terça-feira, 19 de junho de 2018

Copa do Mundo 2018: qual a origem do polêmico grito homofóbico da torcida do México que a Fifa quer punir


Torcedores do México no estádio em MoscouDireito de imagemREUTERS
Image captionTrocedores mexicanos entoaram o grito considerado homofóbico no jogo de estreia do México na Copa da Rússia, em que o time bateu a Alemanha
O México mais uma vez se viu nos noticiários de uma Copa do Mundo em andamento por causa de um grito de guerra de sua torcida.
A Fifa (Federação Internacional de Futebol) anunciou na segunda-feira que abriu um procedimento disciplinar contra a Federação Mexicana de Futebol (Femexfut) por causa do comportamento de torcedores de país, que entoaram um canto "homofóbico" na partida contra a Alemanha no domingo.
Como aconteceu no Brasil 2014 e durante as eliminatórias para a Rússia 2018, nas arquibancadas se ouviu o cântico "eeeeehhh, puto!" quando o goleiro rival dava um tiro de meta.
A expressão é considerada por muitos como homofóbica, é uma forma vulgar no México de se referir a gays.
No entanto, outros dizem que a expressão seria mais usada para descrever alguém como "covarde".
O fato é que o seu uso como grito de torcida gerou sanções econômicas e advertências à Femexfut antes - e pode até afetar a seleção mexicana.

A origem

Afinal, de onde veio essa expressão?
Investigações da imprensa esportiva no México sugerem que o grito descende de outro surgido nos anos 80 em partidas de futebol americano no país.
Fãs do esporte na cidade de Monterrey gostavam de acompanhar o lance inicial daquela modaliade com um grito de "eeeeeeeh, pum!", um costume que se estendeu a outras cidades.
O salto para o futebol ocorreu no início da década de 2000 com os torcedores do Rayados, de Monterrey, que usaram a mesma frase para provocar o goleiro rival.
O goleiro alemão Neuer sofrendo o gol da vitória do México na Copa da RússiaDireito de imagemAFP
Image captionO goleiro alemão Neuer ouviu o grito dos mexicanos no primeiro jogo de ambas as as seleções na Copa da Rússia
A mudança de "pum" para "puto" ocorreu em 2003, durante o torneio pré-olímpico realizado em Guadalajara, segundo a imprensa mexicana.
Mais tarde, estendeu-se ao campeonato nacional e aos jogos da seleção mexicana - e começou a causar problemas para a Femexfut desde as eliminatórias para a Copa do Brasil em 2014.

É homofóbico?

Parte da controvérsia sobre este grito vem sobre seu significado e como ele é usado.
A Real Academia Espanhola define um dos significados de "puto" como um adjetivo vulgar usado para denegrir.
No México, é usado vulgarmente como adjetivo e substantivo para se referir a homens gays, mas também tem o sentido de covarde.
Torcedores do México no estádio em MoscouDireito de imagemREUTERS
Image captionO xingamento é entoado quando o goleiro rival chuta a bola para fora da área ou quando cobra uma falta
Parar alguns, no contexto do futebol, a expressão não é homofóbica, porque o sentido em que ela é usada não seria dirigido contra a comunidade LGBT (Lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais).
"Acho que a Fifa se equivoca ao considerar que esse grito é um insulto aos homossexuais", disse Luis Fernando Lara, editor do Dicionário de Espanhol no México, ao jornal americano The New York Times. "É um insulto, sim, mas não contra a comunidade gay. Acho lamentável que se esteja fazendo esse escândalo por causa do politicamente correto."
No entanto, para outros, não é possível dissociar o sentido pejorativo e estigmatizante da palavra usada contra os gays.
"O sentido com o qual esse grito é entoado nos estádios não é inócuo. Ele reflete a homofobia, o machismo, a misoginia que ainda imperam em nossa sociedade", observou Ricardo Bucio quando dirigia a Comissão Nacional para Prevenir a Discriminação mexicana.
"É expressão de desprezo, de rejeição, não é descrição nem expressão neutra. É uma qualificação negativa, é estigma, é subvalorização."
Torcedores do México passeiam por MoscouDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionOs torcedores mexicanos foram advertidos que poderão ser expulsos dos estádios da Copa se forem pegos entoando o canto
Javier Ruiz Galindo, diretor da Casa do México na Rússia, que oferece ajuda a torcedores mexicanos no país, disse à BBC que é algo "muito complicado, porque há muitas maneiras de isso ser percebido".
"Eu concordo, não deveria ser permitido, recebemos advertências para não fazê-lo e acho que não devemos. Temos que ser respeitosos", disse ele na segunda-feira.

Sanções e advertências

Apesar das múltiplas advertências da Fifa antes e durante a Copa do Mundo de 2014, torcedores mexicanos continuaram a entoar o grito agora na Rússia.
A Femexfut recebeu seis multas de mais de US$ 20 mil, e a Fifa alertou que seriam necessárias medidas mais fortes se essa atitude continuasse.
A federação mexicana fez campanhas na mídia, nas redes sociais e nos estádios para que o grito não fosse mais entoado, mas não adiantou. Houve até a tentativa fracassada de substituir a palavra "puto" por México.
Um bem-humorado comercial de TV no México propôs que, durante a Copa do Mundo, os torcedores gritassem "Putin" - como o nome do presidente russo Vladimir Putin - em vez de "puto". O comercial causou protestos do embaixador da Rússia no México, Eduard Malayán:
"Não somos tão estúpidos para entender que é um jogo de palavras (...) Não é costume gritar nomes ou sobrenomes de personalidades políticas em nossos estádios", reclamou o diplomata em maio passado.
A Fifa não deu detalhes sobre o procedimento disciplinar aberto contra a Femexfut.
No entanto, antes da Copa do Mundo, a federação mexicana alertou os torcedores que as autoridades russas poderiam expulsar do estádio as pessoas que fossem flagradas entoando o cântico.
Durante as eliminatórias, a organização chegou a cogitar que esse tipo de comportamento poderia até tirar pontos da seleção mexicana.
BBC
Professor Edgar Bom Jardim - PE

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