessidade de médicos naquele momento."

Ela reconhece que, como funcionária do município, tem uma situação de emprego mais confortável do que muitos outros colegas na saúde — em que a "pejotização", a contratação de profissionais como autônomos ou pessoa jurídica, é uma tendência reconhecida até mesmo por entidades de classe, como o Conselho Federal de Medicina (CFM).

Em abril, o conselho chegou a enviar ao Ministério da Saúde uma carta pedindo assistência financeira aos médicos infectados durante a pandemia, citando as vulnerabilidades com a pejotização como "a fragilidade do vínculo, a insegurança e a perda de direitos trabalhistas e previdenciários como o 13º salário, horas extras, adicional pelo trabalho noturno e insalubre, FGTS, licença maternidade, auxílio-doença, entre outros".

"Nossa preocupação, neste momento, é garantir que os médicos possam enfrentar essa pandemia com de forma segura em diferentes aspectos", argumentou o CFM. Não há notícias de que o pedido de tenha sido atendido.

Priscila cita os casos de colegas técnicas de enfermagem que ficaram gravemente doentes e precisaram de vaquinhas online para ir se tratar em outras cidades; e de um colega médico que também adoeceu seriamente e, tendo CLT e afastado com uma licença, teve a remuneração do município de Itajaí substituída por um salário pelo INSS, menor. Todos se recuperam pouco a pouco.

Segundo a prefeitura da cidade catarinense, "os servidores estatutários (efetivos) recebem a remuneração integral quando do afastamento por problemas de saúde, conforme previsto em estatuto próprio. Já os servidores da modalidade de contratação CLT seguem a regra previdenciária do INSS, ou seja, quando do afastamento por problema de saúde recebem a remuneração conforme o teto máximo do INSS".

'Situações traumatizantes'

Três pedestres com máscaras passam em frente a grafite que retrata mulher profissional de saúde
Legenda da foto,

Grafite em São Paulo homenageia profissionais de saúde para médica entrevistada pela BBC News Brasil, aglomerações são 'violência' com profissionais de saúde

A médica reconhece que a secretaria de saúde do município foi sensível em certos casos, fornecendo fisioterapia e atendimento com nutricionistas para alguns funcionários que adoeceram, mas fala em insensibilidade de setores como o administrativo, que está rejeitando pedidos de CAT.

"Enquanto as prefeituras, as câmaras municipais, as próprias perícias trabalhavam de forma remota, nós não tivemos a opção de fechar. Só aumentamos nossa carga de trabalho e exposição. Mas estávamos todos lá, com medo, vínculo precário e todos esses riscos."

"Passamos por sofrimento psicológico, por situações traumatizantes. Não estávamos acostumados a ver tantos pacientes sufocando, morrendo sem conseguir respirar. Essa pandemia trouxe nossos avós agonizando, quatro, cinco no mesmo plantão. Ver o olhar de um paciente indo para o tubo", lembra a médica, se emocionando em alguns momentos da ligação.

Ao mesmo tempo, ela diz que o período da pandemia formou uma "rede de solidariedade" como "em poucas vezes na vida" viu igual — "de médico para médico, de médico para enfermeiro, de técnico para médico".

Ela lembra por exemplo de uma anestesiologista que se voluntariou para dar uma palestra às equipes do município, ensinando formas de prevenir a infecção no contato com pacientes; e de um médico que se disponibilizou a ajudar no planejamento da compra de insumos para lidar com a pandemia.

Priscila menciona ainda uma rede de apoio formada entre profissionais para ajudar no transporte de colegas que adoecessem e precisassem de tratamento; e também pessoas que cancelaram férias não porque não podiam viajar, mas porque sabiam da demanda de trabalho.

"Eu via esses colegas correndo de um lado para o outro para ajudar alguém que ele nem sabe quem é. Cujo nome não faz diferença. É muito comum a gente encontrar as pessoas na rua depois e elas perguntarem: 'Você lembra de mim? Você me ajudou tanto'. E a gente não lembra, porque são tantas pessoas."

"Nós escolhemos esse contato quando fizemos o juramento profissional."

Por outro lado, a médica confessa o desapontamento ao testemunhar como os pacientes, ou pacientes em potencial, vêm agindo na pandemia.

"Quando a população se aglomera, quando se coloca em risco em grupo, dá tristeza no nosso coração. Porque colocamos nossas famílias e filhos em risco por eles. Mas eles não se importam em se contaminar — e se se contaminarem, vão nos contaminar."

"A gente não quer aplauso. Queremos que cada um entenda que quando se expõe desnecessariamente, é uma violência contra o profissional da saúde."

Mas Priscila destaca também momentos em que o carinho das pessoas fez a diferença — como as cartinhas de agradecimento enviadas por uma igreja à equipe, ou a lanchonete próxima ao trabalho que abria excepcionalmente nas madrugadas para enviar alimentação aos profissionais de saúde.

"Isso deu um gás para a gente, aliviava o peso do nosso medo. Era muito legal o reconhecimento — nem toda remuneração é financeira."

"Mas no início as pessoas estavam mais comovidas. Agora parece que quase voltamos à normalidade, que as pessoas perderam o medo."

"Somente aplausos não vão ajudar os médicos e enfermeiros doentes. Não estou falando em dinheiro, mas do reconhecimento de que adoecemos lutando."

BBC

Professor Edgar Bom Jardim - PE

STJ adia julgamento de recurso de Lula no caso tríplex




O Superior Tribunal de Justiça (STJ) retirou da pauta de julgamentos desta terça-feira 27 um recurso apresentado pela defesa do ex-presidente Lula (PT) no processo do tríplex do Guarujá – em que o petista foi condenado a oito anos e dez meses.

A defesa de Lula chegou a recorrer ao Supremo Tribunal Federal pedindo a suspensão do julgamento, mas o ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato na Corte, negou a liminar por não considerar ‘ilegalidade evidente no caso’.

Com isso, o recurso foi mantido na pauta de hoje e estava previsto para julgamento na Quinta Turma.

A assessoria de imprensa do STJ não informou o motivo do adiamento.

A decisão foi do relator do caso no Superior Tribunal de Justiça, ministro Felix Fischer.

Carta Capital

Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Justiça boliviana anula ordem de detenção contra Evo Morales




A justiça boliviana anulou a ordem de detenção contra o ex-presidente Evo Morales por supostos crimes de terrorismo uma semana depois de seu afilhado político, Luis Arce, ser eleito presidente, informou nesta segunda-feira 26 o juiz Jorge Quino.

 

 

A ordem de detenção contra o ex-presidente, exilado na Argentina, foi suspensa porque “seus direitos foram desrespeitados, basicamente o direito à defesa, pois o ex-presidente não foi devidamente convocado”, disse Quino, presidente do Tribunal Departamental de Justiça de La Paz, à emissora Unitel.

Em 6 de julho passado, a Procuradoria Geral da Bolívia tinha acusado Morales de supostos crimes de terrorismo e seu financiamento e voltou a pedir sua prisão preventiva.

Outra ordem de prisão por insurreição e terrorismo havia sido proferida em dezembro contra o ex-presidente (2006-2019), após renunciar à Presidência em 10 de novembro em meio a uma convulsão social e a acusações de fraude eleitora.

O ex-presidente indígena e seu partido, o Movimento ao Socialismo (MAS), repudiaram todas as acusações e afirmaram que elas tinham motivações políticas.

A Procuradoria havia aberto, ainda, outra ação contra Morales por suposta fraude nas eleições de outubro de 2019, nas quais conquistou a reeleição para um quarto mandato, mas foram anuladas em seguida, após denúncias de irregularidades. Não houve avanços sobre este caso na justiça.

Além disso, a Procuradoria tinha tentado, no começo deste ano, conseguir com que a Interpol emitisse uma ordem de prisão internacional contra Morales, mas a entidade se negou por considerar que se tratavam de assuntos políticos e não criminosos.

Morales foi alvo de várias acusações do governo transitório de Jeanine Áñez ao longo da campanha para as eleições de 18 de outubro, vencidas por Arce, seu ex-ministro das Finanças e artífice do “milagre econômico” dos 14 anos de seu mandato.

Em 4 de setembro, o governo boliviano contatou a Corte Penal Internacional (CPI), em Haia, para denunciar Morales por supostos crimes contra a humanidade pelos bloqueios de rodovias em agosto.

No entanto, esta ação pareceu ser meramente simbólica e em busca de ganhos eleitorais, pois um Estado pode pedir à CPI que examine se é procedente que intervenha em um caso determinado, mas a Corte só o faz em caso de fracasso do sistema penal nacional.

A Procuradoria boliviana havia dito que investigaria os bloqueios, mas nunca informou sobre os avanços.

 

Sem participação no novo governo

Morales se prepara para retornar à Bolívia, depois de um ano no exílio, mas descarta qualquer participação no governo do seu afilhado político, Luis Arce, e garante que se dedicará à atividade sindical e à piscicultura.

Ainda sem a data de posse da Arce e do vice-presidente eleito David Choquehuanca, Morales disse nesta segunda-feira em entrevista à AFP por vídeo que a Confederação Única dos Trabalhadores Camponeses da Bolívia será a instituição que decidirá o dia do seu retorno.

“Há colegas que me pedem para ir à posse e fico muito grato. O irmão (presidente da Argentina) Alberto Fernández, tão solidário, tão humano, se ofereceu para me levar à Bolívia. Fui convidado (para a cerimônia). No entanto, os movimentos sociais estão discutindo. Eles vão decidir”, enfatizou.

“A Confederação Única dos Trabalhadores Camponeses da Bolívia está se reunindo, decidindo quando devo voltar. Me pedem que volte no dia 11 de novembro porque saí no dia 11 de novembro. É muito simbólico, mas repito, não está definido, eles vão decidir”, ressaltou.

Morales tinha um mandado de prisão preventiva na Bolívia por acusações de “terrorismo”, o que o ex-presidente atribuía a “uma guerra suja”.

A ordem foi suspensa nesta segunda-feira porque, “seus direitos foram desrespeitados, basicamente o direito à defesa, pois Morales não foi devidamente convocado”, explicou o juiz Jorge Quino, presidente do Tribunal Departamental de Justiça de La Paz, à emissora Unitel.

Sobre seus planos quando voltar ao seu país, Morales disse que irá morar na região de Cochambamba, para retomar o ativismo sindical que iniciou na década de 1980 até chegar à presidência em 2006.

“(Eu estarei) na zona do Trópico de Cochabamba, junto com os movimentos sociais e o MAS (Movimento ao Socialismo). Vamos cuidar, defender nosso processo, vamos acompanhar o Lucho (Luis Arce), claro, somos militantes. Vamos cuidar de nossos princípios ideológicos, também dos programas sociais para o bem de todo o povo boliviano”, acrescentou o ex-presidente.

Quando questionado se assumiria algum papel no governo de Arce, ele respondeu de forma enfática: “Não, de forma alguma”.

“Vou continuar como dirigente sindical enquanto me permitirem. Pessoalmente, (vou) me dedicar à agricultura. Estou fazendo reuniões por telefone para ter tanques para criação de peixes. O tambaqui está na moda. Os colegas que criam peixes tambaqui estão ganhando muito bem”, afirmou.

 

“Golpe” e reconciliação

Morales, que governou a Bolívia por quase 14 anos, renunciou à Presidência em 10 de novembro de 2019, após perder o apoio das Forças Armadas em meio a uma crise gerada por denúncias de fraude eleitoral.

Inicialmente asilado no México, refugiou-se na Argentina a partir de dezembro de 2019, quando o centro-esquerdista Alberto Fernández assumiu a Presidência.

Morales culpa os Estados Unidos e o Secretário-Geral da Organização dos Estados Americanos, Luis Almagro, por sua saída do poder.

“É um golpe dos Estados Unidos. O império conseguiu impedir Evo de ser presidente. Mas o plano do império, junto com a direita boliviana, era proibir o MAS e eles não conseguiram”, ressaltou.

“Luis Almagro e sua equipe técnica (missão de observação eleitoral) que esteve na Bolívia são responsáveis por tanto massacre, por não respeitar a soberania de um povo. Se eles têm moral e ética, devem renunciar”, insistiu, referindo-se à auditoria da OEA que apresentou uma “manipulação maliciosa” nas eleições de 2019.

No entanto, Morales garante que dentro do seu país deseja a reconciliação.

“Vou fazer um trabalho de reconciliação, não podemos estar em confronto entre bolivianos, somos uma família. Claro, temos diferenças ideológicas, programáticas, de classe. Quero conversar com alguns grupos, com esses grupos de choque da direita. Tenho vontade de falar. É uma questão de tempo”, explica Morales.

 

Reeleição

Em 2019, Morales tentou obter o seu quarto mandato consecutivo, depois que o Tribunal Constitucional o autorizou a concorrer às eleições novamente.

Um ano depois dessas eleições, o ex-presidente afirma que “o povo não se enganou ao pedir a continuidade (do seu governo)”.

“Cada país tem sua particularidade”, destacou, referindo-se aos períodos de instabilidade política na Bolívia.

“Não é que Evo quisesse (reeleição). As pessoas me disseram ‘como estamos indo bem, para continuar bem temos que ratificar você, Evo’. E vencemos no primeiro turno”.

“Agora a gente ganha de novo, está se repetindo, no primeiro turno. Os resultados das eleições de 18 de outubro são a melhor prova de que não houve fraude, e sim um golpe”, finalizou.

Carta Capital

Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 25 de outubro de 2020

Bolsonaro se irrita com pedido de redução do preço do arroz: “vai comprar lá na Venezuela”




O presidente Jair Bolsonaro se irritou com um homem que pediu pela redução do preço do arroz. “Bolsonaro, baixa o preço do arroz, por favor. Não aguento mais”, disse o apoiador, que o abordou durante passeio pelo Distrito Federal neste domingo 25.

 

 

“Tu quer que eu baixe na canetada? Você quer que eu tabele? Se você quer que eu tabele, eu tabelo. Mas você vai comprar lá na Venezuela”, respondeu o presidente.

 

 

O preço do arroz acumula alta de mais de 50% em 2020. Um projeto no Senado prevê zerar juros para frear alta do grão.

 

Em setembro, na tentativa de reduzir o preço do arroz, a Camex (Câmara de Comércio Exterior), órgão ligado ao Ministério da Economia, decidiu zerar a alíquota do imposto de importação para o arroz em casca e beneficiado até 31 de dezembro deste ano. A redução temporária está restrita à quota de 400 mil toneladas

Carta capital

Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Como inteligência artificial criou 'nudes' falsos de mais de 100 mil mulheres compartilhados em redes



Mulher chorando no sofá, com celular na mão
Legenda da foto,

De acordo com relatório, mais de 100 mil mulheres tiveram suas fotos alteradas digitalmente para parecerem imagens de nudez

Nudes falsos, criados a partir de fotos originais postadas em redes sociais, de mais de 100 mil mulheres estão sendo compartilhadas online, segundo um relatório recente.

As roupas são removidas digitalmente através de ferramentas de inteligência artificial; depois, as imagens falsas são espalhadas pelo aplicativo de mensagens Telegram.

Segundo o relatório, da empresa Sensity, alguns dos alvos "pareciam menores de idade" e a tecnologia usada é do tipo deepfake bot.

Deepfakes são imagens e vídeos baseados em um modelo real e depois alterados em computador. Um de seus usos tem sido a criação de videoclipes pornográficos falsificados envolvendo celebridades.

"Ter uma conta nas redes sociais com fotos abertas ao público é o suficiente para que qualquer pessoa se torne um alvo", alertou.

Robô no Telegram

Uma composição de ilustrações mostra imagens de corpos femininos com biquinis e trajes sendo retirados em coversa com robô
Legenda da foto,

Ferramenta com robô estaria dentro de aplicativo de mensagem

A alteração é feita por um robô digital (bot) movido a inteligência artificial que opera dentro de um canal de mensagens privadas do Telegram. Os usuários podem enviar ao robô a foto de uma mulher, cujas roupas são retiradas digitalmente em minutos, sem nenhum custo.

A BBC testou esta ferramenta, usando imagens com consentimento de participantes, e nenhuma foto ficou completamente realista — uma delas colocou o umbigo de uma mulher quase no meio do tórax.

Um aplicativo como esse chegou a ser banido no ano passado, mas acredita-se que existam versões derivadas em circulação.

Um dos administradores do serviço, identificado apenas como "P", afirmou: "Não me importo muito. É entretenimento e não leva a violência."

"Existem guerras, doenças, muitas outras coisas ruins que são prejudiciais no mundo."

"Ninguém vai chantagear ninguém com isso, já que a qualidade não é realista."

"P" também diz que a equipe analisa antes quais fotos serão publicadas.

"Quando vemos menores (de idade), bloqueamos o usuário para sempre", relata.

Mas a decisão de compartilhar a foto com outras pessoas é da pessoa que usou o robô para criá-la, explica.

Procurado pela reportagem para se posicionar, o Telegram não forneceu respostas.

'Conteúdo pedófilo'

A Sensity relatou que, entre julho de 2019 e 2020, aproximadamente 104.852 mulheres tiveram suas imagens alteradas e compartilhadas publicamente.

A investigação apontou que algumas das fotos pareciam retratar menores de idade, "sugerindo que alguns usuários usavam o robô principalmente para gerar e compartilhar conteúdo pedófilo".

A empresa afirmou ainda que o robô foi divulgado por publicidade na rede social russa VK, e segundo dados, a maioria dos usuários era da Rússia e de países da antiga União Soviética.

A VK afirmou que "não tolera esse tipo de conteúdo ou links na plataforma e bloqueia as comunidades que os distribuem."

"Muitos desses sites ou aplicativos não se escondem ou operam no submundo, porque não são rigorosamente proibidos", explica Giorgio Patrini, do Sensity.

"Até que isso aconteça, temo que só vá piorar."

Os autores do relatório dizem que compartilharam todas as suas descobertas com o Telegram, VK e até polícias — mas com pouca repercussão.

Nina Schick, autora do livro Deep Fakes and the Infocalypse, diz que os criadores de deepfakes estão em todo o mundo e que as legislações estão "tentando se atualizar" diante da tecnologia.

"É apenas uma questão de tempo até que o conteúdo se torne mais sofisticado. O número de vídeos pornôs falsos parece estar dobrando a cada seis meses", disse ela.

"Nossos sistemas legais não são adequados para essa questão. A sociedade está mudando mais rápido do que podemos imaginar devido a esses avanços tecnológicos exponenciais e nós, como sociedade, não decidimos como regulamentar isso."

"É devastador para as vítimas de pornografia falsa. A vida delas pode virar completamente do avesso, pois elas se sentem violadas e humilhadas."

No ano passado, o Estado americano da Virgínia se tornou um dos primeiros lugares a proibir os deepfakes.

A atual lei do Reino Unido sobre imagens falsas de nudez foi recentemente caracterizada como "inconsistente, desatualizada e confusa", segundo uma pesquisa universitária recente.

Apesar do progresso em questões como pornografia de vingança, "ainda existem muitas lacunas gritantes na lei", diz Lucy Hadley, da organização em prol das mulheres Women's Aid.

Embora essas estatísticas mostrem o quão disseminadas as imagens falsas podem ser, atualmente elas não configuram um crime específico.

Professor Edgar Bom Jardim - PE