terça-feira, 28 de março de 2017

O silêncio dos deuses, a apatia dos homens, a salvação ilusória


Quem assistiu ao último filme de Martin Scorsese sentiu que o silêncio pode frustrar e a verdade não é propriedade de uma única cultura. As colonizações foram e são cruéis. Em nome de Deus se procurou firmar crenças e se encontrar paraísos. A multiplicidade do sentimento culpa derruba sonhos. Ela acompanha a história mesmo que haja mudanças e esbocem tentativas de revolução. Martin não perdoa. Deixa sutilezas, mas fere aqueles que se encantam com as possibilidades do perdão. Qual a resposta? Por que o silêncio? Por que inventar transcendências?  Por se vestir com a perfeição? Por que a apatia se afasta a coragem e destrói a resistência?
As religiões sobrevivem e ajudam a congelar ordens. Há um entrelaçamento com a política que se estica pela modernidade. Até o capitalismo se fortaleceu com chamada teologia da prosperidade. Os tempos se afundam com orações por riquezas, pela esperteza dos chamados guias da salvação. O mundo está submerso com perspectivas de desamparos que aprisionam multidões. O filme se passa no século XVII, contudo dialoga com o nosso tempo e mostra as dores que se repetem. O silêncio e o grito se confundem, nem conseguem criar fronteiras.
Não pense que o caos termina com o perdão fabricado. A solidão é, hoje, uma sintonia com o medo. Há uma sensação de muita coisa está podre na rota da globalização. Quem sabe o limite da mentira? Quem conhece o tamanho da pedra que não sia da estrada? Chaplin já colocava, nos seus filmes, os contrastes. Meiguice e pobreza, egoísmo e humor, a sociedade fecha portas para liquidar mercadorias. Triturar os sonhos é perda radical. O mundo se rende a uma absoluto que não existe, a ídolos que adotam o feitiço do mal, aos cinismos dos que não sofrem.
Não há tempo para o riso solto, mas o espetáculo continua. Ele tem preço, ela atrai. Seduza-se com a ficção de Italo Calvino, mas desconfie das sentenças de Moro, dos delírios de Temer. Ninguém foge do negócio, pois convivência não busca o poeta, ela quer a vitrine da ostentação. Não há como sossegar, pedir orações, ajoelhar-se, quando os extermínios prosseguem. Estamos exilados numa sociedade que oprime com regras nada democráticas. Nada passa pela vontade do coletivo. O perdão é inútil quando ele vendido com cartões de crédito. Estou exagerando? Ligue os canais de TV e reflita sobre as pregações.
Por Antônio Rezende
Professor Edgar Bom Jardim - PE

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