terça-feira, 13 de outubro de 2015

Não apague as solidariedades e os encontros

Por Paulo Rezende.
Não deveria ser assim. Construir muros de lamentações é sinal  de que a história anda escorregadia. Não se olha para o outro e a fragilidade do social deixa constantes medos. Falo de ambiguidades que não cessam, de violências sempre atuantes e do egocentrismo avassalador. Nunca acreditei que tudo seria absolutamente sintonizado na paz. Os conflitos estão presentes em todas as épocas. Fazem parcerias com desejos de salvação. O mundo não vive sem crenças, mas também não abandona os desprezos.  As tensões se incorporam no cotidiano. Não há como anular assombros e incertezas quando a generosidade se torna escassa ou publicitária..
Insisto em alguns temas, deixo que minha perplexidade ganhe espaço com as palavras. Elas queimam consciências. É necessário colocar os espantos sem dispensar as dignidades. As apatias podem acelerar os desconfortos, riscar desenhos de mapas de territórios de comunhão. Penso que muitos esquecem que somos animais sociais, temos incompletudes e precisamos de conversas e afetos. No narcisismo crescente. o outro torna-se um instrumento para articular interesses e se coisificar intensamente. Isso é a preparação do desengano e a justificativa para espalhar desconfianças. Os desânimos quebram a solidariedade e as concorrências sem limites multiplicam artificialidades. A argila da criação se desmancha sepultando memórias fundamentais.
A mídia sofisticada não existe gratuitamente. É um produto que penetra nos dizeres do sentimento e consolida concepções de mundo. Fixa-se como centro de uma história que aprisiona as verdades vadias. Se o negativo se fortalece, a mídia acompanha, joga nas simulações das tragédias, reconhece monopólios. Quer vender suas notícias, aliciar, firmar poderes. Quem pode negar os desacertos que existem na aldeia global? Se eles são jogados com sensacionalismo acelera-se uma atmosfera de pesadelos. Não existem alternativas ou tudo é uma dissonância sem fim? Renovar a crítica ajuda a desfazer a mesmice e abala o fetiche da mercadoria. A harmonia abraça esperas, porém as feridas se mostram em cada esquina como mendigos sem esperanças.
Na arquitetura das sociabilidades, o múltiplo não deve ser esquecido. O bem e o mal se mostram com disfarces. Isso não é uma novidade. Ver o tempo se movimentando não é fantasia. Há, porém, repetições com significados estranhos que adormecem coragens e favorecem acumulação de privilégios. Na sociedade de consumo, a confusão faz parte dos esquemas e estratégias de dominação. A cultura envolve o humano  e a velocidade é um porto de navios assombrados. Continuar atento às cores e às formas é não desistir, mesmo que haja espetáculos de horrores. A aldeia global deve ser a nossa moradia e não um lugar para edificar labirintos de arames farpados e inventar genocídios contínuos.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

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