terça-feira, 17 de setembro de 2019

A sociedade se inventa?


A sociedade produz uma exaltação ao desempenho. Joga-se no trabalho, não há horas para os afetos, se atrela aos negócios e assusta com o fantasma do desemprego. O giro se dá num incansável cotidiano, O fetiche do trabalho é forte, o tinir das moedas traz alucinações. O capitalismo incentiva a corrida. Quem se distrai com o ócio é marginalizado. Esquecer que a circulação de mercadorias inquieta e descontrola, que o corpo não deve parar é suicídio para quem vive as horas de salário ou os acúmulos na bolsa. A invenção dos dominantes é buscar brechas para explorar, justificar as desigualdades, empurrar os privilégios para minoria. A sociedade não abandona as tensões, porque as disputas movimentam e desenham as acrobacias da sobrevivência. Há um alerta neurótico, um desfazer da contemplação.
As utopias e as revoluções estão guardadas em algum lugar. Talvez, morem nos corações dos mais corajosos ou ampliem a imaginação de quem não sossega com tanta agressividade. Os animais sociais se toleram, mas não deixam que as perversidades se apaguem. Faz tempo que não surgem projetos consistentes de solidariedade. As guerras continuam, há economias no fundo poço e governantes que tripudiam de suas posições de poder. Não há como escrever novas gramáticas? O que vale é a máscara da permanência?
Os acenos teóricos decretam o fim da modernidade, a morte da história iluminista. O fetiche da mercadoria venceu e derruba sonhos seculares. As mobilizações consumistas coisificam desejos e homenageiam celulares. Tudo parece celebrar o mesquinho.O conhecimento crítico e ousado adoece e as informações tomam conta das redes sociais. O dogma se transfere para imagens e indignações anônimas. O controle é sutil, mina os outros e multiplica os olhares inimigos. O trapézio age sozinho como se o circo fechasse as ilusões e mudasse para outro planeta. Delírios extravagantes.
Os deuses vestiram outros mantos, possuem profetas perdidos entre o sagrado e o profano. Vende-se a salvação com argumentos banais e se aproveitando da expansão da carência. Se tudo é suspeito quem monopoliza o culto da verdade espalha suas ambições,se proclama o arcanjo das tecnologias de um mundo matematizado de forma vulgar. Há quem se engane ou mesmo não se preocupe com o alcance das frustrações. Não é estranho dormir acuado por pesadelos?As fronteiras se fragmentaram, porque a sociedade não desconfia que as inseguranças se consolidam e as distrações aprisionam a reflexão. Muitos se entregam ao destino.Apagam a memória e codificam a história.
Por Paulo Rezende.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

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