quarta-feira, 10 de maio de 2017

O que está acontecendo com os blocos econômicos

A eleição de Emmanuel Macron representou um grande alívio para a União Europeia. O novo presidente da França tem na valorização do bloco continental um dos principais pontos de seu plano de governo, postura oposta à da candidata derrota Marine Le Pen. Uma notícia positiva ao movimento que teve sua força muito contestada com a saída do Reino Unido e que poderia se inviabilizar sem os franceses.
Foi a quarta vez em poucos meses que a força (ou a falta dela) de blocos regionais foi notícia. Primeiro, com a saída do Reino Unido da União Europeia. Depois, com as promessas do presidente norte-americano Donald Trump de tirar os Estados Unidos da Nafta (acordo econômico entre as três nações da América do Norte). Por fim, a discussão da retirada da Venezuela do Mercosul.
Esses eventos podem representar um novo momento na política e economia do globo, e pode ser colocados em discussões de História e Geografia. Até porque o próprio surgimento deles tem muito a ver com os acontecimentos no mundo nas últimas décadas.



Emmanuel Macron, presidente eleito francês, durante campanha. Crédito: Shutterstock

Após a Segunda Guerra Mundial (1945), o mundo se viu dividido em dois blocos, o capitalista e o socialista, conduzidos, respectivamente, por Estados Unidos e União Soviética (URSS). O conflito não chegou a ganhar a forma de uma guerra armada, mas teve forte influência política, econômica e social para todos os países. Com o declínio e completa dissolução da URSS, em 1991, o planeta deixou de ser bipolarizado para se tornar multipolar e globalizado. Foi nesse contexto que começaram a surgir os blocos econômicos, que já sofreram e ainda sofrem diversas modificações.
Uma mistura de motivos políticos e econômicos faz com que países se unam em blocos. No caso da Europa, o trauma causado pela Segunda Guerra foi uma das razões e, em 1º de novembro de 1993, a criação da União Europeia foi oficializada. “O medo era de que, na ausência de uma maior integração econômica, social e política entre os países, conflitos armados mundiais se repetissem. Ninguém queria nem estava em condições de viver uma nova guerra”, explica Marcos Troyjo, professor da Universidade Columbia e autor do livro Desglobalização: Crônica de um Mundo em Mudança.
Na América Latina, a preocupação com a integração só começou após o fim da Guerra Fria. “Havia um forte clima de rivalidade entre os países, seguindo a lógica internacional de que as relações entre eles eram sempre de guerra. Com a multipolarização mundial, inicia-se um momento de aproximação com o objetivo de gerar ganhos mútuos”, diz Filipe Figueiredo, professor de aspirantes à carreira diplomática e comentarista de política internacional no podcast Xadrez Verbal.
Além dessas questões específicas, a inserção em um bloco ajuda um país a estabelecer acordos comerciais, circulação de serviços e de pessoas com outros do mesmo ou de outro bloco. Quanto mais protecionismo e menos relações internacionais, menos oportunidades econômicas e políticas serão criadas, pois uma coletividade de nações consegue competir no mercado internacional em um nível mais alto do que se fossem países sozinhos.
Na União Europeia, fica claro para a população visualizar o efeito do bloco em suas vidas. Lá, há o livre trânsito entre mercadorias, pessoas, serviços e a maioria dos países utiliza a mesma moeda, o Euro. No caso sul-americano, a existência do Mercosul não está tão presente no cotidiano da população.  “O problema é que, ao invés de fazer acordos para a integração de transporte, comércio e logística, o bloco tomou outro rumo. Sobretudo a partir de 2013, o Mercosul deixou de caminhar do ponto de vista econômico e comercial e virou só ideológico, com governos, até então, alinhados a um pensamento mais de esquerda. Na medida em que é mais barato comprar um produto argentino nos Estados Unidos do que no Brasil, fica claro que o Mercosul não está funcionando tão bem”, defende Marcos.
Os blocos deram certo?
Apesar das mudanças pelas quais os blocos estão passando, os professores Filipe Figueiredo e Marcos Tryjo não consideram que eles fracassaram ou que irão acabar. “Os agrupamentos ajudaram muito a economia de vários países. Além disso, há 70 anos uma guerra gigantesca estava acabando e algo naquelas proporções era impensável. Já é um grande ganho”, diz Marcos. “Muita energia e dinheiro já foram investidos, e ninguém quer perder dinheiro. Não dá para dizer que a integração global vai retroceder. O que estamos vivendo nesse momento refere-se a uma questão do ritmo com que a união entre nações está acontecendo. Querer diminuir ou alterar, não significa acabar com as relações internacionais”, explica Filipe
Em seu último livro, Desglobalização: Crônica de um Mundo em Mudança, o professor Marcos Troyjo faz um contraste entre a “globalização profunda” pós Guerra Fria - marcada pela certeza nos governos democráticos, na integração político econômica e domínio dos Estados Unidos - com o atual momento das relações internacionais em que os EUA perderam influência econômica em relação à China, um país de regime não democrático, e ressurgiram nações com ideais nacionalistas e intolerantes a outras culturas. “É isso o que eu chamo de desglobalização”, explica Marcos. “Precisa haver uma renovação dos processos de integração que sejam menos ambiciosas do que as que vimos até agora. Eu acho que essa fase de desglobalização é temporária. Em breve retomaremos a reglobalização, com a China, o sudeste asiático e as novas tecnologias à frente”.
Aproveite as mudanças na geopolítica do planeta e leve o assunto para a escola. Como as mudanças em curso ainda podem demorar um pouco para chegar aos livros didáticos, separamos alguns planos de aula e conteúdos para te ajudar a entender a questão e trabalhá-las com os alunos. Veja abaixo: 



Manifestantes venezuelanos seguram cartazes com a frase "Não mais ditadura". Crédito: Wikicommons

Entra e sai da Venezuela no Mercosul
Em 2006, a Venezuela solicitou ingressar no bloco para aumentar a integração comercial, econômica e política com o grupo. O pedido só foi aprovado em 2012. Entretanto, o país vive hoje uma intensa crise política. Em 9 de março, o Tribunal Superior de Justiça decidiu assumir as competências do Parlamento. Durante os protestos, houve mortes e prisões políticas. Tal ação classificaria o país como antidemocrático, o que vai contra as regras para participação no Mercosul. Por isso, os países fundadores do bloco -  Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai - estão pressionando o presidente Nicolás Maduro por mudanças. Por isso, e também devido a outros acordos não cumpridos, a Venezuela está suspensa do bloco e poderá ser expulsa. “A saída é um processo mais político do que econômico ou de integração regional e não tem muitas consequências diretas para o Brasil”, explica Filipe Figueiredo.




Manifestação favorável à saída do Reino Unido da União Europeia. Crédito: divulgação 

Reino Unido fora da União Europeia
O Reino Unido passa atualmente por um processo de saída da União Europeia (nunca antes um país deixou o bloco). Em um plebiscito, o resultado foi apertado: 52% dos votantes foram favoráveis a esse processo. O motivo é o fato da população britânica ver mais prejuízos do que ganhos nessa relação. “Boa parte da população considera que o Reino Unido está perdendo sua característica culturais, que há muitos imigrantes indesejados e que a União Europeia possui regras demais. Com essa separação, o Reino Unido, que sempre tiveram uma grande tradição de negociar com o mundo, pretende ter mais liberdade para estabelecer acordos internacionais”, explica Marcos.
Nova Escola.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

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