domingo, 1 de outubro de 2017

Entre irmãs, o filme


Depois de contar parte da história de Luiz Gonzaga e Gonzaguinha, em "Gonzaga de Pai pra Filho" (2012), o diretor brasiliense Breno Silveira retorna a aspectos da cultura nordestina em "Entre irmãs", filme que estreia no dia 12 de outubro no circuito nacional. 

Em seu quinto longa-metragem, Breno cria sua versão de Maria Bonita, mulher de Lampião. O diretor muda nomes e insere suas marcas de estilo, baseado também no livro "A costureira e o cangaceiro", escrito por Frances de Pontes Peebles. 

O filme se passa no Recife dos anos 1930 e acompanha as irmãs Luzia (Nanda Costa) e Emília (Marjorie Estiano). Quando eram crianças, numa de suas pequenas transgressões, subiram uma árvore para comer fruta.

Leia também:
Nanda Costa diz que sonha com o dia em que protagonistas mulheres em filme seja algo comum
Roteiro de filme que Audrey Hepburn protagonizou é o item mais caro já leiloado no mundo
'Entre irmãs', filme gravado no Recife, ganha trailer 


Luzia se assusta e leva uma queda. Deitada na cama, desacordada e perto da morte, cercada pela tia, irmã e um padre, ela volta subitamente. Depois desse pequeno milagre, a menina ficou com o braço esquerdo ferido, uma deficiência que gerou o apelido maldoso de "Vitrolinha".

O filme segue evidências do gênero melodrama, carregando de emoção os diferentes núcleos da história. Anos mais tarde, Luzia tem o hábito de libertar pássaros de suas gaiolas, gerando uma pequena confusão na vizinhança. Breno aproveita o que há de poético nesse gesto de revolta, sugerindo ligações entre os animais presos e o medo que Luzia tem do futuro.

Numa de suas libertações, ela conhece Carcará (Júlio Machado, interpretando uma variação de Lampião). Ela é ameaçada, mas não abaixa a cabeça: nasce a fascinação de Carcará pela garota. 

Ao longo da história as irmãs são separadas. Luzia é levada por Carcará, seguindo a trajetória de sangue trilhada pelo homem e seu bando. Emília vai para o Recife e se casa com Degas (Romulo Estrela), filho de uma família de dinheiro. Nesse ponto o filme se divide em duas linhas dramáticas, acompanhando as duas irmãs.

De um lado, uma ideia subversiva de heroísmo em Luzia e Carcará, que resgatam os oprimidos assassinando cruelmente os agressores. De outro, a burguesia do Recife, seus segredos, hipocrisias e preconceitos. 

O problema fundamental do filme é a trilha sonora. Assim como em "Gonzaga de Pai pra Filho", a todo instante as cenas são invadidas por sons que variam entre percussão (em sequências de tiroteio) e violinos (em dramas). É uma insistência em sons genéricos que apenas repetem as emoções que vemos de forma mais sutil e delicada na tela, na expressão dos personagens, nas falas e nos silêncios. 



No momento mais impactante do filme, quando Emília costura um vestido no Recife e no Interior o bando de sua irmã é atacado por soldados com metralhadoras, as duas cenas se conectam através do som: a máquina de costura parece com a fúria de uma metralhadora, uma rima sonora cuja poesia é fortemente afetada e perde seu impacto pelo alto volume dos sons de uma orquestra de cordas. 

O filme é um melodrama volumoso, com quase três horas de duração. Há excessos e prolongamentos que poderiam ser evitados ou reduzidos. Personagens que, ao mesmo tempo em que cativam por seus dramas e pela forma como parecem humanizados pelas experiências vividas, também evocam certo tédio pela grande quantidade de cenas que avançam pouco o enredo. É um drama intrigante que parece tropeçar em alguns excessos. 

No elenco, ainda, atores como Letícia Colin, e os pernambucanos Lívia Falcão, Claudio Ferrario e Mônica Feijó.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

0 >-->Escreva seu comentários >-->:

Postar um comentário

Amigos (as) poste seus comentarios no Blog